Paternidade Surpresa (Severitus) escrita por Srta Snape


Capítulo 2
Capítulo 2 – Impressões




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Capítulo 2 – Impressões

A madrugada parecia se arrastar lentamente apenas para que sua mente pudesse ser ocupada com lembranças antigas, dúvidas cruéis e sonhos impossíveis. A água do lado negro batia revoltada na janela do quarto, do lado de fora devia estar ventando muito e possivelmente era um ar frio, ao contrário do recinto onde se encontrava sentado em uma cadeira, de pernas cruzadas olhando Harry Potter dormir em sua cama.

O sono que tanto almejara há pouco, agora estava bem longe. Não havia como dormir após o que descobrira, precisava pensar muito e principalmente, precisava ver o diretor, sabia que Dumbledore conseguiria ajudá-lo a entender o que estava acontecendo e o que fazer para resolver esse problema. No entanto, precisava aguardar o dia raiar, pois ainda que o diretor possivelmente estivesse acordado ou não se importasse de acordar para saber algo tão importante, achava que seria muita falta de respeito incomodá-lo tão tarde, o ancião tinha direito de ter sua noite de sono tranquila, ao contrário de Snape que sentia que não pregaria o olho tão cedo.

Talvez tudo aquilo fosse apenas coincidência e nem precisasse se preocupar com nada, mas algo lhe dizia que ele sabia e sentia dentro de si que ali não havia nada de coincidência, e ainda que não quisesse acreditar que pudesse ser verdade, algo gritava o contrário.

Quando o sol começou a despontar no horizonte, pintando o céu de azul claro Snape foi até a janela e olhou a paisagem lá fora. A janela se encontrava no limite da água do Lago Negro e por isso, quando o sol se erguia, a água se transformava de preta para verde e a luz que passava por ela transpassava o vidro e jogava raios de luz para dentro do quarto deixando-o magnifico. Fazia tempo que não olhava aquele fenômeno, no seu dia a dia aquilo passava despercebido, a última vez que parara para olhar, fora quando entrara para o corpo docente de Hogwarts e conhecera seus aposentos, há quatorze anos, mesma idade do menino que começava a se mexer mostrando que o sono aos poucos o abandonava. Snape voltou para o sofá e permaneceu apenas aguardando.

Harry não queria acordar, aquela com certeza era a melhor cama que já dormira. Seu corpo estava completamente relaxado e quentinho. Queria continuar embaixo das cobertas, mas sabia que precisava levantar e se arrumar para ir para o café da manhã e depois para a primeira aula do dia. Sentindo a preguiça em seus músculos o menino se despreguiçou gostosamente, bocejou e abriu os olhos. Demorou alguns segundos para compreender que a visão embaçada que tinha era diferente da que estava acostumado a ter quando acordava em seu dormitório, não havia a parte de cima da cama onde ficava a cortina que lhe dava um pouco de privacidade. Parando para pensar um pouco percebeu que a cama onde estava era diferente, muito maior e confortável e seus lençóis tinham cheiro de hortelã, muito diferente do cheiro de um quarto cheio de adolescentes. Ainda sem óculos Harry tentou visualizar o ambiente, mas só conseguiu ver vultos e uma pequena luz ao fundo onde deveria estar a janela. Entendendo finalmente não ser comum estar em um quarto que não era seu, Harry se virou tateando o colchão atrás de seus óculos, encontrou-os em uma mesinha ao lado. Assim que os colocou no rosto seu coração disparou por não saber onde estava.

O quarto era enorme, duas vezes o tamanho do dormitório da Grifinória, a cama era gigante, podia rodar umas quatro vezes e não cairia, os lençóis confortáveis eram negros e brilhosos. A iluminação era fraca devido a quase não ter janelas, havia apenas uma no fundo do quarto, depois do guarda-roupas e de uma tapeçaria com o símbolo da Sonserina, onde Severus Snape estava o olhando.

— O que faz aqui? – Perguntou Harry exaltado procurando a varinha.

— Esses são os meus aposentos pessoais, Potter. – Falou Snape levantando-se. – O senhor é o intruso aqui.

— E por que estou em seus aposentos? Por que estou em sua cama? – Os olhos de Harry se fecharam quando as imagens da noite anterior subiram para a superfície do consciente. – O que aconteceu?

— Aconteceu que o senhor, mais uma vez, demonstrou um nível de estupidez enorme. – Disse Snape se aproximando do pé da cama e cruzando os braços diante do peito. – E pôs sua vida em perigo. Como disse, estupido.

— Eu não sou estupido! – Retrucou Harry sem perceber que ainda estava sentado na cama de Snape.

— Ah, não é? Então pode me explicar que ideia genial foi aquela de tentar pegar um vidro enorme de um líquido que o senhor desconhece, na última prateleira fora de seu alcance?

— Foi você quem mandou eu não usar magia! – Dessa vez Harry se ajoelhou no colchão e encarou Snape com ódio.

