Pokémon: Jardim Jirachi escrita por Maya


Capítulo 6
Johto Parte I - O Infinito Começa com Um




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Johto, cinco anos atrás 

— Tia Whitney... 

— Hm? 

Era hora do jantar e Mei olhava para o prato cheio a sua frente sem prestar atenção de verdade na comida. 

— Tá tudo bem? — A tutora perguntou depois de engolir sua última garfada. — Você tá com uma cara... 

— Tem algo de errado comigo por eu não querer batalhar com meus Pokémon? 

Ela olhou para a sala adjacente onde os Pokémon da casa comiam o próprio jantar, mais especificamente para a Oddish que Whitney a ajudara a capturar mais cedo naquele dia. Ela comia alegremente agora ao lado do Togepi e dos veteranos, mas foi uma sensação muito estranha precisar lutar contra ela para capturá-la e levá-la para casa. Pareceu errado.  

— Depende. Por que você não quer?  

— Não sei... Eu não consigo me imaginar batalhando como todo mundo fala. Acho que deve ter outros jeitos de crescer com meus Pokémon.  

Whitney assoprou o macarrão pego no garfo, sugou o fio, ficou olhando para a protegida e engoliu.  

— Parece que você sabe, então.  

— É.  

— Não tem problema nenhum com isso, Mei. Você está certa, existem mil formas diferentes de fazer sua jornada Pokémon e evoluir a si e aos seus companheiros.   

— Mas... — Ela continuava receosa. — Aprendemos no Jardim que devemos ser grandiosos. Não sei qual o caminho para isso sem ser esse.  

— Então você precisa de novas referências de grandiosidade. Vou te dar o endereço de um velho amigo e você vai visitá-lo amanhã, tá bem?  

— Você vem comigo?  

— Não, senhora. Considere o começo de sua aventura. Agora, coma antes que esfrie.  

Mei concordou acenando a cabeça e obedeceu.  

— Mei. — Whitney olhava para ela com muita seriedade e muito carinho. — Você pode ser grandiosa do jeito que quiser.  

...   

No dia seguinte, ainda de manhã, lá estava Mei no endereço indicado pela tutora, em Olivine City, numa casinha de frente para o mar, perto do farol. 

Whitney dissera que já havia ligado para seu amigo explicando e que ele estaria esperando Mei naquele horário.  Ela contou que seu nome era Mason Stuart, que viera de Kanto, era um treinador com aspiração de ser Campeão, porém, hoje, com vinte e três anos, havia deixado as batalhas para trás e se dedicava a cuidar de seus Pokémon. Mei também fizera sua própria pesquisa e tinha perguntas a fazer. 

Foi atendida bem rápido após tocar a campainha. Ali estava um rapaz alto de cabelos castanhos curtos e volumosos, olhos um pouco mais claros, usando moletom e chinelo; parecia ter acabado de acordar, na verdade, mas abriu a porta com um sorriso simpático. 

— Oi! Você deve ser a Mei, né? Entra aí. 

A casa de Mason podia facilmente ser a de um tio aposentado, foi o Mei pensou lá dentro. Tinha várias fotos em porta-retratos de parede e de mesa, na sala havia um teclado e um violão, partituras abertas no suporte e até um pouco no chão, tinha uma manta verde água no sofá, uma estante cheia de livros e, entre eles, alguns troféus e insígnias expostas, cheiro de erva-doce; ao mesmo tempo, a decoração também contava com itens em formato de Pokébolas e Pokémon, como o capacho na entrada com a cara de Charizard e a frase "Seja rápido, está quente aqui" — era para ser uma piada? —, ou o relógio de parede de Magneton. Era uma casa de ambiente gostoso, só que parecia pertencer a alguém que já tinha vivido muita coisa e estava dando um tempo. 

Mason convidou a menina para se sentar no sofá do manto verde água e foi até a cozinha pegar uma caneca de chocolate quente para cada um. 

— Então, em que posso te ajudar? Whitney falou que você está com algumas dúvidas, né? 

— Na verdade, eu estava pensando que não quero usar meus Pokémon para batalhar, e queria conhecer outras pessoas que também escolheram isso. 

— Que ótimo! Muito legal você já pensar nisso porque... 

— Mas andei pesquisando sobre o senhor e gostaria de fazer algumas perguntas! 

Mason até recuou um pouco. 

— Ah... Claro! Pode perguntar. Mas ei, não precisa me chamar de senhor, viu? 

— Eu li que você iniciou um movimento de libertação dos Pokémon quando tinha minha idade. Ainda pensa nisso? Como isso começou? 

