Stella escrita por Vic


Capítulo 27
Monstro


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde! Como prometido, dia 3 certinho... ainda tive que terminar de escrever e revisar, mas valeu a pena. Boa leitura.
AVISO: Nesse capítulo contém cenas fortes envolvendo crianças, se você tem estômago fraco, se o teu emocional não está ok... NÃO LEIA!
Eu avisei, depois que desmaiarem aí, não digam que não avisei.


CAPÍTULO REVISADO



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— Isso aqui me odeia. – Jas suspirou, a decepção estava estampada em seu rosto, tinha sido mesmo uma péssima ideia tentar mexer naquele computador sozinha. Mesmo que se esforçasse muito, não conseguia chegar ao resultado esperado.

— Computadores não têm sentimentos, Jasmin. – Lindsay cantarolou enquanto ria da expressão que a amiga tinha no rosto.

— Então diga isso ao Axton. – Rebateu, desejando que ele estivesse ali para ajudá-la com aquilo.

O homem roubou toda a atenção delas para si assim que chegou.

— Oi, alguém viu a Stella?

— Ela estava aqui ainda agora. – Lindsay respondeu, abrindo um sorriso e o puxando um pouco mais para perto. – Ela acabou de sair da terapia e está te procurando.

— Ótimo. – Ensaiou um sorriso, mas tinha ficado nervoso só de pensar no motivo. – E como ela estava?

Os dois ficaram tão distraídos cochichando um para o outro, que nem notaram a chegada da mulher.

— E por que você não vê com os seus próprios olhos? – O sorriso que ela abriu quando ele se virou para olhá-la deixou o coração dele muito mais tranquilo.

— Oi. – Também abriu um sorriso enquanto a seguia para um local mais reservado. – E então... como foi?

O sorriso dela se fechou e ela assumiu uma postura ligeiramente mais séria.

— Eu achei que era para você estar me esperando do lado de fora do consultório.

— E eu estava indo mesmo, mas quase arranquei a cabeça do Dante hoje. – Explicou, não queria que ela pensasse que ele não queria ajudar. – Então decidi ir tomar um pouco de ar fresco.

— E aonde você foi?

Ele encolheu os ombros por medo de levar uma bronca e murmurou:

— No bar do Jake.

Ela abriu um outro sorriso.

— Isso é ótimo. – Colocou a mão no peito dele. – E você fez o quê? Jogou sinuca?

— Não... – Segurou a mão que estava em seu peito e respirou fundo. – Só conversei um pouco com o Jake.

A mulher começou a sentir um gosto amargo na boca, algo que parecia ser o gosto do mais puro nervosismo.

— Sobre mim?

O homem negou com a cabeça, abrindo um sorriso de canto que chegou a causar um leve arrepio na pele da mulher.

— Sobre mim.

— Interessante, então quer dizer que você passou quase a manhã inteira conversando com um barman?

— Ele não é só um barman, ele é meu amigo também. – Ela arqueou a sobrancelha e umedeceu os lábios. – Eu sei que ele é meio excêntrico, mas ele é um cara legal.

— Você diz excêntrico e eu digo estranho.

— Mas escuta, se você quiser que eu vá numa das suas sessões, eu vou... mas só se você achar que isso vai mesmo ajudar.

— Eu vou pensar no caso.

— Tudo bem. – Continuou com um sorriso satisfeito estampado em seu rosto. – Mas pense com carinho, somos melhores juntos, e eu quero isso de volta. – Ela tentou sorrir de volta, mas o peso que carregava em seu peito não deixou. – Eu vou fazer o que for preciso para que você fique bem.

— Então tá bom, amigo do Jake. – Brincou, dando um soquinho no ombro dele. – Eu também quero muito isso. Você é a minha vida. Você e a Lily... – Complementou. – E eu prometo que também farei de tudo para melhorar... na verdade, sinto que estou melhorando um pouco a cada dia.

— Ótimo, era exatamente isso que eu queria ouvir. – Ela começou a sentir sua boca ficando mais seca a cada palavra que ele dizia, mas não tinha mais como voltar atrás, a equipe de limpeza já havia passado e recolhido todo o lixo. – Eu quero que confie no seu terapeuta, que confie nos seus remédios e que confie em mim também.

