Paternidade Surpresa (Severitus) escrita por Srta Snape


Capítulo 22
Capítulo 22 – Recuperação




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Capítulo 22 – Recuperação

Parecia que não apenas o tempo havia parado, mas a vida ao seu redor também. Não era possível ouvir um único respirar ou suspiro, as batidas dos corações estavam em silêncio assim como o coração da figura morta a sua frente com os olhos vermelhos abertos olhando para o nada que seu corpo e alma se tornaram. Aos poucos após alguns segundos em que apenas encarava seu inimigo, Harry ouviu os primeiros sons que chegaram aos seus ouvidos, não eram de gritos ou feitiços, eram passos apressados dos comensais que ao verem seu mestre caído perante aquele adolescente queriam apenas fugir do destino cruel em Azkaban, mas os membros da Ordem foram mais rápidos e os impediram prendendo a sua maioria com feitiços. Apenas Draco e sua mãe não entraram na batalha e por isso não estavam acorrentados. Ambos choravam a prisão de Malfoy Sênior.

— Harry?

A voz era conhecida, um timbre forte e baixo, mais velho e sábio. Dumbledore se aproximou devagar e Harry o viu entrar em seu campo de visão. O diretor olhava do corpo de Voldemort para a varinha ainda erguida do menino que aos poucos fora baixada conforme Harry levantava os olhos para o ancião a frente.

— Como você se sente?

A pergunta foi a princípio estranha. Como se sentia? Claro que aliviado, Voldemort estava enfim morto, não haveria mais maldade ou desgraça no mundo bruxo, ninguém mais morreria nas mãos daquele ser maligno e perverso. Mas ao pensar em responder isso compreendeu que não era esse sentir que o diretor estava se referindo e sim ao fato de ter usado uma maldição imperdoável, a mais cruel e poderosa das três, a maldição da morte. Ele, Harry, matara alguém. Ceifara a vida de um ser humano, ainda que fosse esse ser que talvez nem pudesse chamar de humano. Tirar a vida de alguém é uma violação extrema, algo que quebra a alma, divide o coração e a razão. Jamais imaginara que conseguiria lançar essa maldição, jamais pensara que fosse capaz de algo de tal magnitude, no entanto ali estava em frente ao corpo vazio que matara. Podia dizer a Dumbledore que se sentia estranho, pesado e talvez até arrependido, era o que se esperava de alguém como ele, um adolescente de 15 anos, mas não era verdade. A verdade era que se sentia normal, se sentia bem de certa forma. Seus dedos não apertavam mais a varinha com ódio, apenas a seguravam levemente, seu coração não tremia de raiva e nem sua magia oscilava de loucura, estava igual a qualquer outro dia, como se tivesse acabado de finalizar uma tarefa da escola. Nada mais que uma atividade para ganhar pontos e que ele ganhara.

— Estou bem. - Respondeu guardando a varinha no bolso. Dumbledore se aproximou e olhou intensamente em seus olhos por alguns segundos sem dizer nada. - Eu estou bem, diretor. Sei que matei uma pessoa, mas por algum motivo não estou me sentindo mal por isso, mas também não me sinto feliz. Acho que só fiz o que achei que tinha que fazer. E acho que o senhor sabe que no fim isso aconteceria.

— Sim, eu sabia. Só não pensei que seria tão cedo. Você é muito jovem para carregar essa carga nas costas.

— Minhas costas estão leves, senhor. Estou bem.

Dumbledore deu um leve sorriso e tocou o ombro de Harry dando-lhe dois tapinhas. Harry olhou novamente para o diretor e percebeu que o alívio que via nos olhos azuis era o seu próprio. Estava enfim aliviado. Voldemort não existia mais nesse mundo, agora ele poderia viver como um adolescente que só tem como preocupação as provas finais da escola. Mas então outra preocupação tocou sua mente o fazendo arregalar os olhos.

— Pai!

