Stella escrita por Vic


Capítulo 23
Milagre


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, pessoas! Bem... gostaria primeiramente de me desculpar pelo sumiço, estive escrevendo por 3 meses sem parar e meio que a gente vai ficando sem ideia no meio do caminho. Não vou dar certeza que vou postar com tanta frequência porque tudo depende do meu cérebro e não quero iludir ninguém... mas vou tentar.

OBSERVAÇÃO: Esse capítulo tem muitos gatilhos, então se está passando por uma situação semelhante ou não se sente bem com o tema... recomendo que não leia.
Boa leitura!


CAPÍTULO REVISADO



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Milagre é uma palavra oriunda do grego mirare, que também deu origem a palavra mirar. Mirare significa algo que é digno de admiração, estranho ou maravilhoso. E por sua vez, milagre significa algo extraordinário que vai totalmente contra as leis da natureza. Quando ele a viu naquele estado, mas ainda viva, ele achou que aquilo era algo maravilhoso e extremamente extraordinário. Um verdadeiro milagre no mais puro sentido da palavra.

— Stella! – Gritava enquanto descia as escadas que levavam até o lago. – Stella, você está aqui?! – Olhou para todos os lados, mas não encontrou nada e nem ninguém. O medo começou a inebriar seus sentidos e ele voltou direto para as escadas, tinha que encontrar sua esposa o mais rápido possível, e assim também arrancaria aquele sentimento ruim do seu peito. Estava saindo quando avistou um pedacinho de papel no chão e o pegou. O nome de Stella e parte do seu sobrenome estavam escritos nele. O coração dele acelerou e sua respiração ficou ainda mais irregular quando ele se virou para o lago e entendeu exatamente o que tinha acontecido... ele queria muito estar errado, mas quando chegou um pouco mais perto, reconheceu o corpo que estava boiando na superfície. – Stella! – Houve tempo só para que tirasse o sobretudo e pulasse na água. – Stella. Ei, está me ouvindo? – Aproximou o rosto do dela para checar sua respiração. – Stella. – Iniciou uma massagem cardíaca. – Vamos. – Continuou tentando e em alguns segundos a mulher tossiu e expeliu parte do líquido para fora. – Está tudo bem. – Colocou-a de lado para que não se engasgasse com o restante da água. – Está me ouvindo? Stella, tudo bem? – Ela o agarrou pelos braços, o fazendo abraçá-la, estava tremendo tanto que chegava a bater os dentes. – Eu vou pedir ajuda, se cobre com isso aqui. – Colocou o sobretudo em cima dela, tirando o celular que estava dentro do bolso dele.

— Aqui é o detetive Taylor, estou no lago atrás do laboratório. Minha mulher caiu na água e está respirando com dificuldade. – Dividia sua atenção entre a pessoa do outro lado da linha e a mulher deitada no chão. – Eu acho que ela está com hipotermia e parece que com hipóxia também. Vem rápido, por favor!

Ele guardou o celular e a abraçou.

— Ei, vai ficar tudo bem.

— Onde está a Lily? – Perguntou entre uma tosse e outra. O homem olhou para os lados e então começou a ficar ainda mais assustado. E se ela tivesse pulado para tentar salvar a menina? E se ela ainda estivesse no lago?

Ele pegou o celular outra vez e discou o número de casa.

— A Lily está no quarto dela? – Tapou o ouvido para conseguir ouvir melhor a voz de Judy. – Tem certeza? Cheque mais uma vez. – Ela fez exatamente o que ele estava pedindo e subiu as escadas para verificar a menina outra vez. – Ok, muito obrigado.

Ele acariciou os cabelos molhados dela.

— A Lily está no quarto dela, ela está bem.

— Não é essa Lily.

O homem não entendeu muito bem o que ela estava querendo dizer, mas considerou a possibilidade de ela estar delirando por causa do frio.

— Do que você está falando?