Mei quase pediu desculpas, porque Mason pareceu ligeiramente decepcionado com a pergunta. 

— Bom, isso... Na época eu estava viajando por Hoenn e eu e meus amigos tivemos alguns conflitos complicados com Deoxys e acabei iniciando o movimento até como uma promessa a ele. Na época fazia sentido, achava que iria mudar o mundo. O objetivo era libertar todos os Pokémon para que eles não precisassem viver seguindo ordens de humanos e construíssemos uma relação "harmoniosa e livre", principalmente quando mandamos eles lutarem entre si. Acredita que eu mesmo libertei a minha equipe naquele dia? Por um tempo conseguimos alguns apoiadores, no meio de muitos detratores... Mas não, não penso mais nisso.  

— Por que não? 

— Porque eu tava errado. — Mason colocou sua caneca na mesinha de centro, sem ter bebido nada. Mei também não tinha, e a sua já tinha esfriado um pouco, mas bebeu mesmo assim para não soar desfeita. — Nada é preto no branco como estava enxergando. Acabei entendendo que a batalha também é uma forma importante de fortalecer vínculos entre o Pokémon e seu treinador e até entre os Pokémon em si. Batalhas podem ser sobre diversão, exercitar a confiança, sobre amizade... Podemos comunicar coisas em batalha que não comunicaríamos jamais em palavras. Só porque algumas pessoas levam isso para o mal não significa que seja isso que resuma. E sabe quando entendi isso? Numa noite quando os Pokémon que eu tinha libertado vieram até minha casa me procurar. Por Arceus, nunca chorei tanto quanto naquele dia! 

— Então por que decidiu parar de batalhar? 

— Porque, assim como você, acho que o nosso mundo também não se resume a isso, tem várias formas de evoluir e conhecer nossos Pokémon! E, mesmo não acreditando mais no papo de libertação, gosto de deixar os meus soltos da Pokébola para aproveitarem o mundo também enquanto eu dedico meu tempo a mim mesmo. Essa tem sido a nossa forma de crescer ultimamente. E talvez um dia volte para as batalhas, quem sabe? — Um sorriso se formou no rosto de Mason de forma muito espontânea. — Nosso mundo tem tantas possibilidades! Vem cá, deixa te mostrar uma coisa. 

Mason levou a menina para o cômodo da cozinha e então para a porta dos fundos, a qual dava logo para as árvores de trás do farol de Olivine.  

— Ei pessoal, venham aqui! Quero apresentar alguém a vocês! 

Nos segundos seguintes sombras de diferentes Pokémon se aproximaram e Mei observou, maravilhada, a chegada de um Charizard, um Primeape, um Nidoking, um Jolteon, um Pidgeot, e tantos outros que Mei nunca tinha visto pessoalmente e alguns que até não lembrava o nome. Mesmo sendo muitos, todos se reuniram obedientemente a Mason, e, olhando, todos pareciam muito contentes. Mason se postava no meio de todos aqueles companheiros com as mãos na cintura, sorriso no rosto e brilho nos olhos. 

Ele apresentou a menina a eles e Mei acenou para todos enquanto eles também retribuíam o cumprimento com rugidos e afagos. Mason disse que poderiam continuar conversando ali com eles, pois assim ela entenderia melhor, então ficaram sentados ali, de pernas cruzadas, rodeados pelas criaturas que também se aconchegavam para acompanhar a conversa. 

— Mei — falou em certo momento —, nesse mundo cheio de possibilidades, você pode ser o que quiser e fazer o que quiser ao lado de seus Pokémon, se eles também concordarem. Pode ter quantos títulos quiser, se especializar em quantas áreas te interessar, conhecer tantos lugares que possam existir. Tudo é possível e você tem tempo! A única coisa que é fundamental em qualquer circunstância — o rapaz apontou o dedo indicador para o ponto do coração da menina — é que seja amiga dos seus Pokémon. 

Johto, quatro anos atrás 

Mei chegava de barco em Cianwood City. Era a primeira vez que alguém a chamava especificamente para ajudar em problemas com um Pokémon. Estava bem nervosa, pois até então só havia ajudado alguns treinadores mais casualmente do que profissionalmente ou fosse lá o que aquilo significava agora.  

O velho Chuck, que já a aguardava na praia, a envolveu em um abraço de esmagar tanto a menina quanto o Togepi em seu colo. De todos os líderes de ginásio de Johto, ele era sempre o que demonstrava afeto de forma mais intensa. 

— Oi, garota, como você cresceu! Oi, Togepi! 

Pi! 

— Oi, tio Chuck! Você também cresceu! 

