O Homem que Perdeu a Alma escrita por Willow Oak Acanthus


Capítulo 31
Capítulo XXIX - Ponto e vírgula.


Notas iniciais do capítulo

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O ponto e vírgula é um sinal ortográfico que indica uma pausa maior do que a da vírgula. Do mesmo modo que os dois-pontos e a vírgula, o ponto e vírgula pode ser usado em enumerações. O ponto e vírgula também é usado para separar orações coordenadas e considerandos de leis, de decretos etc.
Uma pausa que pode e provavelmente vai ser continuada por uma nova frase.
Ou, como eu gosto de descrever;
Uma nova chance.



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Ponto de vista de Hazel Laverne.

Estou em Nova York, correndo pela quinta avenida, esbarrando em uma multidão de pessoas. Uma garoa começa a despencar do céu, e meus olhos se fixam nos trovões que brilham acima do Empire State Building. Todo o mundo ao meu redor parece levemente alvejado, como se eu estivesse vendo o mundo por um filtro de cores diferentes.

Enquanto estou me esgueirando por entre as pessoas, vejo um homem se destacando na multidão. Ele é o único parado, estático, inabalado pela correria sufocante da avenida. Seus olhos parecem amarelados, como se o sol atravessasse uma garrafa de whisky cara, e não parece carregado de boas intenções. Seus olhos encontram os meus, e a minha espinha gela quando seu sorriso de lado cresce de maneira nada simpática.

—Eu tenho que admitir, você é quase irrastreável. Até mesmo para mim... – Sua voz é firme e faz meus tímpanos tremerem por um momento. Arregalo os olhos quando um raio brilha tão forte por entre as nuvens, iluminando o ambiente o suficiente para que eu veja um par de asas enormes atrás do corpo do homem – Mas eu vou te encontrar, Hazel. Ou vou me certificar de que encontrem você por mim, como já fiz antes.

—Quem é você? – Pergunto, o coração socando o peito. Ele ri de maneira debochada, como se tivesse pena da minha insignificância.

—Não gosto de dizer meu nome para qualquer um, Laverne. Mas você vai descobrir... em breve. – O anjo ergue uma ampola em suas mãos, revelando o conteúdo carmesim por entre o vidro.

Sangue. Meu sangue.

XXX

Acordo respirando fundo, completamente ofegante. Que pesadelo estranho.

Estremeço por um momento, e me encolho.

—Ei, ei...- A voz rouca e sussurrada de Sam faz com que eu me acalme por um momento. Sinto seus braços fortes me puxando em direção ao seu peitoral, e suas mãos acariciam a minha cabeça ternamente – Pesadelo? – Ele pergunta, e eu paro de tremer aos poucos, segura em seus braços.

Faço que sim com a cabeça, me encolhendo um pouco mais. Sinto ele repousar o queixo no topo da minha cabeça, respirando fundo. As pontas dos seus dedos continuam a me acariciar, me acalmando.

Me sinto apavorada porque me lembro muito bem de ter conhecido a fúria de um anjo antes. Raphael.

Se não fosse por Castiel, eu estaria morta. Suponho que anjos tenham o poder de matar híbridos como eu com facilidade, e levando em consideração o que passei nas mãos de Bella Talbot daquela vez...

Se um anjo colocar as mãos em mim, estarei perdida.

Me desvencilho dos braços de Sam e me sento na cama, transtornada. Passo as mãos pelos meus cabelos, tentando controlar as batidas aceleradas do meu coração. Tenho quase certeza de que o anjo em meu pesadelo é o mesmo anjo para quem Bella estava trabalhando, e isso só pode significar uma coisa.

Que ele se decidiu. Que vai vir atrás de mim.

—O que foi, El? – Sam se senta na cama, me disferindo seu olhar preocupado. Sua mão acaricia o meu ombro, e eu o examino com os olhos.

Embora finalmente tenha tido uma noite de sono, posso ver o quão mal ele está só por sua íris. Os olhos não mentem. Meus olhos percorrem primeiro o seu rosto, depois os seus braços. Me contraio e abaixo o olhar quando percebo que as mangas da sua blusa cinza estão manchadas de vermelho, graças aos cortes que ele tem feito em si mesmo.

Sam parece confuso a princípio, ao perceber meu olhar de preocupação, mas quando ele mesmo percebe que sua blusa está suja de sangue, vejo-o se contrair um pouco.

—Sonhei com os Wendigos, tudo aquilo realmente me afetou... – Minto, simplesmente porque não sou capaz de sobrecarregá-lo com mais uma preocupação. Ele nunca esteve tão mal, portanto não vou envolvê-lo nisso.

Sam balança a cabeça em negativa, sabendo muito bem que se trata de uma inverdade.

—Está mentindo, El. – Ele constata, não em tom acusatório, mas em tom preocupado. Dou de ombros, ainda machucada por ver o quão ferido ele está.

—Acho que tenho esse direito, né? De guardar a verdade só para mim. – Minha voz sai mais ressentida do que eu pretendia, e não consigo parar de encarar seus braços – Já que tudo o que você tem feito é exatamente isso.

Seu olhar se torna ressentido, e ele aquiesce em seguida, passando as mãos nos cabelos com um vinco em sua testa.

—Eu acho que vou arrumar as minhas coisas... – Sua voz é entristecida, e ele ignora o meu comentário anterior, evitando uma discussão. Sam se vira para o lado e desce da cama, sem falar mais nada.

