Roderick e seus doze irmãos escrita por Wi Fi


Capítulo 9
Os filhos da Maisie


Notas iniciais do capítulo

Oie!
Capítulo sendo postado na 5a porque essa semaninha foi puxada. Como vcs estão?
Hoje conhecemos finalmente os bastardos do conde Ewan. Tenho alguns easter eggs espalhados pelo capítulo, fiquem atentos e me digam se suspeitam de algum!



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Roderick tinha acabado de passar alguns meses viajando pelas ilhas do extremo norte do condado. Tinha se tornado um hábil marinheiro, passado por intensas tempestades e marés difíceis – até suas pernas haviam se habituado a estarem em alto mar.

Ele amava os navios. Nunca se sentira tão livre quanto quando estava na proa com o vento a soprar em seu rosto. Sentia que o mundo estava em suas mãos, e podia fazer tudo que quisesse. Fizera excelentes amigos em suas viagens, e ganhara gosto pela cerveja barata e pelas mulheres mornas – ou era o contrário? A comida a bordo era nojenta, mas isso se tornava tolerável quando o rapaz estava tão entretido com todo o resto.

Saye não podia ter uma marinha própria, já que eram parte do reino de Breator. Se quisessem armar homens para um exército marinho, tinham que ir se alistar na marinha breatoriana. Mesmo assim, o conde Ewan decidira fundar a Academia Marítima de Saye, que agora regia com a ajuda de seu filho. Roderick sentia finalmente que havia encontrado seu propósito de vida ali, no mar e na imundice.

Voltava a pôr os pés no porto de Gayern com um misto de tristeza e saudades prematuras. Estava feliz por estar de volta ao lar, com a parcela da família que vinha visitar naquela temporada de verão, mas já sentia saudades da vida em alto mar, em que não se preocupava com o julgamento de ninguém, pois todos no navio eram piores do que ele.

Pulou do navio para o cais em meio a assovios e gritos de seus companheiros. Tentara convencer Logan Clery a se juntar à Academia, mas o pobre coitado passava tão mal com o movimento do navio que ficava verde.

Era o próprio Logan que estava ali para recebê-lo, junto das irmãs de Roderick, ambas com os ventres inchados da gravidez.

Fionna havia se casado de novo, desta vez com um homem muito mais agradável que seu primeiro marido, e já estava grávida de sete meses, com a barriga enorme impossível de não reparar.

Infelizmente, o casamento de Griselda com Jamie Sullivan continuava firme e forte, e o seu bebê era dele. Estava com o filho na barriga já fazia quatro meses.

A barriga pronunciada de Logan, entretanto, era de cerveja, e devia ter no mínimo dois anos.

— Ei, Donne! – acenou o lorde Clery ao ver o amigo – Olha só as leitoas gordas que te trouxe!

Prontamente levou um tapa das duas mulheres ao seu lado, embora Griselda tivesse rido da brincadeira. Roderick se aproximou a correr, e deu um abraço no amigo, seguido de dois tapas nas costas.

— Olha que ainda posso te mandar decapitar por essa piada – Fionna advertiu rispidamente.

— Ah, eu não uso muito a minha cabeça de cima de qualquer jeito…

Ela revirou os olhos.

— Acho que o porco aqui és tu— disse. Seu desgosto por Logan era antigo - Estamos aqui à tua espera há horas, Roderick, na companhia deste troglodita.

— Como irei de recompensar o vosso martírio? – respondeu Roderick ironicamente, dando um beijo na testa de cada irmã – Que novidades me contam?

Tinha ficado sabendo das gravidezes de suas irmãs através de cartas, mas ficara espantado ao vê-las daquela maneira. Estava ansioso por conhecer seus primeiros sobrinhos.

O grupo tentava atravessar o cais movimentado. Eram acompanhados por uma dezena de guardas do castelo, que abriam passagem por eles, especialmente por causa da presença das duas senhoras.

