CN Beyond: Geração Y escrita por Primus 7


Capítulo 5
Mais do que Humanos - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Desculpe a demora para atualizar. Esse cap parece simples mas foi complicado de fazer. Ele foi uma coisa que tive de ultima hora. Tive que refazer varias vezes por mudanças de planos e eu me distrai com outro projetos paralelos. E tudo mais.
Recapitulando, esse cap se passa durante um baile da alta sociedade. Ele é segunda parte de dois sobre arco do baile. Ele é focado na drama e centrado na Florzinha. Escrevi ele de forma ambígua, sem deixar claro se um romance ou inimizade está nascendo aqui, além de participações importantes para este universo. IMPORTANTE: LEIAM CN Beyond Files: A Távola. É um leitura rápida e contextualiza melhor o que acontece aqui
Como essa história se passa em baile, e haverá uma dança eu pedi ajuda de algumas colegas minhas do CNB, a Zeella, Arady_Yamazaki, e minha amiga Suy. Reiloki e Alexday me ajudaram com alguns dialogos.

Vocês podem ver os visuais dos personagens neste DOC: https://docs.google.com/document/d/1mOm9F5aJaw_8a4S-7mY7RkrhlPac-7qJZClP6T3YWt8/edit?usp=sharing

Este cap não tem uma ost, mas vocês podem ouvir a trilha sonora da história toda aqui: https://youtube.com/playlist?list=PLR-2_pyeUruiEZdnrFDJZ-70wxL3KFMef

e não esqueçam a lista de dubladores: https://docs.google.com/document/d/13eUL_slpMDAaRYDZJRGjnQ4cHZsVHqHSDVTodXwggkE/edit#heading=h.cpvrj18pp3c3



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O jantar estava delicioso. As irmãs Utonium nunca sentiram tantos sabores requintados em uma única refeição. Era uma variedade de pratos de vários países e regiões de todo o mundo e todos eram suculentos. Depois da confusão de antes do jantar, Florzinha teve finalmente um tempo de calmaria para saborear aquela refeição digna de uma princesa. A parte mais interessante é que as meninas e meninos estavam conversando e interagindo. Explosão estava contando piadas, Docinho falando sobre música e outras bobagens que eram muito melhores do que brigar. Isso trouxe a ela aquele sentimento de simpatia que havia sentido antes e que, no final das contas, mostrava que seus novos rivais da Geração Y não eram tão maus assim. Eles eram como elas: adolescentes desajustados, apesar de que, ao mesmo tempo, eram diferentes. 

Enquanto finalizava a janta, Florzinha ouviu alguém chamar por seu nome do outro lado do salão de jantar. Era Dick Hardly a convidando para conhecer algumas pessoas. Ela não confiava nele e nem se sentia à vontade perto daquele homem, mas Florzinha deduziu que as tais pessoas deveriam ser pessoas muito importantes e seria constrangedor recusar. Ela recuperou a compostura e botou mais uma vez um sorriso de boa moça na testa. Já havia se tornado uma profissional nisso.

Ela foi de bom grado até a mesa onde Hardly estava junto de vários indivíduos importantes, alguns lhe eram conhecidos da TV e dos jornais e outros não. 

— Florzinha, minha querida, quero que conheça uns amigos meus. — Disse Hardly. — Eles estavam muito ansiosos para conhecer pessoalmente a Líder das maiores heroínas dessa nação. Você deve reconhecer alguns deles, pois são muito populares. 

Sentados na mesa redonda estavam cinco figuras além de Hardly. Quatro homens e uma mulher. O primeiro a se levantar para cumprimentá-la foi um homem de camisa branca com gravata borboleta e calças com suspensórios. Ele usava óculos vermelhos com lentes curiosamente amareladas. Tinha uma postura séria, como se fosse um pai rígido e severo. 

 — Sou Benedict Wigglestein, minha jovem. Considero-me um educador. Meus filhos têm uma enorme admiração por você.  Ouça o que eu digo, você é um exemplo para uma geração. — Apresentou-se e elogiou enquanto cumprimentava a ruiva. 

 — Muito prazer em conhecê-lo, Sr. Wigglestein e muito obrigada. — Agradeceu Florzinha de forma bem-educada.

Em seguida, veio um senhor forte e bigodudo com várias medalhas em seu terno verde. Ele também parecia ser uma pessoa séria, mas parecia ter um lado bem espontâneo. Ele apertou a mão da Florzinha com espírito de um soldado que cumprimentava outro.

