Paternidade Surpresa (Severitus) escrita por Srta Snape


Capítulo 11
Capítulo 11 – O baile de inverno




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Capítulo 11 – O baile de inverno

Vários dias se passaram desde que Harry fora encontrado naquele estado. Snape não o pressionou mais e não agiu de imediato com Malfoy. Ele sabia muito bem que deveria aguardar o momento exato para agir da forma mais silenciosa e sem deixar rastro algum. Sua mente trabalhava calmamente na melhor maneira de se vingar do aluno, isso iria acontecer, na hora certa. Enquanto isso seguia normalmente dando aulas e jantando com Harry nos aposentos, menos aos finais de semana quando ele fazia presença no salão principal.

— E então, Severus?

— Então o que, Minerva?

— Já se passaram meses desde que o reforço de Potter começou, como estão as coisas?

— Não que seja de sua conta, mas estão bem.

— Ah, eu sabia. Fico feliz por vocês estarem se dando bem. E quando vai contar a ele?

Se pudesse já teria contado. Depois de toda a cumplicidade que passaram talvez houvesse uma pequena possibilidade de o garoto não o rejeitar. Entretanto, no mesmo instante que pensou nisso fechou sua mão esquerda em punho como se a marca negra, agora mais visível, ardesse. Instintivamente olhou para Karkaroff que já o visitara em sua sala de aula para fazer suposições.

— Quando for a hora. – Disse simplesmente encerrando aquele assunto.

— Você vem no baile, não vem? – Perguntou McGonagall mudando de assunto.

— Como se eu tivesse outra escolha.

— Ótimo, me reserve uma dança.

Snape bufou tão alto que McGonagall caiu na risada dando leve tapinhas em seu braço. O mestre de poções bebericou um gole de seu vinho enquanto olhava de soslaio para a mais velha que ainda ria de sua própria piada.

O jantar acabou alguns minutos depois e os alunos se reuniram para irem para suas salas comunais. Harry, Rony e Hermione estavam conversando sobre a segunda tarefa, tentando imaginar o que seria.

— Você está quase decifrando o ovo, não é Harry? – Perguntou Hermione com um brilho no olhar.

— Sim, quase. – Mentiu Harry sentindo-se nervoso pela pressão.

Ainda faltavam dois meses para a tarefa, ele tinha tempo suficiente. Agora o que mais o preocupava era conseguir um par para o baile. Nem mesmo reparara que faltava apenas uma semana e ele ainda não tinha ninguém, pelo menos Rony também não tinha, seriam sozinhos juntos.

— Harry, por que não vai lá convidar? – Perguntou Hermione ao seu lado.

O menino se sobressaltou com a pergunta da menina e olhou assustado para ela.

— O que?

— Você não para de olhar para lá. – Apontou onde estava o mesmo grupinho de lufanos, junto com Cho Chang e duas amigas. – Se demorar muito é capaz de chamarem a Cho e você ficar sem par.

— Ah, certo. – Respondeu ficando mais tranquilo ao entender o que a menina queria dizer. – Talvez.

— Melhor ir logo.

— Claro, amanhã.

— Hermione, com quem você vai? – Perguntou Rony novamente tentando fazer a amiga contar quem era seu par. Hermione apenas o ignorou e continuou andando.

A semana que antecedeu ao baile deixou Harry sem conseguir pensar em pares, visto que os professores deram as provas do final do ano e precisou de muita concentração para conseguir ir bem nelas. Quando finalmente terminaram já faltava apenas dois dias e ainda estava sem par. Rony estava tão desesperado que não parava de falar sobre isso deixando sua cabeça dolorida. Precisava tomar uma atitude, por esse motivo, sabendo que não poderia convidar quem queria, caminhou em direção a Parvati e Padma Patil que estavam juntas no corredor após o café da manhã. Era engraçado como conseguiu convidar ambas para irem ao baile com ele e Rony, estava calmo e conseguiu falar todas as palavras sem enrolar uma única letra, ao contrário do que aconteceria se a situação fosse outra.

— Está bem, vemos vocês no baile então.

— Tchau Harry. – Disseram as irmãs juntas antes de voltarem a caminhar.

— Ei Harry!

Aquela voz fez Harry gelar e paralisar no meio do corredor. Suas mãos suaram e seu peito arfou. Tentando controlar-se respirou fundo e se virou encontrando Cedrico indo em sua direção com o cabelo devidamente arrumado e um sorriso nos lábios. O lufano não disse uma única palavra sobre tê-lo encontrado naquela sala, mas cada vez que ele o olhava, podia sentir a vontade de mencionar aquele momento. Harry agradecia por não falar nada, ainda se lembrava de sua mão tocando em seu rosto.