Harry deu as costas ao diretor e saiu correndo em direção ao portão de entrada da mansão. No caminho viu Sirius em pé amparado por Lupin, pensou em parar e falar com eles por um segundo, mas ao ver o carinho que a mão de Lupin fazia na bochecha de Sirius e o olhar do padrinho para o lobisomem achou melhor fazer isso depois. Continuou a andar apressado e encontrou o homem de negro deitado na grama, completamente desacordado. Emelina apertava um pano já ensanguentado em sua testa e passava a varinha pelo corpo dele.

— O que houve? - Perguntou ao se ajoelhar diante dos dois.

— Você Sabe Quem usou muita magia negra para jogá-lo longe. Severus bateu com a cabeça no portão de ferro e desmaiou. Estou estancando o sangue e o estabilizando para poder levá-lo ao St'Mungus.

— Não pode fazer um feitiço?

— Não com ele assim. Posso agravar alguma coisa. Ele precisa ser hospitalizado com pressa.

Os olhos esmeraldas piscaram com força, Harry acabara de matar o bruxo das trevas mais perigoso daqueles tempos e naquele momento sentia-se a pessoa mais inútil do mundo vendo Snape estirado daquela forma com a pele mais pálida do que o normal devido a perda de sangue e a mão, que agora pegara na sua, completamente mole. Será que perderia seu pai naquele momento? Será que todo seu plano no fim dera completamente errado? Do que adiantaria ter derrotado Voldemort se perderia aquele que se tornara a pessoa mais importante da sua vida no caminho? Aguentaria essa dor em seu peito? Suportaria perder o pai novamente? Ou a culpa o dominaria com força?

Qualquer pensamento foi varrido para longe quando avistou os medibruxos aparatando e correndo para ajudar os bruxos caídos.

— AQUI! - Gritou jorrando luzes vermelhas com a varinha para cima afim de chamar a atenção dos medibruxos. - Aqui!

A tática deu certo, três medibruxos aproximaram-se rapidamente empurrando Harry para o lado e recebendo as informações devidas de Emelina antes da aurora também se afastar e apenas assistir Snape sendo preparado para desaparatação de emergência.

— Procure a medibruxa chefe, Hollis, no quarto andar para informações.

— Está bem. - Disse Emelina observando os três medibruxos colocarem Snape em uma maca conjurada e o prenderem fortemente com feitiços antes de em conjunto desaparatarem com o corpo do homem. - Eu posso te levar até lá se quiser.

— Sim, só preciso falar com Hermione e Rony antes.

— Eu espero, mas vá depressa.

O grifinório assentiu e foi em direção aos amigos que estavam junto a Professora McGonagall e a senhora Weasley, que chegaram logo após o término da batalha e que rapidamente lhe puxou para um abraço apertado chorando o quanto ele foi corajoso para logo em seguida segurar o seu rosto e lhe dar uma bronca com os olhos cheios de lágrimas.

— Nunca mais se atreva a fazer uma coisa assim, Harry Potter! Sair e se arriscar sem nem mesmo ser maior de idade. E se tivesse morrido? Como acha que ficaríamos? Como acha que eu ficaria? Você é como um dos meus filhos e não quero perder você.

— Desculpe, senhora Weasley, não era minha atenção preocupar a senhora. Só queria ajudar.

— Bom, ajudou realmente, mas ainda assim foi muita imprudência.

A matriarca o puxou para mais um abraço apertado e deu um beijo estalado em sua bochecha. Harry gostou do abraço, era quente e cheio de um amor que gostava de sentir apesar de sentir-se envergonhado com essa demonstração de carinho em público. A maioria das vezes que se abriu para esses sentimentos, abraços e carinhos foi com Snape em seus aposentos, mas a senhora Weasley não se reservava a privacidade, o amor da matriarca da família Weasley era grande demais para ficar escondido, a doce e forte mulher vivia para isso, para ser mãe, protetora e acolhedora. Harry amava isso e gostava de sentir aquele amor. Mas realmente desejava que ela o soltasse um pouco, já estava começando a sufocar.

— Já chega mamãe. - Disse Rony com a testa franzida. Hermione riu ao lado e sussurrou algo como "ciumento", mas Rony não ouviu.

— Você está bem Harry? - Perguntou McGonagall.