 — Sou o General Julius Steel. É uma honra conhecer enfim a líder das Meninas Superpoderosas. Vocês são patriotas exemplares e mesmo com a pouca idade, fizeram mais por este país do que muitos homens que conheci. E pelo visto, tem de fato um aperto de mão bem forte. 

 — Obrigada, Senhor. É um prazer conhecê-lo. — Agradeceu a menina com um sorriso simpático. 

 — "Senhor” é para os meus soldados. — Corrigiu ele. — No dia a dia, eu prefiro ser chamado apenas de Steel. 

— OK. Obrigada, Steel. 

Atrás de Steel veio um senhor bem estranho. Um velho, um tanto corcunda com uma pele branca igual papel. Tinha um rosto estranho e um tanto esquelético e deformado. Quando foi cumprimentar a garota, ela conseguiu notar suas unhas cumpridas como garras. Ela teria se assustado se não reconhecesse ele de um programa de TV que via às vezes com suas irmãs. 

— Você é o Argost, não é? Do programa de TV Estranho Mundo! — Reconheceu Florzinha. — Lindinha e Docinho adoram seu programa. 

— Olha só, quem diria… — Falou Argost com voz rouca e aguda ao cumprimentar a garota — As Meninas Superpoderosas são fãs do meu programa. Que grande reconhecimento! É um grande prazer conhecê-la, jovenzinha. 

— Prazer é todo meu, Sr. Argost. — Disse ela.

Depois de Argost, veio o sujeito ao seu lado complementá-la. Um senhor mais velho e bigodudo usando um terno roxo com gravata vermelha. Florzinha o reconheceu facilmente, pois este era dono de uma famosa fabricante de carros e motores. 

— E Você é o Dick Vigarista! — Ela deduziu. 

— Já tem um tempo que ninguém me chama por esse nome, garotinha. Esse era o meu apelido nos meus tempos piloto nas Corridas Malucas. — Ele explicou enquanto apertava a mão da menina. 

— Desculpe, eu não…

— Relaxa. Eu adoro esse apelido. — Explicou o Dick Vigarista. — Só fico surpreso de alguém da sua geração se lembrar de um velho piloto de corrida trapaceiro como eu era em minha juventude. 

— Meu pai adorava as Corridas Malucas. — Comentou Florzinha e depois sussurrou perto dele. — E ele te odiava demais. 

Dick Vigarista apenas riu e voltou ao seu assento. 

Por fim, veio cumprimentá-la, uma mulher de cabelos púrpuras, cuja franja cobria um dos olhos. Ela usava um vestido justo, todo preto, que combinava com seus brincos bem elegantes. 

— E você é a…? — perguntou Florzinha.

— Amanda Driscoll. Sou a diretora da PROVIDÊNCIA. 

Ao saber disso, a ruiva esbugalhou os olhos e sorriu genuinamente animada. 

— Oh Meus deus! Você é a chefe do Mutante Rex. É uma honra, senhora, de verdade! — Ela gritou sem se dar conta. 

— A honra é toda minha. — Disse Amanda sorrindo com a animação da garota.

— Seu trabalho com os EVOs é incrível! — Elogiou Florzinha

— Não chega aos pés do seu trabalho em Townsville. — Afirmou Amanda humildemente. 

— É uma honra, de verdade, conhecer cada um de vocês. Eu não esperava por isso hoje. — Declarou Florzinha.

— A honra é nossa! — Disse Argost. — Na verdade, nós estávamos muito ansiosos para conhecer vocês, as maiores heroínas deste mundo. 

Hardly colocou as mãos no ombro da garota e repetiu:

— Sim, elas são as maiores heroínas deste mundo. Venha, Florzinha, quero trocar umas ideias contigo. 

— Claro. — Ela concordou, apesar de ter estranhado um pouco o convite repentino. Ela se virou para os convidados da mesa e despediu-se. — Foi legal conhecer todos vocês. Eu irei ver vocês de novo? 

 — Pode apostar que sim, garota. — Afirmou a mulher enquanto sorria para ela. 

Inocente, Florzinha animou-se por conhecer pessoas tão importantes. De fato, foi uma grande surpresa que ela jamais esperaria. O que ela ainda não sabia é que mais surpresas lhe guardavam para o futuro envolvendo essas mesmas pessoas. 

Hardly guiou Florzinha até a sacada da mansão que é bem grande e podia-se ver as estrelas e as luzes da cidade à noite. Era uma vista linda e combinava perfeitamente com a ocasião. 