Toda vez que ele desvia de uma bala minha, sinto uma dor no peito. Eu queria que ele revidasse, que entrasse em conflito comigo.

Assim, eu não me sentiria tão culpada por tratá-lo dessa maneira hostil. Assim, eu saberia que ele se importa.

—Eu não quis machucar você, Sam. – Digo isso me levantando, me sentindo culpada pelo modo como falei com ele. Ele me olha, interessado nas minhas palavras, cruzando os braços e me encarando – Mas você não pode me culpar por me recusar a te contar as coisas, ou me acusar de mentir para você. Não é justo comigo.

—Eu sei disso, acredite em mim. – Sua voz é firme e o seu olhar é sério. Fico olhando para o seu rosto que tem a expressão fechada nesse momento, seus braços cruzados e seus ombros largos, e me sinto baqueada – Está tudo bem, El. – Ao ouvi-lo ser tão compreensivo comigo, dou um longo suspiro, contrariada.

Isso faz o meu sangue ferver por algum motivo.

—Não está nada bem, Sam. Está tudo, absolutamente tudo errado, na verdade! – Digo isso com raiva, gesticulando sem parar enquanto falo – As vezes, eu só queria que brigasse comigo! Que você reagisse a tudo isso, droga!

O olhar dele se torna extremamente confuso.

—Por que, Hazel? – As palavras saem de sua boca rapidamente, e eu tenho vontade de gritar, mas não faço isso. Ao invés disso, respiro fundo.

—Porque as coisas só voltam ao lugar delas quando desarrumadas antes, Sam. Sabe por que não revida as minhas provocações? – Digo isso com a voz ferida, dando um passo para trás – Porque aceitou o nosso fim como se não fosse nada.

A raiva domina os seus olhos, e vejo que o atingi exatamente onde dói.

—Quer saber de uma coisa? – Ele dá um longo suspiro, e parece estar fazendo um esforço descomunal para se manter calmo – De todas as coisas que você podia dizer para mim, essa é a que mais me machucou.

Meus olhos se enchem de lágrimas. O que é que eu estou fazendo?

—Então porque você não responde a tudo isso, Sam? Por que não me mostra que está com raiva de mim também? – Me aproximo dele, meu corpo tremulo por sentir coisas demais para assimilar. Ele arfa e vejo seu nariz se enrugando, coisa que sempre acontece quando ele está bravo.

—Você acha que eu não fico?! Quando diz coisas como essa que acabou de dizer?! – Seu cenho está tão franzido e seus olhos parecem tão ofendidos que sinto que ultrapassei os limites dele – Ou quando você me provoca, como fez ontem à noite?! Eu fico, Hazel. Com muita, muita raiva.

Franzo o cenho para ele, confusa.

—O que eu fiz ontem a noite? – Questiono, não lembrando de quase nada depois que Jo e eu saímos do bar. O que será que eu fiz? Ele me disfere um olhar incrédulo, e torna a cruzar os braços, o olhar muito sério recaindo sobre mim.

—Você não se lembra, não é? – Ele ergue as sobrancelhas, indignado – Eu basicamente tive que escutar você me contando os detalhes sobre quando você e Dean saíram, das mãos dele na sua cintura... – Ele diz isso entredentes, e eu me contraio. Não acredito que eu fiz isso— Eu fiquei coberto de raiva e ciúmes, Hazel, mas eu aguentei quieto porque sabia que estava confusa pelo álcool, machucada por tudo o que tem acontecido. Sabe por que eu engulo a minha raiva, quando vejo você tentando me ferir de propósito? – Ele dá um passo à frente, seus olhos inflamados por sentimentos demais para serem descritos, me fitando de cima a baixo – Por que sei o quanto estou te machucando, com toda essa bagunça que eu fiz entre a gente, por tudo o que eu tenho... feito. – Ele respira fundo, cobrindo com a mão a mancha de sangue do seu braço, envergonhado por estar tão vulnerável assim – Eu vou suportar todas as vezes que você me disser que me odeia, que odeia me amar, e todas outras palavras que você quiser usar para me machucar. Exceto pelo que acabou de dizer... – Os olhos dele se enchem de lágrimas, e ele passa a mão por algumas mechas do seu cabelo que caíram na frente dos seus olhos, e com a outra mão ele retira o colar de prata de dentro da sua blusa, segurando o pingente com a mão – O que você acabou de dizer eu não posso aceitar, El. Você dizer para mim que eu aceitei o nosso fim como se não fosse nada, é cruel demais, porque eu ainda sou aquele garoto idiota que você conheceu em Lawrence, aquele que te deu esse colar. Aquele cujo objetivo de vida passou a ser proteger você a todo o custo, desde que colocou os olhos em você. Não diga, nunca mais, que isso é fácil para mim, Hazel. Você não pode se esquecer, linda. – Uma lágrima despenca em seu rosto, e eu me contraio. Tudo o que dói nele, dói em mim. Sempre foi assim – Não pode se esquecer que eu estou perdendo você, também.

Ele limpa o próprio rosto e se afasta, se sentando na cama, apoiando a cabeça em suas mãos por um momento. Eu me aproximo dele, devagar, sentindo o meu rosto coberto por lágrimas quentes. Eu fui longe demais.

Ele ergue o olhar para mim, e enche o peito antes de prosseguir:

—Sei que pensa que eu não entro em conflito com você por ser indiferente, mas está enganada. – Ele sacode a cabeça de um lado para o outro, em negativa. Seus olhos verdes estão enegrecidos quando fitam os meus – Está tão enganada, El. Além de entender que eu mereço toda essa sua raiva... você não pode se esquecer de que eu me lembro de tudo, Hazel.