Chuck deu um tapa na própria barriga com gargalhada. 

— É! Você está olhando para um homem recém-aposentado, querida. 

— Sério, você vai sair do ginásio? 

— Já está na hora de passar o bastão pros jovens. Não quero ser um líder velho e rabugento feito o Bryce! Até ele está saindo, daqui a pouco a velha do grupo vai ser a Whitney. 

— Ela bateria em você se ouvisse isso. 

Mais uma gargalhada. 

— Então não conte a ela! Há há! Bem, criança, obrigado por ter vindo. Estamos com um probleminha no ginásio, vamos lá que te mostro. 

— Tio Chuck, fico feliz em ajudar — Mei falou enquanto caminhavam —, mas por que eu? Por que não chamou a Lyra? 

Lyra havia se tornado uma grande Cuidadora Pokémon e atualmente administrava o Day Care de Johto. Mei até tinha começado a aprender com ela e auxiliava por lá fazia um ano. 

— Ué, foi ela quem pediu pra te chamar! Lyra fala muito bem de você, disse que seria ideal pra isso.  

— Ah é? 

Mei ficou mais animada em saber disso, apesar de mais nervosa. Gostaria de poder contar a Mason depois sobre esse dia; ele havia se mudado três meses atrás e a garota sentia saudades dele e de seus Pokémon. Pelo Pokégear não era a mesma coisa que encontrá-los no quintal ao lado do farol. 

Entrando no ginásio, viu os três aprendizes de Chuck reunidos na base da cachoeira interna do local, observando alguma coisa. Mei tirou os sapatos na entrada e seguiu até lá ao lado do líder aposentado. 

— Pessoal, a Mei chegou. Abram espaço pra ela. 

Eles se afastaram um pouco e então a garota pôde ver: tinha um Tyrogue sentado embaixo da cachoeira, mas ao invés de estar em meditação serena como Chuck costumava fazer ali, sua cara era de poucos amigos e parecia pronto para atacar quem chegasse mais perto.  

— O que aconteceu com ele? 

— Esse rapazinho apareceu aqui na cidade, invadiu o ginásio e não sai daqui desde então, está sempre treinando sozinho. Não sabemos de onde veio, ou se foi abandonado... Enfim, não seria um incômodo, só que não deixa ninguém chegar perto e começamos a ficar preocupados, porque não come nada e não conseguimos nem ver se está machucado. Agora, quando chegamos hoje cedo o encontramos sentado aí. Será que você consegue se entender com ele? 

O Tyrogue olhava diretamente para Mei agora. Ficou com dó; olhando bem, parecia estar dolorido de alguma forma, ou talvez fosse alguma outra coisa. Fosse o que fosse, mexeu no seu coração. 

— Tio Chuck, posso ficar sozinha com ele um pouco? 

— Claro. Vamos, meninos. 

Eles saíram sem relutância. Mei colocou Togepi no chão e se ajoelhou diante do Pokémon teimoso.  

— Oi, Tyrogue. Eu sou a Mei. Você tá bem? Tá machucado? 

Tyrogue grunhiu quando ela começou a engatinhar em sua direção, então Mei recuou de novo. 

— Tá bom, tá bom. Você... Foi abandonado, não foi? —Dessa vez ele virou o rosto, então pensou ter chegado em algum lugar. — Ele é um bobão. Ou uma bobona. 

Ty... 

— Mas não precisa ficar sozinho por causa disso, tá? — Mei começou a se aproximar de novo, e mesmo o Pokémon grunhindo de novo, não recuou dessa vez. — Queremos ajudar você. Deve estar com fome e cansado, né? — Foi mais para perto, enquanto ele grunhia mais alto. — Por que não... 

Um centímetro a mais e Tyrogue chegou ao seu limite, só que a reação, ao invés de fugir, foi dar uma investida na garota fazendo-a cair para trás no chão molhado. Togepi começou a reclamar, então o Lutador fez menção de atacá-lo também. 

— Calma! — Ela se levantou rápido. — Não queremos lutar com você! 

Mas Tyrogue aparentemente queria, porque estava em posição de batalha dando pulinhos de um pé para o outro e movendo os punhos diante do corpo. Já Togepi, embora nervoso também, se posicionou na frente da dona como se a protegesse; Mei sabia que não conseguiria fazer muita coisa porque quase nunca o treinava para batalha, então vê-lo assim deu vontade de chorar. 

Mas a vontade não era só pequeno ovinho: Oddish saiu voluntariamente da Pokébola e encarou Tyrogue, nervosa, mais nervosa do que no dia em que o Growlithe da equipe comeu sua ração e ainda arrotou uma brasa em sua cabeça. 