— E é claro que não passou pela sua cabeça oca usar uma cadeira, uma mesa ou até mesmo me pedido ajuda?

— Como se fosse me ajudar. – Disse Harry fazendo Snape fechar a mão em punho por saber que era verdade, possivelmente falaria algo humilhante e acabaria fazendo-o pegar aquele vidro sozinho. – O que fez comigo?

Snape, que por um momento estivera perdido em pensamentos, voltou a atenção para o garoto que agora abraçava o corpo com os braços e fugia o olhar encarando seus próprios joelhos.

— Podia ter me levado para a ala hospitalar, mas me trouxe para sua cama. – Completou Harry quando o professor franziu a testa. – O que fez comigo?

A pergunta e mais ainda o tom usado indicando medo, atingiram Snape como um soco no estômago. Sabia que o menino o odiava, e que tinha ciência de seu desprezo por ele também, mas chegar a pensar que fosse capaz de algo tão nojento e imundo como abusar de um aluno menor de idade e indefeso era cruel.

— Não me tome como um pervertido, senhor Potter. – Rosnou Snape com indignação. – Não tocaria um único dedo no senhor com esse intuito e nem em qualquer pessoa, muito menos em um menor de idade e meu aluno.

Harry engoliu em seco sentindo que atravessara uma linha limite invisível. Os olhos de Snape mostravam surpresa e indignação, havia também fúria, mas não direcionada exatamente a ele e sim ao que dissera. Talvez sua eterna desconfiança e desgosto com o professor o tivesse levado para um pensamento exagerado.

— Sou seu professor e por isso o senhor como meu aluno é minha responsabilidade. Não havia tempo para levá-lo a ala hospitalar e nem acordar Pomfrey. Cada segundo que eu perdesse poderia ocasionar sua morte. Então fiz o que fui treinado para fazer, salvar sua maldita vida. Tirei o veneno de seu corpo, dei o antidoto e você dormiu devido a poção. Não pude usar magia em você, potenciaria o veneno e não o carregaria nos braços por cinco lances de escadas. – Explicou e então deu-lhe as costas. Passou as mãos nos cabelos e respirou fundo antes de continuar. – Mas se não achar bom posso resolver imediatamente. – Finalizou pegando a varinha e apontando para o menino.

Harry se sobressaltou e se encolheu diante da ameaça. Sabia que Snape era poderoso e rancoroso o suficiente para fazer o que estava ameaçando, ainda que fosse ilógico já que o professor se esforçara para salvá-lo.

— Menino idiota. – Disse Snape baixando a varinha. – Pegue suas vestes na mesa, estão limpas, e vá embora.

Snape deu-lhe as costas novamente e Harry imediatamente saiu da cama, pegou suas vestes e a varinha e se dirigiu a porta.

— Potter. – Ouviu Snape o chamar, virou-se e o viu olhando o céu pela janela. O horizonte começava a ficar laranja. – A marca nas suas costas, desde quando você a tem? – Harry franziu a testa e apesar do incomodo de saber que Snape viu seu corpo, respondeu.

— Desde que nasci.

O professor balançou a cabeça e bateu os dedos no braço cruzado. Pareceu que se perdera em pensamentos, mas quando Harry tocou na maçaneta ouviu a voz baixa novamente.

— Saia pela porta atrás da tapeçaria na sala, ela dá no primeiro andar. Isso evitará perguntas caso alguém o veja. Vá direto ao seu dormitório.

Harry assentiu sem saber se Snape via seu movimento, virou a maçaneta e saiu. A sala dos aposentos de Snape era enorme, maior que o quarto, era devidamente iluminada por archotes e um lindo e grande lustre no meio do teto. Tapetes estavam postos diante da lareira, perto da entrada e próximo a um bar cheio de garrafas com bebidas diversas. Uma das paredes era completamente cheia de livros. Não havia nenhuma foto ou decoração, ainda assim parecia aconchegante. A tapeçaria que Snape indicara era de uma floresta escura e nevada onde no meio dela, andando de um lado para o outro, havia uma corsa, era prateada e muito bonita. A corsa parou de andar e piscou na direção de Harry que sentiu-se estranhamente confortável. Lentamente ergueu a mão e tocou o desenho, seus dedos esquentaram e um sorriso se abriu em seus lábios. Então ergueu a tapeçaria, abriu a porta escondida e saiu do recinto.

A corsa na tapeçaria piscou devagar, ergueu a cabeça e olhou para os olhos negros e pensativos do homem que se aproximou e levemente tocou sua figura. A corsa fechou os olhos e virou a cabeça como se os dedos de Snape estivesse lhe fazendo carinho. No entanto, mesmo o carinho estando gostoso, Snape teve que o interromper. O relógio acabara de dar sete horas e ele precisava conversar com a única pessoa que poderia vir a lhe dar uma luz.

***

— Então, depois que Harry quase morreu por você conter em seu escritório um veneno que provavelmente é proibido, você viu a marca e diz que acha que é igual a sua?

