Some More escrita por Deby Costa


Capítulo 6
Confronto entre planície e montanha.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, gente. Primeiro de tudo quero pedir desculpas pela demora. Tenho vivido uma fase complicada em minha vida pessoal e isso tem afetado muito meu emocional. Some More é uma história que tem uma carga emocional muito intensa, então acaba sendo complicado editar os capítulos estando com a mente uma bagunça. rsrsrsrs, mas não se preocupem, estou bem melhor agora, no mais, desejo que façam uma boa leitura e não esqueçam que a fanfic não está sendo betada.

Boa leitura



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Para existir um laço é necessário que as duas pontas se encontrem.

Autor desconhecido.

 

— Você pode ficar desse tamaninho para sempre? — Kiba perguntou ao garotinho que segurava no colo. O bebê, que o encarava com curiosos olhinhos selvagens, não tinha idade suficiente para entender, quanto mais responder sua difícil pergunta, então mostrou apenas as presinhas salientes, aliás, os primeiros e únicos dentinhos existentes naquela boquinha desdentada. — Ai, seu pestinha! Socorro, Kazuo!

Kiba pediu auxílio ao melhor amigo, pois naquela hora o bebê havia agarrado seus cabelos sem dó ou piedade.

Sentado no degrau de pedra a seu lado, Kazuo meneou a cabeça.

— Você é um crianção! — O adolescente reclamou após tirar o irmão dos braços de Kiba.

Os dois Ômegas estavam de folga das obrigações com as crianças que em breve receberiam a tutela dos seus marus, por isso cuidavam do bebê. Akamaru e Haiiromaru, companheiros caninos dos dois adolescentes, ajudavam. O grupo estava próximo aos terraços agrícolas onde alguns adultos colhiam hortaliças e outros preparavam à terra para acolher as novas sementes de bastão do imperador.

— Ufa! O que esse moleque tem de pequeno, tem de forte. — Ajeitando os cabelos, Kiba resmungou, mas estava se divertindo com toda a situação.

Ignorando a reclamação, a criança, que havia sido colocada sobre as costas de Haiiromaru, segurou firmemente na orelha do ninken de Kazuo. Akamaru tentou sair de fininho, todavia o bebê foi mais rápido, segurando-o por um generoso tufo de seu pelo.

'Halulu, 'Akulu. — No seu dialeto, o menino chamou os ninkens antes de suas deliciosas risadinhas ecoarem pelos paredões de pedra.

— É claro que ele é forte! Meu irmão é um Alpha, por isso é tão esperto! Ele nem tem dois anos e não precisa mais da gente para ajudá-lo com as presas em suas bochechas! — Kazuo estava orgulhoso. Ele sabia serem poucos os Inuzuka que antes dos três anos conseguiam manipular o chakra com tanta maestria para realizar tal façanha sem a ajuda dos pais ou irmãos mais velhos.

— É. — Kiba suspirou. — Ele é um Alpha. Mesmo possuindo tanta luz.

O garotinho diante de Kiba não era apenas um prodígio, era um Alpha em desenvolvimento. A diferença dele em relação a outros shifters naquela faixa etária era gritante.

Kazuo ficou desconfortável e Kiba se tocou.

— Desculpa. — Ele não pretendia ter feito o comentário em voz alta, mas o Ômega era transparente demais.

Saber que aquele garotinho com tão pouca idade canalizava energia suficiente para manter vivo o símbolo do clã em seu rosto por quase um dia inteiro, despertava sua admiração, mas também seu medo. Em breve o pequeno estaria apto para realizações maiores, e o adolescente conhecia o poderio de um Alpha, em especial quando este usava sua voz de comando.

