Arco 2 - A Odisseia de Ikaruga

— Azuma Senju deseja “salvar o mundo” a qualquer custo. Eu desejo reformá-lo. Quando ele e eu conseguimos atingir a “grande verdade”... – diz Ikaruga Haruno para si mesma enquanto é acompanhada por Narmer Akatsuki, um ninja renegado da Aldeia da Areia. – Muito provavelmente nós dois encontramos a mesma resposta sobre o ser Nexus. Você, Silvanna… É a pessoa que guarda em seu interior os segredos do Deus da Luz que aquela seita patética tanto procura. Você é a chave para os objetivos de Azuma, mas também é a chave para os meus. Quando nos encontrarmos uma vez mais… Definitivamente… Será o fim de tudo o que você ama. E o início de um novo mundo!

Conforme a kunoichi do clã Haruno segue o seu caminho, sua mente resgata diversas memórias do seu passado envolvendo Silvanna Senju, a Sannin da Aldeia da Folha. Em seu âmago, a Nukenin considera curioso o fato de que aquilo que ela procurou com tanto afinco nos últimos anos sempre esteve bem ao seu lado… Muito mais do que poderia imaginar.

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17 anos atrás, em uma reunião no País da Tecnologia…

O local é um prédio com uma sala de reunião que, ao longo dos anos, foi recorrentemente utilizada para o encontro de Kages, os líderes das aldeias ninjas. O País da Tecnologia, como uma nação neutra, sempre serviu de palco para acordos diplomáticos entre os outros países do mundo ninja. Naquele dia, os comandantes das cinco grandes aldeias estavam reunidos ao redor de uma grande mesa circular. Também estavam presentes, atrás deles, um acompanhante com o objetivo de escoltar cada um dos Kages.

A situação era crítica porque criaturas desconhecidas estavam surgindo em determinadas regiões do mundo. Aqueles seres, humanos com algumas pequenas mutações físicas como asas de morcego ou pés de bode, eram uma forma primitiva do que eventualmente seria conhecido como “Bestiamorfos”. Ninguém tinha certeza do que estava ocorrendo, mas o mundo ninja estava prestes a entrar no período da Segunda Guerra Mundial.

Enquanto a reunião acontecia, os ninjas que acompanharam os Kages com a responsabilidade de proteger o prédio estavam testemunhando a chegada do horror. Do lado de fora, um ninja de cada uma das cinco aldeias estava posicionado para a batalha. O céu era noturno, mas a escuridão celeste nada era diante daquela que se aproximava ao longe. Cinco, talvez seis dezenas de pessoas contaminadas com a estranha mutação. Os metros de distância entre eles e os ninjas caíam radicalmente a cada segundo. Alguns dos indivíduos mutantes possuíam garras e presas, outros pés ou mãos de animais variados e terceiros ainda apresentavam asas, caudas, chifres e braços adicionais. Futuramente, esse estágio seria conhecido como o antecessor à forma final de um Bestiamorfo.

— Vocês não irão passar! – exclamou Silvanna Senju, a guardiã representante da Aldeia da Folha.

Carregando uma grande lança dourada com sua mão esquerda, a mulher era a única na linha de frente enquanto os outros ninjas, quatro homens, se colocavam atrás dela. Afinal de contas, ninguém entre os presentes desconhecia o nome do prodígio do clã Senju chamado Silvanna. Por isso, a ninja da Folha foi a primeira a agir.

Neta do fundador da Folha, Albafica Senju, ela recebeu o seu nome em homenagem às habilidades únicas do grande shinobi. Silvanna significa “proveniente da floresta” ou “proveniente da selva” e essa noção guiou os sonhos da mulher desde seus primeiros anos de vida. Inevitavelmente, ela se sentia especial por nascer em um clã renomado e ser descendente do fundador de uma das maiores aldeias ninjas de todo o mundo.

Por outro lado, a loira acreditava que esse fato carregava consigo uma grande responsabilidade. Albafica, enquanto esteve vivo, sempre disse para sua neta que “os fortes devem proteger os mais fracos e jamais usar o seu poder para sobrepor a vontade dos inocentes”. Quando bem jovem, Silvanna perseguiu esse objetivo até o falecimento de seu avô e, posteriormente, se tornar Gennin antes dos 10 anos.

Como um talento nato, a garota foi integrada a uma equipe especial de Gennins que surgem de tempos em tempos. Naquela época, Jeanne D’arc Senju já havia assumido o posto de Segunda Hokage e criado um sistema distinto de formação de Gennins. Os raros grandes talentos, como Silvanna, eram delegados não para uma equipe encabeçada por um Jonin, mas sim equipes comandadas pelos Kages de suas respectivas aldeias. Nos dias atuais, alguns dos mais respeitados ninjas participaram dessas dinâmicas de graduação shinobi.