—Do que está falando? – Questiono, me contraindo, arrependida de ter causado tudo isso.

—De tudo, Hazel. Do nosso relacionamento. De como eu ouvia os seus pais brigando, mesmo estando do outro lado da rua. De tudo o que o seu pai fez com você. – Seu olhar é o de dor, e quase posso visualizar tudo o que ele está falando em minha retina. Eu também me lembro de tudo bem demais — Eu nunca vou ser o tipo de cara que vai explodir com você, nunca. Eu não vou fazer você passar por esse tipo de coisa, linda. Eu e você... – Ele aponta do próprio peito para mim, com o indicador – Nunca vai ser sobre conflito, Hazel. Quando tudo acabar e você estiver a salvo de mim, quando eu for uma lembrança sua, não quero que se lembre da gente gritando um com o outro. Quero que se lembre de mim como alguém que te tratou da maneira certa. Quero que se lembre de mim como alguém que vai te amar até o meu coração parar de bater.

Meu coração parece desmoronar, e sinto todo o meu corpo ardendo, como se estivesse sendo devorada pela dor.

—Eu não sei o que há de errado comigo, Sam. Eu não sei por que tenho agido assim, tão...imatura. Não sei por que tenho tentado te atingir dessa forma... eu não sou assim.... sou? – O encaro em puro conflito, e ele limpa o meu rosto suavemente com a mão.

—Não, não é. E é justamente por saber disso que tenho relevado todas essas coisas, Hazel. E acima de tudo... eu sei o porquê. Agora que eu parei para pensar... eu entendo os motivos. – O olhar dele se torna sombrio e compreensivo.

—Então me diz, Sam. Por quê? Quais são os motivos? – Minha voz sai quebrada, e ele dá um longo suspiro.

—Porque você cresceu assistindo duas pessoas que gritavam uma com a outra. Cresceu acreditando que violência também é amor. Por mais que na superfície da razão você não pensasse essas coisas, eu acho que você absorveu tudo isso tão, tão profundamente, que a forma que você encontrou para lidar com o que aconteceu, foi recorrer justamente a isso. Você tem me provocado para me mostrar que se importa. – Ele segura as minhas mãos, sem tirar os olhos dos meus – E quando eu aceito isso em silêncio, para você é como se eu não me importasse. Me desculpa, Hazel. Me desculpa por fazer você pensar isso, mas por favor... você pode acreditar em mim quando eu digo que me importo, mais do que tudo?

Assinto, devastada. Tudo o que ele disse é verdade.

Durante a vida toda, tentei ser a pessoa mais madura que podia. Sempre pulei as etapas, tentando me distanciar ao máximo dos meus pais. Tentando crescer rápido demais. Sam está coberto de razão em suas palavras. Embora, racionalmente, eu sempre tenha olhado para o relacionamento dos meus pais como um caminho a não ser trilhado, não sou mais forte do que o meu subconsciente, e nem seria justo exigir que eu fosse. A forma como tenho respondido ao meu coração partido, é justamente o que mais abominei durante uma vida inteira.

Violência em forma de amor. Machucá-lo para mostrar que me importo. Me contraio, e sinto as lágrimas rolando pelos meus olhos, indiscretas, mas me mantenho firme, não desabando. Não me entrego.

Respiro fundo, e olho novamente para ele. Sam Winchester se sacrificou, durante sua vida inteira, em prol de todos. Sobreviveu ao inferno e está lidando com as consequências disso nesse exato momento... passando por coisas que eu não posso sequer imaginar. Estive tão focada no fato de que me senti despedaçada por ele ter colocado um ponto final entre nós dois, que não parei para pensar em como isso também o está devorando vivo. Sem parar para pensar no tipo de coisa que está passando, para ter chegado a esse ponto.

Sam sempre precisou andar pelas sombras para sobreviver e para salvar aqueles que ele ama. E sempre odiei a forma como foi julgado por isso, então... o que é que eu estou fazendo?

Como pude ser tão cega?

—Me perdoa, Sam... – Sussurro isso, passando a mão em seu rosto, acariciando-o e limpando as suas lágrimas. Meu peito se comprime tanto que me sinto sufocada – Me perdoa, por favor. Pela forma como tenho reagido a tudo isso. Não tem sido justo com você, também, aguentar toda essa carga... sozinho.

Ele assente, devagar, com os olhos entristecidos. Suas sobrancelhas se erguem em um vinco, com aquela sua expressão de cachorro sem dono.

Não sei por que isso me afeta tanto, só sei que sempre afetou. Eu sou extremamente sensível a isso.

—Está tudo bem. Você não precisa pedir perdão. – Ele acaricia o meu rosto, mas eu faço que não com a cabeça.

—Não, não está tudo bem. E sim, eu preciso. Você não merece ser machucado... nem provocado, nem punido, Sam. Eu não tenho o direito de fazer isso com você, mesmo que esteja ficando louca por você se fechar para mim do jeito que tem feito, me deixando no escuro sobre o que é que está te causando tudo isso... – Percorro minhas mãos pelos seus braços, acariciando-o e apoiando a minha testa na sua – Eu prometi que ia cuidar de você, que ia te ajudar com toda essa bagunça. – Acaricio os seus cabelos, com ternura e cuidado – Agora eu também entendo o que está fazendo. – Constato, não acreditando no quanto eu fui burra de não visualizar isso antes. Ele franze o cenho.