— Tinha uma garotinha aqui. – Ofegou enquanto tentava se levantar. – Lily, onde você está? – Olhou para um ponto fixo atrás do marido, ele olhou na mesma direção, mas não havia nada. – Lily... – Tentou retomar o fôlego, mas simplesmente apagou.

— Não faz isso. – Começou a dar tapinhas em seu rosto. – Stella, fica comigo. – Deu mais alguns tapinhas e ela pareceu retornar, mas seus olhos continuaram fechados. – Fica acordada, abre os olhos. Vamos, abre os olhos. – Ela os abriu com muita relutância e olhou para o rosto aflito do marido, foi nesse momento que eles ouviram o barulho de sirenes se aproximando. – Vai ficar tudo bem, o socorro chegou. – Acariciou seu rosto com os polegares e abriu um sorriso. – Ela está aqui! Ela está consciente! – Os seus gritos guiaram os paramédicos até eles. – Eu a encontrei boiando na água, então a tirei de lá e conseguir reanimá-la. – Explicou antes mesmo que algum deles perguntasse. – Eu não sei quanto tempo ela passou lá.

O paramédico começou a checar os sinais vitais dela enquanto seu marido tratava de manter sua cabeça imóvel.

— Como ela entrou lá?

Ele negou freneticamente com a cabeça.

— Eu não sei. – Voltou a acariciar seu rosto com os polegares. – Está tudo bem, querida.

Ele tentou manter o pensamento positivo durante todo o curto trajeto até o hospital, mas era quase impossível lutar contra a sua própria mente e contra todos aqueles cenários horríveis que passavam por sua cabeça. Ele encarou o rosto da mulher que amava e abriu um sorriso melancólico, não queria nem pensar em como ela havia entrado naquele lago.

Os paramédicos correram com ela direto para a emergência e ele simplesmente ficou parado no corredor com toda aquela adrenalina ainda fazendo efeito no seu organismo, era por isso que ainda continuava tremendo da cabeça aos pés. Estava tão imerso naquela situação, que levou um susto ao sentir uma mão pousar no seu ombro.

— O que aconteceu?

Ele não se virou, mas reconheceu claramente a voz de Jas.

— A Stella caiu na água. – Foi a única coisa que conseguiu verbalizar.

— Mas ela vai ficar bem, não vai? – Aquela era a voz de Sage.

Will não tinha coragem o bastante para encarar os amigos, então apenas engoliu em seco e disse:

— Eu não sei. – Simplesmente saiu, deixando-os tão perturbados quanto ele.

Jas se sentiu como se estivesse presa numa caverna muito escura quando a viu chegando naquela maca. O sentimento de impotência sempre foi muito constante na sua vida, mas desde que conheceu Stella, aquele sentimento vinha se intensificando.

— Isso é inacreditável. – Jas passou as mãos no rosto. – Ela já passou por tanta coisa... e agora mais um acidente para a lista.

— Ou então ela tentou se matar...

A mulher fechou a cara e então acabou desferindo um tapa no seu rosto.

— Nunca mais ouse dizer isso!

Ele entrou no quarto com o coração acelerado e as mãos tremendo, mas estava feliz por vê-la com vida e acordada. O mais difícil no momento era colocar em palavras tudo o que ele estava sentindo, mas contentou-se em sentar ao seu lado e segurar suas mãos frias.

— Oi. – Stella tomou a iniciativa, quebrando o silêncio constrangedor que havia entre eles.

— Oi. – Murmurou e simplesmente aproveitou para apertar ainda mais as mãos dela, tinha medo até de soltar. – Suas mãos estão tão geladas. Como você está se sentindo?

Ela respirou fundo e fechou os olhos, tinha respondido aquela pergunta milhares de vezes naquela semana, mas agora parecia ter um peso muito maior, e o pior era que ela não tinha uma resposta.

— Eu me sinto horrível... e exausta. – Foi a primeira coisa que passou pela sua cabeça enquanto ela apertava a mão dele com um pouco mais de força e abria um sorriso carinhoso. – Obrigada por ter me tirado da água.

Ele também tentou sorrir, mas a cena dela boiando na água quase morta não saía de sua cabeça, era como ser o protagonista de um pesadelo horrível.