— Eu não acho, aquela marca é igualzinha a minha, mesmo formato, mesmo tamanho e mesma localização no corpo. – Rebateu Snape ignorando as confirmações feitas pelo diretor, não importava se Potter quase morrera e sim que ele tinha a mesma marca.

— Acredito que entenda como funcionam as marcas de nascença e sua hereditariedade. – Disse Dumbledore olhando-o sobre os oclinhos de meia lua. – Uma marca assim só pode ter sido passada por alguém de mesmo sangue, normalmente dos pais.

Snape se mexeu desconfortável na cadeira diante da mesa do diretor, entrelaçou os dedos das mãos e lambeu o lábio seco. Sua mente cavava memórias muito antigas.

— Ela não pode ter mentido para mim. – Sussurrou após minutos em silêncio. – Ela disse que havia perdido. – Sua voz era quebrada e baixa. – Ela não mentiria algo assim, não isso.

— Também desacredito que Lillian fosse capaz de uma mentira dessa magnitude, mas precisa se lembrar que quando o ato entre vocês aconteceu ela estava passando por um momento muito conturbado em seu casamento com Thiago, eu tinha certeza que eles se separariam, acredito que ela também pensava isso, por esse motivo ela se entregou a você, o amigo de infância dela com quem tinha sentimentos e intimidade.

— Sim, mas no fim não houve separação nenhuma. Tivemos aquela noite, três semanas depois ela me falou que estava grávida. Eu nem soube o que dizer, o que foi muito bom, pois no mesmo instante ela me dissera que perdera a criança e que por isso não poderia mais me ver, me ver trazia lembranças difíceis. E então ela sumiu e um mês depois eu descubro que ela voltara para Potter. Ela voltara para ele logo depois de dizer que perdera nosso bebê. Meu bebê, Alvo! E então, alguns meses depois eu descubro que ela está gravida através do Lord depois que lhe disse aquela maldita profecia. Eu nem consegui fazer as contas, imaginei que era do Potter, um bebê feito em uma reconciliação. Jamais cogitei a hipótese dela ter mentido para mim. Não sobre isso.

Snape baixou a cabeça e respirou fundo, Dumbledore não o interrompeu em um único momento, deixou que o homem dissesse tudo que estava em seu coração. Severus não era um homem de desabafar, por isso sabia que naquele momento tudo que ele precisava era falar.

— Por minha culpa o Lord caçou Lily para matar seu filho e agora aquela criança, aquele menino irritante. – Apontou para a porta como se tivesse alguém do outro lado. – Aquele... pode ser o meu filho com ela.

Dumbledore descansou as costas em sua cadeira e olhou para Snape que após desabafar tudo de uma única vez, se levantou e foi até a janela apoiando as mãos no vidro e olhando para fora com um olhar disperso sem realmente ver a paisagem.

— Lillian está morta, Severus.

— Jura? Não sabia dessa informação. – A ironia pulava por sua língua.

— O que quero dizer é que não há como ela te explicar os motivos que a levaram a tomar qualquer decisão. Precisamos comprovar a paternidade primeiro. E se for positiva, não temos como saber o que houve, nem mesmo qual feitiço ela usou para que Harry tivesse a aparência de Thiago. Ficar pensando no que ela fez ou disse não vai ajudá-lo com nada. Precisa pensar em seus próximos passos. A primeira coisa que tem que fazer é descobrir se Harry é de fato seu filho.

— E se for? – Perguntou Snape mais para si mesmo do que para Dumbledore. – Por 14 anos eu o odiei, é insuportável olhar para aquele rosto, ele é a lembrança do meu fracasso, da minha culpa.

— E também é o rosto da sua redimissão. Não foi você quem matou a Lillian e ainda assim você se comprometeu com Harry, mesmo o odiando por ser o filho do Thiago. Agora, se descobrir que ele é realmente seu filho, você terá que descobrir como seguir esse novo caminho junto a ele e vê-lo como ele é e não mais como o filho do seu inimigo de escola. – Dumbledore se levantou e foi até perto do mestre de poções postando uma mão em seu ombro.

— Se for verdade. – Começou Snape virando o rosto para olhar o diretor. – Como poderei ser um bom pai se meu pai não era bom para mim?

— Meu garoto. Serão exatamente os momentos de dor que você sofreu nas mãos de Tobias que farão com que consiga caminhar por essa estrada.

Os olhos de Snape voltaram-se novamente para a janela.

— Se quiser podemos fazer um teste rápido para confirmar sua suspeita. Há um feitiço que mostra a ligação sanguínea.

— Está bem.

— Só peço que façamos a partir de amanhã, pois hoje teremos que fazer o grande anúncio.

— Pensando que o resultado pode ser positivo, que sorte que as regras mudaram.

— Sim, mas os alunos não gostarão nadinha disso. Eles adorariam participar.

— Todos sempre querem a glória do Torneio Tribruxo.


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