—Entende? – Ele questiona, um pouco incrédulo. Faço que sim com a cabeça, me afastando dele delicadamente, para encará-lo.

—Você me dissecou na sua cabeça, para entender os meus motivos de ter agido desse jeito que tenho agido. E eu acabo de dissecar você na minha mente, também. Você... – Apoio a mão no seu peito, repousando-a onde sei que mora o seu coração – Cresceu acreditando em sacrifício como o único jeito de amar. A forma como sua família demonstrou amor foi assim, não foi? Segredos e sacrifícios, sempre. Está se afogando em segredos e fazendo algum tipo de sacrifício, abrindo mão de mim, porque acredita que isso conta como amor. E eu só posso esperar conseguir mostrar você, assim como me mostrou que violência não conta como amor... – Respiro fundo, fitando seus olhos profundamente – Que tomar uma decisão dessas que você tomou, não me dando a chance de me decidir sobre seja lá qual ameaça você acredita trazer sobre mim, também não conta. Está errado, Sam. Mas eu vou respeitar tudo isso, e eu vou te tirar do escuro.

—E se eu te disser que... do tipo de escuro a que estou preso, não é possível escapar? – Ele sussurra para mim, os olhos cobertos de vulnerabilidade. Me sento em seu colo, de frente para ele, abraçando os seus ombros e colando as nossas testas.

—Então eu vou morar no escuro com você, Sam. – Respondo, com essa certeza em meu coração.

As mãos de Sam sobem pelas minhas costas, firmes, e ele segura a minha nuca com a mão entrelaçando os meus cabelos em seus dedos quando inclina o rosto para frente, me beijando com voracidade. Há muitas coisas morando nesse beijo.

Perdão, entendimento, compreensão... e acima de todas as coisas, o sentimento mais forte de todos.

Amor. Estamos nos afogando nisso, nossos lábios se movendo com intensidade e sinceridade. Sua respiração ofegante se mescla com a minha, enquanto nos demoramos nessa entrega mútua, nesse pacto silencioso de que curaremos um ao outro.

Mesmo que não fiquemos juntos no final. Mesmo que não sobre nada da gente, no fim.

Separo nossos lábios, e apoio minha cabeça em seu ombro, fechando os meus olhos e sentindo o seu perfume, deixando-o me preencher enquanto sinto seus braços fortes me envolvendo, me abraçando com força.

O abraço de volta, na mesma intensidade. Com medo de que ele desapareça por entre os meus dedos, como fumaça.

—O que tudo isso que dissemos significa, El? – Ele segura o meu rosto com as mãos firmes, buscando por algo, desesperadamente nos meus olhos – Onde é que isso nos deixa?

Sinto um frio na barriga, porque isso me mostra algo extremamente importante. Ele não está mais certo sobre sua decisão de que não podemos ficar juntos. Respiro fundo, tentando afastar essa esperança, no entanto. Preciso ter cautela, pelo bem do meu coração.

—Eu não sei, Sam. – Desço o olhar para os seus lábios, porque de repente fica muito difícil sustentar o seu olhar – Não consigo... pensar em alguma palavra que defina esse nosso caos.

Ele assente, e volto a encarar os seus olhos, especulativa. Ele tem o olhar pensativo, e algo parece passar pela sua mente, já que ele busca algo na cômoda perto da cama, como se tivesse tido uma ideia. Fico o olhando, curiosa sobre o que está fazendo. Vejo que ele buscou uma caneta, e ele pega a minha mão entre as suas, me disferindo um olhar doce antes de rabiscar algo na minha pele, bem no interior do meu pulso.

Ele não diz nada, e quando meus olhos percorrem o pequeno ponto e vírgula que ele desenhou na minha pele, sorrio. Eu entendi. Meus olhos se enchem de lágrimas que eu contenho, com dificuldade. Assinto para ele, nossa troca de olhares e esse pequeno símbolo sendo o suficiente. Embora eu ame palavras, nem sempre elas traduzem tudo. Pego a caneta de sua mão, e faço o mesmo símbolo em seu pulso, também. Mostrando que eu concordo.

Não somos mais um ponto final. Somos uma interrupção que pode ser continuada dependendo das próximas sentenças do texto a ser escrito em nossas vidas. Isso é tudo o que podemos oferecer um ao outro agora. E eu não trocaria isso por nada.

Nem por toda certeza do mundo com quem quer que fosse. Um ponto e vírgula com ele tem mais poder sobre mim do que qualquer outra coisa, com quem quer que fosse. E eu vou lutar por isso. Acaricio o seu rosto, preocupada com suas olheiras, que estão melhores do que antes de ontem, mas que ainda estão evidentes.

Está exausto.

—Você conseguiu dormir? – Pergunto, em forma de sussurro. Ele faz que sim com a cabeça, as mãos acariciando as minhas costas.

—Graças a você, sim. – Sua voz é carregada de sinceridade e rouquidão, fazendo meu corpo se arrepiar. Sorrio, feliz por tê-lo ajudado, de alguma forma. Desço os olhos por seus braços, e tenho uma ideia.

—Me deixa fazer uma coisa, Sam? – Me desvencilho dele, me levanto e vou em direção a minha bolsa. Reviro ela em busca de um kit de primeiros socorros e fico de frente para ele, que me olhou curioso durante o tempo todo. Ele continua sentado, e dá um suspiro pesado quando entende que quero cuidar dos seus machucados.