— Preciso honrar o meu legado. Tudo aquilo que me ensinaram, tudo aquilo por que sempre lutei – diz Silvanna Senju para si mesma, em pensamentos enquanto observa a aproximação das criaturas. – Eu escolhi ser aquela que lidera os companheiros para a batalha! Hoje, é isso o que eu sou e sempre serei.

A loira saltou na direção das criaturas enquanto uma imensa quantidade de chakra era moldada dentro do seu corpo. Em seguida, o chakra foi direcionado para o seu punho direito. Ao atingir o solo em um ponto entre aqueles seres, o seu punho destruiu uma grande área do solo. Por isso, a Jonin fez o chão se partir em rachaduras que se espalharam como as pétalas de uma bela flor. O ponto central do golpe nocauteou um dos alvos, mas a onda de choque também foi capaz de causar danos a uma dezena de outros, embora suficientes para nocautear apenas outros dois.

No entanto, para o espanto de Silvanna, um dos contaminados saltou em meio a poeira por trás dela, erguendo um grande braço escamoso cheio de garras aparentemente poderosas. O ser estava prestes a atingi-la, demonstrando uma velocidade impressionante, mas algo impediu o seu avanço: um grande tubarão de água, poderoso o suficiente para atingir alguns outros contaminados com sua projeção. Cerca de quatro dos seres foram nocauteados por um ataque de Tier Halibel Hoshigaki.

— Você está bem? – questionou Halibel, parada ali próxima.

Carregando a sua lança, a loira lanceira da Aldeia da Folha saltou para trás, realizando um movimento de arco com seu corpo. Quando seus pés tocaram o solo, a Jonin estava entre outras duas mulheres: a Jonin Halibel, da Aldeia da Névoa, e a Raikage Yoruichi Shihoin.

— Que interessante. Será a primeira vez que nos unimos em um campo de batalha – afirmou a mulher ao lado esquerdo de Silvanna.

— É verdade, Raikage. Talvez seja uma boa maneira de justificar a composição de uma aliança – articulou a mulher ao lado direito de Silvanna.

— Aliança? – indagou a única branca entre as três, alterando o olhar entre as outras duas. – Me contem sobre essa novidade.

— É claro. Depois de derrubarmos essas coisas – concordou a Raikage, se colocando em posição de batalha assim como suas aliadas.

As três já se conheciam anteriormente por pertencerem à mesma geração. Contudo, o que disseram era um fato: nunca haviam se encontrado em um mesmo campo de batalha dessa maneira, nem como aliadas, nem como adversárias. Silvanna Senju, Tier Halibel Hoshigaki e Yoruichi Shihoin ainda não sabiam, mas aquele não era apenas o início da Aliança Shinobi: era o início de uma lenda. A lenda das Sannins, as mulheres que marcariam a história do mundo ninja para todo o sempre.

Naquele dia, elas lutaram com empenho e inspiraram os outros ninjas de modo que todos combateram a ameaça sem medo. Os demais Kages que foram àquela reunião eventualmente se juntaram aos seus subordinados e o campo de batalha se provou como a maior evidência da necessidade de uma Aliança Shinobi. O perigo sinistro dos Bestiamorfos estava apenas começando, assim como toda a belíssima trajetória da grande comunhão das aldeias do mundo ninja…

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Cerca de quatro anos atrás, na fronteira entre o País do Fogo e o País do Som… Vale do Fim…

Uma grande cachoeira é o que mais chamava a atenção naquele ambiente. De pé de um lado nas águas estava uma mulher loira carregando a Lança Cometa com a mão direita. Do outro, uma outra figura feminina, de cabelos rosados, carregando a Espada Lendária Mugetsu-Ryu com a mão esquerda.

— Por quê? – questionou Silvanna Senju, encarando a mulher com um losango na testa.

— Poder – afirmou Ikaruga Haruno, tão séria quanto sua oponente. – Você tem uma visão de mundo pequena e cínica demais para entender. Eu almejo a verdade que pode ser obtida apenas através da força.

O punho da loira que manejava a Lança Cometa se apertou ainda mais ao redor do metal. Os olhos azulados dela encaravam os verdes de Ikaruga com pesar. O pôr do sol daquele dia era como um anúncio de que tudo seria diferente a partir dali. Depois de todas as decisões e atos tomados pela integrante do clã Haruno, Silvanna compreendia que algo precisava ser feito. Algo… Definitivo.