— O que foi o Sr. Hardly? — Perguntou a menina. — O que quer falar comigo? 

— Por favor, me chame Dick. — Pediu ele. 

— OK, Dick. 

Hardly aproveitou a ocasião para tragar um cigarro guardado em seu bolso. 

— Sabia que fui a primeira pessoa que seu pai ligou quando descobriu que sua mãe estava grávida?

— Sério? — Ela duvidou. 

— Sim. Eu lembro até do que eu estava fazendo. Eu tava levando meu carro no mecânico e tava com puta de um ressaca e minha cabeça estava explodindo. Ele naquela hora ele ligou para mim e gritou que nem desesperado como se estivesse assistindo a um jogo de futebol. “Dick, aconteceu! Aconteceu!” Meus ouvidos quase explodiram na hora. Achei que era sobre alguma invenção maluca dele, mas... era vocês. 

Florzinha deu um sincero sorriso ao ouvir essa história, percebendo que era algo que seu pai diria. 

— Isso é a cara dele. — Ela admitiu. 

— Vocês sempre foram a melhor invenção dele. Mesmo antes do elemento X e de tudo. Eu e o Utonium já fomos mais próximos. Na época da faculdade eu e ele eramos unha e carne. 

— O que separou vocês dois? — perguntou Florzinha. 

— Difícil dizer. Seu pai casou-se com sua mãe. Se tornou professor universitário assim como sua mãe. Aí vieram vocês e era só o que importava para ele. Enquanto eu, comecei a minha empresa, patenteei minhas ideias e ganhei milhões. Cada um seguiu com sua vida. Até que elas se cruzaram de novo. 

— Fala do Programa Prometheus? — Interrompeu ela. 

— Melhor não dizer esse nome em voz alta. — Avisou ele. 

— Desculpe. 

— Mas, sim. Nos encontramos lá. No entanto, ele e sua mãe saíram quando perceberam que as coisas não eram como eles imaginavam. E bem, logo depois, aconteceu aquilo. 

— Eu sei. — Florzinha sabia exatamente do que ele estava falando. 

— Perder vocês destruiu ele. Ele perdeu todo o brilho que ele tinha nos olhos. Ele ficou à beira da loucura. E bem, eu achei que investir nas pesquisas dele iriam ajudá-lo a achar algum propósito e… bem, aqui estamos. 

— Onde você quer chegar com essa história, Dick? — Indagou a ruiva. 

— O que quero dizer, Florzinha, é que isso tudo, é em parte minha culpa. Eu reneguei a minha responsabilidade com tudo isso, por anos. Mas, agora eu sinto que estou mudando. Eu passei a entender melhor o seu pai quando ele me ligou naquela vez. Família foi o que eu simplesmente fugia enquanto para ele era tudo. Eu não deveria ter abandonado seu pai, não deveria ter me afastado dele e de vocês. Eu só passei a entender que ele, sua mãe e vocês três eram a minha família quando eu passei entender o que é ser pai. 

Hardly completou apontando para a mesa onde lá se podia ver os meninos e as irmãs de Florzinha conversando e rindo inocentemente enquanto comiam na maior tranquilidade. Florzinha notou um sorriso de orgulho em seu rosto.

— Florzinha, eu sei que começamos muito mal. A culpa disso é minha, pois eu tenho genes difíceis, mas tudo que tenho feito foi pensando no que é melhor para vocês. Eu quero cuidar de vocês enquanto seu pai não pode. Eu sou quase um tio para vocês e quero exercer essa função a partir agora. Vocês três são tão minhas crianças quanto os meus garotos. 

Florzinha sorriu genuinamente ao ouvir isso. No fundo, de seu espírito, era tudo o que ela queria. Pareciam ser palavras genuínas e sinceras. Pareciam… 

— Florzinha. Independente do resultado daquela competição boba. Eu quero que vocês venham trabalhar para mim. — completou Hardly. 

— Não sei… 

— Eu sei que devem ter dito muitas bobagens sobre eu querer “substituir” vocês três pelos meus garotos. Não! Quem iria ser idiota de descartar as MENINAS SUPERPODEROSAS. Não, eu quero que os meus garotos sejam seus assistentes. Sejam uma extensão de vocês. Eles são jovens e poderosos, mas inexperientes. Eu quero que vocês orientem eles. 

— Orientar? Eu acho que não sou capaz de fazer isso ainda. — Ela afirmou duvidando de si mesma. 