—El, eu não sei se... – Ele começa a dizer, contrariado, mas eu o interrompo.

—Eu sei o que vai dizer, Sam. – Digo isso já buscando dentro do kit o álcool, a gaze e o esparadrapo. Sam ergue as sobrancelhas, curioso.

—Sabe? – Ele pergunta, incerto. Faço que sim com a cabeça.

—Sei. Vai dizer que não sabe se devia me deixar fazer isso porque não pode me prometer que não vai fazer de novo. – Ele absorve minhas palavras, e assente, o olhar envergonhado por isso ser verdade – Não precisa se preocupar, Sam. Só me deixe fazer isso, por favor, ok? Se não por você... por mim.

Ele pondera a situação por um momento, até que finalmente cede. Respiro aliviada, e ergo suas mangas com delicadeza, uma de cada vez.

Tento impedir transparecer o pânico que sinto assim que vejo que seus cortes aumentaram muito da última vez que os vi. Aumentaram tanto, que cobrem toda a parte interna de ambos os braços, quase chegando nos pulsos. Alguns ferimentos mais antigos parecem estar começando a infeccionar, e toda a pele ao redor dos ferimentos está avermelhada. Respiro fundo, impedindo minhas mãos de tremerem, e começo a cuidar de cada um dos seus cortes.

Assim como ele cuidou de cada hematoma deixado no meu corpo pelo meu pai, anos atrás.

XXX

Ponto de vista de Sam Winchester.

Não consigo lidar bem com a vulnerabilidade, então fico encarando suas mãos trabalharem enquanto limpa cada ferimento e me cobre de curativos, com delicadeza, evitando seu olhar.

Me contraio de culpa por imaginar o que deve se passar na cabeça dela ao me ver definhando assim. Respiro fundo, buscando o máximo de ar que consigo, já que estou me afogando em tanto remorso, por saber que farei novos cortes em breve.

Tenho feito de tudo para impedir Lúcifer de subir a superfície. Tenho me degradado até o limite para garantir que não vou deixá-lo vazar da minha mente, pelo bem dela.

Cada corte é uma tentativa de manter Lúcifer na jaula.

Respiro fundo, sentindo o coração socar o meu peito enquanto a garota que eu amo cuida de mim, encarando mais uma vez toda a minha escuridão e me perdoando por isso.

Ninguém me entende como ela. Eu sempre soube disso, mas depois dessa nossa conversa... isso se solidificou. Nós dois vamos trabalhar em cima dos nossos traumas, vamos tentar parar de repetir padrões, quebrando esse ciclo vicioso.

Então eu vou morar no escuro com você” a frase dela fica marcada na minha mente, como um mantra a que me agarro.  Talvez, eu não precise lutar contra tudo sozinho.

Talvez, eu possa pedir ajuda. Eu ainda não consigo, ainda não sinto que posso.

Mas... quem sabe. Quando ela termina de cuidar dos meus ferimentos, ergo meus olhos, inspecionando os dela.

Não quero, nem nunca quis, desistir de nós dois. Desde que disse a ela que nunca mais íamos acontecer, acreditando estar salvando sua vida, nunca tinha visto as coisas pela perspectiva que ela me mostrou.

Sacrifícios e segredos, a fórmula dos Winchester.

Eu sempre achei isso o câncer da nossa família, nossa ruína. E é incrível como podemos fazer justamente o que juramos que nunca faríamos, sem perceber, acreditando estar fazendo a escolha certa.

Odiei Dean quando ele vendeu a alma para me salvar, me condenando a perdê-lo. No entanto, tentei vender minha maldita alma assim que o perdi, fazendo exatamente a mesma coisa que ele. Odiei quando isso não foi possível, e busquei vingança de Lilith do mesmo jeito que condenei o meu pai por perseguir Azazel durante toda a sua vida miserável.

Nunca aprendi com esse erro, que se repetiu tantas vezes, agora que paro para analisar isso. Não pensei duas vezes em cometê-lo novamente, não dando a Hazel a opção de saber o que estava acontecendo e tomar uma decisão por si própria.

Não estou pronto ainda, no entanto, para contar a ela.

Mas... talvez esteja pronto para considerar mudar de ideia.

Acho que em Lawrence, quando estivermos tão perto de onde tudo começou, eu possa contar a ela.

Há um longo caminho para percorrermos. Crowley, Astaroth...Ruby. Lúcifer.

Não sei o que vai acontecer ou se vamos sobreviver, e isso me apavora. Mas sinto que posso ver com mais clareza agora.

Hazel ergue o meu rosto com a mão, segurando o meu queixo com delicadeza no toque, me despertando dos meus devaneios.

—Ei... já que estamos falando de coisas que precisam mudar... – Ela começa a dizer, a voz incerta e cautelosa, os cabelos castanho-escuros tão longos emoldurando seu rosto delicado – Você precisa conversar com o Dean, Sam. Não pode ficar com raiva dele para sempre.

Respiro fundo e dou um sorriso sarcástico.

—Não posso, é? – Questiono, erguendo as sobrancelhas, tentando descontrair. Esse assunto ainda me fere profundamente.

—Não, não pode. O beijo não foi culpa dele, Sam. – Ela reafirma, o olhar preocupado. Meu peito se contorce na palavra “beijo”.