Mesmo tendo acontecido apenas por alguns minutos, a experiência com Ino, não havia sido a primeira vez que Kiba sentiu-se subjugado por um shifter pertencente à casta dominante. O Adolescente trazia em seu âmago as sensações de ser obrigado a ficar num canto da casa por horas a fio, simplesmente porque o seu pai, em uma de suas mais terríveis ressacas, lhe disse para permanecer assim. O rapaz recordava da sede, da fome, da impossibilidade de controlar as necessidades fisiológicas e de todas as reações de sua mente e seu corpo, enquanto seu pai, bêbado, roncava no sofá…

Percebendo para onde a mente do melhor amigo estava indo, Kazuo recordou um dos ensinamentos de seu avô, um dos poucos Alphas nascidos em um clã onde os shifters desta casta eram raros:

— Alphas, Ômegas, Betas, todos nós somos um somatório de luz e escuridão.

— Oi? — Kiba soou um pouco perdido diante do comentário descontextualizado.

— Tonto! Sei que você está pensando no seu pai e também na loira encardida.

Kiba encolheu os ombros. Melhor do que ninguém, Kazuo sabia do misto de sentimentos que ele sentia em relação à Inuzuka Kito, que por não aguentar a pressão de ver a mulher que amava definhando diante de seus olhos, perdeu-se na escuridão. Ino tinha a aura parecida com a do seu pai, mesmo tendo melhorado bastante durante o tempo que passou dormindo em sua casa.

— Diferente dos Alphas adultos, a energia do meu otouto é gentil porque ele nunca teve contato com dores e sofrimentos que escurecem a nossa alma…

Kazuo se calou por alguns segundos e foi ao socorro de Haiiromaru, que quase perdia as orelhas para o bebê. Para alívio de seu ninken, o adolescente pegou o irmão no colo e acomodou-o nos braços. Aquele vigor todo, era indício que em breve o pequeno Alpha capotaria vencido pelo sono.

— Ele ainda é muito inocente, por isso nós Ômegas, shifters mais suscetíveis a energia vital dos seres vivos, gostamos tanto de estar perto dele.

De fato, o irmãozinho de Kazuo só conhecia o amor, contudo, aquela não era uma garantia que ele só encontraria benquerença ao longo de sua vida. Um dia aquele garotinho iria se confrontar com sentimentos ruins existentes no mundo. Só imaginar a possibilidade deixava Kiba desnorteado.

— E se um dia ele conhecer a dor como acontece com os Alphas adultos? — Kiba deu voz a sua preocupação.

— Bobão! — Kazuo o xingou, mas era palpável sua empatia para com Kiba. — Sendo Alpha ou não, ninguém passa pela vida sem conhecer a dor. É claro que um dia, direta ou indiretamente, meu otouto se deparará com a dor que assola todo ser vivo. É inevitável. Quem sabe ele até sucumba no processo.

 Kiba olhou de Kazuo para o garotinho, sentindo-se mais apavorado ainda com a naturalidade com a qual seu amigo levantava a questão.

Vendo seu estado, Kazuo, ao perceber que o irmão já dormia, falou mais baixo.

— Se isso acontecer, como pontinhos de luz em meio ao breu, estaremos junto dele para iluminar seus passos— Kazuo mostrou os caninos tão característicos dos Inuzuka, quando a ruguinha na testa de Kiba pareceu finalmente desaparecer. — Pois…

— Nós somos Inuzuka e os Inuzuka jamais deixam um Inuzuka pelo caminho. — Os dois Ômegas concluíram a frase que Kazuo havia iniciado e riram cúmplices ao perceberem que o pequeno se mexeu com o susto. Os garotos taparam os lábios para ocultar o riso frouxo.

Os Inuzuka eram assim. Mesmo diante do invisível, da total falta de resposta, da completa ausência de perspectivas, do mais profundo breu, eles tinham a fé. Fé na vida, na natureza e acima de tudo, fé no ser humano e na sua incrível capacidade de mudar.

— Shiu... — Kiba pediu, colocando o indicador sobre os lábios. Com o olhar fixo no pequeno dormindo inocentemente, ele garantiu: — Eu serei um enorme refletor, caso ele precise no futuro.

— Acho bom. — Kazuo ameaçou, mas acreditava na sinceridade contida naquela promessa. Um Inuzuka sempre era leal àquele a quem jurou proteger.