— Sim, você pode, com a minha ajuda. — Ele afirmou. — Você é Florzinha. É a Greta Thunberg dos Super-Heróis. Pense em tudo que você e suas irmãs podem fazer para o bem do mundo se tivessem os meus recursos, e mais, recebendo salário JUSTO por isso. 

— Um salário? 

— 1 milhão por mês para cada uma, só para começar. Vocês recebem esse dinheiro apenas para fazer exatamente o que vocês fazem hoje. Claro, vão ter que dividir as missões com meus garotos, mas pense que isso poderia, na verdade, ser uma grande vantagem para vocês. Com os meus garotos fazendo metade das missões, vocês podem ter o dobro do tempo para vocês mesmas: Faculdade, viajar, namorar, só gastar os milhões na conta à toa, realizar seus sonhos pessoais, ou usar esse tempo para fazer ainda mais para o mundo, não importa. Vocês vão ter mais tempo para serem vocês mesmas sem se preocupar em ter que derrotar o próximo chimpanzé mutante que atacar essa cidade. 

— Não sei não… 

— Não é o bastante? Que tal assim: merchandising, produtos de beleza, camisetas, bonecas, tudo das meninas superpoderosas. Vocês recebem 50% de tudo. Isso não só vai alavancar a sua imagem, como vai render ainda mais para vocês e suas irmãs. Achou pouco? Que tal uma série de TV Live Action? Eu tenho uns contatos no canal The CW, sabia?. Um amigo meu, Bernie Bernstein, que é um showrunner, está DOIDO para fazer uma série de vocês. Já até contratou uma roteirista, ganhadora do Oscar a propósito, e ela escreveu um roteiro inteiro para um piloto com algumas ideias que eu mesmo sugeri. Se quiser, eu te mando uma cópia.

— Isso não me parece uma boa ideia, Dick. — Comentou Florzinha. 

— Tem razão. Série de TV? Onde estou com a cabeça? — Ele brincou estapeando a própria testa. — Vocês não ligam para isso. Eu sei exatamente o que vocês querem. 

Florzinha arregalou os olhos e ouviu com atenção o que Hardly iria promover a seguir. 

— Eu conheço os 4 maiores advogados deste país. Um telefonema meu e o seu pai, meu velho amigo Utonium, tá livre na segunda-feira. 

— Livre? 

— Isso. Solto. Vocês podem viver juntos como família e ele pode participar da vida de vocês de novo, como um homem livre. Claro, que talvez ele possa sair da cidade por um tempo, mas ainda assim, livre. 

— Você pode fazer isso? — Ela indagou com olhos enchendo de lágrimas. 

Hardly aproximou-se de Florzinha e colocou a mão em em seu queixo e levantou sua cabeça cabisbaixa para fazê-la olhar em seus olhos. 

— Garotinha, eu posso fazer tudo. Eu posso dar tudo o que vocês quiserem. Você só precisa vir até mim. Sabe… olhando mais de perto, você se parece muito com a sua mãe. Somos uma família, Florzinha Utonium. É hora de nos reunirmos para ser uma. 

Dito isso, Hardly retirou-se com sorriso confiante no rosto, pegou uma taça de vinho que um garçom passou servindo e retornou para conversar com outros desconhecidos. Enquanto isso, Florzinha ficou ali na varanda pensativa tentando processar tudo aquilo. 

Ela cerrou os punhos. 

Franziu as sobrancelhas de ódio. 

E gritou em seus pensamentos:

“ELE ACHA QUE SOU TÃO INGÊNUA ASSIM?!! Ele veio com esse discurso de “Família”, mas não consegue não soar como vendedor de carros usados. Se ele nos visse como família, para começo de conversa, nosso pai nem teria ido para prisão. Isso tudo foi só uma forma de nos comprar muito bem disfarçada para fazer eu e minhas irmãs trabalharmos para ele. Só que nada pode nos comprar. A nada a não ser…”

Florzinha sabia que havia recebido um acordo com o diabo. Mas, o sonho de ter seu pai em sua vida de novo estava falando alto. Ela aceitaria apenas por isso, porque amava seu pai, mas ela sabe que não deveria, pois a ruiva Utonium era esperta o bastante para saber que um acordo com o diabo sempre sai tudo pela culatra no final. 

Após refletir um pouco ao ar livre, ela se tocou de uma coisa: para fazer todo esse joguinho, ele deveria estar desesperado. Quando esse pensamento lhe veio na cabeça, ela enxugou as lágrimas e botou um sorriso sagaz no rosto. 