— Muito bem. – Umedeceu os lábios. – E o que você acha de marcarmos um horário com o seu amigo em vez de com o meu psiquiatra?

— Ei! – Começou a fingir estar censurando a mulher. – Mas ele dá uns conselhos ótimos, não desmereça o cara assim. – Os dois deram ótimas risadas juntos, e era realmente ótimo vê-la rindo daquele jeito. – Mas agora mudando de assunto... se o problema for o doutor... podemos procurar outro terapeuta. A Kristina me recomendou uns que são ótimos...

— Ei, calma. – Colocou a mão no ombro dele, olhando diretamente em seus olhos. – Eu sei que está tentando ser mais solidário, mas acho que sempre discordamos nisso...

— Certo, mas eu só quero que você se sinta mais à vontade.

— Eu admito que não gosto muito dele, mas... acho que não gostaria de ninguém nessas circunstâncias, então por enquanto estou disposta a continuar o tratamento com ele.

— Tudo bem, mas lembre-se que ainda temos outras opções, tá?

Ela assentiu.

— Eu acho que consigo melhorar, mas você vai ter que ser muito paciente comigo...

— Eu prometo que serei. – Sussurrou com muito carinho. – E eu preciso que seja honesta comigo. Eu quero que me deixe saber exatamente o que você está sentindo. Eu sei que vamos conseguir superar isso juntos.

Dante chegou pelas costas da amiga e murmurou a pergunta em seu ouvido enquanto olhava diretamente para o casal:

— E então? Tempestade no deserto ou amor e beijinhos?

— Um pouco dos dois. – Respondeu, voltando a prestar a atenção nos papéis. – Mas mesmo assim é melhor manter distância.

— Eu vou é ficar bem longe.

Danny também chegou repentinamente, descendo as escadas com uma certa urgência.

— Temos um novo homicídio. – Anunciou, roubando a atenção de todos para si enquanto entregava a pasta diretamente nas mãos da esposa. – E precisamos de uma equipe lá agora mesmo.

— Eu acho que todo mundo está ocupado. – Lindsay mordiscou os lábios ao olhar para o casal de amigos. – Menos a Stella e o Will.

— Mas eles não podem trabalhar juntos. – Dante interrompeu com uma expressão de pura angústia estampando o seu rosto. – Eles nem conseguem mais ficar na mesma sala.

Eles tentaram ao máximo esconder aquela informação dos dois, enquanto Dante se empenhava numa tentativa de arrumar uma outra equipe para cuidar do caso.

— Oi, aqui é o policial Scarola. – Olhava para os lados, estava com muito medo de ser pego no flagra. – Eu quero solicitar Lindsay Messer e Jasmin Scarola para esse caso. – A pessoa do outro lado da linha começou a fazer uma série de perguntas. – É isso mesmo, obrigado.

— O que pensa que está fazendo? – Lindsay o censurou com os olhos. – Você não pode fazer isso. Você não é um detetive.

— Você está duvidando da minha capacidade?

— É claro que não, só da sua sanidade mesmo.

— Mas você devia era estar feliz. – Abriu um sorriso vaidoso. – Eu solicitei você para a minha equipe. – Começou a analisar os arquivos que se encontravam na pasta que Danny havia trazido. – Vamos nessa? – Olhou para o rosto desanimado da amiga. – Qual é? Todo mundo aqui está careca de saber que eles não estão em condições de lidar com nada disso.

Jas surgiu no alto da escada naquele exato momento.

— Nisso eu tenho que concordar com você.

Ele abriu um sorriso animado para as duas.

— Então vamos pegar as nossas coisas e cair na estrada!

Mas antes mesmo que pudessem pensar em fazer isso, o detetive apareceu.

— Ei, o que temos aqui? – Will chegou tomando a pasta das mãos dele. – É uma criança... – Murmurou baixo demais, sentindo um nó se formar em sua garganta a cada palavra que lia. – Vamos pegar nossas coisas e cair na estrada.