Griselda contou todos os preparativos que estava fazendo para a chegada de seu bebê. Torcia para que fosse uma menina, porque queria que ela usasse todas as roupinhas que ela mesma tinha usado quando era criança, que tinham sido cuidadosamente guardadas por Elinor. Começou a listar nomes que pensava em dar para a menina. Elizabeth, Constance, Madeline…

— Nomes terrivelmente breatorianos – observou Roderick.

— São os nomes das tias do Jamie – explicou ela, calmamente – São tão bonitos…

Os outros três bufaram em uníssono, mas Griselda não pareceu notar.

Fionna por sua vez contou o que andava a acontecer pelo condado. Os lordes das terras fronteiriças estavam muito felizes com a união de Jamie e Griselda, e desde o casamento eles tinham recebido dúzias e dúzias de potes de geleias e compotas no castelo, como demonstração de gratidão.

— Mas que merda, justo quando eu vou embora nós ganhamos doces dos senhores das fronteiras? – reclamou Roderick.

— Não digas palavrões! – repreendeu Griselda, colocando as mãos uma de cada lado do ventre.

— Sabes que o teu bebê não consegue me ouvir, certo?

— Claro que consegue. O bebê e a mãe estão mais conectados do que imaginas, é o que a Farrah me disse. Sabias que se a mãe beber demasiado vinho durante a gravidez, a criança nasce com retardo?

— Bem, isso explica o Logan – resmungou Fionna, mas o Clery riu da provocação.

Além disso, Fionna contou que o povo das ilhas ocidentais tinha tido alguma disputa menor uns com os outros, mas que tudo se acabara sem que o rei precisasse mandar alguém para resolver. Além disso, no mês passado tinham ouvido que uma peste atingira algumas crianças do reino distante de Daire. Felizmente nenhum dos filhos do rei dairense havia morrido. Inclusive, seus filhos mais velhos acabavam de celebrar seu aniversário.

— É sempre bom saber quem ainda está vivo lá no Sul – comentou Fionna – Nunca se sabe quando vamos precisar de ajuda, e parece que todo ano eles têm uma nova praga.

— É o calor. O calor faz as pestes se proliferarem, uma velha bruxa uma vez me disse que era por isso que nós do Norte nunca ficávamos doentes – Logan explicou – Claro que depois que ela morreu de peste eu passei a duvidar um pouco disso…

Chegaram sem grandes dificuldades à estrada, onde uma carruagem real os aguardava. Entretanto, para sua surpresa, quatro crianças malvestidas estavam discutindo com o cocheiro. Um dos guardas que acompanhava o quarteto até então se aproximou para ver o que se passava, mas todos conseguiram ouvir o que o cocheiro disse.

— Estes quatro pedintes aqui querem me enganar! Dizem que são parte da família real e que precisam urgentemente falar com o conde.

Eram dois meninos e duas meninas. Todos tinham cabelos loiro-claro. O menino mais velho do grupo tinha cabelo tão claro que era quase branco, e era quase tão alto quanto Roderick. Parecia ter quatorze anos, e os outros três não eram muito mais novos.

Vestiam roupas fora de moda, que ficavam muito largas neles, e que estavam surradas em algumas partes. Os sapatos estavam sujos da lama do cais, e eles eram magricelas.

O rapaz mais velho e a mais nova das meninas tinham olhos negros muito familiares. Aquilo disparou um alerta na cabeça de Roderick.

— É verdade, meus senhores! Somos os filhos de Maisie Milligan – disse o rapaz mais velho – Não temos para onde ir, e precisamos de ajuda de nosso pai, o conde!

Roderick fez uma careta, já imaginando que era aquilo mesmo que iria dizer. Griselda arfou, sobressaltada, e murmurou baixinho:

Puta merda

Logan ergueu uma sobrancelha.

— Maisie Milligan não era aquela…

— A própria – interrompeu Roderick.