Decidida, ela disse para si mesma: 

— Hardly é o vilão dessa história. Vou derrotá-lo e salvar todo mundo desse cara.

[...]

Naquela mesma noite, algumas horas depois, quando o baile já estava perto de seu fim, o anfitrião, Dick Hardly fez um sinal batendo com a colher na sua taça cheia de vinho, o que chamou a atenção de todos os convidados. O Baile do Solstício de Townsville era uma tradição desde a sua fundação, sendo realizada para celebrar as passagens das estações e um agradecimento a Deus pela colheita e boa sorte. Parte dessa tradição implicava na escolha de um jovem casal, sempre um menino e uma menina, jovens e solteiros, para iniciar a primeira valsa da noite. Essa tradição simboliza o nascimento de uma nova era de amor e paz na cidade. 

— Senhoras e Senhores, eu, o anfitrião desta noite, Dick Hardly, tenho o prazer de anunciar o momento tão aguardado desta noite. Para iniciar a primeira valsa da noite, escolhemos os dois dos jovens mais reluzentes deste baile: O Senhor Durão da Geração Y e a Senhorita Florzinha das Meninas Superpoderosas. 

Aplausos, aplausos e aplausos por todo salão. 

Ao ser chamado, o garoto do terno e boné vermelhos levantou-se de sua cadeira e esticou a mão para a garota do vestido rosa, convidando-a com educação para a dança. Florzinha ficou receosa por um instante, ainda tentando aceitar o que havia acontecido. Não esperava ser selecionada por uma ocasião tão importante, ainda mais com aquele rapaz. No entanto, ele estava sendo educado. Ele fez o pedido com postura e educação, algo que não esperava dele. Ela aceitou e segurou a mão do rapaz. 

Quando os dois adolescentes foram até a longa pista de dança do baile, imediatamente uma rajada de luzes se voltaram para eles, assim como todos os olhares da festa. Câmeras e máquinas fotográficas foram apontadas e uma filmadora de um jornal local começou a registrar tudo. Florzinha sentiu na pele toda aquela atenção que surgiu em torno dela, pois ela sabia que Townsville inteira estava vendo aquele momento. Nervosa? Não, ela não estava nervosa, nem se sentia pressionada. Seu tempo como heroína a ensinou a lidar com isso em situações muito piores do que atenção midiática. Todavia, ela não podia falhar agora. Este era um momento decisivo onde ela poderia enfiar entender seu inimigo e demonstrar sua força perante a ele. Para o resto das pessoas na festa, este era um momento adorável, mas para ela era um momento decisivo onde ela poderia ler essa figura tão misteriosa que este tal Durão usando os seus poderes de observação e análise, algo que veio não do Elemento X, mas de sua mãe e pai.

(Trilha Sonora: The Blue Danube” de Johann Strauss II )

Uma orquestra com vários músicos profissionais e um maestro, ambos contratados para o baile, começou a preparação para tocar uma melodia, que para a ocasião, foi escolhida a música “The Blue Danube” de Johann Strauss II. Pouco antes dela se iniciar, os dois jovens entrelaçaram os dedos de uma mão e o rapaz colocou a mão pouco acima da cintura de Florzinha. Ela ficou um tanto desconfortável no início, pois esta era primeira vez que dançava com rapaz, mas logo passou. Ela manteve compostura e bom comportamento em todos os momentos. 

Os instrumentos começaram a tocar e a valsa da noite deu-se início. 

