Nine Lives escrita por Shalashaska


Capítulo 6
Uma vida a menos, um beijo a mais




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Um dos problemas dos super-crimes em Nova York era como prosseguir com a rotina policial normalmente, por exemplo, onde estocar evidências perigosas ou como encontrar o novo mascarado da vez. Felicia sabia que evitavam colocar todas bugigangas em um único departamento para não tornar o lugar um alvo óbvio, mas não era exatamente difícil localizar as coisas se você soubesse o que procurar. Nem era tão complexo pegar o que se desejava e ela já tinha feito suas visitas em pelo menos meia dúzia de galpões de evidências para checar algo interessante ou buscar para o dono.

E lá estavam, Duende e Gata, observando o par de seguranças discutindo. Com um pulso eletromagnético específico, foi fácil embaralhar a segurança eletrônica e entrar. Agora aguardavam para descer das vigas e pegar o planador lá embaixo.  

Harry indicaria métodos mais crus para lidar com a situação, mas não tivera tempo para consertar o capacete e jazia com um óculos largo e uma proteção de boca. Não lhe agradava estar mais exposto ou demorar para acabar logo com aquilo, no entanto Felicia dissera-lhe para aproveitar o visual de Soldado Invernal Verde e não deixar rastros. Apesar de admirá-la em muitos aspectos, ela o confundia.

“Você poderia fazer qualquer coisa. Por que isso? Por que crimes?”

Ela deu de ombros, casual. Não era mais do que responder se gostava de Dior ou Givenchy.

“Eu assumi os negócios do meu pai.”

Lá embaixo, a conversa seguia ao lado do planador exposto.

 

"Sossega, essa coisa não vai explodir."

"É só o primeiro relatório da perícia. Ainda vão mexer mais nessa droga. Por que não despacham logo para ser incinerado?"

"Um equipamento de milhões de dólares? Vai sonhando."

"Com aquele idiota do Hoffman vindo todo dia pra questionar o andamento, achei que fariam algo depressa."

Pra mim, tanto faz aonde vão socar essa desgraça. Tô indo embora."

 

Ah, enfim encerrava-se o expediente de um deles. Felicia odiava quem fazia serão, pois sempre davam mais trabalho: fosse para pagá-los na Oscorp ou apagá-los em um furto comum.

 

"Até."

"Se isso não explodir, né?"

"Ora, vai pro inferno!"

 

"Vamos descer.”

No bracelete esquerdo dela havia um gancho com fio de aço, no direito existiam outros apetrechos. Rápida e silenciosa, ela deslizou para baixo e liberou gás sonífero por trás do funcionário sentado numa cadeira, lendo. Em segundos, ele caiu num sono profundo.

Harry foi mais bruto ao chegar ao chão.

“Parece intacto”, ela comentou, “Exceto pelas marcas de garras.”

“Não reparei naquela noite, mas as marcas… Parecem intencionais.”

“Hm”, ela murmurou, sem prestar muita atenção. Remoia o que tinha escutado ali. “Por que será que Hoffman vem conferir a perícia?”

Ele continuou mexendo no planador. Algo estava errado. Depois das tentativas de conferir uma área pequena na parte esquerda inferior, um vinco imperceptível, o Duende pediu:

“Querida, preciso de uma de suas garras aqui.”

Felicia ajudou-o. Após alguns segundos e o som de plek, tiraram um diminuto pendrive de dentro do equipamento.

“Talvez eu nunca tenha te atacado. Talvez,” disse, consertando a parte danificada do planador, “Nós concordamos em deixar a informação que tem aqui dentro o mais segura possível porque…”

Os olhos verdes dela faiscaram.

“Porque já tinha gás no galpão. Seria mais difícil encontrarem o pendrive dentro do planador do que conosco, se não conseguíssemos sair dali.”

“Você se lembra?”

“Só vislumbres.”

Em seguida, três coisas aconteceram:

1) O segurança anterior voltou, dizendo que esqueceu as chaves.

2) Ele viu o Duende Verde e a Gata Negra.

3) Sacou a arma e disparou.

Harry assistiu o corpo dela sofrer um espasmo. Tinha sido atingida, ele só não tinha enxergado onde, pois a única coisa que enxergava agora era a cor mais cáustica de ódio. Virou e acionou um dos botões do planador, catapultando meia dúzia de lâminas. Pelo menos três atingiram o segurança: duas no ombro, outra na lateral da pélvis. E ele faria mais, se Felicia não tivesse levantado da poça de sangue que começava a se formar e segurado seu braço.

“Temos que sair.”

Por alguma razão estúpida, ele obedeceu. Guardou o pendrive em um dos bolsos do traje, depois colocou o planador no chão e pôs Felicia ao seu lado. Foi obrigado a explodir a parede com uma de suas bombas de abóbora — mas ao atravessar as chamas, quem estava rindo era ela, como se nada demais tivesse acontecido.

Na varanda de seu apartamento, na cobertura da Emerald Kyle, a Gata Negra apenas se espreguiçou e se esticou. Harry queria interrogá-la, mas tinha medo de quebrar tal encanto e também certeza de que ela faria pouco caso do questionamento. Só diria que era uma vida a menos para uma gata. E ele, ao contrário de toda lógica do mundo, acreditaria.

Ela buscou bebidas para se acalmarem. Foi uma longa e terrível noite. Estavam sem as partes pesadas de seus respectivos trajes, sentados na varanda e saboreando o frio e as luzes de Nova York. Felícia encostou-se no ombro dele e Harry, como um tolo, permitiu.

“Qual foi o seu grande golpe ou roubo?”

“Não sei dizer,” ela deu de ombros, “Acho que é um plano futuro.”

“Agora você me ofendeu. Pensei que diria que foi meu coração.”

Eles estavam acima de todos e tão crus. Nas festas pareciam vestir máscaras, ali não. Felicia era uma ladra, Harry… bem, Harry era só um menino rico e mimado. Apesar de segurar trêmulo o copo, ele não estava bêbado — nem ela — mas agiam como se estivessem. Ao menos um pouco, o suficiente para que suas risadas se tornassem um toque morno, o entrelaçar silencioso entre as mãos deles.

“Ah, querido. Eu não o roubei. Você o entregou nas palmas das minhas mãos.”

A única resposta foi beijá-la e não parar.


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