Com o coração bem mais leve, Kiba pensou no pai e também em Ino. Foi impossível não se entristecer. Mesmo sendo muito pequeno para recordar com precisão, o Ômega conhecia um pouco do processo que minou a energia de Kito, mas se questionava o que havia acontecido com a Yamanaka sendo ela tão jovem. Com quais dores e amarguras aquela Alpha teve contato no meio social em que viveu, para ser tão amarga? Será que algum dia Kiba conheceria um Alpha adulto que tivesse uma aura tão bonita e encantadora quanto a daquele garotinho?

Seria legal!

“Hmm.”

O bebê resmungou no colo de Kazuo e essa foi a deixa para Kiba os adolescentes se darem conta do quanto já era tarde. Estava na hora de retornarem às suas respectivas casas, pois era quase hora do almoço. Se aquele pequeno Alpha acordasse com o buchinho vazio, as coisas ficariam complicadas para os dois.

 

******

 

Não era estranho que o homem à sua frente conhecesse jutsus mentais, tampouco que os usasse para ler seus pensamentos, mesmo se ele não fizesse isso há muito tempo.

— Elas foram um presente de um grande amigo. — O Alpha se referia às marcas em suas bochechas, elucidando uma das diversas perguntas que passavam por sua cabeça naquele instante. — Mas pela agitação em sua mente, saber que herdei essas marcas de um bondoso monge do qual me tornei pupilo, não é sua maior curiosidade sobre mim, acertei?

Ino foi sincera:

— Definitivamente não, embora a possibilidade de conhecer mais sobre essa história seja no mínimo instigante.

Impaciente como era, o que gostaria mesmo de saber era quem era ele. Um minuto em sua presença e ficou evidente para ela que o Alpha era seu parente de sangue. As semelhanças físicas entre ele e seu pai eram visíveis, além do chakra, que tornava a ligação óbvia demais para ser ignorada, todavia, havia algo diferente nele. Aquele homem não possuía a presença voluntariosa tão comum aos membros do seu clã, pelo contrário, a presença dele era dócil e acolhedora, algo bem marcante e parecido com a presença dos membros do… clã Inuzuka?

Sorrindo ao certamente ouvir o seu pensamento, o Alpha lhe fez um convite:

— Antes de lhe dar algumas das suas respostas que você procura, que tal darmos um passeio?

Ino quase bufou irritada, mas sem alternativas a não ser acompanhá-lo, aceitou o convite.

 

******

 

— Ai! — Hana reclamou ao parar de súbito e olhar para trás.

A beta colocou a destra sobre a cabeça no local onde um fio do seu cabelo havia sido arrancado e Akita, a autora do feito, apenas riu de sua cara de espanto.

— Branquinho, branquinho.

O que era para elucidar a pseudo-agressão deixou Hana mais confusa quando Akita fez chacota com o fio de cabelo, que nada tinha de branco, entre os dedos.

— O que foi isso?

— Todos os outros em breve ficarão iguaizinhos a esse se a senhorita continuar ansiosa desse jeito. — Akita fez finalmente sentido, mas Hana não achou a menor graça.

— Tsc! — Para não mandar a amiga às favas, ela estalou os lábios.

Às Inuzuka e seus ninkens se dirigiam para a cabana do curandeiro. A recuperação do pai de Akita estava correndo bem, confirmando a eficácia do tratamento com o elixir em que a Beta veterinária vinha trabalhando há dois anos, no entanto, Hana continuava realizando o trabalho do homem e cuidando da saúde dos membros do clã até sua pronta recuperação.

Akita suavizou o tom:

— Sua ansiedade está me deixando ansiosa por tabela.

— O que posso fazer quanto a isso Akita? — Hana falou. Seu coração estava apertado e ela não conseguia se concentrar em mais nada desde que Koichi contou às duas que o Haimaru mais velho havia levado Ino para a área do santuário.

— Só relaxa amiga.— Akita sabia os motivos para Hana estar com a cabeça a mil.— A gente sabia que esse encontro seria inevitável em algum momento da estadia dela aqui.