Fionna foi a única a tomar alguma atitude. Ela se aproximou do quarteto, e disse:

— Conall, Abigail, Kenna e Alister, estou certa?

As quatro cabecinhas assustadas assentiram. Fionna sorriu-lhes.

— Cabemos seis na carruagem. Griselda, venha conosco. Vamos todos falar com o pai.

— Oh, vocês são nossos irmãos? – perguntou o menino mais novo.

— Nós três somos – ela apontou para Griselda e Roderick – Deus me livre ser irmã daquele outro. Entrem, devem estar com frio.

Sem mais perguntas, os quatro entraram. Fionna logo os seguiu, e Griselda entrou por último, fechando a porta.

— E nós? – Roderick questionou, antes que partissem.

— Se virem! – foi a resposta de Fionna, que em seguida ordenou que o cocheiro partisse.

A carruagem se afastou, deixando Roderick e Logan olhando um para a cara do outro.

— Acho que vamos ser obrigados a passar a noite numa estalagem da vila! – Logan exclamou – Oh, que destino horrível…

— Não, eu preciso acompanhar isto. Vamos é arranjar cavalos.

Os irmãos todos foram se reunir na sala pessoal do conde. Três dos bastardos ainda tinham olhares aterrorizados, enquanto Conall se encarregava de conduzir a conversa. Não era de se espantar – com o Conde, Roderick, Fionna e Griselda fazendo um semicírculo ao redor deles, parecia que estavam em um julgamento, aguardando uma sentença.

— Nossa mãe sempre tomou conta de nós, senhor. Mas alguns anos atrás ela adoeceu gravemente, e morreu no ano seguinte – explicava Conall – Depois disso, um amigo dela, Tio Gus, que gostava muito de nós, se ofereceu para nos adotar e ser nosso protetor. E foi isso que ele fez, até que três meses atrás, ele também faleceu. Os filhos de verdade do Tio Gus nunca nos quiseram por perto, e nos expulsaram de sua casa. De forma que agora não temos para onde ir, senão aqui, pedir-lhe abrigo.

Roderick estava um pouco enojado e chocado. Aquelas quatro crianças eram seus irmãos, mas pareciam estar ali como plebeus quaisquer pedindo um favor. Ele se lembrava deles. Se não estava enganado, Conall tinha na verdade dezesseis anos.

— Eu posso vos abrigar – o conde Ewan disse, quando o bastardo parou de falar – Até que te tornes adulto, isto é. Então, deves arranjar uma ocupação, que possa sustentar a ti e teus irmãos.

Fionna, que estava sentada ao lado do pai, virou o rosto, visivelmente irritada. Seu olhar cruzou-se brevemente com o de Roderick, e ele podia praticamente ler o que ela pensava. “Isto é um monte de merda”. Mas não ousaram contradizer o pai, especialmente não num momento delicado daqueles.

— É claro meu senhor – Conall assentiu – Muito obrigado por sua generosidade.

Fionna bufou, incrédula. Dessa vez, não passou despercebida.

— Algo de errado, filha? – perguntou o conde.

— Preciso me aliviar. Sabes como é a gravidez – mentiu ela, segurando a barriga – Com licença.

Ela furiosamente marchou para fora da sala. Griselda acompanhou-a com o olhar, como se quisesse segui-la, mas desistiu. Então encarou Roderick, confusa.

— Temos quartos de sobra – Roderick garantiu, vendo que seu pai não tinha nada a acrescentar – Posso ajudá-los a se acomodarem.

— Oh não te preocupes, Roderick. Tens mais o que fazer na Academia Marítima, os empregados e as tuas irmãs cuidam deles – interrompeu conde Ewan.

— Pai, as meninas não estão em condições de se esforçarem. Não tenciono voltar aos navios esta semana, tenho tempo de sobra para cuidar dos meus irmãos.

O conde Ewan fez uma careta, claramente desagradado com a ênfase que Roderick colocara em suas últimas palavras.