— Oi, Cedrico. – Respondeu colocando as mãos nos bolsos.

— Só queria te avisar que a McGonagall avisou que a primeira dança do baile será dos campeões.

— Dança? – Agora o nervosismo no corpo do grifinório não tinha a ver com o jovem a sua frente e sim a imagem nítida dele parado que nem um idiota na frente de toda a escola. – Ninguém disse que ia ter dança.

— É eu sei, ela só avisou agora. Você já tem par, não é?

— Sim, sim, tenho. E você?

— Ah, sim, vou com a Cho Chang, da Corvinal. Conhece?

— Sim, sei quem é. – Disse com a voz desanimada.

— Bom, nos vemos no baile. Tchau.

Harry ergueu a mão e deu um tchau tímido em direção ao menino que ia embora rapidamente.

— O que ele queria? – Perguntou Rony vindo ao seu encontro.

— Nada demais. – Disse Harry se virando. Hermione o olhava com atenção franzindo a testa, mas Rony como sempre estava alheio a qualquer coisa não explicita.

— Conseguiu? Elas aceitaram?

— Ah, sim. Nós temos pares para o baile.

— Ah, que bom. – Disse o ruivo com alívio. – E você Mione, com quem vai?

Hermione nem mesmo respondeu, apenas saiu andando com os amigos indo atrás.

A noite Harry atravessou a tapeçaria de corsa e encontrou Snape já sentado a mesa, mas sem banquete a sua frente apenas uma caixa.

— O que é isso? – Questionou Harry se aproximando.

— Curioso como sempre, senhor Potter.

— Desculpe.

— Tudo bem, aprendi que muitas coisas que você faz é porque não consegue evitar.

— Me observou muito nesse tempo, professor.

— Quando você é o que sou, aprende a observar tudo a sua volta, principalmente quando é algo que interesse.

— E o que o senhor é?

— Nada que valha a pena dizer. – Respondeu tocando levemente no braço esquerdo ao se levantar. – Isso aqui é para você. Considere um presente de Natal.

Snape empurrou a caixa em direção ao menino que se aproximou e tocou com cuidado. A caixa era linda, preta mas com relevos leves em diversos símbolos que não reconhecia.

— São runas.

— Hermione saberia o que quer dizer. Eu não estudei Runas.

— Deveria, muitas magias antigas dependem das runas para serem compreendidas e estudadas. São símbolos de proteção e prosperidade.

— É bem bonita.

— Sim, mas não é esse o presente.

— Eu sei. – Disse rindo e abrindo o tampo.

Dentro da caixa havia uma linda veste a rigor. Harry a pegou com cuidado e a ergueu para olhar direito. Era belíssima, o blazer e a calça tinham sua cor em um cinza bem escuro quase preto, o tecido era leve e macio, tinham alguns detalhes no colarinho e punhos em tons vinhos que dava um contraste magnifico. O colete era do mesmo tom vinho e a capa já trazia um preto profundo com leves detalhes em fio de ouro, e por último o sapato brilhoso.

— Tudo isso é para mim?

— Você é um dos campeões, precisa estar muito bem apresentável.

— Mas, professor, é muito, não posso aceitar.

— Por que não?

— Porque eu não tenho como retribuir, quer dizer, tenho dinheiro para isso, mas nem saberia o que comprar para o senhor e não quero que gaste seu dinheiro comigo, não é necessário. A senhora Weasley comprou uma veste a rigor na Madame Malking, eu posso usá-la, é bem boa.

— É bem boa. – Repetiu Snape pegando a capa da veste em suas mãos. – Não vou permitir que você vá para o baile com uma veste que é denominada como “bem boa”, você vai com a melhor, é um estudante de Hogwarts e um campeão. Tem que ir com o melhor.

— Cedrico também é.

— Cedrico Diggory tem o pai para cuidar de suas roupas.

— E você é o meu?

Snape respirou fundo e o encarou ficando em silêncio por alguns minutos. Os olhos verdes o encaravam com dúvidas, mas não havia rejeição. Harry via os olhos negros com medo e angustiado. Era estranho, mas ao fazer a pergunta houve um segundo em que um desejo estranho e inédito apareceu em seu peito, o desejo de que a resposta fosse sim, mas sumiu rapidamente quando se lembrou de que seu pai era Thiago Potter. E ainda que Snape tenha se tornado uma figura tão presente e importante que supria o buraco que tinha dentro de si quanto ao fato de ser órfã, sabia que seu pai era um só, ainda que tivesse morrido há muito tempo. O silêncio se estendeu enquanto pensava que até mesmo Sirius não causava em si uma falta tão grande agora como antes.