Os dois rivais ficaram frente a frente, encarando-se, estudando mutualmente com seus pensamentos secretos enquanto disfarçavam sua disputa com os movimentos da dança. Florzinha passou a noite tentando entender esses garotos, tentando deduzir quem eles eram realmente por trás de toda aquela pose falsa de heroísmo que Dick Hardly vendia. Os outros dois garotos eram fáceis: O azul era imaturo e desatento, enquanto o verde, era um valentão e um malandro. Apesar de não serem características louváveis, pareciam sinceras e genuínas. Pareciam mais que eles tinham dificuldade em lidar com a narrativa de “bons moços” que Hardly havia criado. Contudo, o de vermelho ainda era o mais difícil de Florzinha analisar. Visualmente, ele era um rapaz bonito, alto e bem-vestido. No jantar, ele foi educado, gentil e até divertido, mostrando até um pouco de humanidade. Contudo, ela não sabia dizer se era farsa ou fingimento. Ela queria acreditar que não era, mas nada lhe tirava da cabeça aquele olhar que havia visto antes, quando ambos lutaram naquele dia. Aquele olhar era de puro ódio, era o olhar de um assassino. Mesmo depois de dois anos de experiência como heroína e dos vários malucos e bandidos que ela enfrentou, só havia um vilão que tinha esse mesmo olhar que era o Macaco Louco. Da última vez, ela demorou para ver os sinais e isso as levou ao evento X e por essa razão, ela não poderia errar de novo. Ela não podia baixar a guarda ou deixar-se enganar por ele. Florzinha Utonium tinha que ter certeza! Seria Durão outra vítima da manipulação argilosa do Hardly? Ou, ele estava no jogo dele? Ela precisava saber. Enquanto dançavam, a ruiva pode analisar outro olhar dele, que era totalmente diferente de antes. Ele deixava escapar uma expressão indiferente e desanimada. Como se não ligasse para nada daquilo. Na verdade, era como se não ligasse para nada, nem mesmo a própria vida. Era um olhar de alguém magoado ou que estava sofrendo. 

"Qual seria o passado desse garoto? O que o tornou isso?"

Quanto mais ela o estudava, mais difícil era entendê-lo. 

Conforme a música foi avançando, outros convidados foram, em pares, se juntar com Durão e Florzinha na pista de dança. De repente, eram mais de vinte pares na pista dançando ritmicamente sincronizados com os dois jovens, seguinte cada um de seus movimentos. A música foi mudando de ritmo e os passos também, o que fez os olhares curiosos dos convidados se ficarem ainda mais grudados nos que dançavam no centro do salão. Em uma suave transição de movimento, a garota dos cabelos ruivos girou de forma tão graciosa que os convidados juraram ver em câmera lenta, o seu belo vestido rosa balançava esvoaçante, voava atrás dela, como em uma cena de filme. Seguindo o ritmo, Durão a puxou de volta em seus braços e aproveitou um momento em que sua boca aproximou-se dos ouvidos da menina e sussurrou uma frase que a deixou imediatamente confusa:

— Você não vai aceitar a proposta do Hardly, não é? 

Balançando outra vez durante a dança, dois retornaram à posição de frente para o outro e Florzinha pode ver uma nova expressão no rosto do garoto. Uma expressão de sorriso malicioso e de olhar cínico, como se Durão zombasse dela em seus pensamentos. Ela ficou confusa por um longo instante, mas logo retribuiu com outro meio-sorriso. 

— Essa possibilidade nem passou pela minha cabeça. — Florzinha respondeu confiante. 

— Que bom. Você não seria a garota esperta que dizem que é se aceitasse. Na verdade, seria muito idiota se topasse. — Ele elogiou, mas sem fazer parecer que era um elogio. 

— Seria, sim, mas você parece feliz com isso. Ora, ele não é o seu chefe? — Ela o questionou. — Não deveria ajudá-lo? 

— Eu não trabalho para o Hardly. Eu não trabalho para ninguém além de mim mesmo.

— Não é o que parece. 

Ao ouvir isso, Durão riu e mostrou sua superioridade.

— Você é tão patética, tão ingênua! — Ele debochou. — Você acha que está no controle de alguma forma, mas não está. Não consegue ver que tudo isso tudo é um jogo.

— Acha mesmo que eu não sei disso? — Ela retrucou. — Que essa festa é pura propaganda e publicidade disfarçada? Acha que eu não percebi que ele escolheu e eu e você para dança idiota só para parecermos um “casalzinho” para a internet e os jornais e revistas? Ele acabou de usar meu pai para me fazer se juntar a ele. Eu sei muito bem que tudo isso é jogo. 

— Princesinha, eu não falo só da festa. Eu falo de tudo! Eu, você, nossos irmãos, seus pais, o elemento X, todos somos peões de um jogo muito maior. Um jogo do qual, Hardly nos colocou. 

— Você parece não gostar muito do seu chefe. O que foi? O Hardly não alimenta os seus cachorrinhos decentemente? — Zombou Florzinha

Durão ficou sério, pois se sentiu ofendido com a declaração da ruiva e segurou sua mão esquerda com mais força enquanto olhava bem profundamente nos olhos. 

(Trilha Sonora: Throw It All Away - Sonic Adventure 2 )

— EU… NÃO… SOU… CACHORRINHO DO HARDLY! — Durão sussurrou raivosamente para ela. — Você não sabe nada sobre mim ou sobre quem eu sou, mas aposto que está desesperada para saber. Acha que não notei você me analisando, estudando a mim e meus irmãos? Aposto que quer saber se eu estou do “lado do bem” ou do “lado do mal”. Saiba que não acredito em heróis e vilões.

