Caminho das Centelhas escrita por Sir Rail Zeppelin


Capítulo 17
Apenas Seja Feliz




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—Deixa eu ver se entendi direito, a garotinha que está com você é um experimento daquele homem que encontramos em Port Seanesse? – Indaga Luise 
  -Tipo isso, pelo pouco que ela fala e pelo pouco que me contou, é isso. Não sei qual a finalidade de uso ela tem pra ele, mas ele negociou até mesmo com uma nobre das terras árticas para obter a criança de volta. Com certeza deve ser importante pra ele. 
  -Nossa, quem diria. E você por acaso sabe do porquê essa garotinha fica te seguindo? Tipo, do porquê ela é tão apegada a você? 
  -Primeiramente, ela não é uma garota 
  -Um garoto?  
  -Também não, essa criança não tem um sexo definido, não sei o que Ozzy pretendia com isso, mas ele fez uma criança sem sexo. Eu também estranhei quando acordei e só vi a criança lá, a única coisa que ela disse em relação a mim foi “devo seguir o cão, assim como no meu sonho” 
  -Então essa criança sabe sobre aquele seu lado? 
  -Bom, ela estava lá quando eu me transformei e destruí tudo 
  -Não essa parte, mas a tipo, será que ela sabe algo mais sobre você? 
  -Como eu disse, ela não é de falar muito, então eu sei tanto quanto você sabe agora sobre ela. 
  -Se ela falasse um pouco mais, talvez descobríssemos sobre esse seu lado bestial 
  -É talvez. Agora, me fala mais sobre esse diário que você encontrou. 
  -Não é nada além do que eu já disse. Um grupo parece ter vindo para cá há 400 anos atrás e descoberto algo sobre o motivo de tudo isso estar acontecendo com essa ilha, a causa era o cristal e tem a moça... 
  -Sim, Stemma-aurea, não é um sobrenome muito comum 
  -Eu sei o que você está pensando Sword – Luise diz sorrindo – E eu até concordo, talvez essa tal Sofia seja realmente sua mãe, mas sabe o que isso significa, não é? 
  -Que a outra parte do meu sobrenome, Knight, vem de um clã de cavaleiros antigos de extrema importância. 
  -Essa é a parte que não faz sentido. O clã Knight era o maior e melhor clã de cavaleiros de todas as terras dos Reinos Combatentes. Por que eles deixariam um herdeiro de um clã assim largado? Além claro, de ser um dos clãs fundadores de Aúdases. 
  -Isso realmente não faz sentido, talvez – antes de terminar de falar, Lara chama os dois, apontando para o precipício lá embaixo. A vista que se abria era de um caminho que se dividia em 6 

 
  -Oceis já viro algo paricido? 
  Nada do tipo – responde Sword e Luise Juntos 
  -O diário, tem algo nele sobre isso Luise? 
  -Deixa eu ver.... tem, são as provas que a Sofia disse que iriamos enfrentar antes de chegarmos ao cristal 

    “Aos aventureiros que escolheram desafiar a ilha Júbilo em busca do cristal, aqui vai o que terão que enfrentar. Lembrem-se, uma vez que os desafios são iniciados, não podem mais ser parados! 

O primeiro desafio. O Templo de Júbilo - A primeira parte da caminhada leva-os a um templo antigo no meio da selva, esse mesmo que vocês estão vendo no fundo do precipício. O templo é coberto por vegetação e terão que abrir caminho através da densa floresta para chegar lá. Ao entrar no templo, serão desafiados por um enigma que só poderia ser resolvido com a resposta CORRETA.” 

 

  -Por algum motivo, a palavra correta está em maiúsculo. 
  -Certo, então vamos! 