— Nossa mestra teria vergonha do que você se tornou – afirmou Silvanna, pensando em uma figura que era recém-falecida naquela época: Jeanne D’arc Senju.

— Ela era uma tola. Por isso está morta – retrucou a outra.

Ouvir aquilo foi a gota d’água para Silvanna. A irritação imediatamente tomou conta de sua face. Correndo e deixando pelo caminho o rastro da água resultante de sua movimentação, a loira se aproximou do alvo determinada o suficiente para atingi-la com um ataque de sua lança. Ikaruga, por outro lado, soltou sua espada em um único instante, ativou um selo manual e retomou o controle de sua lâmina.

Na sequência, as duas armas se chocaram, criando uma chamativa onda de choque que espalhou água para todos os lados ao redor das kunoichis. Tudo isso ocorreu enquanto o selo na testa da mulher brilhou e se espalhou em todo o seu corpo como listras pretas inconfundíveis: um dos mais importantes e memoráveis legados de Jeanne D’arc Senju, a Segunda Hokage.

— Você deveria se envergonhar de usar isto após insultá-la sem nenhuma hesitação – pronunciou a loira, pressionando-a com sua força aplicada na Lança Cometa.

— Você é que deveria se envergonhar por ter sido incapaz de dominar o Byakugou. Vou lhe mostrar como a técnica que a Segunda Hokage criou é muito melhor quando usada por uma ninja de verdade… – afirmou a rosada, enfurecendo sua adversária ainda mais.

Com um impulso, Silvanna pressionou Ikaruga e a empurrou para longe. Impulsionada para o solo, fora da cachoeira, Ikaruga jogou sua espada para trás. Em seguida, ativou um selo de mão e se moveu depressa para trás, retomando a espada com sua mão direita. Sua adversária estava se aproximando em altíssima velocidade enquanto uma aura vermelha envolvia Ikaruga.

— Você desceu baixo demais, Ikaruga! – exclamou Silvanna, movendo sua Lança Cometa de trás para frente para acertar seu alvo de forma perfurante.

Ouvir aquilo fez Ikaruga cair em gargalhadas. Movendo-se de maneira muito veloz, a Haruno facilmente saiu da zona de projeção da Lança Cometa, aproximando-se pela direita de Silvanna. A loira apenas arregalou os olhos enquanto a lâmina amaldiçoada de uma das duas Espadas Lendárias da Aldeia da Folha estava cada vez mais próxima do seu pescoço. No último instante, a líder do clã Senju conseguiu saltar para longe, mas não sem sofrer um pequeno arranhão em sua pele. Uma gota de sangue caiu da ferida rumo ao solo, fazendo Ikaruga sorrir largamente.

— A espada me escolheu. Ela me deu mais força, mais velocidade, mais durabilidade… – afirmou a espadachim, ainda envolta em uma sinistra aura vermelha emanada pela lâmina em sua mão. – Com ela, eu posso te matar, Silvanna. Arrasarei com o que restou da honra dos Senju com todo o prazer.

Em uma disparada muito veloz, Ikaruga reaproximou-se de sua inimiga. Com investidas violentas de sua espada, ela atacava Silvanna sequencialmente enquanto a loira apenas se defendia dos golpes com sua Lança Cometa.

— Eu gostaria de poder acreditar que o caminho que escolheu tem volta – afirmou a lanceira, sentindo a pressão do confronto diante da tremenda intenção assassina emanada por Ikaruga. – Mas…

— Cale-se! – exclamou a rosada, executando um golpe horizontal tão violento com sua espada que foi capaz de empurrar a adversária em defesa para longe. – Estou farta de vê-la agindo como se precisasse se conter!

Por um breve instante, Silvanna arregalou os seus olhos após pressionar seus dois pés no chão e interromper a projeção do próprio corpo. Afinal de contas, ela sentiu todo o seu corpo completamente paralisado como se estivesse à mercê de uma assombrosa força invisível. Imediatamente, a loira entendeu que estava à mercê do Genjutsu de Paralisia que Ikaruga copiou de Risei Kotomine durante a sua empreitada para roubar a Espada Lendária proibida da Aldeia da Folha.

Mesmo assim, Silvanna permanecia incrédula. Como um genjutsu de baixo nível, executado por alguém que não era especialista no assunto, seria tão eficaz em uma batalha como essa? Silvanna não tinha a resposta exata, mas tudo se tratava de uma combinação entre o Selo Byakugou ativado e as capacidades secretas da Mugetsu-Ryu. Aquilo era a comprovação de que Ikaruga Haruno se tornaria uma ameaça extraordinária para toda a Aliança Shinobi caso não fosse detida.

