Divórcio de Mentirinha escrita por Saori


Capítulo 2
Ato II.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808582/chapter/2

Ato II

Das mentiras ao acordo.

 

Rose dormiu assim que arrumou as coisas no quarto vago do apartamento em que Scorpius morava e acordou apenas na manhã seguinte, sentindo o corpo dolorido graças ao cansaço. Dormiria mais, se não fosse pela barulheira estrondosa da risada dos rapazes, que pareciam estar na sala. Quando olhou o relógio, suspirou. Era sete de manhã e até mesmo em outro fuso horário, aquilo significava que era cedo demais para ela estar acordada durante um período de férias.

Contra a sua vontade, ela se levantou, parecendo uma morta-viva, e olhou-se no espelho, o que lhe rendeu um suspiro. A menina estava usando um pijama rosa claro com alguns corações em vermelho espalhados pelo tecido, e o seu cabelo estava simplesmente volumoso e caótico, o que a fez prendê-lo em um coque.

Finalmente, quando tomou coragem para lidar com toda aquela empolgação cujo motivo desconhecia, a menina saiu do quarto, deparando-se com os rapazes sentados no sofá da sala, trajando apenas bermudas de tactel.

— A Bela Adormecida acordou! — Albus se pronunciou, enquanto a encarava risonho.

Rose não respondeu de imediato, e um silêncio esquisito pairou no ambiente. Ela estava cansada e, consequentemente, lenta para processar as informações.

— Qual é a das bermudas? — perguntou ela, tentando conter o riso. Não estava acostumada a vê-los daquela forma, na Inglaterra nunca fazia calor o suficiente para isso.

— Vamos à praia! — Albus sacudiu as mãos, animado. — Estávamos te esperando acordar. Tem certeza que o Lucas e a Anna não vão querer ir? — perguntou ao loiro.

— Eles provavelmente estão dormindo — respondeu e deu de ombros.

— Vamos, Rose?

Eles estavam hospedados no Rio de Janeiro, local em que uma das principais atividades turísticas era visitar praias. Querendo ou não, Rose estava ansiosa para conhecê-las, porque nunca tinha visto uma praia tropical pessoalmente, e elas eram bem diferentes daquelas que existiam na Europa. Por causa disso, ela sorriu e assentiu, animada.

(...)

Scorpius morava próximo ao litoral, por isso, em poucos minutos, eles já estavam na praia. Não havia coisas assim na Inglaterra, praias tão bonitas e um calor de quase quarenta graus. Definitivamente, a América era muito diferente da Europa.

O Sol irradiava impiedoso e, apesar da grande quantidade de protetor solar que Rose havia passado, ela tinha certeza que ficaria vermelha mais tarde, porque sua pele não estava acostumada com tanto calor.

O Malfoy deixou o mar e correu em direção à Rose, que estava sentada sobre uma canga estendida na areia, com a água pingando da sua roupa.

— Você não vai entrar na água? — perguntou ele, ao mesmo tempo em que apontava para o oceano.

A Weasley, que tinha um livro em mãos, o fechou.

 — Sim, depois — respondeu. — Quero pegar um pouco de Sol, parece que ele não existe na Inglaterra.

— É verdade. — Ele riu da brincadeira. — Eu já estava quase me esquecendo disso. Bem, eu acho que vou comprar um picolé — disse. — Você quer um?

Ela maneou a cabeça de um lado para o outro, em negação. Sem dizer mais nada, ele se distanciou, e Rose, sem nada de interessante para fazer, o acompanhou com os olhos. Ela observou atentamente quando ele parou para conversar com uma mulher morena e alta, que nunca havia visto na vida. Desajeitado como o de costume, ele caiu na areia, o que fez a ruiva prender o riso. De súbito, de um momento para o outro, a desconhecida fechou a cara de uma forma que a Weasley não compreendia. Queria estar perto o suficiente para ouvir, mas mesmo que estivesse, o seu curso de português feito às pressas em seis meses não a permitiria compreender todos os detalhes, ainda que se esforçasse. Ela precisava que as pessoas falassem devagar para entender, e os brasileiros, apesar de pacientes e receptivos, não eram muito bons nisso.

Desatenta e despretensiosa, Rose não se incomodou muito quando Scorpius, de longe, apontou para ela, embora estivesse curiosa pelo motivo. Talvez ele só estivesse mostrando os amigos de sua terra natal, mas seja lá o que fosse, não era uma boa hora, porque a outra garota estava furiosa, o que se confirmou quando ela espalmou as mãos no peito de Scorpius, para afastá-lo quando ele tentou se aproximar e, depois, marchou para longe, sem nem sequer olhar para trás.