Os bastardos tinham perdido a pouca bagagem que haviam conseguido trazer na viagem, então Roderick, antes de alocá-los em seus respectivos quartos, tratou de vasculhar os enormes baús onde guardavam suas antigas roupas.

Lady Elinor que tinha criado este hábito. Sabia que as crianças cresciam rápido, e nunca se desfazia das roupas que não cabiam porque “nunca se sabe quando a próxima criança vai aparecer”. Ela não fazia ideia de quão certa estava naquele momento.

No baú com a inicial “R”, Roderick encontrou suas próprias roupas. Tirando-as de lá, viu que as de quando era criança cabiam bem em Alister, mas como ele ficara demasiado alto na adolescência, estas ficariam largas demais em Conall. Teve então que partir para o baú de Finley, e lá encontrou trajes que servissem.

Roderick deixou que as meninas procurassem suas roupas sozinhas, para não as envergonhar. As duas eram muito próximas em tamanho, e felizmente, também eram fisicamente parecidas com Blair quando tinha aquela idade, de modo que não tiveram dificuldade em encontrar vestidos que lhes servissem.

— Isto é só temporário – Roderick assegurou – Griselda não vai para lugar nenhum sem suas costureiras. Pediremos que elas lhes façam roupas novas e vocês estarão de guarda-roupa completo em algumas semanas.

— Muito obrigado, senhor… - Conall agradeceu, e logo Rod percebeu que ele não se lembrava de seu nome.

— É Roderick. E nada de senhor, só Roderick, não sou assim tão velho.

— Desculpas.

— Estou a brincar contigo, miúdo – Rod deu-lhe um aperto no ombro – Estás em casa.

Em seguida, os levou para os quartos vazios do castelo. Agora que Fionna e Griselda estavam de visita, e muitos dos outros quartos estavam fechados havia meses, eles teriam que dividir dois quartos entre os quatro, mas depois, cada um teria o seu. Providenciaram camas para todos, e até o fim da tarde, estavam todos bem acomodados. Como estavam cansados, os bastardos pularam o jantar naquela noite, para que pudessem descansar.

— Bem, nos vemos amanhã então – Roderick se despediu – Logo de manhã posso vos mostrar os terrenos do castelo.

— Obrigado de novo, Roderick – agradeceu Conall.

— Boa noite! – disse Kenna, com uma vozinha doce, que ele até então não tinha escutado.

Roderick encontrou-se com Fionna e Griselda no jantar. O conde Ewan alegava estar indisposto. Como ele chegou atrasado por ter ficado a cuidar dos bastardos, as duas já estavam no segundo prato de comida. Roderick não perdeu tempo para acompanhá-las, e deliciou-se com sua porção de peixe cozido com batatas.

— Eu não acredito no pai – disse Fionna – Viste como ele falou com Conall? Como se estivesse a fazer-lhe um favor?

— Eu vi – Roderick respondeu, sentando-se na mesa com cansaço e esfregando os olhos – Foi cruel.

— Pobrezinhos – suspirou Griselda, entre uma garfada e outra – A Maisie não era flor que se cheirasse, mas é preciso dois para fazer um bebê.

— Exatamente! – exclamou Fionna – Como é que o pai pode agir como se ele não tivesse nada a ver com o assunto?

— Ele tem vergonha do caso com a Maisie – Roderick constatou – Quer dizer, quem não teria? Foi ridículo, fomos alvo de piada.

— A cortesã da cona de ouro, é o que lhe chamavam – Fionna resmungou.

Griselda, escandalizada, repetiu o gesto de tapar a barriga com as mãos.

Fionna!

Cona não é palavrão!

— Eu completamente apaguei estes anos da minha memória. Os cinco anos seguintes à morte da mãe são um borrão para mim – Roderick admitiu, alheio à discussão das duas – Só tive noção do que o pai tinha feito muito tempo depois.