— Estou, professora, obrigado. Eu só vim avisar que vou com Emelina para o St'Mungus. Os medibruxos levaram Severus para lá.

— Quer que a gente vá com você? - Questionou Hermione.

— Não, encontro com vocês depois no Grimmauld Place.

— Está bem.

Emelina o aguardava no mesmo lugar e quando chegou perto da aurora a mesma estendeu o braço e pediu que ele segurasse com força. Então a bruxa fez um movimento rápido e Harry sentiu ser puxado pelo umbigo como se fosse jogado em um vórtice violento. Em menos de um segundo estava com os pés no chão no saguão de entrada do hospital bruxo. Por um momento respirou fundo e piscou os olhos buscando o equilíbrio no corpo, sua mão ainda apertando o braço da mulher.

— Você está bem?

— Nós acabamos de aparatar não foi?

— Sim. Era o modo mais rápido.

— Acho que prefiro voar de vassoura mesmo.

Emelina deu um sorriso de canto e Harry percebeu que a aurora era muito bonita, mesmo com os cabelos despenteados e o rosto sujo devido a recente batalha que travara com os comensais da morte. Podia entender por que Snape não rejeitava a mulher quando a mesma conversava com ele na sede da Ordem, apesar do homem sempre se manter afastado e ouvir mais do que falar. Emelina tinha uma postura forte e um ar imponente que chamava atenção tanto quanto seus olhos escuros e seus cabelos ondulados. Que a mulher era habilidosa Harry já sabia, pois ouvia-a falar de suas missões quando usava as orelhas extensíveis para ouvir as reuniões da Ordem. Muitos presos deviam seu status atual em Azkaban a ela e muitas pessoas permanecem vivas hoje devido a bruxa e sua poderosa varinha.

— Precisamos achar a medibruxa chefe. – Comentou Emelina indo em direção a recepção.

Não demorou muito para que a medibruxa Hollis se apresentasse e avisasse a ambos que Snape estava estabilizado.

— Ele sofreu uma carga muito grande de magia das trevas em seu corpo e sua força vital e mágica estão fracas, vamos deixá-lo dormir até que os níveis subam o suficiente para acordá-lo, isso deve demorar alguns dias. O corte na cabeça foi fechado, infelizmente ele ficará com uma leve cicatriz no local uma vez que seu corpo está fraco.

— Podemos vê-lo?

— Claro, só não façam muito barulho. Ele está no quarto 3 seguindo o corredor.

Ao entrar no quarto Harry foi diretamente para o lado da cama de Snape e o observou. Sem se preocupar com a mulher que o acompanhava segurou a mão do homem e passou a mão por sua testa onde agora via-se uma cicatriz branca.

— Mais uma coisa para termos igual. - Sussurrou dando um sorriso leve ao ver o peito do homem subindo e descendo devagar.

— Você o ama muito, dá para ver em seus olhos. - Perguntou Emelina se aproximando. - Ele é seu pai não é?

Harry olhou surpreso para a mulher. O status da paternidade de Snape era um segredo que não fora revelado para a Ordem, apenas para alguns membros mais próximos visto o perigo que correria se Voldemort soubesse dessa informação.

— Ninguém me contou, não é preciso. Não sei se percebeu, mas eu tenho um interesse especial em Severus e por isso o observo muito.

— Eu percebi.

— Ninguém olha e cuida de outra pessoa da forma como ele faz com você se não houver um vínculo forte. Nem mesmo seu padrinho age da forma como Severus quando está ao seu lado.

— Como assim?

— Ele está sempre atento a você, a cada passo que você dá, o corpo dele se move quando o seu move, seus olhos observam cada centímetro de você procurando algo que possa estar errado e a magia dele se intensifica quando detecta qualquer perigo. Ele vive para te proteger, mas é de uma forma muito mais intensa que qualquer outra pessoa. Eu sou especialista em guarda pessoal, sei reconhecer um guarda costas e Severus é o melhor quando se fala de você. - Harry engoliu em seco, nunca tinha reparado nisso. - Mas acho que ele está ficando mole, caso contrário você não teria ido servir de isca. Ele jamais permitiria.

— Por isso eu tive que ir sem falar nada.