— Eu nunca comprei um presente para alguém, foi bom fazer isso. Aceite. – Disse Snape quebrando o silêncio.

— Está bem. Obrigado.

Harry guardou a roupa na caixa novamente e Snape a diminuiu com um feitiço para que pudesse guardar no bolso.

— Vai precisar me ensinar a voltar ao tamanho real.

— Depois do jantar.

Ao chegar no dormitório da Grifinória algumas horas depois encontrou Rony sentado em sua cama, o rosto do amigo estava cabisbaixo e pôde entender o motivo quando viu as vestes a rigor ao seu lado na cama. Aquelas roupas eram horríveis e mesmo Rony tentando melhorá-la, só ficava pior. Harry então foi até seu baú e retirou as vestes compradas pela Senhora Weasley e jogou nos braços do ruivo.

— Tá querendo me humilhar? Não precisa, essas vestes já vão fazer isso.

— Não. São para você usar no baile depois de amanhã.

— E você? Se aparecer pelado McGonagall morre do coração.

— Não, idiota. – Respondeu rindo. – Eu tenho outra. Pode usar essa e guarda essa coisa feia.

— Sério mesmo? – Harry assentiu sorrindo. - Valeu, cara. Agora só falta saber dançar.

Aquela afirmação fez Harry suar. Em menos de 48hs estaria na frente da escola inteira, segurando na mão de Parvati e sem saber dançar.  Harry respirou fundo e tentou dormir. No entanto dormir não era tão tranquilo quanto queria, não quando imagens de diversos alunos rindo e apontando para sua cara apareciam a cada segundo, principalmente Malfoy com sua cara de desprezo nojento. Foi tomado pelo desespero que aquelas risadas lhe causaram que Harry caminhava apressado embaixo da capa de invisibilidade a caminho da passagem secreta.

— Snape? – Chamou baixinho vendo o aposento escuro.

A capa foi abandonada no chão e Harry caminhou silenciosamente por alguns passos antes de se dar conta do que estava fazendo e então decidir voltar ao dormitório. Mas ao tentar pegar a capa no chão sentiu um puxão com força e seu corpo bater violentamente na parede antes de uma luz forte quase o cegar e uma mão se fechar em seu pescoço. O ar saiu de seu pulmão e apenas após alguns segundos pode ver os olhos negros irem de furiosos para espantados e então a mão o largar.

— Potter?!

Harry tossiu e se curvou sentindo o ar aos poucos voltar a seus pulmões. Snape iluminou os aposentos e então se aproximou passando as mãos pelas costas de Harry e dando leves tapinhas enquanto o menino tossia.

— Como você entra em meus aposentos dessa forma no meio da madrugada? Eu poderia tê-lo matado.

— Eu queria uma ajuda. – Disse o garoto indo até o sofá e sentando-se enquanto esfregava a garganta e tossia.

— E o que é tão urgente para que não podia esperar o dia amanhecer? – Perguntou enquanto se ajoelhava na frente dele e erguia sua cabeça para ver as marcas que deixou em sua pele.

— Eu não sei dançar.

Snape parou o que estava fazendo por alguns segundos, franziu a testa e abaixou a cabeça de Harry para olhar em seus olhos não acreditando que quase o enforcou por um motivo tão irrisório como aquele.

— Não foi só isso. – Apressou-se Harry a dizer ao ver que Snape estava prestes a desferir palavras que provavelmente estariam certas, mas que o deixariam consternado. -  Eu tive um pesadelo horrível e... ah, eu fui um idiota. Não deveria ter vindo aqui. Desculpe.

— Fale-me desse pesadelo. – Pediu Snape ignorando a predisposição do menino para se condenar e voltando a olhar o pescoço e então se levantando para pegar um vidrinho em cima de uma prateleira enquanto Harry contava o que sonhou e que quando acordou quis vir até seus aposentos.

— Você disse que eu poderia vir quando quisesse ou precisasse, eu nem pensei direito, só vim.

— Sim eu disse, mas da próxima vez bata na porta da frente, não entre sorrateiro dessa forma, eu realmente poderia ter te machucado seriamente.

— Sempre ataca as pessoas assim? E como soube que tinha alguém? Eu nem fiz barulho.

— Quando se viveu as coisas que eu vivi, você aprende a estar sempre alerta e você é mais barulhento do que pensa.

Enquanto Snape passava uma loção em seu pescoço, Harry observava que o professor estava sem camisa, apenas de calça e seu torço tinha algumas cicatrizes, pareciam antigas. Instintivamente tocou em uma delas com as pontas dos dedos, bem no ombro onde a ponta dos cabelos negros roçava, fazendo Snape se retesar e afastar.