Então é claro que não se importou com os pedidos da dona de não lutar. Pulou dando um chute na cabeça do Tyrogue com as duas patas, deixou o adversário meio atordoado, mas ele já se recuperou, segurou as patas do brotinho e o jogou para o outro lado de novo. Oddish quicou, se levantou, e avançou outra vez. 

Mei assistia paralisada a todo o vai e vem de golpes, acertos e contra-ataques. Não queria que aquela batalha acontecesse, mas como já estava acontecendo, a sensação ruim era por ver sua parceira naquela situação e não saber o que fazer para ajudar; não sabia que comando dar, quais movimentos que Oddish saberia, nada, estava assustada demais sequer para lembrar das aulas do Jardim Jirachi. 

Togepi também continuava chorando, e Mei se sentiu ainda pior quando percebeu, porque era tão fraca que não tinha força para dar ao seu principal parceiro.  

A batalha se desenrolava em pé de igualdade, principalmente graças a coragem do tipo Planta, sem nenhum dos dois utilizar qualquer movimento especial. Aí, Tyrogue lhe desferiu um chute no rosto e Oddish até tentou voltar, mas cambaleou e não conseguiu ficar de pé de novo. O Lutador, não satisfeito, recuou e se preparou para pular com outro chute. E era o que precisava para Mei finalmente ser tomada pelo senso de urgência e correr. 

Togepi foi logo atrás. Mei se jogou na frente de Oddish quando Tyrogue já iniciava o pulo, pronta para receber o ataque. Togepi também. Chegou até ela e pulou, e foi nesse momento que seu copo desapareceu dentro de uma bola de luz. 

A garota tornou a assistir, mas agora surpresa e maravilhada, pois quando a luz se dissipou, Togepi era um Togetic. Tyrogue caiu para trás com a energia da evolução. 

— Toge...tic? 

Tic? — O Pokémon olhou para si parecendo surpreso por estar voando, então abriu um grande sorriso. — Tiiiic!! 

Oddish até arrumou forças para se levantar e, também alegre, ir comemorar com o amigo. Por outro lado, Mei não parava de chorar. 

— Vocês dois me protegeram... Você até evoluiu pra isso... E eu não sei proteger vocês. Desculpa, gente, desculpa... 

Os dois pararam a celebração e foram para o colo da menina. Havia calor e carinho ali, não mágoa. Mei os apertou junto a si com a força que tinha. 

Ty!  

Dessa vez, Tyrogue se aproximou sem nenhuma agressividade. Pelo contrário: fez uma reverência tal qual de um lutador de judô, e permaneceu nessa posição. 

Ty!  

— O... O que foi? 

Diiish! 

Oddish a cutucou com a cabeça. Se enfiou na bolsa lateral da garota, pegou uma Pokébola vazia com a boca e soltou em sua mão. 

— Quer que te capture? — Perguntou ao Tyrogue. 

Ele levantou a cabeça, fez que sim. Gesticulou na direção de Togetic e começou a grunhir flexionando os músculos. 

— Quer ficar forte? É isso? — Ele fez que sim de novo. — Desculpa... Eu não tenho essa força de que você precisa.  

Mas Tyrogue não desistiu, e voltou para a reverência. Togetic e Oddish também começaram a incentivar a garota, dançando a o redor dele.  

Mason já tinha falado algumas vezes sobre as possibilidades infinitas dentro do Mundo Pokémon de crescer, se desenvolver, de ser forte. Mei vinha usando isso para negar as batalhas, e depois do ocorrido ainda estava assustada e arrependida por ter ignorado totalmente uma parte natural da jornada. De repente, parecia muito difícil a ideia de equilibrar o que queria com o que precisava fazer de vez em quando, mesmo não gostando. Só o que pensava era que ainda tinha muito o que aprender para conseguir se desenvolver de verdade dentro dessas tantas possibilidades, e não sabia se teria algo a oferecer a Tyrogue naquele momento. 

Mas ele continuava a reverenciando com tanto respeito. Ele também viu o que aconteceu, pensou. Aquele Pokémon estava perdido, sozinho, e ainda assim treinando. Talvez não soubesse muito bem também, mas estava procurando — e de repente ficou inspirada por ele. 

Queria tê-lo consigo para fazerem isso juntos. Tinha medo de não conseguir contribuir tanto, porém, mesmo assim, tocou a Pokébola em sua testa. Não houve nenhuma resistência na captura. 

Pensando em retrocesso, esse talvez tenha sido o verdadeiro começo da jornada de Mei.


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