— Ainda bem que eu te vi.

— Eu me sinto tão idiota. – Encostou-se no travesseiro. – Estou com tanta vergonha.

— Por quê?

— Eu conheço aquele lago, sabia que não devia ter chegado tão perto da beirada.

— Stella. – Umedeceu os lábios. – O que você foi fazer lá?

— Eu não sei. – Deu de ombros. – Eu acho que eu precisava de um pouco de espaço para pensar.

— No seu tratamento? – Ela abaixou a cabeça e continuou calada. – Lembra que era para você me encontrar depois? Por que não me atendeu?

— Eu precisava de um tempo para pensar. – Engoliu em seco, um nó começava a se formar na sua garganta. – Me desculpa. – Levou as mãos ao rosto ao se lembrar do jantar. – Estraguei o seu aniversário.

— Tudo bem, ano que vem terei outro. – Os dois riram. – Eu te amo... – Olhou no fundo de seus olhos. – E estou muito feliz em te ver bem, mas não consigo parar de me perguntar se...

— O quê?

— Se isso foi mesmo um acidente ou se você fez isso de propósito.

— A Stella tem depressão pós-parto... e tem muita coisa acontecendo na vida dela, mas ela nunca faria uma coisa dessa. – Jas afirmou ainda com a cara fechada. – Isso sem falar em todo o sono que ela tem perdido, e mesmo assim todo mundo ainda espera que ela viva sorrindo, só porque agora ela é mãe. – Cruzou os braços. – Vocês têm noção que ela se sente péssima por isso?

— Mas é exatamente isso que eu estou dizendo. – Ele começou a tentar explicar o seu ponto de vista. – Toda essa tristeza que ela tem sentido pode ter...

— Não! – Protestou. – A Stella nunca tentaria se matar. Ela se preocupa com a gente e ela não faria isso depois do que aconteceu com a Alyssa. Ela respeita muito a vida.

— Tudo bem. – Ergueu as mãos em sinal de rendição. – Mas essa doença meio que controla todos os sentimentos da mulher. Elas fazem as coisas sem pensar, pode ser que ela tenha achado que cometer suicídio...

— Não! – Continuou negando. – Ela não!

— Ela pode até ser uma exceção, Jas... mas eu sei exatamente o que isso significa.

— E eu não ligo para nada do que você está dizendo. – Encarou o homem com muita frieza. – Minha amiga não é um dos nossos casos.

— Ela não é. – Aumentou o tom de voz. – E também não é isso que eu estou tentando dizer.

— Eu não vou ficar aqui ouvindo você me dizer quem ela é ou como ela se sente. – Fechou os olhos, massageando as têmporas com as pontas dos dedos. – Você não tem esse direito.

— Você quer mesmo ajudar a sua amiga? – Ela não respondeu. – Então essa é a hora de começarmos a encarar os fatos.

Os dentes dela rangeram e os seus punhos voltaram a se fechar.

— Você está errado.

— E se você estiver errada? – Rebateu. – E se da próxima vez ela conseguir?

— Mas a água está congelando nessa época do ano. – Stella retrucou com as sobrancelhas franzidas. – Por que acha que eu pularia?

— Eu só estou tentando encontrar uma explicação para tudo isso. – Ele respondeu. – Eu sei que está sobrecarregada e que se sente pressionada...

— Sim, e foi justamente por isso que fui para Redfield... isso não quer dizer que eu queira me matar.

— Mas você mesma admitiu estar sofrendo de depressão pós-parto.

— E então decidi começar a terapia. – Ele assentiu. – Estou no caminho certo.

— Certo. – Sorriu. – E como foram as suas sessões?

Ela deu um longo suspiro e pensou no que diria.

— Foram ótimas. – Respirou fundo. – É meio estranho estar na presença de um estranho e ter que mergulhar tão profundamente em si mesmo para extrair detalhes da sua vida pessoal, mas eu acho que com o passar do tempo ficará mais fácil.