— Eu sei. O senhor é um real grifinório.

Ambos deram uma risada baixa e ficaram o restante da tarde ao lado de Snape que continuou dormindo tranquilamente.

— Por que você gosta dele? - Perguntou Harry após algumas horas em total silêncio. - Severus não é bem uma pessoa que se diga "Nossa, que homem apaixonante".

— Ah, realmente não é. - Respondeu Emelina após rir do que o menino dissera. - Eu não sei, acho que ele era o que mais se assemelhava a mim nas reuniões da Ordem. Sempre concentrado, as vezes até entediado, mas inteligente, estrategista, ácido. Não baixava a cabeça para os outros quando negavam suas ideias que no final se provavam ser as melhores. Eu fui observando-o e aos poucos me interessei cada vez mais no mistério que era ele. Quando dei por mim estava pensando nele mais do que deveria tanto nas reuniões quanto fora delas.

Harry entendia muito bem como era isso, ainda pensava em Cedrico quando se via distraído.

— Um dia resolvi conversar com ele e o interesse aumentou, pois esperei que ele me ignorasse ou me lançasse alguma frase ridiculamente babaca, mas ao contrário, ele me ouviu atentamente e respondeu com mesura. Então sempre que tinha uma oportunidade conversávamos um pouco, normalmente sobre as missões da Ordem.

— Eu pensei em ajuda-lo a se aproximar de você porque percebi seu interesse, mas pelo jeito não foi necessário. – Disse Harry olhando de Emelina para Snape. – O que pensa em fazer quando ele acordar?

— Não sei.

— Acho que não devia perder tempo e devia falar com ele sobre o que sente.

— Esse é o jeito grifinório de se fazer?

— Mais ou menos, mas não é por isso. Severus não vai dar o primeiro passo, terá que ser você e sinceramente eu desejo que faça isso. – Harry olhou para Snape e suspirou esperando alguns segundos para falar novamente. – Ele merece ser feliz.

Emelina sorriu e não disse nada, apenas aconchegou-se na poltrona onde estava e olhou para Snape entregando-se a devaneios enquanto velava o sono do moreno ao mesmo tempo que Harry fechava os olhos e adormecia.

***

O sol entrava pela janela que a mulher abriu naquela manhã, raios tingiam o rosto do homem adormecido corando-lhe a pele pálida. A brisa balançava os cabelos negros que ela penteara durante os dois dias em que ficara ao seu lado acompanhando seu avanço. Os dedos finos e femininos agora passavam displicentes pela folha de um livro que ela apoiava em sua coxa, seus olhos liam cada palavra enquanto sua boca se mexia proferindo cada frase fazendo-se ser ouvida por aquele que dormia.

— “Ele tentou não olhar para ela, como se fosse o sol...

A bruxa estava tão concentrada que não viu os olhos negros se abrirem e a observarem por alguns minutos enquanto ela lia aquele pequeno livro para ele. A voz macia e baixa era sedutora e encantava seus ouvidos e ainda que estivesse acordado, tudo que queria fazer era ficar em silêncio apenas a ouvindo, mas ao ouvir aquela última frase recitada ele não se aguentou e completou a citação.

— ... Mas, como o sol, ele a viu mesmo sem olhar para ela.” – Seus lábios secos finalizaram com o nome do autor no momento em que Emelina ergueu os olhos para si. – Liev Tolstoi.

— Não sabia que gostava de literatura trouxa, senhor Snape.

— Parece que gosto tanto quanto você, senhorita Vance.

A mulher sorriu de canto e se ergueu deixando o livro fechado na poltrona e se aproximando. Os olhos negros a observaram sem nada dizer enquanto ela aproximava a mão de seu rosto e afastava uma pequena mecha de cabelo que o vento jogara em cima de sua bochecha.

— Como se sente?

— Com sede.

Emelina pegou um copo com água e ajudou Snape a se sentar para beber o líquido. O homem entregou o copo para a mulher e passou as mãos pelo cabelo enquanto respirava fundo sentindo os efeitos dos dias que ficara adormecido.

— Vou chamar o medibruxo para te examinar.