— Eu sei, mas saber disso não é pré-requisito para eu ficar tranquila.

— Mesmo que sua menina não saiba quem ele é, alguns laços são impossíveis de não se reconhecer. Você, melhor do que qualquer pessoa, deveria saber disso.

Hana tinha essa consciência, principalmente após as inúmeras conversas que teve com o próprio Santa-niichan após ela e Kiba trazerem Ino para a aldeia. O monge havia lhe dito algo semelhante sobre vínculos e reconhecimento dos mesmos. A princípio, a Beta pensou que o grande irmão falava da ligação espiritual entre ela e a loira, visto que como Akita, o Alpha conhecia sua história, todavia depois que sua menina acordou e revelou seu sobrenome, tudo fez sentido, inclusive as constantes visitas que Yamanaka Santa fez a sua residência enquanto a estudante dormia.

Yamanaka Santa… Era tão estranho chamar o grande irmão dessa forma. Há mais de vinte anos o monge não usava mais aquele nome.

— Descobrir mais sobre o passado fará bem aquela Alpha, vai por mim! — Akita deu uma tapinha nas costas de Hana. — Quem sabe até dissipe as trevas que ela traz consigo.

— Quero acreditar nisso, Akita. — Hana se lembrou do comportamento de Ino após ser informada do tempo que passou dormindo. Saber mais sobre seus familiares poderia deixá-la mais irritada e até prejudicar sua recuperação, além disso, Hana tinha um carinho imenso por Santa-niichan, que ganhou esse apelido carinhoso dos sacerdotes que cuidavam do santuário quando o Alpha decidiu se tornar um deles e fazer das montanhas seu novo lar. Ela não queria vê-lo sofrer em hipótese alguma.

 A Beta veterinária tinha quase quatro anos quando Santa foi encontrado aos pés da cachoeira da morte, não recordava dos detalhes, só sabia que, diferente do que aconteceu com Ino, o homem não despencou da queda d'água por acidente, mas, ambos os Alphas, embora sua menina ainda não tivesse ciência, tinham em comum o fato de terem encontrado Okuri-inu n’O caminho, antes de rolar ribanceira abaixo. Tsume, que se tornou uma grande amiga do Yamanaka, costumava lhe contar que quando os sacerdotes levaram Santa para o santuário, o Alpha trazia uma tristeza tão grande em seu coração que o fazia parecer mais um invólucro vazio que um ser humano, mas sua mãe também dizia que invólucros vazios eram os mais fáceis de reciclar.

Hana nunca soube dizer exatamente se por Santa-niichan não ter a fisionomia selvagem característica dos Inuzuka, o que a fazia recordar do pai, ou se por Kito, seu padrasto, ser um completo idiota, mas a realidade é que ela adotou o Alpha como uma figura paterna ainda na primeira infância, sentimento que se tornou uma via de mão dupla pouco tempo depois, pois Santa também a considerava uma  filha.

— Lembra quando Santa-niichan nos contava as histórias sobre os Yamanaka?

Akita perguntou e Hana sorriu. É claro que ela se lembrava.

Santa falava com muito carinho de seu povo e era notável a falta que ele sentia de sua mãe e principalmente do seu irmão mais novo. O Alpha contava para as crianças que iam visitá-lo no santuário que os Yamanaka eram um dos clãs mais tradicionais e influentes das cinco grandes nações, além de exímios guerreiros. O monge também dizia que eles haviam sido os maiores responsáveis para que hoje a paz reinasse soberana entre as nações. Para Hana, era engraçado pensar que antes do nascimento de Kiba, ela passava tardes inteiras ouvindo Santa falar dos antepassados dele. Essas histórias a deixavam encantada. Quem diria que hoje ela estaria tão fortemente ligada àquela gente?

— Eles ficarão bem, estressadinha. — Akita implicou e puxou-a pelos ombros, obrigando-a a retornar à caminhada. — Vamos?

Vendo que não adiantava sofrer por antecipação, pois Akita talvez estivesse certa. Por ora, Hana decidiu concentrar-se apenas em seu trabalho.