— Pereça, Silvanna Senju! – berrou a outra, tomada por risadas fora de controle.

Ikaruga aproximou-se outra vez, mas manuseando a espada para cortar o pescoço de Silvanna. Os olhos azuis da lanceira denunciaram todo o seu espanto. A lâmina maligna estava a centímetros de sua jugular, aproximando-se cada vez mais. Paralisada, a líder do clã Senju tentou um último recurso. Graças a isso, quando a espada se chocou com sua carne, ela sofreu apenas um corte pouco além da superfície da pele. Enfim liberta da paralisia, Silvanna foi capaz de executar um soco com o punho esquerdo, mas Ikaruga bloqueou com a espada e somente foi empurrada para vários metros de distância devido à força de impacto.

— Que capacidade reativa impressionante – pontuou Ikaruga, encarando-a ao longe, satisfeita por ver mais sangue caindo da carne de sua inimiga e uma densa camada azul de chakra ao redor do ferimento. – Você usou o seu controle de chakra para emitir uma camada defensiva de energia no último instante. Graças a isso, o seu pescoço ainda está no lugar. Mas não por muito tempo…

Outra vez, a rosada partiu na direção de Silvanna, disposta a tentar cortar seu pescoço de uma vez por todas. Contudo, para o espanto dela, a líder do clã Senju realizou um deslocamento tão rápido que não apenas desviou-se, como moveu-se para trás de Ikaruga.

— Poderoso Furacão Meteórico da Folha! – declamou a loira, girando sobre o seu próprio eixo para utilizar um potente chute giratório da perna direita.

Ikaruga tentou se defender, mas era tarde demais. Ela gemeu de dor ao receber o impacto do ataque em sua barriga e foi atirada para o ar de forma assombrosa. Voando pelos ares, a Haruno cuspiu sangue, mas foi capaz de observar a reaproximação de sua oponente.

— No fim das contas, o que a move contra mim é a sua inveja – pontuou a loira, manejando a Lança Cometa.

As duas kunoichis iniciaram um confronto de suas armas com movimentos consecutivos muito rápidos em um curto espaço de tempo. Lança contra espada se moviam velozmente enquanto as duas gradualmente retornavam ao solo. Uma encarava a outra, mas ambas também estavam determinadas a conquistar a vitória daquele confronto.

— Você nunca aceitou o fato da discípula da Segunda Hokage a conquistar o título de Sannin ter sido eu – manifestou a portadora da Lança Cometa, executando seus ataques. – Foi até onde ninguém jamais iria apenas por não conseguir vencer o seu próprio egoísmo!

— Cale essa boca maldita! Não sabe nada sobre mim! – declarou a adversária da Senju, extremamente revoltosa.

Ambas voltaram ao solo, mas os choques de suas armas prosseguiram por longos minutos a fio. Nenhuma delas queria ceder, nem para se afastar, nem para interromper o confronto. Ninguém acertava ninguém, mas o ardor do duelo permanecia intacto. Ao mesmo tempo, nenhuma das duas demonstrava sinais imediatos de exaustão, algo justificável pela imensa vitalidade que cada uma das mulheres presentes possuía.

Por outro lado, ambas já haviam gastado certa quantia de chakra antes desse encontro. Afinal de contas, horas atrás, Ikaruga enfrentou e matou outros ninjas da Folha após roubar a Mugetsu-Ryu. Já Silvanna havia retornado de uma missão de classe S no País do Som quando soube de tudo o que ocorreu. A líder do clã Senju se viu compelida a perseguir Ikaruga, partindo sem nem mesmo consultar o Terceiro Hokage, recém-eleito naquela época.

— Essa rivalidade precisa acabar hoje! – exclamou Silvanna em determinado momento do duelo.

— Sim! Com a sua morte! – acrescentou a outra.

Apesar de ambas as vontades serem ardentes, a disputa de armas prosseguiu por muito mais tempo. Após longos minutos, o fôlego das duas começou a demonstrar sua queda. Tanto Silvanna quanto Ikaruga começaram a respirar de forma mais pesada e descompensada. O contato visual entre elas permanecia, assim como a potência de todos os golpes trocados.

Mais tempo se passou até que algo efetivo ocorreu: Ikaruga realizou um corte profundo na barriga da inimiga ao mesmo tempo em que Silvanna foi capaz de perfurar violentamente a linha abaixo dos seios da Haruno com a Lança Cometa. Após os danos, cada uma afastou-se para uma direção oposta com saltos. Ofegantes, as duas se observavam enquanto a espadachim considerava todo o contexto.