— Não é necessário, estou bem. – Disse Snape jogando as pernas para fora da cama e tentando se levantar.

— Onde pensa que vai? – Questionou a mulher postando a mão no meio do peito de Snape que franziu a testa para ela. – Você dormiu por três dias, precisa se recuperar.

— Já disse que estou bem, saia da minha frente mulher.

— Não. – Falou Emelina de forma intensa forçando o homem a se sentar novamente. – Deixe de ser uma criança birrenta, Snape, e sente-se logo.

— Já disse que não preciso de medibruxo nenhum, já passei por coisas piores e sei muito bem me virar sozinho.

Snape postou a mão em cima da mão de Emelina e tentou retirá-la, mas a aurora era uma mulher de muita fibra e permaneceu impedindo-o sem baixar a cabeça nem mesmo quando Snape lançou-lhe um olhar penetrante e se aproximou tanto de seu rosto que podia sentir a respiração dele batendo em sua pele.

— Eu atrapalho alguma coisa?

No mesmo instante os dois olharam em direção a porta vendo que por ela passar Harry que olhava de um para o outro enquanto um sorriso travesso aparecia em seus lábios. Aproveitando essa distração, Emelina empurrou Snape o fazendo se sentar na cama novamente.

— Você fica exatamente onde está, senhor Snape, ou serei obrigada a petrifica-lo. Sua varinha está comigo então pode rosnar o quanto quiser em minha direção, mas vai seguir o que estou mandando. Eu vou buscar o medibruxo responsável. Com licença.

Emelina olhou intensamente para Snape por mais dois segundos e então saiu em direção a porta sendo observada por um Snape perplexo que não sabia ao certo o que pensar sobre aquela mulher que o irritara e o deixara encantado com sua firmeza. Ninguém nunca o tratara daquela forma, talvez McGonagall, mas era em um outro tom.

— Que mulher irritante. – Sibilou Snape arrumando o lençol para cobrir suas pernas que ficavam de fora no camisolão que vestia.

— Eu gosto dela. – Disse Harry aproximando-se. – Oi.

— Oi.

— Como você está?

— Estou bem.

— Que bom.

Harry baixou a cabeça e olhou para o lençol, seus dedos mexendo-se nervosamente. O menino engoliu a saliva que acumulou em sua boca quando sentiu vontade de dizer algo mais. Talvez dizer o quanto estivera preocupado e mais ainda com medo, mas nada saíra. Snape viu Harry daquela forma e sabia exatamente o que fazer, pois agora já conhecia seu filho o suficiente para entender seu jeito de ser. Devagar estendeu a mão e postou no ombro do menino dando um pequeno aperto fazendo-o o olhar.

— Está tudo bem. – Sussurrou vendo os olhos esmeraldas brilharem. – Eu estou aqui.

O menino assentiu com a cabeça e deixando-se levar novamente pelos impulsos fraternos que durante muitos anos não pudera ter, se aproximou e enlaçou a cintura de Snape apoiando sua cabeça no peito do homem onde podia ouvir o coração batendo. Snape o abraçou com força e acariciou seus cabelos revoltos.

— Tive tanto medo. – Disse Harry o apertando mais forte. – Não queria te perder.

— Não perdeu, eu estou aqui com você. Não vou te deixar. Está tudo bem, filho.

A porta se abriu devagar e Emelina parou observando a cena. Snape ergueu os olhos e a encarou sem nada dizer. A mulher apenas sorriu e saiu do quarto sem falar uma única palavra dando tempo para que os dois pudessem deixar sair de seus peitos aquela angústia que sentiam.

— Harry? – Chamou Snape após alguns minutos.

— Sim.

— Olha para mim. – Pediu Snape afastando Harry com cuidado e fazendo o menino o olhar após ele arrumar os óculos e secar os olhos. – Nunca mais me deixe preocupado como fiquei quando li seu bilhete.

— Eu só queria ajudar.

— Me prometa que nunca mais você fará algo tão estupido assim.

— Mas deu certo.

— Me prometa.

— Se eu não fizesse vocês poderiam ter morrido.

— E pelo que fez quem podia ter morrido era você. Tem noção da preocupação e medo que eu tive?

