Roderick e seus doze irmãos escrita por Wi Fi


Capítulo 13
A maturidade é uma bênção


Notas iniciais do capítulo

Olá olá! E olá novos leitores que têm aparecido nas estatísticas da história haha
Este é um capítulo 2x1, onde vamos conhecer ao mesmo tempo Kenna e Alister. Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807361/chapter/13

o1578

Os outros irmãos Donne visitavam os bastardos com alguma frequência, e naquele dia especial – o aniversário de dezoito anos de Alister – tanto Roderick quanto Fionna estavam na capital, e foram almoçar com os quatro irmãos.

Reuniram-se todos na grande mesa onde faziam as refeições. Os três empregados comiam juntos deles, por insistência de Conall, o chefe da casa.

“Afinal, que moral bastardos têm para se colocar acima da criadagem comum?”

Nem mesmo a presença dos irmãos legítimos ali o fizera mudar aquela regra. Fionna desaprovava, mas Roderick admirava a conduta do rapaz.

Tinham trazido algumas garrafas do melhor vinho do castelo para comemorar, escondidos do pai. Antes de começarem a comer, todos encheram suas taças e se puseram de pé.

— Um brinde a Alister! – Conall anunciou, sentado na mesa de cabeceira – Que tenhas muito dinheiro, mas sabedoria para gastá-lo.

— Que tenhas amigos – Fionna continuou – Mas que eles não te levem a encrencas.

— Que tenhas aventuras – Roderick disse – Mas que não te custem a vida.

— Que tenhas uma vida longa – Abigail brindou – Mas que não seja entediante.

— Que tenhas terras e filhos – Kenna terminou – Mas que não sejam causadores de discórdia.

— Saúde! – todos disseram em uníssono, e beberam os seus copos de uma vez.

Era uma tradição sayena para os recém-adultos. Alister, agora rechonchudo e tímido depois de anos do conforto da nobreza, fez uma pequena reverência para os irmãos.

— Muito obrigado, todos vocês, por terem vindo aqui – ele disse, voltando a se sentar – Acho que não há melhor celebração na cidade.

— Oh, há sim. Ainda vamos à taberna esta tarde, vais ver o que é divertido – Conall riu – Não é, Roderick?

Roderick começava a se arrepender de ter convidado os dois rapazes a irem à taberna da Cabra Cega, onde ele também tinha passado boa parte de sua juventude. Ele tinha trinta anos agora, e já não tinha a mesma vontade de passar suas noites vadiando e bebendo, como antes. Mas os rapazes eram seus irmãos, e não tinham um pai que os ensinasse as diversões da vida adulta, então ele tomava aquela responsabilidade para si, mais relutantemente do que esperava.

— Não se divirtam demais. Não queremos canções indiscretas sobre a nossa família circulando pela cidade – Fionna disse, bebendo de sua taça.

—  Nenhuma festa boa acaba sem músicas indiscretas sendo compostas – Conall brincou, mas sob o olhar de advertência de sua irmã, prontamente se corrigiu – Mas é melhor tomarmos cuidados, tens razão.

Alister esfregou o próprio pescoço e tentou parecer descontraído, mas Roderick logo soube que ele estava desconfortável com a situação.

Não se ouvia muito falar de suas aventuras pela cidade. Baixinho e sem os mesmos cabelos claros que tanto chamavam a atenção na aparência dos outros bastardos, Alister passava quase despercebido. Conall, tendo entrado para a Academia Marítima, tinha seguido a mesma vida boêmia que Roderick tivera na mesma idade. A plebe no geral parecia gostar bastante dele. “O bastardo preferido”, era como o chamavam, já que era com ele quem o conde falava, na maior parte das vezes. Seu irmão ficava em suas sombras.

Às vezes, Roderick olhava para os dois, e quase conseguia ver ele e Finley, nos bons tempos, antes da traição.

— Bem, porque vocês não vão conosco, meninas? – Alister perguntou, voltando-se para as irmãs – F-Fionna, estendo o convite à ti, mas imagino que a taberna não seja teu ambiente preferido…

— Agradeço a simpatia, Alister, mas passo – respondeu Fionna.