Quando o loiro deu meia-volta, a fim de retornar para o lugar em que eles haviam sentados, Rose retornou a sua atenção para o livro que tinha em mãos. Não queria que ele pensasse que ela estava bisbilhotando ou algo assim.

— Eu posso ter feito uma grande burrada — foi a primeira coisa que ele disse ao se sentar ao lado da ruiva, que estranhou aquela reação.

Scorpius não costumava falar sobre a vida dele para ela, suas conversas eram sempre muito superficiais.

— O que você fez? — perguntou ela, sem dar muita importância, mais por educação do que por interesse.

— Eu disse a ela que nós somos um casal que está se divorciando.

Rose permaneceu encarando-o por algum tempo, feito uma idiota. Não havia digerido uma única palavra que saiu daquela boca.

— Que?

— Eu disse a ela que eu e você somos um casal. — Ele engoliu seco. — E que estamos nos divorciando.

— E por que diabos você fez isso? — Rose estava irritada, e seu tom de voz deixava isso claro.

Naquele momento, a Bela Adormecida preferia ter ficado dormindo em casa ao ter ido à praia.

— Porque ela viu a minha aliança e achou que eu estivesse tendo um caso com ela, não quis acreditar que eu não sou casado — explicou, gesticulando de uma forma que exalava desespero. — E eu definitivamente não sou casado, mas eu entrei em desespero, ok?! Então eu falei que eu e você, Rose Weasley e Scorpius Malfoy, somos casados e estamos nos divorciando.

— Você é maluco? — ela soou ultrajada e realmente estava. — Eu espero nunca encontrar essa mulher na sua vida. Por que você anda com uma aliança por aí?

— Ah, mas você vai. — Rose lançou-lhe um olhar quase mortal. — Você precisa me ajudar com ela, ok? Eu realmente estou muito a fim da Luna e não posso perder tudo por um mal entendido. Eu tenho uma aliança, porque fui casado. Por um mês, o Albus não te contou?

Rose movimentou a cabeça de um lado para o outro, negando. Não tinha ideia de que Scorpius já havia se casado em algum momento da sua vida.

— Eu entendo o seu ponto, mas eu não tenho absolutamente nada a ver com isso. — Deu de ombros. — Eu só quero curtir as minhas férias, de preferência, em paz. Sinto muito se o casamento não deu certo, não deveria ficar andando com a sua aliança antiga por aí. 

Ela soou como uma megera, sabia, mas não estava nem um pouco a fim de brincar daquela mentirinha estúpida.

— Rose, você só vai precisar fingir enquanto estiver aqui, ok? Não vai ser tão ruim, vai passar bem rápido e tinha que ser você, porque ela nunca mais vai te ver. Você vai voltar para a Inglaterra, e eu não terei mais dor de cabeça, então poderei viver o meu “felizes para sempre”. — Ele fez as aspas com as mãos. 

Aquele plano tinha absolutamente tudo para dar errado, mas o olhar brilhante de Scorpius significava esperança. Uma esperança que Rose Weasley não conseguia entender de onde tinha vindo, uma vez que era um plano completamente falível.

— Nem ferrando. — Ela forçou um sorriso, sem a menor vontade, e retomou a atenção para o livro que lia. — Eu não vou te ajudar com a garota do sutiã.

— Eu te dou toda a coleção da Jane Austen lendária da minha família — ofereceu, erguendo as sobrancelhas, desafiador, e prudentemente ignorando o comentário sobre o sutiã.

A verdade era que Scorpius não tinha afeição nenhuma por aqueles livros e que pretendia vendê-los por uma alta quantia na internet.

Rose, por outro lado, era a maior fã de Jane Austen que ambos conheciam. Por isos, a ruiva rapidamente virou o rosto em direção a ele novamente, espantada. Scorpius tinha a coleção completa da Jane Austen, com as primeiras edições, ou seja, as originais, que passava de geração em geração pela sua família. Aquilo significava arruinar uma tradição inteira dos Malfoy, e por mais que ela fosse completamente contra interromper tradições, a sua licenciatura em Literatura gritava um milhão de vezes mais alto. Jane Austen era a sua autora favorita.

— Temos um acordo? — Ele estendeu uma das mãos na direção da menina, sério. — Você só precisa fingir que está se divorciando de mim, e nunca mais vai vê-la. Parece bem simples. É uma mentira inofensiva.

— E você me entrega a coleção da Jane Austen. — Rose apertou a mão de Scorpius firmemente. — Foi um prazer fazer negócios com você. — Sorriu, como se não tivesse negado completamente aquela ideia cinco segundos atrás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Divórcio de Mentirinha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.