— Vamos. — Hana se rendeu.

 

******

 

Vamos nos sentar aqui. — Percebendo o cansaço de Ino, Santa segurou a bengala que ela utilizava e ajudou-a a sentar. Os dois Alphas acomodaram-se em um dos bancos de pedra que ficava à margem do laguinho de carpas, local que dava aos dois uma ampla visão de toda a aldeia. O grande irmão se dirigiu ao ninken de Hana que os seguia de perto. — Obrigado, Haimaru. Diga a Hana que não se preocupe, irei levá-la de volta mais tarde.

O maru inclinou-se de modo educado antes de ir embora. Enquanto via o cão se afastando, Santa notou que alguns aldeões os observavam de suas varandas. Diferente das crianças, que vez ou outra davam um jeitinho de se aproximar de Ino desde que ela acordou, os adultos se mantinham afastados, mas se mostravam igualmente curiosos e atentos à figura altiva.

Um fato curioso sobre Ino era que coincidentemente a Alpha havia despertado em uma época muito significativa para o povo da montanha: o outono. Para todo o clã, aquele era mais um sinal que a loira era especial aos olhos de Inu-sama. Os Inuzuka achavam que o yokai protetor daquelas terras, além de poupar sua vida, acordou-a a tempo de participar da festa de apresentação dos ninkens.

Santa sabia que aquele 'achismo era uma grande desculpa dos aldeões. Considerados por outros clãs como selvagens e vivendo isolados há anos, a possibilidade de apresentar suas tradições a uma hóspede ocasional, os envaidecia.

A festa de apresentação dos ninkens era quando a ninhada de marus que nasceu na primavera do ano anterior seria apresentada aos seus futuros tutores. Nessa ocasião os Inuzuka faziam memória do pacto de sangue que deu início a amizade entre eles e os cães ninjas, além de fomentar nas novas gerações a valorização deste importante legado. Pensar nisso, fazia Santa recordar com saudade de seu primeiro outono vivendo com os Inuzuka. Na festa daquele ano os membros do clã não mediram esforços para o impressionar, e pela empolgação que exalavam nos últimos dias, iriam repetir o feito com a sua sobrinha…

— Qual a sua ligação com meu pai? — A fala a sua direita interrompeu seu gostoso momento de introspecção, fazendo seu sorriso sumir por completo.

Durante meses, ele se preparou para ter aquela conversa com a sobrinha, mas agora não sabia como iniciá-la. Uma saída fácil, porém covarde, seria mostrar quem ele era através de um jutsu, ao invés de dizer, contudo, há tempos Santa havia descoberto que toda história possui dois lados e em cada um desses lados existem suas próprias verdades e convicções, como Inuzuka Tsume costumava salientar no passado.

Tsume…Nos últimos dias, vinha pensando muito na amiga e nas significativas conversas que eles tiveram quando estava chegando a hora da Beta partir para os domínios de Okuri-inu.

 Mesmo com a saúde debilitada, todas as manhãs a Inuzuka ia ao santuário fazer suas orações. Numa dessas visitas, Tsume lhe contou sobre ter reencontrado por acaso com seu irmão em Konoha. A mulher lhe revelou também sobre a existência de Ino e sobre o fato da pequena Alpha ter reconhecido Hana, uma Shifter selvagem, como sua companheira predestinada após olhá-la uma única vez.

Sim, Tsume sempre soube quem era aquela garotinha que outrora cruzou o caminho de Hana, e por ter consciência disso, ela sabia que os Yamanaka jamais deixariam aquela aproximação acontecer, afinal, a exemplo do que aconteceu com Santa quando vivia na planície, certamente sua sobrinha estava sendo preparada para se tornar a futura líder dos Yamanaka no lugar de Inoichi. Como mãe zelosa, a Inuzuka deixou a sorte das duas garotas nas mãos do destino e pediu aos céus para que um dia elas pudessem viver sua história...

— Somos irmãos. — Finalmente, Santa respondeu.