— Eu até hoje não me lembro bem do que foi aquela época. A Maisie apareceu um ano depois da mamãe morrer, eu não entendo como o papai… como ele conseguiu— balbuciou Griselda.

— Oh, Griselda, já devias ter aprendido que para os homens qualquer hora é hora…

— É verdade. Eles se animam por qualquer coisa.

— Ei! – protestou Roderick, em meio a uma mastigada.

— Ah, desculpa Rod, eu esqueço que és homem também – Griselda respondeu, limpando a boca calmamente com seu guardanapo.

— Isso não ajuda…

— Eu entendo o pai ter vergonha de tudo que envolva a Maisie – Fionna continuou, sem ouvir as brincadeiras – Mas eu não acho justo ele deixar isso afetar as crianças.

— Que nem são mais crianças – Roderick observou.

— Pois é. Eles devem ter crescido jogados de um lado para o outro, com aquela maluca como mãe, sem nenhum pingo de estabilidade. E agora o pai diz-lhes que vai bancá-los por dois anos até o Conall ser adulto? Por amor de Deus. O pai tem que assumir sua responsabilidade na existência deles.

— O pai não estava certo das ideias quando eles nasceram – Roderick disse – Ele sumia por semanas, naquelas viagens dele para o campo.

— É porque a Maisie ficava no campo quando estava grávida, para esconder a barriga – Fionna explicou pacientemente.

— Era isso? – Griselda perguntou, incrédula.

— Era. E depois ele voltava, sempre enlouquecido de raiva, e bebia por dias. Não falava conosco, mal falava com os conselheiros. Quando falava, era para gritar, e zangava-se por qualquer motivo…

Fionna emudeceu por alguns instantes. Roderick não tinha ideia do tipo de coisas que Logan havia lhe dito naqueles anos instáveis. Ele mesmo só se lembrava de pegar o pai falando sozinho pelos corredores, chamando Elinor.

— Ele precisa legitimá-los – foi Griselda quem finalmente disse o que todos estavam pensando.

Foi Roderick, entretanto, que cruzou com o pai primeiro. Ele havia se esgueirado para os jardins depois do jantar, para aproveitar a noite quente de verão enquanto podia. Levou consigo seu cachimbo – outro dos hábitos que aprendera com os marinheiros – e deu de cara com o pai, sentado na mesa do pátio, encarando o bosque.

— Boa noite – disse Roderick, apreensivo.

Não sabia se deveria esconder o cachimbo ou não. Seu pai lhe olhou de relance, resmungou qualquer coisa, mas se reprovava o hábito plebeu do filho não disse nada. Roderick sentou-se ao seu lado.

— Por essa eu não esperava – continuou o rapaz – Os filhos da Maisie… eu não achei que os ia voltar a ver.

 - Eu havia cuidado para que não voltássemos. Deus sabe o rombo que Maisie deixou nas nossas finanças, só para que não voltasse a nos chatear com suas exigências – disse o conde Ewan, olhos fixos na escuridão – Pelo menos o menino não parece ter herdado o mau feitio da mãe.

— O Conall? É, parece um bom rapaz. E cuida dos mais novos como um adulto, isso é o mais louvável.

O conde não disse nada em resposta. Roderick se lembrava de ouvir as pessoas dizerem que Finley era a imagem idêntica de Ewan quando era mais novo, enquanto Roderick lembrava muito mais seu avô materno, o pai de Elinor que ele mal conhecera. Mas às vezes, ao ver o pai calado, de perfil, achava-se estranhamente parecido com ele.

— Pai, eu e as meninas estivemos a conversar – Roderick continuou lentamente após um trago – Sobre os filhos da Maisie. E nós… nós não achamos que o senhor agiu de maneira justa com eles.

Ewan chiou com desdém, e voltou-se finalmente para o filho.

— Tramando pelas minhas costas, huh? – zombou o conde – Muito nobre da vossa parte.

— Escuta – insistiu seu filho – O senhor viu o estado em que chegaram. Estavam jogados à própria sorte, estiveram por anos. É inaceitável.