Eu, Luise, Lara e a criança descemos por uma entrada estreita que encontramos dentro da rocha próxima ao precipício. Lá embaixo demos de cara com uma estrutura descomunal que estava escondida pela nevoa, o que vimos lá de cima não é nada comparado ao que estamos vendo aqui embaixo. O templo é construído com grandes blocos de pedra negra, com altas colunas em tons de dourado, que se estendem até o teto. As paredes internas e externas são cobertas com desenhos intricados que parecem mudar de forma e cor dependendo do ângulo em que são vistos. A luz é filtrada através de pequenas aberturas no teto, iluminando o espaço com um brilho suave e quente. Há um grande altar no centro do templo, esculpido em mármore branco com entalhes de símbolos desconhecidos. As paredes laterais são decoradas com baixos-relevos que representam figuras humanas em posições de meditação e contemplação, com expressões pacíficas e serenas. As escadas que levam ao altar são estreitas e sinuosas, cercadas por fontes que emanam um líquido luminescente que parece energizante. O ar é carregado com um aroma suave e relaxante, que parece estimular a mente e acalmar o coração. No centro do altar, está uma estátua e abaixo dela um altar menor, nesse altar menor havia um pergaminho e um orbe azul. Tomei em mãos o pergaminho e li em voz alta: 

 

 

 

“No início, havia apenas o vazio e a escuridão. Nenhum ser vivo ou substância existia. Então, uma grande explosão ocorreu, criando uma enorme bola de fogo que se expandiu rapidamente para formar o universo. Esta explosão foi causada pela chegada da divindade suprema Vamis, cujo poder e força foram tão grandes que sua mera presença criou o universo. 

Vamis não estava sozinho em sua criação. Ele criou quatro deuses poderosos para ajudá-lo a governar e manter o universo. Cada um desses deuses tinha um domínio específico sobre uma parte do universo. O primeiro deus, Sio, foi dado o poder sobre o fogo e a criação das estrelas e do sol. O segundo deus, Tessa, foi dado o poder sobre a água e os oceanos. O terceiro deus, Alom, recebeu o poder sobre a terra e a natureza, e o quarto deus, Kros, recebeu o poder sobre o ar e o clima. 

Vamis então criou duas outras divindades para ajudar a governar o universo. A primeira era Astra, uma deusa da luz e da vida, que era responsável por trazer vida a todos os seres vivos no universo. A segunda era uma deusa da morte chamada Nefyra, que governava o reino dos mortos. 

Os seis deuses trabalharam juntos para criar as estrelas, os planetas e as galáxias do universo. Eles também criaram as primeiras formas de vida no universo, incluindo criaturas estranhas e fascinantes que habitavam as profundezas do espaço. Vamis então criou a raça humana, moldando-os à sua imagem. 

A partir deste ponto, Vamis decidiu se retirar do universo e observar a criação de seus deuses. Cada deus teve seu próprio reino para governar, com seus próprios seres e criaturas para cuidar. Eles trabalharam juntos para manter o equilíbrio do universo, garantindo que nenhuma força divina dominasse sobre as outras.” 

 

  -Que história maluca é essa Sword? 
  -Sei lá, eu só li o que está escrito no pergaminho, diz que essa é a história de como tudo que conhecemos foi criado, tem até umas figuras aqui, olha só 
  -Ata, que mentira, o lugar onde os continentes estão é uma grande bola? De jeito nenhum! Sabemos que não podemos chegar ao limite do mundo – Retruca Luise 
  -Até um tempo atrás eu não sabia da existência de uma organização que apenas um membro destruía reinos inteiros, agora eu sei. 
  -Quer chegar aonde com isso? 
  -Que pode existir muita coisa que não sabemos Luise. 
  -Só continua lendo ai 
  -Não tem mais nada, só dois nomes... Equinox e Axioma. A Sofia diz algo sobre eles no diário? 
  -Deixa eu ver... Sim, ela diz, olha: 
 

 
“Vocês irão chegar até a primeira prova. Estarão no templo de Equinox. No altar poderão ver a imagem dele. Quem ele é? Bom o deus da Justiça é chamado de "Equinox". Ele é retratado como um deus imponente, com uma armadura brilhante e uma espada que brilha com uma luz dourada. Sua personalidade é justa e equilibrada, sempre buscando o equilíbrio em todas as coisas.   