—Sei que não foi. O problema nem é esse, El. – Dou de ombros, fingindo que isso não me machuca... imaginar os lábios deles se colando. Enterro isso dentro de mim porque só posso imaginar o quão horrível deve ter sido para eles terem sido forçados a isso, de maneira tão sádica. Não posso, nunca, tornar esse trauma dos dois algo sobre mim. Não seria justo com eles, seria egoísta da minha parte. – É todo o resto que me incomoda. Imaginar ele te querendo durante todo esse tempo, saber que ele tentou te beijar quando se declarou para você... Sabe o que teria acontecido, não sabe? Se você tivesse o beijado naquele dia? – Faço uma careta de dor e raiva, só de imaginar. Ela respira fundo, e acaricia o meu rosto enquanto me olha no fundo dos olhos.

—Sam... me escute com atenção, ok? Embora ele tenha dito a você que caso eu o beijasse ele cairia em tentação, eu não acredito nisso, por nenhum segundo. Ele pode sim ter... se confundido no processo e se apaixonado por mim, mas, Sam... desde o dia em que Dean passou a cuidar de mim, ele sempre tentou me colocar de volta no seu caminho. Mesmo quando eu disse a ele, por diversas vezes, que eu não ia ficar com você...ele sempre tentou fazer a gente... – Hazel aponta de mim para ela com o indicador – Dar certo. E acho que isso é o mais importante, você não acha? Ele ama você, Sam. Mais do que tudo no mundo, e já te provou isso por diversas vezes. Dean cometeu um erro...

—Querer você é mais do que um erro, El. – Digo, o meu coração se apertando por absorver as suas palavras – É uma traição do caralho, Hazel.

Hazel faz que não com a cabeça, se sentando ao meu lado.

—Ninguém escolhe os próprios sentimentos, Sam. Você sabe disso. – Ela segura a minha mão, e eu respiro fundo – Ele estava vulnerável e eu era a pessoa mais próxima a ele, a única que entendia o buraco que a sua ausência tinha deixado. Ele se confundiu no processo, mas nunca deixou de ser meu amigo. Nunca. E nunca deixou de ser o seu irmão, também. Você precisa perdoar ele, Sam.

Dou um longo suspiro, sabendo que ela tem razão. Mas é tão, tão complicado.

—Eu... eu vou falar com ele, só não estou pronto ainda. – Pigarreio e me levanto, coçando a nuca, contrariado sobre o que fazer ou não fazer com relação a tudo.

XXX

Ponto de vista de Dean Winchester.

Esfrego o rosto debaixo do chuveiro quente, a cabeça fervendo por milhares de motivos que se chocam como malditas colisões, me dando uma baita dor de cabeça.

Lisa. Hazel. Joanna.

Nunca fui tão perturbado por meus sentimentos antes. Perdi Lisa, porque nunca seríamos compatíveis. Viemos de mundos diferentes.

Nunca tive Hazel, simplesmente porque nunca foi minha. Sequer ter pensado nela do jeito que pensei nos últimos meses foi o maior erro da minha vida. Preciso me perdoar por isso, no entanto. Estava vulnerável e precisava me preencher com alguma coisa, e meus sentimentos por ela fizeram esse trabalho. Agora, quando a vejo, só o que sinto é o tipo de amor que se tem pela família, ela é da família. Ela pertence a Sam e ele pertence a ela. E embora Sammy me odeie até os ossos no presente momento, amo os dois e irei protegê-los a todo custo.

E então... Joanna. A garota que machuquei e que me machucou, a garota que me deixa confuso, incerto e nervoso. Esse tipo de coisa não é nada boa em uma caçada, disso eu sei bem.

Ontem, quando estava bêbada, disse umas coisas que deram a entender que ainda se sente balançada por mim. Sorrio por entre a água, porque também me sinto balançado por ela.

Meu sorriso morre logo em seguida. Relacionamentos nunca deram certo para mim, sempre alguém saiu ferido. Sacudo a cabeça de um lado para o outro, decidido a manter as coisas da maneira mais profissional possível.

XXX

Ponto de vista de Jo Harvelle.

Acordo sentindo meus ouvidos zunindo, minha cabeça girando e meu corpo formigando. Eu nunca me dei bem com tequila.

Me sento na cama, confusa por não saber onde estou. Apoio a cabeça nas mãos e esfrego os olhos, me dando conta de que me encontro no quarto de hotel, e que estou segura. Como cheguei aqui é que é o mistério.

A porta do banheiro se abre, e tento fingir indiferença quando Dean Winchester entra no quarto, a toalha na sua cintura e o peito molhado completamente amostra. Percorro sua barriga e o seu peitoral discretamente, assim como os cabelos curtos molhados que lhe caem tão bem. Dean fixa seus olhos verdes e profundos em mim, e finjo não me importar de eu estar descabelada e provavelmente nada atraente. Pigarreio e me levanto.

—Você me trouxe até aqui? – Pergunto, usando uma voz levemente desinteressada. Ele assente, indo em direção a própria mochila que está em uma mesinha ao lado de uma poltrona marrom desgastada pelo tempo.

—Trouxe sim, você bebeu um pouco demais ontem a noite. A Laverne e você estavam trançando as pernas quando Sammy e eu fomos buscar vocês. – Ele me disfere um sorrisinho, que eu finjo não fazer meu estômago se contorcer – Mas nós salvamos as duas donzelas em apuros.

Rolo os olhos, irritada.

—Nunca fui uma donzela em apuros, Dean. – O sorriso dele cresce, percebendo que conseguiu me irritar.