— Eu só estou perguntando porque você não veio me encontrar e nem retornou nenhuma das minhas ligações.

— Eu acho que eu precisava de um tempo para... assimilar esse monte de coisa.

Os dois ficaram em completo silêncio por um tempo, então ele olhou no fundo dos olhos dela e apertou mais sua mão.

— Mas a sua sessão terminou há horas... – Olhou para as pontas dos dedos dela, reparando que não estavam mais tão roxas. – Onde você estava?

— E o que é isso? – Riu. – Um interrogatório?

— Minha querida, eu fiquei preocupado com você e só estou perguntando isso porque eu te amo. Você e a nossa filha são tudo para mim. Você é a minha vida. – Ela sorriu, era exatamente disso que ela mais gostava nele. – E me desculpa se estou te pressionando muito. Eu... eu só quero descobrir o que aconteceu.

Ela respirou fundo e passou a mão livre por seu rosto.

— Eu fui conversar com o Chad.

— Certo...

— Você sabe que ele é um ótimo conselheiro...

— E isso te ajudou?

— Sempre ajuda. – Ele assentiu. – E quando saí de lá, fui direto até o lago para pensar um pouco e... eu estava tão cansada. – Fechou os olhos. – Eu sei que era para eu ter ido direto para casa, mas... eu fiquei lá parada com toda aquela neblina ao meu redor. Então olhei para a água e... não sei, acho que acabei me perdendo nos meus próprios pensamentos. A última coisa que me lembro é que escorreguei e caí.

— Eu fui te procurar e quase passei direto, mas acabei encontrando uma coisa que te pertencia.

— O quê?

— A sua receita rasgada.

— O doutor acha que eu tenho que tomar antidepressivos...

— Então por que você rasgou a receita?

— Eu quero tentar me tratar sem me drogar. – Explicou, dando de ombros. – Eu quero tentar terapia hormonal combinada com exercícios e com uma dieta balanceada.

— E o que ele acha disso?

— Ele acha que eu não devia perder mais tempo, que eu devia começar a tomar os remédios logo.

— Eu sei que você está sob um estresse enorme... tem certeza que não acabou se deixando levar?

— Will, eu não tentei me matar, tá bom? – Usou o seu tom mais firme. – E eu preciso que você acredite em mim. – O homem soltou sua mão e passou as mãos no rosto. – Eu sei que cometi muitos erros, mas não sou louca... nem suicida.

Jas surgiu na porta nesse exato momento.

— É muito bom ver que você está melhor. – Abriu um sorriso tímido. – Como está se sentindo?

Stella sorriu para ela.

— Muito melhor. – Jas respirou aliviada. – Muito obrigada.

— Eu pensei que alguma coisa terrível tinha te acontecido quando te vi chegando naquela maca. – Engoliu em seco. – Achei que fosse morrer.

Stella olhou para o marido e ele entendeu o recado, levantando da cadeira no mesmo instante.

— Vou deixar vocês conversarem um pouco.

— Eu estou bem, não precisa mais se preocupar comigo.

— Eu sei. – Deu um beijo na sua bochecha e saiu.

Jas se aproximou mais, sentando na cadeira ao lado dela.

— Você está com frio, com febre ou algo assim?

— Só a primeira opção. – Exibiu um sorriso. – Vão me manter aqui essa noite, mas amanhã de manhã eu acho que já posso ir embora.

— O seu marido é um fofo. – Segurou a mão dela. – Ele está sempre te cercando de todos os tipos de cuidados.

— É... mas é só porque ele pensa que eu tentei me matar. – Jas desviou o olhar. – Mas eu não fiz isso... eu sei que é exatamente isso que parece, mas eu nunca faria nada contra a minha própria vida.

— Eu acredito em você, Stella. – Voltou a olhar para ela. – E eu tenho certeza que o seu marido também... ele te ama muito.

— Se ele me amasse mesmo, ele devia pelo menos acreditar em mim.