— Desculpe. – Pediu Harry olhando nos olhos negros dele e encontrando vulnerabilidade. – É que eu também tenho. As minhas foram do Tio Valter e do Duda. As suas foram o seu pai?

— Algumas. – Respondeu Snape baixinho depois de alguns segundos em silêncio.

— E as outras?

— Não vale a pena dizer. – Disse se levantando e se sentando na mesinha de centro.

— E essa tatuagem, o que é? – Perguntou Harry apontando para o braço esquerdo do professor onde era visível uma mancha negra, mas não conseguia-se distinguir seu desenho.

— Um erro cometido há muitos anos.

Snape levantou e se dirigiu a porta da frente onde estava o cabideiro e uma capa.

— O que é essa marca nas suas costas?

— Não é nada. – Respondeu sentindo o corpo tensionar com a pergunta, rapidamente colocou a capa cobrindo-o inteiro. – Vai parar de interrogar sobre cada mancha em meu corpo?

— Eu tenho uma parecida. Acho que herdei da minha mãe ou do meu pai. Não sei dizer, talvez eu pergunte para o Lupin, ele deve saber se meu pai tinha.

— Ainda tem contato com aquele lobo?

— Não fale assim dele, ele é legal e gosta de mim.

— Claro. – Disse Snape desgostoso. - Vamos, vou arrumar a cama para você. – Disse o cortando antes mesmo de começar a falar sabendo que se ele continuasse pensando nisso poderia se lembrar facilmente de sua própria marca e só o que queria era que ele esquecesse o que viu. Não era a hora ainda.

— Não precisa, não quero tirar você da sua cama, posso ficar no sofá.

— Vai dormir na cama, não discuta.

Snape apontou para o quarto e Harry sabendo que não deveria contestá-lo apenas se levantou e foi em direção ao dormitório e o viu acenar com a varinha arrumando a cama para que pudesse se deitar.

— Obrigado.

— Ainda faltam algumas horas para amanhecer e amanhã não haverá aulas devido a véspera do baile, então não se preocupe em acordar cedo. Durma.

— Não quero dormir muito, não quero ter pesadelos de novo.

— Está tudo bem, Potter. Se tiver um pesadelo, eu estarei aqui. Durma, amanhã lidamos com sua falta de conhecimento em dança.

***

Snape olhava para o menino e tinha certeza que, naquele quesito pelo menos, ele não tinha puxado nada do pai. Harry rodava pela sala parecendo um boneco desengonçado, seus pés tropeçavam em si mesmos e a postura era tenebrosa.

— O que foi isso? - Perguntou quando o menino parou e ficou encarando-o.

— Eu dançando.

— Você não vai dançar assim no baile, eu não permito isso. É a coisa mais horrível que já tive o desprazer de ver.

— Olha, não precisa me humilhar desse jeito. - Disse Harry com uma pontada de raiva na voz.

— Lembra o que eu te ensinei? Sobre controlar suas emoções? - Perguntou cruzando os braços diante do peito. - A vida não é fácil, senhor Potter e críticas acontecem, tem que aprender a lidar com elas.

— Eu sei disso, mas é péssimo ouvir humilhações de pessoas que gostamos.

Era a primeira vez que o menino afirmava que gostava do professor e Snape sentiu o peito aquecer com aquela afirmação. Harry, no entanto, agia como se não tivesse falado nada mais do que algo que já estava claro. 

— Ainda que seja uma crítica de amigo, você precisa saber receber a informação sem que isso atrapalhe você. Suas emoções te controlam demais e isso diminui a sua capacidade de se concentrar. Vamos poder melhorar isso em você outro dia. Hoje eu vou te ensinar a dançar.

— Você sabe dançar? - Questionou Harry com a testa franzida. - Jamais imaginei.

— Você e seus amigos pensam que eu só sei dar aulas, que não tenho uma vida?

— Não é bem assim. - Respondeu Harry com um ar brincalhão. - A gente também imagina que você se transforma em morcego e sai voando pela noite.

— O que?!

Harry não conseguiu se conter e caiu na gargalhada com a cara de incrédulo do professor. O menino se curvou com a mão na barriga de tanto rir. Snape cruzou os braços diante do peito e bufou.

— Controle suas emoções, professor, não deixe uma brincadeira o abalar. - Harry limpou o canto dos olhos que lacrimejavam.

— Ora seu petulante. 

— Ah, fazia tempo que eu não ria assim. Obrigado por isso.

— Ah claro, estou aqui para lhe servir de bobo da corte, senhor Potter. Fique à vontade.