 

Dez anos mais velho que Inoichi, Santa sempre foi um argumentador e isso não agradava seu pai. À medida que ia crescendo, suas questões acerca da vida cresciam com ele. Na universidade, conheceu inúmeras pessoas que tinham a mente aberta, incluindo Hatake Kakashi, um jovem hiperativo que fazia curso de pilotagem de aeronaves. O amigo, outro questionador nato, o ajudou a buscar respostas para muitas perguntas que lhe atormentavam. Foi o amigo que lhe apresentou um mundo novo e também Tayuya, uma jovem Beta que estudava artes cênicas na mesma instituição de ensino que os dois frequentavam.

Bastou uma troca de olhares para ele e a jovem reconhecerem o vínculo e serem incapazes de negligenciar tamanha bênção, contudo, Tayuya era uma Shifter sem clã e ele um Yamanaka, e não qualquer Yamanaka, o Alpha era o filho mais velho do líder do clã. Tinha obrigações a cumprir, além do futuro todo planejado pelos anciãos, em especial seu casamento com Aimi, que ocorreria quando ele concluísse seus estudos. Mas o primogênito possuía outros planos e a não aceitação dos pais e dos anciãos em relação à companheira que ele havia reconhecido, o fez tomar uma decisão radical. Afastar-se do clã.

Durante três anos, Santa e Tayuya viveram intensamente o relacionamento. Ambos tinham uma inexplicável pressa e somente no quarto ano da feliz união, quando sua mulher sofreu um aborto espontâneo, que os dois descobriram o porquê. Após a descoberta da leucemia, descobriram igualmente que não havia muito o que fazer. Sua esposa faleceu seis meses após receberem o fatídico diagnóstico.

A perda da esposa fez Santa perder a vontade de viver. Foi nessa mesma época que sua mãe e Inoichi, que sempre se manteve ao seu lado, intercederam por ele junto ao pai e aos anciãos, pedindo por seu retorno ao lar. O que seu otouto e a matriarca não sabiam, era que o Alpha não possuía mais um lar, logo, três meses após retornar ao clã, Santa decidiu partir outra vez.

 

Na narrativa dos últimos trinta anos de sua vida, Santa omitiu o fato de ser ex-noivo de Aimi e a parte em que tentou o suicídio ao jogar-se da cachoeira da morte, ocasião em que teve um encontro místico com o cão de escolta, que se apresentou para ele em sua versão, digamos, menos fofa. 

— Eu não entendo… porque meu pai não me contaria sobre você?

Santa olhou com carinho para Ino, que se não fosse pelas circunstâncias, poderia até mesmo ser sua filha.

— Lamento por não poder lhe dar essa resposta.

Aquela era a parte da história que não pertencia somente a ele.

— Embora você a tenha. — Ino ralhou.

— É, embora eu a tenha.

Os dois Alphas riram e logo fizeram silêncio, passando a observar algumas crianças que brincavam próximas ao lago. Havia entre eles uma inexplicável intimidade para duas pessoas que nunca haviam se visto.

— Mas… — Santa começou após um tempo. — Esse velho tolo que vos fala, pode lhe contar mais sobre a história de um presunçoso Alpha que um dia caiu de amores por uma encantadora a Beta. Você gostaria de ouvi-la?

Nem sempre é só sobre você.

Santa trouxe ao pensamento as palavras que seu pai jogou sobre si no dia em que eles se encontraram pela última vez. Hoje o Alpha compreendia o que o patriarca queria dizer. Se pudesse voltar no tempo tendo a maturidade que os anos lhe concederam, seguiria os conselhos de sua saudosa mãe: jamais abandonar os seus sem confrontá-los, sem mostrar aos Yamanaka as verdades e convicções que conheceu ao abrir-se para um mundo que nenhum deles se dispunham a conhecer.

— Eu ficaria muito feliz em ouvi-lo. — Sua sobrinha tocou com firmeza em seu ombro ao perceber sua emoção.