Equinox é encarregado de manter o equilíbrio e a ordem em todo o universo. Ele é um juiz divino que supervisiona todos os conflitos e disputas, avaliando cada ação e decidindo sobre a punição ou recompensa adequada. Ele é conhecido por ser imparcial e justo em suas decisões, garantindo que todos os seres no universo sejam tratados igualmente. 

Além de seu papel como juiz divino, Equinox também é responsável por manter a harmonia do universo. Ele trabalha em conjunto com os outros deuses para garantir que cada elemento do universo esteja em equilíbrio. Ele é o guardião da paz e da justiça, e é frequentemente retratado como um símbolo de esperança e estabilidade. O teste que vocês farão está não só relacionado a Equinox, como também ao outro Deus, Axioma!” 
 
 
  -Então são dois deuses, um da justiça e outro é do que? 
  -Axioma parece ser o deus da verdade. 
  -Então os testes têm a ver com Justiça e verdade... Diz mais alguma coisa nos diários? 
  -Sim, aqui diz que “a pista será revelada na mentira e na injustiça” 
  -Que estranho, é o exato oposto do que os dois deuses citados representam 
  -Então, como isso funciona? Sabe, como começa a prova? 
  -Não diz ai no diário? 
  -Não, nada. 
  -Justiça, verdadi, sei nadinha disso ai qui oceis tá falano. Faiz nem sintido esse negocio de Justiça e Verdadi estarem juntas 
  -O que você está falando Lara, a justiça só funciona por causa da verdade – diz em retruco Luise 
  -Não, não é bem assim Luise – Sword diz com a mão no queixo pensando – Nem sempre. Bom, digamos que você está sendo julgada, mas não é culpada, mas todas as provas apontam pra você, o que a justiça vai fazer? 
  -Bom, com base em todas as provas apresentadas, eu seria condenada a pena. 
  -Exatamente, mas você não é a culpada, apesar de as provas estarem apontando para você, tudo pode ter sido armado por alguém, então, você estaria sendo presa, mas sem fundo de verdade. A justiça é falha e a verdade não é absoluta. Eu já sei a resposta. 

Me viro em direção a estátua, olho para o altar menor. Me viro novamente para a estátua e digo: 

—Julgue-me! 

O templo começa a mudar, as paredes começam a converter-se em uma arquibancada ao que parece, novas estatuas menores aparecem, e o que parecia uma arquibancada vazia agora se enche de estatuas de pedra, formando um Juri. Tudo é formado, os jurados que formam o Conselho de Sentença; o juiz-presidente; o promotor de justiça; o advogado; o réu; o escrivão; funcionários da justiça. Lara, Luise e a criança são movidas, agora parece mais com testemunhas. Acho que entendi minha posição, eu sou o réu aqui! 

  

—O julgamento foi convocado para julgar o réu, que será identificado como "Sword" por enquanto, acusado de não usufruir da felicidade que lhe foi dada. A sessão é presidida pelo juiz e também deus da Justiça Equinox – diz a estátua menor ao lado da estátua do deus, o escrivão anunciava o julgamento – O juiz inicia a sessão afirmando que está sendo julgado por negligenciar sua própria felicidade e por não valorizar as oportunidades de se sentir feliz que lhe foram oferecidas. As provas contra o Réu são, principalmente, o testemunho de duas garotas que o acompanharam em uma viagem longa e a declaração de uma criança que acabou de conhecê-lo. 

O juiz, Equinox, pergunta à primeira testemunha, Luise: "Por favor, conte-nos o que você presenciou e como o Réu agiu durante a viagem em que vocês estão juntos." 

Luise se ajeita na cadeira e começa a falar. "Bom, Excelência, eu conheci Sword a pouco mais de dois meses. Durante nossa viagem, desde que saímos de Aúdases. Ele parecia um cara legal no começo e me juntar a ele parecia excelente no começo. Mas depois da primeira vez que ele se transformou naquilo, ele tem cada vez mais ficado preocupado e consequentemente, mais distante. No começo, achei que me distanciar dele, faria ele ter menos peso em querer se transformar naquilo, mas ele nunca parecia muito satisfeito. Não sei se ele tinha algum problema, mas ele parecia muito fechado." 