O menino demorou mais alguns segundos para conseguir parar de rir e quando o fez encontrou Snape parado a sua frente com uma mão estendida.

— Vamos, temos muito o que fazer para que possa dançar minimamente bem no baile amanhã e não manchar seu nome com tanta vergonha.

— O que eu faço?

Snape então começou a ensinar Harry a arrumar a postura, para onde olhar e como segurar a parceira pela cintura e pela mão, então os primeiros balançar e passos. Depois de horas Harry estava razoável para que pudesse participar da primeira dança no baile sem parecer um desengonçado.

— Onde aprendeu a dançar? – Perguntou enquanto conduzia o professor pela sala.

— Minha mãe.

— Você via seus pais dançarem?

— Thobias era um ser desprezível que só casou com minha mãe por achar que poderia ser rico por ela ser bruxa e só me teve por usar minha mãe para suas necessidades básicas. Ele jamais se importou ou permitiu qualquer coisa que não fossem seus jogos no rádio. – Disse Snape perdido em pensamentos. – Mas quando ele não estava em casa minha mãe colocava música no mesmo rádio e dançava sozinha na sala. Um dia ela me puxou e começamos a dançar. Ela era de uma família boa, de nome, tinha etiqueta social. Por anos aqueles raros momentos eram apenas nossos e eram onde poderíamos ser apenas mãe e filho. Um dia, no entanto, minha mãe esqueceu de mudar a estação do rádio e Thobias ficou furioso. Eu estava nas férias escolares, ele quebrou o rádio nas minhas costas e bateu na minha mãe até ela ir para o hospital.

— Sinto muito, professor.

— Não sinta. Thobias teve o que mereceu anos depois quando sai da escola.

— Você o matou? – Perguntou Harry olhando em seus olhos e encontrando a resposta de sua pergunta. – E sua mãe?

— Mamãe morreu dois dias depois de eu completar a maioridade. Acho que ela não queria me deixar nas mãos dele sozinho e aguentou até que eu não tivesse mais essa amarra e então se foi.

Harry não disse mais nada. Snape não olhava para ele, olhava para frente perdido em pensamentos de um passado doloroso. Devagar seus pés foram parando e então soltou as mãos da dele levando seus braços para o redor de seu corpo o abraçando com força.

— Sinto muito. – Disse novamente. Dessa vez Snape não negou aquele acalento.

O momento não durou muito, Snape voltou a coloca-lo em posição e seguir com a aula de dança, dessa vez sem falar sobre passado, apenas concentrado nos passos.

— Uau, jamais imaginei que poderia conseguir isso. – Disse Harry muitos minutos depois. - Acredito que amanhã será mais fácil, meu par é da minha altura.

— Da sua altura? Pensei que era mais alto. - Comentou Snape indo até o bar e pegando um copo de Whisky e outro de cerveja amanteigada entregando o segundo ao menino. - Quem você convidou?

— Parvati Pátil. - Respondeu bebericando a cerveja.

— Por quê?

— Ela estava livre.

— Mas por que não o convidou?

— Quem?

— O senhor Diggory. - Respondeu Snape sentando-se na poltrona e cruzando as pernas, seu olhar deixava claro que aquilo era óbvio.

— Do que está falando? Por que eu o convidaria?

— Provavelmente porque gosta dele, mas também pode ser por ele ser um rapaz bonito e outro campeão.

— Ele é um menino. - Disse Harry batendo os dedos no copo de vidro fazendo pequenos barulhinhos onde tentava se prender para esquecer o vermelho de suas bochechas.

— Bem observado, senhor Potter.

— Não é certo.

— Vou parecer o velhote agora, mas amar alguém sempre será certo, Potter. Não há erro ou vergonha nisso. Você cresceu no mundo trouxa, com parentes desprezivelmente desprezíveis e que mesmo sem questionar, sei que são preconceituosos, mas você está no mundo bruxo agora e pode amar quem você quiser.

— Eu não amo ninguém.

— Ama sim.

— Como pode saber? Você não está dentro de mim.

— Porque eu já passei por isso.

— Quem você amou?

— Não importa, já faz muito tempo que ela se foi. 

— Por que se importa se eu convidei ou não quem eu queria?

— Porque eu fiz todas as escolhas erradas e me arrependo até hoje. Não quero que faça o mesmo.

Houve um silêncio incômodo em que ambos apenas se olhavam. Snape sabendo que tudo bem ele saber isso, já que não saberia quem era a pessoa.

— Eu preciso ir. Obrigado pela dança. 

Snape assentiu com a cabeça e observou o menino sair pela tapeçaria da corça, então se levantou e caminhou até ela passando os dedos em sua cabeça, o desenho de olhou em seus olhos como se realmente pudesse sentir o carinho feito.