Para Santa foi impossível conter as lágrimas ao sentir o toque acolhedor e cúmplice de um irmão de casta. No ápice de sua juventude, ele havia feito escolhas e tomado algumas decisões que trouxeram consequências e mudaram o rumo não apenas de sua vida, mas também a vida de Aimi, que foi induzida a acreditar que o amava desde que passou a se entender por gente, e de Inoichi, que passou a carregar sobre os ombros, pressões e expectativas que deveriam ter sido impostas a Santa desde o início.

— Obrigado por sua gentileza.

Com o coração cheio de saudades de sua gente e lágrimas nos olhos, foi então que Santa começou a falar de sua Tayuya.



Uma semana depois

 

— Aimi-san não se preocupe, nós traremos sua filha de volta. — Shino prometeu e logo em seguida entrou no monomotor onde um animado Kakashi já aguardava.

— Podes crer, tia! As férias daquela Alpha marrenta estão com os dias contados. — Kankuro lançou uma piscadela em sua direção e menos formal que o Aburame lhe deu um abraço antes de igualmente entrar na aeronave.

Aimi sorriu para ambos os jovens, desejando em seu íntimo que a dupla fizesse uma boa viagem e que os dois retornassem saudáveis e seguros dali a alguns dias. Aqueles dois, com a visão abrangente tão característica das novas gerações, incentivaram-na a tirar os antolhos dos olhos a respeito dos shifters das montanhas e ela os agradeceria pelo resto da vida por tão grande generosidade. Kankuro e Shino eram bons amigos para sua filha e isso a deixava feliz. O fato de colocarem suas vidas em risco para resgatar Ino quando nenhum deles tinha certeza se sua menina estava viva, deixava isso claro e trazia imensa paz para sua alma.

— Querida… — Aimi sentiu um leve toque em seu ombro. Era Inoichi. Os últimos meses foram um grande tormento para o casal, por isso ela não se surpreendeu quando o Alpha lhe disse que seguiria viagem com os outros três. — Eu volto em breve.

Seu marido sorriu. Nada mais precisava ser dito entre eles, então ela tocou a face do Alpha e encostou suas testas por alguns segundos. Ela jamais imaginou que um dia pudesse amá-lo, pois além de ser cinco anos mais novo, o enlace deles havia sido um rearranjo dos anciãos e dos pais de ambos para sanar o desastre que causado após Yamanaka Santa tê-la abandonado. Abandonado… após tantos anos, essa definição do que tinha acontecido entre ela e seu ex-noivo não fazia mais  sentido.

— Estarei à sua espera. — Aimi deu um passo atrás e em seguida deixou um beijo casto e demorado na testa do seu companheiro de vida, externando todo o amor que havia em seu coração, um amor que nasceu como um efeito colateral da convivência diária ao longo dos anos que eles se dispuseram a construir uma história juntos.

Inoichi segurou com delicadeza sua mão e levou-a até os lábios, deixando um carinhoso selinho no dorso de sua destra, antes de também afastar-se dela e subir no monomotor.

 

******

 

— Em breve estaremos sobrevoando o espaço aéreo de Kirigakure e em seguida chegaremos à área da cascata. Vocês sentirão a mudança climática quando chegarmos à divisa. Estejam preparados.

A fala de Kakashi revelava a concentração na qual o Alpha havia mergulhado desde que o monomotor deixou a pista clandestina que o militar possuía em suas terras. O comportamento oposto ao que ele demonstrava no cotidiano falava muito sobre a periculosidade daquela missão.

— Ok! — Kankuro respondeu por ele e pela outra figura estóica a seu lado.

Enquanto sua aeronave sobrevoava o primeiro acampamento de peregrinos, Kakashi visualizava mais um grupo de trilheiros se preparando para percorrer mais alguns quilômetros d'O caminho. O pensamento de que talvez todas as histórias que sempre ouviu sobre aquela rota fossem mesmo verídicas martelava sua mente. Sem dúvidas aquele percurso, embora ele jamais tenha feito os tais 800 quilômetros que o compunha a pé, fazendo-o sempre pelo ar, transformava vidas. A maior prova disso era o homem de cabelos grisalhos sentado em um dos últimos assentos de seu monomotor.