—Ah, ontem você foi sim. – Ele me responde, erguendo as sobrancelhas em tom de desafio – Mas não esquenta, loirinha. Essas coisas acontecem.

Vou abrir a boca para respondê-lo, mas a porta do nosso quarto se abre.

—Pessoal, tá todo mundo... – A voz de Hazel morre no momento em que os olhos dela percorrem o ambiente. Ah, droga. Para quem vê de fora, ele com a toalha presa na cintura e eu toda descabelada, sei muito bem o que parece. Ela fica vermelha, constrangida por acreditar ter interrompido alguma coisa. Ela pigarreia antes de continuar – No saguão. Tá todo mundo no saguão esperando por vocês.

Ela se retira antes que Dean ou eu possamos nos justificar, fechando a porta. Coço a minha nuca, nervosa por estar nessa situação, e até o Dean fica um pouco corado.

Por um momento, o nosso olhar se prende. Nos encaramos por alguns segundos, sentindo essa tensão estranha entre nós dois.

—Eu...vou me trocar no banheiro. – Ele diz, por fim, pegando a sua mochila. Assinto, me sentando na cama.

—Boa ideia. – É a única coisa que eu consigo responder antes de ele se trancar no banheiro, me deixando sozinha com os meus pensamentos de que ficar perto dele assim, não vai ser tão fácil quanto eu pensava.

XXX

Ponto de vista de Jesse Turner.

Deixamos o hotel para trás, e estamos os cinco sentados em uma mesa, na lanchonete mais cafona do universo. Eu odeio o Kansas e seus estofados vintage dos anos cinquenta e suas músicas country que não param de perturbar os meus ouvidos em todo maldito rádio de todo maldito estabelecimento que eu entre.

Todos estão comendo seu café da manhã em silêncio, um constrangimento implícito pairando no ar. Rolo os olhos, levemente irritado. Estou no meio de dois casais problemáticos e sem resolução, vela é pouco para me descrever. Sou um maldito castiçal.

—Eu tenho uma teoria. – Digo, cortando minha panqueca com xarope de bordo e enfiando uma garfada generosa na boca. Todos os quatro me olham curiosos.

—Sobre o que, Jess? – Minha irmã me questiona, bebericando um pouco de chá. Lavie está com os cabelos presos em um rabo de cavalo, e veste uma das blusas de flanela xadrez que pegou emprestado do brutamontes. Preciso dar um jeito de levar ela para fazer compras antes que ela vire um Winchester, sempre usando flanela para cima e para baixo.

—Sobre os Wendigos. – Digo, respirando fundo e bebendo um pouco de café puro, amaldiçoando mentalmente o fato de que não posso fumar aqui dentro. Nada combina mais do que cafeína e nicotina.

—Estive pensando sobre isso, também. – Sam Winchester diz, o olhar pensativo. Resisto a tentação de rolar os olhos, irritado por esse idiota sempre ter algo a acrescentar, sobre tudo. Ele ergue as sobrancelhas, interessado – O tamanho deles, o comportamento deles... tudo fugiu do padrão.

Juuura? Penso comigo. Estou mais irônico e insuportável que o comum.

—Exato. – Digo, umedecendo os lábios antes de continuar. Dean e Joanna me olham atentamente – Vocês já pesquisaram alguma coisa sobre alfas?

Todos se entreolham, confusos, antes de tornarem a me encarar.

Alfas? – Joanna pergunta, intrigada. Assinto, e apoio as mãos na mesa, ajeitando a minha postura.

—Sim, alfas. Os primeiros monstros, os que deram origem a todos os outros. – Digo isso com cautela, olhando ao nosso redor. Estou muito drenado para manipular as sombras hoje, portanto, estamos expostos a encontrar todo o tipo de ameaça. A última coisa de que precisamos é que escutem nossas conversas – Eu estive pensando sobre isso desde que vi aquele Wendigo gigantesco. Ele tinha o que, cinco, seis metros? – Questiono.

—Acha que aquilo era um... alfa? – Lavie questiona, os olhos verdes intensos me encarando – Por isso era daquele tamanho?

—Faria sentido, não faria? – Dean Winchester diz, apoiando a mão na mesa – Isso explicaria o ninho. Nunca havia visto ou ouvido falar em um...

Sam cerra os olhos, pensativo. O olhar dele fica profundo no próximo segundo, como se eu tivesse despertado algum tipo de conclusão na mente dele.

—Sabe aonde quero chegar, não é? – Questiono a Sam, que aquiesce. Todos ficam olhando de Sam para mim, tentando entender ao que me refiro.

—Sim, acho que sim. O purgatório, certo? – Assinto, encostando as costas no apoio do sofá.

—Se importam de explicar? – Dean diz, levemente impaciente.

—Os alfas são os primeiros monstros, certo? – Digo, olhando nos olhos de Dean. Ele assente, concentrado – De onde vem os monstros?

—Do purgatório? – Joanna diz, se inclinando para frente. Faço que sim com a cabeça. Lavie e ela se entreolham, preocupadas com o significado disso tudo.