— Medo?

— Sim, Harry, medo. Medo de perder você, de chegar lá e ver seu corpo caído no chão. Eu não aguentaria ver algo assim então me prometa que nunca mais fará uma idiotice dessas.

— Tudo bem, eu juro.

— Que bom.

Snape encostou-se nos travesseiros e respirou fundo. Alguns minutos depois Emelina abriu a porta novamente e vendo que o momento pai e filho tinha acabado a aurora entrou sendo seguida pelo medibruxo de plantão que examinou Snape e lhe disse que estava bem e que poderia ir embora no dia seguinte, mas que precisaria passar mais uma noite no hospital. Snape bufou e reclamou, mas aceitou a recomendação médica, assim como tomou as poções necessárias.

Emelina teve que ir embora naquela noite, mas prometeu voltar no dia seguinte. Harry pode ficar no quarto com Snape, o professor reclamou e disse para Harry ir para casa descansar, mas o menino bateu o pé e disse que ficaria ali ao seu lado o que acabou sendo bom, pois Snape foi cuidado a todo o tempo pelo menino que o ajudou a beber água, comer e conversou consigo até altas horas da madrugada quando o sono pegou o garoto com força. Harry dormiria na poltrona ao lado, mas Snape não permitiu e deu um canto de sua cama para o menino que se aconchegou a ele e adormeceu rapidamente. Era como se a presença de Snape trouxesse a Harry a segurança e paz que precisava para finalmente ter uma noite de sono decente desde que matara Voldemort.

O dia seguinte chegou faceiro e para Snape era o dia mais esperado, pois iria embora daquele lugar. Harry ainda dormia em sua maca enquanto tomava banho e já se arrumava com suas vestes negras abandonando o camisolão branco.

A porta do quarto se abriu e por ela entrou Dumbledore com uma veste roxo claro com desenhos abstratos em cinza, os oclinhos de meia lua pendurados na ponta do nariz adunco e um chapéu pontudo roxo.

— Já está pronto, Severus? Pensei que sua alta seria daqui umas duas horas.

— Olá diretor. – Cumprimentou Snape terminando de abotoar o sobretudo. – Por mim vou embora agora. Estou bem, já cansei de falar para o medibruxo, mas ele e Emelina me ameaçam com um petrifico se eu não aguardar o tempo certo.

— Ah, Emelina é realmente uma pessoa muito difícil de dobrar, controladora e mandona. Me lembra muito você.

Snape bufou e revirou os olhos.

— Por que está aqui?

— Não posso vir visitar meu pupilo?

— Não sou seu pupilo há muitos anos.

— Você sempre será meu pupilo, Severus. – Disse Dumbledore dando-lhe um sorriso que não foi compartilhado. – Na verdade eu fui chamado aqui pelo diretor do St’Mungus.

— Por quê? – Perguntou Snape se virando para o homem e antes mesmo que Dumbledore pudesse responder o professor fez uma nova pergunta. – É sobre ele?

— Sim.

Snape virou-se imediatamente para Harry que dormia pesado abraçado com o travesseiro, roncando baixinho.

— O que houve?

— Vamos conversar lá fora.

Os bruxos saíram do quarto e ficaram frente a frente no corredor longo que continham diversos quartos de internados.

— Fale, Dumbledore.

— Parece que algo aconteceu nesses últimos dias desde que Harry chegou aqui. Algo mágico.

— Tudo no nosso mundo é mágico. Explique.

— A magia é incrivelmente surpreendente, principalmente quando falamos de Harry Potter. Vamos caminhar e vou te explicar.

***

Ao voltar para o quarto Snape encontrou Harry já acordado.

— Estava te esperando, imaginei que foi falar com o medibruxo, mas que voltaria já que sua capa ainda está aqui. Além de mim.

— Eu não deixaria você aqui.

— Eu sei, Severus, só estou brincando. Nós podemos ir para casa?

— Sim, podemos.

— Então vamos.

— Não, ainda não. – Disse Snape se aproximando de Harry e olhando no fundo dos olhos esmeraldas. – Precisamos conversar.


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