— Eu desejo matá-la com todas as minhas forças, mas sei que logo chegarão reforços – alegou a Haruno, visivelmente irritada. – Gostaria de dedicar mais do meu tempo para finalmente acabar com a sua vida, mas não esperava que você fosse tão teimosa.

— Não vou deixar você fugir.. – afirmou Silvanna, sentindo o seu sangue escorrendo de sua ferida.

— Quero ver por quanto tempo será capaz de me perseguir com esse ferimento – pontuou Ikaruga, usando a mão livre para tapar o sangramento abaixo dos seios. – Está mesmo disposta a arriscar tudo, até o futuro da Aldeia da Folha, para me perseguir? O futuro do filho de sua adorada Segunda Hokage…?

Ouvir aquilo desestabilizou o desejo combativo de Silvanna. Aquilo a fez se lembrar do que havia prometido para a Segunda Hokage. Haruki Senju, o filho mais jovem dela, poderia vir a se tornar um grande nome entre as forças futuras da Aldeia da Folha e da Aliança Shinobi. Se a crença de Ikaruga estivesse certa, de que os Bestiamorfos eventualmente retornariam, alguém assim seria necessário. Por tudo isso, Silvanna silenciosamente se questionou a respeito de qual a melhor decisão para aquela situação de impasse.

— Nos veremos em breve, Silvanna… – garantiu a mulher de cabelos rosados, guardando sua espada na bainha em sua cintura e ativando um selo de mão.

Daquela maneira, Ikaruga começou a recuar para dentro do solo, assimilando seus pés e gradualmente o resto do seu corpo ao solo graças à técnica Assimilação, copiada por ela de um dos ninjas que assassinou horas atrás. Sorrindo, a espadachim estava cada vez mais próxima de se afastar por definitivo enquanto Silvanna a observava relativamente ofegante.

— Mas na próxima vez, eu terei em minhas mãos o segredo sobre os Bestiamorfos. Esmagarei você, a Aldeia da Folha e toda a Aliança Shinobi com o verdadeiro poder… – ela completou, desaparecendo completamente do campo de visão de sua ouvinte em seguida. – Até lá… Sannin da Aldeia da Folha.

Suspirando profundamente, Silvanna conseguiu amenizar o descompasso do seu fôlego. Com o olhar fixo para o ponto no qual Ikaruga desapareceu, a Jonin da Aldeia da Folha se sentiu relativamente fracassada. Afinal de contas, não foi capaz de impedir a “loucura” de sua ex-colega de equipe. Por outro lado, seria justo se culpar pelas escolhas egoístas da Nukenin?

No passado, as duas fizeram parte do trio especial de Gennins tutorados pela Segunda Hokage. O único homem do grupo havia falecido anos atrás em um confronto contra Bestiamorfos. Em seu âmago, Silvanna se questionava se aquele evento foi o ponto de partida da insana distorção de valores da kunoichi do clã Haruno. Era inaceitável considerar que Ikaruga sempre foi daquela maneira. Portanto, alguma coisa tinha de servir para justificar tudo o que ocorreu. Alguma coisa precisava justificar…

— Tigreal… – articulou Silvanna, levando a mão esquerda para o seu ferimento com a intenção de estancar o sangramento. – Se eu tivesse sido mais forte naquele dia, talvez você estivesse aqui… Talvez teríamos impedido ela juntos… Talvez… Ela nem mesmo faria o que fez… Eu…

O rosto da loira se abaixou, assim como seus olhos azulados perderam todo o rastro de convicção que a tomou durante o confronto contra sua ex-colega de equipe. O coração dela estava arrasado e nada poderia mudar aquela sensação amarga e dolorosa. Não importa o quão diferente Ikaruga tenha se tornado, ela ainda era a amiga íntima que cresceu junto de Silvanna e Tigreal. Eles eram motivo de orgulho para a Segunda Hokage e inspiração para vários outros ninjas mais jovens na Aldeia da Folha.

Afinal de contas… Como deveria agir dali em diante? De onde retiraria forças para confrontar, dia após dia, seu mais absoluto fracasso com todos os integrantes de sua antiga equipe? Uma mestra e um companheiro mortos… Uma companheira desviada trilhando um caminho corrompido… E o mais absoluto caos deixado pela sangrenta guerra contra os Bestiamorfos… O futuro para Silvanna não era de esperança. Sendo assim, como ela poderia… Viver…?

Arco 2 - A Odisseia de Ikaruga… Encerrado!