— Se Maisie não teve a responsabilidade de usar os tostões que eu tirei do meu bolso para cuidar da ninhada, isto não é problema meu.

Mas é problema seu. Eles são seus filhos tanto quanto eu sou.

O conde Ewan levantou-se e bateu um punho na mesa, sobressaltando Roderick. Seus olhos negros estavam ainda mais escuros na pouca luminosidade do jardim, dando-lhe uma aparência de um cão selvagem.

— Dar legitimidade àqueles bastardos implicaria dar à Maisie o mesmo estatuto que eu dei à vossa mãe, e à mãe de Fionna – rosnou conde – Eu prefiro morrer antes de humilhar Elinor de tal forma.

Roderick sentiu seu rosto formigar, como se tivesse sido estapeado. Não era o alvo da fúria de seu pai havia anos. Sentiu-se envergonhado por ter sugerido legitimar os irmãos, mesmo que no fundo soubesse que tinha razão. Mas não tinha a coragem de confrontar aquele argumento.

— Eles terão mais do que o suficiente ao morarem conosco no castelo. Mais do que merecem – Ewan retomou, passando a mão pelos cabelos e voltando a sentar – Conall, Abigail, Kenna e Alister foram erros, erros que eu cometi. Tu e tuas irmãs não têm direito de decidir como eu lido com meus erros.

O rapaz não disse mais nada em retorno. Acabou de fumar seu cachimbo em silêncio e deixou o pai sozinho novamente.

Alguns dias depois, com os bastardos já bem ajeitados no castelo, Conall veio ter com Roderick depois do desjejum. O rapaz mais velho estava no salão de convivência, onde tinham a grande lareira e para onde iam se retirar após as refeições. Estava a registar os últimos acontecimentos em seu caderno de viagens, que levava consigo sempre que ia para alto-mar. Conall chegara pé ante pé, e Roderick só o notou quando chamou seu nome.

— Ei, Roderick, posso te fazer uma pergunta?

— Acabaste de fazer – respondeu Rod, fechando o caderno e voltando-se para o irmão.

— Tá bem, posso fazer mais algumas, então? – refraseou Conall.

— Claro.

— É verdade que és pirata?

Roderick riu.

— Quem me dera, soa muito mais divertido. Não sou pirata, sou marinheiro

— Qual a diferença?

— Nós não atacamos e roubamos outros navios

— O que vocês fazem, então?

— Nós levamos mercadorias e pessoas importantes de um lado pelo outro do país – Roderick explicou - Cuidamos dos nossos portos também, e até já resgatamos um pescador que ficou preso numa rocha em alto-mar.

Conall assentiu, com os grandes olhos esbugalhados e cheios de curiosidade.

— Achas que eu conseguia me juntar à Academia?

Roderick sorriu e cruzou os braços.

— Achas que aguentavas? Não é só ficar a descansar num navio, temos muito trabalho braçal. Temos de remar, tratar das velas, ficar de olho no horizonte, limpar o deque, cuidar das cargas… é trabalhoso, mas cria casca.

— Eu sei, eu sei. Acho que vou gostar. Nunca estive em um navio antes.

— Gosto do teu otimismo, rapaz – brincou Roderick – Eu vou embora para Norstad em algumas semanas, mas até lá, por que não te juntas a mim nas minhas visitas ao porto pela manhã?


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Notas finais do capítulo

Excelente capítulo para os fãs de Logan Clery AHAHAHA
E aí, quais acham que são os easter eggs que coloquei aqui? Eu diria que são três, embora o primeiro não conte muito pq é bem simples.
Entramos na fase Roderick jovem adulto vivendo a vida adoidado hehe. Embora só tenhamos falado mais do Conall até agora, estão curiosos para conhecer o resto? A Abigail já apareceu também, mas a Kenna e o Alister ainda não.
Beijinhos e até semana q vem!



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