— Não siga o caminho de seu pai. - Sussurrou e então virou o copo de Whisky e foi para seus aposentos tomar um banho.

***

No dia seguinte haveria o baile de inverno e para que pudessem arrumar tudo no grande salão, a escola liberou os estudantes para irem a Hogsmead. Na hora do almoço todos os alunos estavam na entrada aguardando McGonagall e o senhor Filch fazerem a contagem e então os liberarem para pegarem as carruagens que os levariam até o povoado.

— Eu não deveria dar a autorização dele? - Questionou Snape parado ao lado de McGonagall observando os alunos sendo ralhados por um Filch bravo por ter sujado suas vestes ao cair na neve.

— Lilian e Thiago escolheram Sirius como padrinho dele, mesmo Thiago não sendo o pai legítimo, a escolha de Lilian ainda prevalece, Sirius é padrinho de Harry e pode autorizar e você não pode fazer nada contra isso.

— Sarnento imundo. - Vociferou Snape baixinho.

— Ciumento. - Riu McGonagall antes de entrarem para a escola.

Harry, Rony e Hermione esperaram todos se distanciarem e então arrumaram as mochilas cheias de comida nas costas e rumaram para além do povoado na caverna onde Sirius os aguardava. O homem tinha os olhos brilhantes de saudade, mas a barriga esfomeada falava mais alto e a primeira coisa a fazer foi atacar a comida que levaram. Apenas quando estava satisfeito e com a barriga mais cheia que olhou para os meninos e então sorriu se aproximando de Harry o abraçando.

Era Sirius, seu padrinho. Apesar de conhecê-lo no ano anterior, há menos de um ano, nutria por ele um carinho grande, afinal era seu padrinho, amigo de seu pai. No entanto o calor que esperava sentir não foi tão intenso assim. Ficou muito feliz por vê-lo, mas algo estava mudado, não em Sirius, pois continuava sendo o mesmo bruxo, mas em si mesmo. Foi somente quando estavam voltando para Hogwarts que entendeu que o que mudara fora que o conforto paterno que sentia ao pensar em Sirius ou vê-lo, não estava mais lá. Agora Sirius parecia para si realmente um padrinho e não aquele em que buscava a figura de seu pai. E por algum motivo ao entrar no grande salão e seus olhos caírem sobre a figura do professor Severus Snape, devidamente sentado ereto com suas vestes tão negras quanto seus cabelos escorridos e seu olhar ferino, aquele sentimento retornou ao seu peito.

Seria loucura transpor o sentimento paterno que tivera com Sirius, amigo fiel de seu pai, seu padrinho, para aquele que odiava seu pai e que não tinha nenhum vínculo com sua família? Estaria certo sentir-se dessa forma?

— Hermione, posso falar com você? – Pediu Harry puxando a amiga de lado enquanto Rony continuava o caminho para o salão comunal, ansioso para vestir as vestes a rigor que Harry lhe dera.

— Claro, o que foi?

— É que eu percebi uma coisa ao ver Snufles hoje. – Disse lembrando-se de usar o apelido que deram a Sirius para não levantar suspeitas, uma vez que o homem era procurado pelo Ministério. – E não sei ao certo o que pensar.

— Tá, me fala o que é.

— É que, parece que aquela ligação forte que tinha com ele diminuiu. Hoje na caverna, eu estava muito feliz por vê-lo, mas pensei que ficaria mais. Pensei que ao vê-lo sentiria vontade de contar tudo que se passa comigo e pedir conselhos, como se fosse meu pai. Mas não aconteceu.

— Interessante. – Disse Hermione baixinho puxando o menino para um lugar mais reservado no corredor. – Isso tem a ver com o professor Snape, não tem? Com o que você sente por ele.

— Eu não entendo, Mione, é muito estranho. É o Sirius, meu padrinho. É o mais próximo que eu posso chegar do meu pai, no entanto, não é assim que me sinto perto dele agora. Snape tem sido muito legal comigo, muito mesmo. Ele cuida de mim como ninguém nunca cuidou. Me ajuda, se preocupa. Eu gosto disso. Até temos uma marca parecida nas costas, o que achei muito legal.

— Uma marca? – Questionou a menina franzindo a testa.

— É, eu não vi direito, foi rápido, mas ele tem uma marca parecida com a minha, quase no mesmo lugar, achei interessante, como se fosse algo que nos ligasse, entende.

— Entendo. – Sussurrou a menina pensando e talvez entendendo muito melhor do que Harry. – Olha, acho que é normal se sentir assim. Snape está sempre com você, praticamente todos os dias e o Sirius não, então é fácil o professor ganhar mais de sua afeição. Talvez ele esteja se tornando a figura paterna da sua vida.