A figura altiva e estóica do atual líder dos Yamanaka em nada lembrava o adolescente alegre e sonhador que Kakashi conheceu há mais de três décadas, muito menos a do esperançoso jovem com quem enfrentou a fúria da cachoeira da morte para ir ao resgate de Yamanaka Santa, após o amigo desaparecer anos atrás. Hoje o patriarca de um dos clãs mais conceituados das cinco grandes nações shifters, aparentava ser somente a versão mais nova de Yamanaka Tane, e isso não ficava restrito apenas à semelhança física entre ele e o saudoso pai.

— Eu gostaria de compreender essa louca atração que esses malditos Yamanaka sentem por aquela maldita montanha. — Kakashi jogou no ar na tentativa de chamar a atenção de Inoichi, mas o Alpha não mordeu a isca e seguiu silencioso.

De todos os Yamanaka que conheceu, Inoichi era o mais gentil e generoso. Para o Hatake era uma pena ver o que o avançar dos anos e a liderança de um clã constituído em sua maioria por Alphas fizeram com o irmão mais novo de seu grande amigo. Desde que descobriu quem era o patrocinador daquela viagem de resgate, que Kakashi viu naquela missão a oportunidade dos dois irmãos se reconciliarem com o passado. Isso é, se todos eles chegassem vivos até o final daquela jornada…

— O que é aquilo? — Shino perguntou ao ver adiante uma enorme nuvem negra, a mesma tinha a forma de um corvo gigante.

— Um sinal dos deuses para podermos nos arrepender de todos os nossos pecados a tempo de alcançar a salvação eterna. Yuhul, turbulência! — Kakashi gritou para o total desespero de Shino e Kankuro.

— Puta que pariu! — O Sabaku exclamou ao se dar conta da enrascada na qual havia se metido.

— Rapazes, vocês estão preparados para iniciarmos a nossa diversão? — Kakashi perguntou olhando fixamente para frente, fazendo Shino e Kankuro fazer o mesmo, ambos, arregalaram os olhos de desespero a medida que a nuvem parecia ficar maior e preparar-se para engolir o monomotor no processo — Caralho, essa é das grandes, mas dá para desviar!

— O que você quer dizer com desvi… — Shino não conseguiu terminar a pergunta, pois uma grande movimentação do ar fez com que o monomotor começasse a balançar descontroladamente.

— Shino, nós vamos morrer! — Kankuro jogou a toalha e agarrou o amigo, que embora detestasse qualquer tipo de contato físico, não viu problema algum naquele instante.

Diferente dos dois jovens, Inoichi, que já havia passado por situação semelhante no passado, ao realizar, melhor, tentar realizar o resgate de Santa quando, a exemplo de sua filha, seu irmão desapareceu na área da cascata, o Alpha seguiu em meditação intensa como vinha fazendo desde que entrou naquela aeronave.

Kakashi avaliou brevemente a situação de seus passageiros e confirmou que todos estavam emocionalmente fodidos. Após dar uma sonora gargalhada ele puxou o manche com extrema força, erguendo assim o nariz do monomotor antes de gritar com toda a força, dirigindo-se a Kankuro.

— Não se eu puder evitar, seu desgraçado!


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Notas finais do capítulo

Um perguntinha para vcs. Vocês leem as frases que ficam no início do capítulo? rsrsrsr

Sobre a citação onde o personagem Santa fala sobre a dívida de sangue que deu início a amizade entre os marus e os Inuzuka. No capítulo 3 da minha história: Retratos da família Inuzuka Aburame , tem uma explicação sobre isso, então caso estejam curiosos ( pode ler apenas esse capítulo sem problema) deem uma passadinha por lá.

Espero que o capítulo não tenha ficado cansativo e que vcs tenham gostado. Ele é importante, pois nos da pista do porque nossa loira é tão rabugenta...
E para quem esta ansioso para ver nossas meninas se entendendo. Ufa! Estamos caminhando para isso.
Bjs e até.



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