Green was the color of the grass

Where I used to read at Centennial Park

I used to think I would meet somebody there

Concentrado o livro em seu colo, Hugo não percebeu que alguém se aproximava e apenas se deu conta que não estava sozinho quando ouviu o remexer da grama ao seu lado. Sobressaltado, fechou o livro de supetão e se arrependeu instantaneamente de não ter marcado em qual página estava.

— O que você está lendo? – O garoto ao seu lado perguntou, finalmente atraindo a atenção de Hugo para si. – Parecia muito bom pelas expressões que você estava fazendo.

Sentindo as bochechas esquentarem, Hugo tentou empurrar o constrangimento para algum canto escuro dentro de si e observá-lo pela primeira vez desde que chegara. Lorcan Scamander parecia uma força da natureza. Sempre. Seja em Hogwarts ostentando o uniforme sonserino com orgulho ou em um simples parque de Londres, com os olhos azuis contrastando com o céu e a camisa verde clara combinando com a grama ao redor deles, o Scamander não tinha nada de exótico na aparência – o que era uma característica determinante do restante da família. 

— Nada demais – Hugo deu de ombros, levantando-se e desejando sair dali o mais rápido possível. – Apenas lendo um pouco sobre mitos.

— Isso parece incrível! Me conte mais sobre – Lorcan pediu, encarando-o.

O Weasley respirou fundo, entregando o livro nas mãos do loiro ao invés de falar mais sobre sua leitura. Não era que Hugo não gostasse de Lorcan, ele apenas não tinha nenhum motivo para gostar. Apesar de suas famílias serem próximas, os dois garotos eram tão diferentes entre si que nunca foram realmente próximos. Nem mesmo as brincadeiras quando eram crianças combinavam: Lorcan gostava de correr e gritar, já Hugo preferia se sentar e brincar com seus brinquedos. Agora, na adolescência, as personalidades diferentes eram ainda mais contrastantes, pois Lorcan era expansivo e charmoso enquanto Hugo era calmo e tímido. Risadas escandalosas contra cantarolados baixos. Detenções por pegadinhas e aventuras contra detenções por noites na biblioteca. Sonserino contra lufano. Eram como dois lados de uma mesma moeda, verão e inverno lado a lado.

— Mitos gregos são interessantes, mas clássicos demais – Hugo franziu o cenho, estranhando as palavras de Lorcan. – Supervalorizados, na minha opinião. Há milhares de outras culturas com ensinamentos e contos tão apaixonantes quanto, mas as pessoas deixam-se apaixonar por algumas esculturas em mármore.

— Me parece que você está desvalorizando toda uma cultura na tentativa de valorizar as demais.

Como tudo até ali, eles não concordaram em suas opiniões. Seus argumentos e reflexões eram tão complexos quanto dois adolescentes de treze anos podiam formular. Lorcan levou Hugo para uma amostra da cultura sul-americana que havia nos subúrbios londrinos e durante toda a tarde Hugo não desejou estar em mais nenhum lugar. Foi assim que aquela estranha animosidade, nascida apenas da discrepância das personalidades, se transformou em uma amizade sincera, pautada em debates e até mesmo alguns conflitos, mas nunca definida por eles.