Errar é Divino escrita por Jubs


Capítulo 1
Prólogo – Os Arquivos




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No espaço do Paraíso reservado aos anjos do amor, existe uma extraordinária estrutura capaz de colocar a lendária Biblioteca de Alexandria no chinelo – isso se ela já não estivesse muito bem incinerada, na verdade, o que torna a perspectiva do chinelo meio que não tão ruim assim.

Trata-se de uma galeria colossal de corredores e mais corredores de altíssimas prateleiras de ferro reluzente, cada qual contendo mais uma infinidade de gavetas enormes do mesmo material, responsáveis por guardar em seu interior valiosos pergaminhos de quase milênios de idade. Nestes, escritos em uma caligrafia de bico de pena capaz de fazer inveja naquela sua amiga cheia de canetinhas coloridas da escola, estão reunidos anos e mais anos de história e conhecimento Cupídico para quem estiver interessado em ler, se aconselhar, ou apenas matar a curiosidade sobre esses adoráveis seres pequerruchos e gorduchinhos que saem atirando suas flechas apaixonantes por aí.

Os imensos portões de madeira de lei, adornados por detalhes em ouro puro e um ou outro chumaço de nuvem cor-de-rosa, fecham-se pesadamente para guardar a sete chaves em seu interior toda essa riqueza documental que tanto é valiosa... quanto não interessa a ninguém, na verdade.

Esses são os Arquivos.

E eu tenho quase certeza de que você não gostaria de passar nem cinco minutos lá dentro. Ninguém gosta.

Mesmo assim, quando acontece de um cupido passar voando casualmente em frente àqueles portões impressionantes, não é raro que ele ouça, ao invés do silêncio gélido esperado para ambientes tenebrosos como aquele, uma musiquinha até que muito agradável, obrigado, meio abafada pela grossura da madeira:

— ... dancing queen, feel the beat from the tamboriiiiine! Ooh yeaahh!

Também não era raro que uma voz igualmente abafada se juntasse aos cantores metalizados no verso seguinte, em plenos pulmões:

— YOU CAN DAAANCE... YOU CAN JIIIVE, HAVING THE TIME OF YOUR LIIIFE!!

E ao ouvir aquela voz aprisionada, sabendo muito bem a quem ela pertencia, o tal cupido transeunte geralmente não pensaria duas vezes antes de revirar os olhos e dar o fora dali, fingindo que tudo não passava de um delírio da sua cabeça mesmo.

Enquanto ele se afasta, a voz e os cantores, já antes tão abafados, começam enfim a desaparecer atrás de si, engolidos pela solidão aterradora dos corredores.

Oooh, see that girl?

Watch that scene!

Digging the dance queen!

 


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