— Já tinha pensado nisso, mas ouvir de outra pessoa é diferente, parece meio errado.

— Deve ser devido a pessoa. Snape sempre teve uma desavença com seu pai e agora pensar nele como um pai para você acaba entrando em conflito. A lógica e a emoção acabam se batendo. Agora se fosse o Lupin, por exemplo, não seria tão estranho.

— Acho que sim.

— Não tem nada de errado, Harry. Sirius continua sendo seu padrinho e você o ama, só que Snape está ocupando um lugar muito importante na sua vida também. – Disse por fim a menina sorrindo para o amigo. – Vamos, ainda temos que nos arrumar.

O Baile de Inverno começaria as oito horas da noite, com a presença de alunos do quarto ano para cima e mesmo sem a presença de três anos de anos, os corredores estavam alvoroçados. Harry se encontrou com Parvati ainda no salão comunal, a menina estava linda e agradeceu o elogio do seu par. Rony, feliz por estar com uma veste bonita, acompanhou o casal até se encontrar com Padma na entrada do salão principal. Os alunos conversavam animadamente até que o silêncio estranho fez Harry franzir a testa. Ao acompanhar todos os olhares viu Hermione descer as escadas em seu lindo vestido azul. Estava realmente linda e ao ver quem a esperava entendeu o porque a menina não dissera nada sobre seu par.

— É o Krum? – Perguntou Rony surpreso.

A escola inteira estava comentando sobre o casal mais do que inesperado daquele baile, mas logo todos pararam os cochichos, pois os quatro campeões e seus pares entravam pelo salão e se dirigiam ao centro onde tinha uma pista de dança. Harry estava nervoso, podia sentir o suor começar a brotar em sua espinha, um suor gelado. Foi apenas quando avistou os olhos negros de Snape ao lado dos outros professores e sentir o quanto ele confiava que iria conseguir que então respirou fundo e segurou a cintura de Parvati.

A música era apenas instrumental, uma batida ritmada, mas não muito rápida que fazia Harry conseguir executar os passos que aprendera há pouco tempo conduzindo a menina de forma confiante. Parvati se divertia e sorria para si e até arrancou um sorriso de Harry ao pisar em seu pé sem querer. Então os professores aos poucos se adiantaram para a pista quando Dumbledore segurou na mão de McGonagall e a levou para o meio do salão. Logo os outros alunos dançavam também.

Depois de um tempo Harry se afastou e largou o corpo ao lado de Rony. Parvati continuou dançando com os amigos e Harry ficou contente que a menina não esperava que ele lhe desse muito mais do que as primeiras danças e assim ela seguiu com um aluno da Durmstrang o restante da noite, sua irmã Padma seguiu seus passos depois de Rony a ignorar completamente uma vez que estava com raiva de Hermione se divertindo e rindo com Krum.

— Vamos tomar um ar?

— Pode ir, vou ficar aqui. – Resmungou Rony.

— Ficar aqui encarando-a não vai te ajudar em nada.

— Não estou olhando para ninguém.

— Não, tá não! Dá para ver que você está com ciúmes da Mione com o Krum. Você podia ter convidado antes dele, mas não fez.

— Você também não convidou o Cedrico. – Retrucou Rony com raiva. – Então não venha jogar coisas na minha cara.

— Não sei do que está falando.

— Vocês acham que eu sou idiota e não vejo as coisas, pode até ser, mas você é óbvio demais até para mim.

— Eu vou tomar um ar. – Respondeu Harry querendo fugir daquela situação.

Será que era tão óbvio assim como Rony disse? Harry caminhou furioso pelos corredores se distanciando do salão. Sua mente fervilhava com o fato de Rony saber sobre seus sentimentos com Cedrico, assim como Snape. Nem mesmo ele sabia direito o que sentia pelo menino. Era algo muito novo e completamente fora dos padrões com que crescera ouvindo ser o certo. Havia casais de meninas e meninos na escola, sabia disso, eles andavam de mãos dadas e se beijavam na frente de todos e pensando bem agora, ninguém dava a mínima, então será que ele também não poderia tentar? Seus passos diminuíam conforme se acalmava e sua mente o levava para possibilidades. Teria coragem? Quem sabe depois do Torneio, quando todo esse peso terminasse. Talvez fosse o tempo necessário para tomar coragem de ir até ele.

— Severus, não pode ignorar isso.