— Uma criança? – Stella emergiu atrás dele. – E o que ainda estamos fazendo parados aqui? – Olhou para os outros. – Formem uma equipe, temos que ir para lá agora mesmo.

— Espera. – Dante interrompeu. – O que você está querendo dizer com temos? – Esperou por uma resposta que não veio. – Sem ofensas, mas você acha mesmo que está pronta para lidar com uma coisa dessa? – Eles se encararam por um breve período de tempo, mas ela continuou sem responder.

A mulher reuniu todo o autocontrole que ainda possuía e respirou fundo, não queria dar mais um show na frente dos colegas.

— O meu marido é quem vai fazer tudo, eu só serei o apoio... então acho que sim, eu estou pronta para lidar com uma coisa dessa.

Will sempre soube que monstros existiam, mas ao entrar naquela casa e ser recebido por aquele cheiro horrível de morte, desejou não saber. O seu corpo inteiro estava gritando para que ele simplesmente saísse correndo dali, mas aquele era o seu trabalho e alguém precisava lidar com aquilo. O homem calçou as luvas e foi até o fogão, sabia exatamente o que encontraria, mas isso não o impediu de rezar pelo oposto. Ao abrir o forno, ele a viu, tão pequena, tão indefesa e mesmo assim havia sido assassinada de uma forma tão cruel. Então a imagem de sua filhinha veio à sua mente, a menina era tão indefesa e tão inocente quanto aquela pobre garotinha. Um arrepio tomou conta de sua pele quando ele viu aquele corpinho pela primeira vez, mesmo com as luvas, ainda dava para sentir a textura da pele queimada da criança, e tudo o que ele conseguia se perguntar era que tipo de monstro faria aquilo com um bebê.

E sem que nem um dos dois notasse, a mulher se aproximou sorrateiramente por suas costas e vislumbrou o corpo da menina. Stella não era do tipo de pessoa que ficava enjoada com o cheiro de cadáveres, mas aquela combinação de visão e olfato fez o seu estômago embrulhar imediatamente.

— Mas que tipo de monstro faz uma coisa dessas?

Ninguém soube responder àquela pergunta, todos estavam com aquele mesmo nó na garganta e a ânsia de vômito era generalizada, mas mesmo assim ainda tentaram ignorá-la da melhor forma possível. Mas aquela pergunta ainda ecoava na mente de Stella enquanto ela colocava metade do seu café da manhã para fora. Aquilo com toda a certeza era uma das piores coisas que ela tinha visto em toda a sua vida. A mulher passou as mãos trêmulas no rosto suado e decidiu que não voltaria mais lá, então simplesmente abriu a porta traseira do carro e entrou, tremia tanto que temia ter tido uma queda de pressão.

Will e Dante terminaram de periciar a cena do crime e ligaram pedindo para que Chad viesse recolher o corpo para a necropsia, depois juntaram-se a ela no carro. Ninguém teve presença de espírito para dizer uma palavra durante o trajeto de volta ao laboratório, todos ainda estavam em choque com o que tinham visto naquela casa. Stella estava tão quieta que nem parecia mais a mesma pessoa de algumas horas atrás, em seu íntimo, se perguntava se ela era aquele tipo de monstro. Rezava para que a resposta fosse não, mas mesmo assim era inevitável pensar que talvez pudesse ser um sim.

— Eu avisei. – Dante murmurou enquanto acompanhava o amigo, deixando a mulher para trás. – Ela ainda não está pronta para esse tipo de coisa.

— Ela só queria ajudar.

— Ela não sabe o que quer. – Retrucou, deixando-o para trás.

Stella apertou o passo para acompanhar o marido.

— Você fez um ótimo trabalho lá.

— Obrigado, mas isso não me surpreende.

Ela riu.

— Como assim não te surpreende?

— Não. – Também começou a rir. – Eu sou ótimo em tudo que me proponho a fazer.

— Uau! – Afastou o homem com um empurrãozinho. – Então tira o seu ego do caminho que eu quero passar.