O juiz faz um sinal de cabeça, indicando que a testemunha pode continuar. 

—Quando chegamos nesta ilha, pensei que algo poderia mudar devido aos rumores sobre a ilha, mas eu nunca acreditei muito em lendas, entretanto, dessa vez era diferente. Mas nem o clima contagiante da ilha consegui animar o Réu. Ele anda com a gente, mas parecia que estava em outro mundo, sabe? Como se não estivesse realmente lá. Nós tentamos conversar com ele durante o caminho, mas só conseguimos agora no final quando já estávamos chegando ao templo, mas ele sempre desconversava. No fim das contas, ficamos preocupadas com ele  

 

O juiz faz uma pausa, agradecendo a testemunha, e se volta para a segunda garota, que tem um sotaque caipira carregado. "E você, por favor, conte-nos o que você observou e como foi a interação com o Réu durante a viagem." 

Lara responde com um sorriso tímido. "Bom, Seu Juiz, eu e a minha amiga aqui, -acho que já posso te chamar de amiga né Luise? - Eu o achei meio quieto... 

Ela faz uma pausa, olhando para a Luise ao seu lado. "A gente tentou animar ele, mostrar as coisas bonitas que a gente via na estrada, mas parece que ele não conseguia se desligar da tristeza dele. Eu nunca vi alguém assim, tão... tão desanimado. Acho que ele precisava de ajuda, mas não sabíamos o que fazer." 

—As garotas que testemunham afirmam que, apesar de terem oferecido várias opções de diversão e atividades para o Réu, ele sempre se manteve triste e distante. Elas afirmam que tentaram conversar com ele para entender o que estava acontecendo, mas que ele não se abriu e não mostrou interesse em participar das atividades propostas – continua o escrivão, que mais falava do que escrevia – A criança que depõe afirma que, apesar de ter acabado de conhecer o Réu, sente um grande afeto por ele. Então não podemos levar muito em consideração suas palavras  

Uma cortina cai sob as estatuas do júri, do juiz e do escrivão, parece um momento de decisão 

—MAS QUE MERDA VOCÊS ESTÃO FAZENDO? ERA PRA GENTE SE AJUDAR, PRA SAIRMOS MAIS RÁPIDO DAQUI –grita com raiva Sword, mas tanto Lara quanto Luise se mantém bem quietas 

Depois de um tempo as cortinas sobem, o escrivão novamente se pronuncia 

—O juiz informa que a acusação se baseia na premissa de que a felicidade é um direito e obrigação de todos e que o Réu tem a obrigação de fazer uso das oportunidades que lhe são oferecidas para buscar a felicidade. Ele esclarece que a falta de um motivo específico para a tristeza do Réu  não o exime de sua responsabilidade em tentar buscar a felicidade. Nesse ponto do julgamento, as acusações e as provas contra o Réu X foram apresentadas. Agora, o tribunal passará para a segunda parte do julgamento, que é a apresentação da defesa. 

—Que porra tá acontecendo aqui? Por quê? Não era pra ser assim! Eu estou sendo julgado por não ser feliz? Mas eu sou FELIZ! 
  -O Réu parece não concordar com as acusações das testemunhas, pois bem, vamos a uma prova mais concreta 

O escrivão atravessa o tribunal, paira a mão sob as cabeças de Lara e Luise, assim mostrando as imagens de Sword, do caminho do poço onde ele as achou até aquele templo. Por mais que ele não quisesse acreditar, por mais que ele achasse que era mentira, realmente estava ali. A prova, Sword de fato não estava normal, estava demonstrando expressivamente uma tristeza gritante. 

—Bom, agora que o Réu concorda, vamos partir para sua defesa – diz o escrivão voltando para seu lado do tribunal 

Então é assim que eu estava? Eu realmente não esperava isso. Não tem como eu me defender disso, acho que... acho que... não, com certeza não. A justiça está bem na minha frente, não vai adiantar mentir aqui, talvez só seja melhor eu desistir e deixar as garotas seguirem em frente, talvez minha jornada acabe aqui. 


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