— Você é a pessoa mais racional e também é a pessoa mais centrada que eu conheço, não importa o quão difícil esteja sendo o seu pós-parto... eu sei que você sabe que tem uma filha para criar e uma família que te ama muito. – Stella deu um longo suspiro, sabia reconhecer quando alguém estava duvidando de sua palavra. – Eu ficaria arrasada se você se... matasse.

Stella revirou os olhos.

— Mas por que você está duvidando de mim?

— O importante é que vai ficar tudo bem. – Apertou mais a mão dela. – Continua com a terapia e vai dar tudo certo, não vai?

— Foi tão doloroso ver a dúvida nos olhos dele... – Passou a mão livre nos olhos. – E nos seus... então quer dizer que ninguém acredita em mim?

— Ela jura que a queda foi um acidente. – Will estava com a mão no queixo, a dúvida ainda pairava em seus olhos. – E eu quase acreditei que ela estava mesmo falando a verdade.

— Mas é exatamente nisso que você quer acreditar. – Sage argumentou.

— Mas até que faz sentido, todo o cansaço e a neblina... ela pode simplesmente ter escorregado mesmo.

— Então nesse caso você também acredita que ela fugiu para outra cidade por acidente. – Olhou diretamente para o rosto dele. – É nisso mesmo que você acredita?

— Eu acredito que ela agiu por impulso. – Umedeceu os lábios. – Mas tentar tirar a própria vida é outra coisa.

— Certo. – Rendeu-se. – Mas ela não está sendo ela mesma, não é? – Will deu um longo suspiro, mas acabou concordando. – Então acho que podemos concordar que isso só está acontecendo porque ela está doente.

— Mas as estatísticas dizem que mulheres com depressão pós-parto quase não cometem suicídio...

— Sim, mas ela...

— Ok. – Levantou de uma vez, distanciando-se dele. – Já chega!

— Eu não quero bancar o idiota, cara... mas eu também não quero ser o cara sentado ao seu lado no funeral da Stella. – O outro soltou uma risada repleta de ironia e cruzou os braços, estava disposto a ouvir o que ele tinha a dizer. – Não importa se ela caiu ou pulou na água, o que importa é que a depressão dela é muito grave e desempenha um papel em tudo isso que tem acontecido.

— Eu sei disso e eu quero que ela se sinta segura.

— Não. – Negou com a cabeça. – O que você quer é que ela fique segura... e para que isso aconteça, ela tem que continuar com a terapia e começar a tomar os remédios, ela tem que fazer isso para o seu bem e para o bem da filha de vocês. – Levantou e colocou a mão no ombro dele. – E até que ela esteja forte o bastante para lutar contra isso sozinha, é você quem vai ter que lutar por ela.

Foi muito difícil dormir com tantas coisas para pensar e com Lily chorando quase a noite toda. Ela exigia uma atenção que seu pai temia não conseguir oferecer, ele sabia que a menina precisava da mãe, mas no momento ela não estava disponível nem fisicamente e muito menos emocionalmente. Assim que os primeiros raios de sol começaram a iluminar a casa, ele arrumou suas coisas, deu a primeira mamadeira do dia para a filha e esperou Kate chegar. O seu dia estava cheio, o trabalho o aguardava, mas a sua primeira parada foi no hospital para ver a esposa.

Enquanto ele a visitava, os seus amigos também tentavam aliviar um pouco daquele sentimento de estar perdendo um membro da família.

— A Stella está no hospital. – Jas compartilhou a notícia com Danny, que a olhou com espanto.

— O quê?! – Arregalou os olhos. – O que aconteceu?

— O Will a encontrou boiando no lago ontem à noite. – Respondeu com a voz mais grave do que o habitual.

— Mas está tudo bem?

— Sim... fisicamente sim. – Olhou para os lados como se estivesse procurando alguma coisa. – Ele a levou para o hospital para tratarem a hipotermia dela... – Olhou novamente para os lados e abaixou o tom de voz. – Mas ele acha que ela tentou se matar.

Ele franziu as sobrancelhas, deixando a incredulidade estampada em seu rosto.