Harry se sobressaltou ao ouvir aquela frase, não percebera que caminhara até o pátio das carruagens que trouxeram os convidados de Hogsmead até o castelo. Rapidamente Cedrico deu lugar em sua mente para a estranha conversa que estava acontecendo entre Karkaroff, que parecia assustado e furioso, com Snape aparentando ignorá-lo enquanto abria cada uma das carruagens pegando os casais atrevidos que se atracavam as escondidas.

— Está ficando mais forte e visível. – Disse o diretor de Durmstrang subindo a manga esquerda e mostrando o braço para o outro. Harry se escondeu atrás de uma pilastra para ouvir e ver o que estava acontecendo. – Você sabe muito bem o que isso significa.

— Esconda isso. – Ralhou Snape e então o mestre de poções se esquivou quando o outro tentou tocar em seu braço.

— Pode querer negar o quanto quiser, Severus. Mas você sabe tanto quanto eu o que significa e o que vai acontecer se realmente nossos temores se mostrarem certos. Eu ainda lembro daquele julgamento, de Dumbledore o protegendo para não ir para Azkaban dizendo que você se virou contra ele para ser um espião. Nunca acreditei naquilo. Você era o pior de nós, nem mesmo os loucos dos Lestranges faziam o que você fazia. Sempre tão frio. Mas tenho curiosidade em saber no que nosso mestre irá acreditar caso ele realmente volte.

Karkaroff saiu batendo o pé recebendo um olhar frio e duro de Snape que mexeu o braço esquerdo inconscientemente. O comensal que agora sumia de vista não entendia que ele sabia mais do que ninguém o que significava a marca ficando mais forte e sabia muito bem as consequências de quando ela finalmente ardesse em sua pele.

— Ele está cada vez mais insistente.

— Sim, diretor, está.

Harry se encolheu mais ao ver Dumbledore caminhar até o lado de Snape, sua curiosidade pulsando latente em suas veias, seus olhos com as pupilas dilatadas querendo prestar atenção a cada letra que saia da boca do ancião.

— E você, está pronto para o que está por vir?

— Nunca se está realmente pronto para algo assim, Alvo. Ainda mais agora que Harry e eu estamos nos dando muito bem. – Harry registrou o fato de que aquela era a primeira vez que ouvia Snape dizer seu nome de batismo. – Não quero perder isso e sei que quando acontecer, eu perderei.

— Sabe que não precisa perder o menino. Basta contar a ele.

— Aí sim eu o perderia de vez. Contar a verdade é um caminho sem fim, ele pode aceitar ou não. É um risco que não quero correr, não agora.

— Seu tempo está acabando, Severus. Você o ama, sabe disso e pelo que já me contou ele parece amá-lo também. Conte a ele.

Dumbledore apertou o ombro de Snape com carinho e saiu voltando para dentro do castelo. Snape permaneceu parado olhando para o céu durante muitos momentos pensando nas palavras de Dumbledore, então virou sobre os calcanhares, apertou a capa no corpo e rumou para dentro do castelo.

Harry, no entanto, só saiu dali quando o baile já havia acabado e os alunos agora rumavam para seus salões comunais. Uma turma da Sonserina passou por ele esbarrando em seus ombros.

— Cuidado Potter, melhor olhar para onde anda.  – Disse Malfoy parando diante dele. – Nunca se sabe o que pode encontrar no caminho.

— Posso dizer o mesmo Malfoy, principalmente quando seus guarda costas estão mais preocupados em comer do que em fazer seu trabalhinho sujo.

Malfoy tremeu o lábio e virou-se para trás encontrando Crabble e Goyle em uma mesa cheia de comida perto da porta do grande salão.

— Não se garante sozinho, não é? – Perguntou Harry dando um sorriso de canto de lábio antes de sair e subir as escadas para o salão comunal da Grifinória onde encontrou Rony e Hermione brigando.

Sua cabeça estava tão cheia que nem ao menos parou para ouvir o que gritavam um para o outro, apenas subiu até seu quarto, retirou as vestes e deitou fechando as cortinas em volta. Muita coisa fervilhava em sua mente. Informações que o deixavam perdido em dúvidas. Todas elas envolvendo Snape. Seria Snape um servo de Voldemort? Mas Dumbledore confiava plenamente nele, duvidaria que o diretor daria sua confiança em alguém que faria parte do ciclo do Lord das Trevas. E o que o professor deveria contar e não queria por medo de perdê-lo?

As perguntas ocuparam tanto sua mente que nem mesmo viu a chegada de Rony e Neville, muito menos do sono que o tomou de assalto o levando embora da realidade para um pesadelo onde olhos vermelhos apareciam seguidos de uma risada fria e passos silenciosos que vinham em sua direção. Uma voz baixa e rouca entrou em seus ouvidos.

“Estou chegando, Potter”


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