—Bingo. Se encontramos um tão facilmente, poderia haver outros, certo? – Ergo as sobrancelhas e respiro fundo, olhando para cada um nos olhos, me certificando de que estão todos acompanhando o meu raciocínio. Todos assentem, então eu prossigo – Se Crowley colocar as mãos em um alfa, ou em alfas, no plural... nós perdemos. Se ele encontra o purgatório, ele vence. – Assumo um tom sombrio, meu peito se contraindo de tensão – Talvez por isso esteja sumido. Da última vez, fez uma emboscada para tentar capturar Hazel no vale das sombras da morte, e falhou. Desde então, nunca mais veio atrás de nós. Talvez esteja ocupado demais atrás dos alfas.

Sam disfere um olhar preocupado diretamente para a minha irmã, endireitando os ombros e segurando a mão dela, discretamente, claramente querendo lhe passar segurança. Tento evitar a vontade de sorrir por um momento, e consigo, me mantendo sério. Posso não gostar dele, mas saber que ele está disposto a protegê-la diante de qualquer situação me dá um certo alívio.

—Essa teoria faz sentido... – Dean Winchester diz com o olhar sério, o cenho franzido e os dedos tamborilando na mesa. Está tenso – Estivemos tão focados em despertar os poderes da Hazel para enfrentar Astaroth que deixamos de lado o fato de Crowley estar... quietinho demais. Isso nunca é bom sinal.

—Não acho que esquecemos. – A voz de Lavie é séria, o olhar está pensativo. Quase posso ver as engrenagens da sua mente se mexendo – Nem disso, nem do fato do Cas estar desaparecido, ou dos caçadores, anjos e demônios que estão na nossa cola. Só acho que nós entendemos que estamos lutando contra o tempo, porque a melhor chance que temos é eu controlar esses malditos poderes. Sobre a sua teoria, Jesse... é importante para ficarmos atentos, mas não sei muito mais o que podemos fazer com isso.

Ela constata com um tom tenso na voz, como se vasculhasse cada canto da sua mente por respostas. Respiro fundo e estico a mão em sua direção, segurando a mão dela entre as minhas, acariciando-a com o polegar.

—Nós iremos pensar em algo, ok, Lavie? – Asseguro a ela, que sorri para mim o tipo de sorriso triste de quem está incerto sobre os próximos passos. Está insegura com tudo isso, e não posso culpá-la – Só dividi com vocês porque achei importante.

Concluo, soltando a mão dela depois de um tempo. Todo mundo fica pensativo, se entreolhando. Sei que aluguei um triplex nas cabeças deles com a minha teoria, mas precisava ser feito. Eles precisam saber que muita coisa pode dar errado para o nosso lado.

Todo detalhe importa. Pigarreio, ajeito a minha postura e apoio o meu queixo entre as minhas mãos, os cotovelos apoiados na mesa.

—Por falar em coisas importantes... – Olho de Lavie para Sam, os inspecionando com o olhar – Querem saber mais sobre o caso que estamos indo pegar? Em Lawrence?

Os dois se entreolham, tensos. Minha irmã assente, curiosa. Sam apenas continua escutando. Busco um pedaço de jornal de dentro do bolso do meu casaco, e o coloco na mesa. Todos se inclinam para ler a manchete.

David Harrison, filantropo e empresário de Lawrence, é encontrado morto em sua mansão, nessa última sexta-feira, dia vinte e um de janeiro. O corpo foi discretamente levado por policiais, e as suspeitas são de suicídio

—Só pode ser brincadeira! – Sam Winchester diz, incrédulo, passando a mão no próprio rosto com um sorriso irônico em seus lábios. Todos parecem, assim como eu, confusos com seu comentário. Todos, exceto Hazel.

—Acho que era o destino, não é? – Minha irmã diz, olhando para ele com um sorriso triunfante. Me entreolho com Dean, que se entreolha com Jo, e finalmente nós três encaramos o casalzinho vinte, deixando claro que estamos por fora de seja lá o que eles estejam falando.

Sam dá um suspiro após rir um pouco, e olha para nós, erguendo o pedaço de jornal em suas mãos.

—David Harrison é o pai de Charlie Harrison, falecido em mil novecentos e noventa e nove... – O caçador aponta para Hazel, com um olhar divertido no rosto, nostálgico por alguma memória – Esse foi um caso que a Srta. Laverne tentou me convencer a pegar, junto a ela, quando éramos adolescentes.

—E ele disse que não ia, jamais, caçar comigo, para não me colocar em perigo e blá blá blá... – Ela também sorri, seus olhos se iluminando. O olhar dos dois se cruza, claramente com memórias doces dançando entre a mente dos dois, simultaneamente. É tão bonitinho que dá vontade de vomitar – Fiquei muito irritada com ele, na época. – Ela se reclina para trás, cruzando os braços e sorrindo para ele, triunfante – Acho que eu sempre dou um jeitinho de conseguir o que eu quero... – Ela pisca para ele, o provocando. Sam dá uma risada, se dando por vencido.

Rolo os olhos, enojado por tanto açúcar. Porém feliz por ver ela sorrir assim. Só esse imbecil consegue colocar um sorriso no rosto dela, e por esse motivo eu espero que se resolvam de uma vez por todas.

—Bom...acho que temos trabalho a fazer, não é? – Dean Winchester bate de leve na mesa, pegando sua chave do carro – Para Lawrence, então.


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Notas finais do capítulo

Eu amei escrever esse capítulo. Do fundo do meu coração.
PS: Sei que o ponto e vírgula, em tatuagens, tem um significado muito amplo, até porque, eu possuo uma ♥

Espero que tenham gostado. Obrigada pelo apoio lindo de todos vocês. Eu sou muito, muito grata!
Comentem o que acharam ♥
Abraços!
XOXO



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