— Não. – Negou com a cabeça. – Ela jamais faria uma coisa dessas.

Ela segurou o pingente do colar, estava tão nervosa com aquela história que tinha voltado aos velhos hábitos.

— Foi exatamente isso que eu pensei, mas agora não tenho mais tanta certeza disso... e todo mundo está tentando me fazer duvidar da palavra dela.

— Mas o que foi que ela te disse?

— Ela jura que foi um acidente...

— Então foi exatamente isso.

— Olha... ela nunca foi muito boa com mentiras, e ultimamente ela tem feito umas coisas que não tem nada a ver com ela... eu não sei mais o que pensar.

Ele respirou fundo.

— E o que eu posso fazer para ajudar?

— Ela está numa situação muito delicada agora e ela acha que todo mundo está julgando e falando dela pelas costas... e estamos mesmo, mas o que eu estou tentando dizer é que...

— Jas! – Segurou as mãos dela. – Jas! – Respirou fundo, a incentivando a fazer o mesmo. – Calma.

— Ok. – Voltou a usar o seu tom normal. – Ela precisa de alguém que a escute sem fazer nenhum julgamento, alguém que não se preocupe em estar dizendo a coisa errada, alguém sem emoções e que consiga ser inexpressivo. – Corria o risco de estar o ofendendo, mas era preciso. – E eu acho que essa pessoa é você.

No hospital, o marido dela também tratava de cuidar daquela situação da melhor maneira que podia.

— Os sinais vitais dela estão melhorando. – A enfermeira sorriu para os dois. – Um resgate excelente, senhor Taylor.

— Estou muito feliz por isso.

Ela riu e antes de sair disse:

— Amém.

Ele se aproximou, sentando-se na cadeira ao lado da esposa.

— Eu conversei com o doutor Falco.

Ela deu um longo suspiro e perguntou:

— E sobre o que exatamente?

— Eu contei o que aconteceu para ele. – O seu tom de voz era tão baixo que parecia um sussurro. – E também contei que você rasgou a receita, e ele me deu outra. – Tirou um frasquinho do bolso e mostrou para ela. – Ele disse que você tem que começar a tomar imediatamente.

— E você acha que eu não sei disso? – Comprimiu os lábios em sinal de desgosto. – Ele passou os últimos quinze minutos de cada sessão tentando me fazer dar o braço a torcer.

— Ele não estava tentando te fazer dar o braço a torcer, Stella. – Tirou uma mecha de cabelo dos olhos dela. – Ele só estava dando a opinião profissional dele.

— Eu sei... mas eu também sei um pouco de ciência, lembra?

— Sim, é claro que lembro. – Segurou a mão dela. – Mas no momento você é uma paciente, e eu não quero que você se torne uma vítima.

— Mas o que aconteceu comigo foi um acidente. – Fechou os olhos, soltando a mão dele. – E aquilo não teve nada a ver com a depressão pós-parto, tá? Exceto pelo fato de eu estar exausta. – Ele voltou a segurar as mãos dela, apertando-as com uma força contida. – Tinha muita neblina e isso não ajuda muito quando se está perto de um lugar escorregadio...

— Stella... – Umedeceu os lábios. – Eu te amo muito, mas estou com muito medo. Eu só quero que você fique segura... e também quero que você fique bem, por você, por mim e pela nossa família.

— Eu também quero muito isso...

Ele destampou o frasco e tirou um dos comprimidos.

— O doutor disse que esse é o primeiro passo. – Mostrou o comprimido para ela, pegando a garrafinha de água que estava em cima da bandeja. – Stella, por favor... por favor, eu preciso que você faça isso. – Entregou o comprimido para ela, que o aceitou meio a contragosto.

Ela o encarou por alguns segundos, e em seguida colocou o comprimido na boca, pegando a garrafinha de suas mãos para tomar um gole da água. Ele suspirou, como se vê-la engolir aquele comprimido fosse um verdadeiro milagre.


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Notas finais do capítulo

O primeiro passo ela já deu...
Até o próximo!



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