— Então, por que você está nessa? Por que tá trabalhando para o Hardly, se passando por um herói se nem mesmo acredita? 

— Nós temos nossa própria missão. Esse trabalho de herói é apenas… uma parte do plano. — Ele disse com convicção. 

— Tanto poder, não acha que poderia fazer melhor? Se tornar um herói de verdade? — Argumentou ela.

— Herói? Como você, Rosinha? — Ele zombou. — O que você fez de tão impressionante? Salvou a cidade de macaco verde, derrotou uma gangue de homens verdes… salvou gatinhos verdes de árvores? O que mudou no mundo realmente desde que vestiu aquela roupa ridícula? Nada! Nada do que você faz realmente importa. O mundo continua a mesma merda. O mal de verdade está por aí, bem na sua frente, e você não faz nada. Não consegue nem sujar suas mãozinhas delicadas. 

— Está enganado. Ser herói é mais do que isso. É ajudar as pessoas, inspirar as pessoas e mostrar que existe um caminho melhor. Não somos deuses para escolher quem vive e quem morre. — Florzinha defendeu-se. 

Durão sorriu sarcasticamente. 

— Não somos deuses, mas também somos mais do que humanos. O mundo é de quem tem o poder, essa é a verdade. Eles são quem tomam as decisões, por isso, não existe e nunca existirá um caminho melhor. Existe apenas o caminho que nos foi dado desde que nascemos e é isso. Você caiu nesse pelo seu pai e eu cai nesse pelo meu. Esse é todo nosso propósito. Já o mundo, ele não vai melhorar, a não ser que você use o poder que tem e jogue sujo igual a todos os que o apodrecem fazem. É sempre fogo contra fogo. 

A ruiva ficou enfurecida ao ouvir esse discurso e não exitou em mostrar seu ponto.

— Você está totalmente errado. Talvez, eu não veja todo o jogo, como você diz. Talvez, exista mesmo um mal que não consiga ver, mas dizer olhando nos olhos da minha cara que eu entrei nesse caminho por que meu pai me colocou nele? E aí que você se engana, Zé Boné! EU ESCOLHI SER uma heroína. Eu posso até não ter escolhido ter esses poderes, mas eu escolhi como usar eles. É parte de quem eu sou e de quem escolhi ser. — Ela respondeu e começou também a sorrir sarcasticamente. — Mas, e você? Parece que sem essa pose de machão, não é muita coisa. Deixou todo mundo definir quem você é e agora não consegue ser nada além do que você acha que é uma pessoa forte. Isso não esconde suas fraquezas. Só nessa dança, você pisou no meu pé quatro vezes, sabia? 

Durão ficou desgostoso ao ouvir isso, mas persistiu com seu sorriso sarcástico.

Finalizando a valsa, Florzinha e Durão fizeram seu último movimento que foi aplaudido em sequência pela plateia ao redor deles. Eles se curvaram e fizeram reverência a todos os convidados. Com aquela situação encerrada, Durão foi novamente aos ouvidos e Florzinha e sussurrou bem calmamente em seus ouvidos:

— Você quer saber quem eu sou? Você vai ver. Muito em breve, você vai ver. 

Ele tentou sair, mas Florzinha o segurou pelo braço e olhou valentemente em seus olhos vermelhos. 

— Eu não sei o que Hardly e você estão tramando. Só sei que eu vou deter vocês. 

— Tenta. — Ele desafiou enquanto acendia uma luz vermelha e ardente dos seus olhos e fez o mesmo olhar que Florzinha havia visto antes, quando os dois lutaram naquele dia. Aqueles olhos de demônio refletiam o fogo do próprio inferno. Apesar da ruiva jamais abaixar a cabeça para o medo, ela sentiu o medo fluir pela espinha. — Saiba, Rosinha, que flores queimam fácil no fogo? 

Durão retirou-se e voltou para o seu canto ainda olhando para trás com aqueles olhos de fogo. Ela ficou hiperventilada e quase deixou-se dominar pelo desespero, mas manteve-se firme. Respirou bem fundo e se recompôs. Florzinha cerrou os punhos e bateu o pé no chão bem forte, a ponto de uma pequena lasca surgir bem ali. Ela fez a cara mais séria e furiosa que já tinha feito na vida e andou rápido em direção à mesa em que Dick Hardly estava. 