O restante do plantão foi tranquilo comparado ao que tinham visto naquela tarde, e assim que bateram o ponto, respiraram aliviados. O melhor de tudo era voltar para casa depois de um dia infernal como aquele, mas antes de irem embora, eles decidiram passar num restaurante de comida japonesa e pedir dois pratos para o jantar. Nem um dos dois estava com fome, mas precisavam comer alguma coisa. A primeira coisa que o homem queria fazer era correr para abraçar a filha e garantir que estava mesmo tudo bem.

— Eu estava louca para me deitar nesse sofá e tirar esses sapatos. – Stella jogou a bolsa no espaço vazio ao seu lado e se permitiu relaxar. – E também para comer um pouquinho disso aí. – Completou ao se lembrar que tinha colocado para fora a única coisa que havia comido durante todo o dia.

— Uau! – Entregou a sacola para ela. – Mas que romântico.

Kate saiu da cozinha com a menina nos braços.

— Oi, bem-vindos ao lar.

— Oi. – O homem sorriu ao ver a filha, abrindo os braços para recebê-la. – E como está a nossa garotinha linda?

— Ela está ótima. – A moça respondeu com um sorriso. – Eu troquei a fralda dela, dei a mamadeira e agora ela é uma garotinha muito feliz.

— Isso é realmente maravilhoso. – Beijou o topo da cabeça da criança. – Muito obrigado.

— Olha... se vocês quiserem, eu posso passar a noite...

— Não, estamos bem. – Stella respondeu enquanto se ocupava em terminar de abrir as embalagens.

A babá acariciou o rosto do bebê.

— Então tá tudo certo. – Pegou a bolsa que estava em cima do outro sofá. – Tchau, Lily.

O homem usou o bracinho da filha para acenar.

— Diga tchau.

— Ela está crescendo tanto.

— É.

— Ela muda um pouquinho a cada dia que passa. – Stella comentou enquanto olhava rapidamente para eles.

— Então eu vejo vocês amanhã. – Foi em direção à porta, sendo acompanhada pelo homem com o bebê. – Tchau.

O homem acabou de fechar a porta e seguiu rumo a cozinha.

— Pratos?

— Não. – Negou com a cabeça enquanto dava espaço para seu marido se sentar ao seu lado e entregava para ele um par de hashis. – Vamos comer aqui mesmo.

Ele terminou de acomodar a menina em suas pernas e pegou os hashis das mãos dela.

— Obrigado.

— Eu estava pensando numa coisa... – Arrumou sua postura no sofá. – E acho que devíamos tentar fazer alguma coisa juntos.

Ele arrumou a blusa da filha.

— O quê?

— Umas aulas de culinária.

— Juntos?

— Mas é claro, é muito mais divertido assim. – Sorriu. – E também te ajudaria a melhorar os seus dotes culinários.

— Eu acho que devíamos tentar algum esporte.

— Mas eu não sei jogar golfe. – Respondeu com a boca cheia. – E sou péssima no tênis.

— Mas é justamente por isso que eu quero praticar esportes. – Eles riram. – Porque eu sei que consigo te vencer.

— Certo. – Usou os hashis para apontar para a filha. – E por que você não solta a Lily um pouquinho para conseguir terminar de comer?

— Claro. – Começou a balançar a perna onde a menina estava sentada. – Você quer segurá-la?

Ela colocou um sorriso forçado no rosto e colocou o restante da comida em cima da mesinha.

— É claro.

— A mamãe vai te segurar agora. – Estendeu a menina na direção da mãe. – Vamos nessa.

— Oi. – Manteve a criança longe do seu corpo, era óbvio que não estava nem um pouco à vontade com aquela situação. – A Kate já te deu comida... então... – Arfou, a proximidade com a filha estava deixando-a muito nervosa. – Eu acho que é hora de tirar uma soneca. – Caminhou com ela até o cercadinho e a colocou lá. – É só enquanto o papai e eu terminamos de comer.

Ela podia sentir o olhar de reprovação do marido em suas costas. E ao olhar para o rostinho confuso do bebê, ela não pôde deixar de se perguntar que tipo de monstro ela era.


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Notas finais do capítulo

Até eu fiquei em choque aqui...
Até sábado!



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