No caminho, ela passou por suas irmãs Lindinha e Docinho que vieram lhe parabenizar pela ótima dança. 

— Maninha, você arrasou! — Disse a loira. 

— É, você mandou bem, Flor. — Elogiou a morena. 

— Obrigada, gente. — Agradeceu ela, mas sem desfazer sua expressão seria e sem desviar do seu caminho até Dick Hardly.  

Notando o olhar nervoso da irmã, Lindinha e Docinho a seguiram para ver onde isso iria dar. 

Quando a líder das Meninas Superpoderosas ficou frente-a-frente com o bilionário Dick Hardly, ela o encarou com aquela mesma cara nervosa que ele imediatamente estranhou. 

— O que foi, Florzinha? Já tomou uma decisão sobre a minha proposta? 

— Eu nem precisei, na verdade. Pode pegar a sua proposta e enfiar bem, no fundo do seu rabo! — Ela soltou ferozmente desafiando o homem. 

— Florzinha! — Gritou Lindinha surpresa com a grosseria de sua irmã. 

— É isso aí garota! — Docinho gritou enquanto sentia orgulho de sua irmã. — ISSO AI! BEM NO FUNDO DO SEU CU, HARDLY.

Hardly desfez o cara de benevolente e a encarou de volta seriamente. 

— Vocês tem certeza, que é isso que vocês querem? Depois disso, não terá mais volta. 

Florzinha franziu as sobrancelhas e soltou seu discurso desafiante. 

— Somos as Meninas Superpoderosas. Não nos vendemos por nada, nem por ninguém! Eu não sei o que você quer Hardly, mas nós vamos impedir você e sua gangue de meninos desordeiros.

Hardly levantou-se e ajeitou seu paletó e esnobou a ameaça das garotas com sua autoconfiança.  

— Pois bem. É isso que vocês querem, é o que vocês terão. Não me querem como um amigo? Então, serei seu pior inimigo. Apenas digo a vocês meninas… que espero que até o final dessa batalha, vocês ainda sejam relevantes. 

 


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Notas finais do capítulo

[ Dicionário de referências, easter-eggs e curiosidades ]

1_ As pessoas que Hardly apresenta a Florzinha são todos membros da chamada TÁVOLA. Um grupo secreto formado por vilões que agem pelos bastidores desse universo. Os que são apresentados são:

A - Benedict Wigglestein também conhecido como PAI, é o inimigo da KND e foi reimaginado nesse universo como o líder de facção terrorista secreta chamada A MATURIDADE.

B - General Julius Steel é o antagonista secundário da série Titã Simbiônico, sendo um militar obcecado em caçar o Titã.

C - Argost, inimigo dos Sábado Secretos que possui um programa de TV famoso focado em mistérios e criaturas lendárias.

D - Dick Vigarista, o famoso vilão da Hannah-Barbera que aqui foi reimaginado como ex-piloto de corrida que agora é dono de uma empresa de carros. Obs: As Corridas Malucas são um campeonato esportivo que existe nesse universo.

E - Amanda Driscoll que é o alterego da Amazona Negra, vilã de Mutante Rex que nesse universo é quem gerencia a Providência.

F - Para saber mais sobre a TÁVOLA, leia CN BEYOND Files: A távola.

2_ A providência foi criada depois do evento X da primeira história. Originalmente era pra lidar com ameaças biológicas incomuns, mas focou nos EVOs quando estes passaram a ser comuns.

3_ Florzinha não sabe que eles são vilões. Na verdade, poucos sabem quem eles são.

4_ O Programa Prometheus foi um programa secreto do governo que estudava todo o exótico e paranormal e tentava aplicar ao setor bélico. Se quiser saber mais, leia CN BEYOND FILES: PROGRAMA PROMETHEUS.

5_ Dick oferece a Florzinha uma ideia para uma série Live Action das Meninas Superpoderosas pela CW. Uma referência à séria que realmente iria ter das personagens, mas que graças a DEUS foi cancelada. Outra referência foi Bernie Bernstein que é um personagem do desenho (Flim flam, S4 Episódio 1) que era um diretor de cinema que queria fazer um filme das Meninas Superpoderosas, mas era só uma artimanha para roubar o banco.

6_ A música tocada durante a valsa é "Thr Blue Danube de Johan Strauss. Não coincidentemente também é da trilha Sonora de 2001: Uma Odisséia no Espaço. A trilha tb já foi referenciada na primeira história e agora nessa.



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