— E nós duas temos coisas melhores a fazer – Kenna disse – Vamos passar a noite na casa de Lady Olive.

— Lady Olive? – Roderick perguntou – Aquela jovem viúva que vive na cidadela?

— É uma amiga nossa, muito querida aliás.

— Desde quando? – disse Conall.

— Desde alguns meses atrás – Kenna justificou – Nos encontramos na igreja.

— Vocês vão à igreja? – Roderick ergueu uma sobrancelha.

— Deixem-nas em paz, os três – Fionna repreendeu, revirando os olhos – Visitar uma amiga é com certeza muito mais benéfico do que passar um dia na taberna.

Quatro horas depois, os três homens entravam na taberna da Cabra Cega, o mais tradicional buraco de alcoolismo e indiscrições da capital sayena. O lugar havia mudado pouco desde a última vez que Roderick estivera lá, anos antes. As mesmas mesas perpetuamente sebosas, as lamparinas presas às paredes que iluminavam fracamente o local, e o cheiro de álcool e suor que tão bem conhecia.

As pessoas eram novas. Ou, quase todas. Logan Clery, seu velho amigo, ocupava uma das mesas – embora esta estivesse estranhamente vazia de copos e garrafas.

— Ei, Donnes! – exclamou ele – Mas que visão bonita, todos os três juntos!

 - Olá, Logan – Roderick respondeu, abraçando o amigo.

— E jovem Alister, seja bem-vindo à Cabra Cega, rapaz! Ah, as memórias que eu tenho neste lugar, há quanto tempo já não venho aqui – Logan largou de seu amigo para abraçar e dar tapinhas nas costas do aniversariante – Bom ver-te em terra firme também, Conall.

— É sempre um prazer – respondeu o rapaz.

O grupo sentou-se depois de todos os cumprimentos terem sido feitos, e prontamente pediram quatro canecas da melhor cerveja da casa – que não era assim grande coisa. Brindaram novamente à vida adulta de Alister.

Depois de alguns instantes de silêncio, Logan bufou, e encarou seu velho amigo.

— Roderick, eu não consigo ainda entender o que se passou com a tua cabeça – ele disse, puxando sua cerveja para mais perto.

— Do que estás a falar? Minha cabeça está normal.

— Não, não está, estás careca. Por que fazer isso contigo próprio?

Conall e Alister riram. A cabeça raspada do irmão se tornara motivo de piada e estranhamento entre toda a família, legítima ou não.

— Então, eu já estava a perder cabelo feito doido, especialmente desde… bem, não interessa – explicou o jovem conde – Decidi que não queria ter que esperar mais anos para perder tudo. Resolvi o problema de uma só vez.

— Quando Abigail o viu, quase lhe atravessou com a espada, achando que era um intruso – Alister contou, exagerando a história.

— Fico assim tão diferente?

— Pareces um monge – completou Conall.

— Não, meu amigo. Para te ser bem sincero… - Logan disse – Pareces um pouco um ovo barbado. A desprezar aquilo que tantos querem ter, uma cabeleira cheia…

Mais uma vez os dois bastardos riram, e até Roderick admitiu que era uma boa comparação.

Músicos no fundo da taberna tocavam seus instrumentos, e algumas pessoas dançavam alegremente em frente a eles, entre o balcão do taberneiro e as mesas onde a clientela se encontrava. Conall e Alister observavam com ar tonto as moças que rodopiavam ao som das clássicas canções de bebedeira.

— Acho que aquela está olhando para nós – Conall disse, indicando uma garota de cabelos castanhos que sorria na direção da mesa – Parece que está a olhar para ti, Rod.

— Sou demasiado velho - respondeu Roderick, dando de ombros – De certeza que não sou eu que ela quer.

— Um de vocês dois devia ir lá falar com ela – Logan disse aos rapazes.

— Ela vai se afastar se eu chegar – Alister murmurou.

Logan deu-lhe dois tapas no ombro.

— Ora, rapaz, não sejas assim. Se até um imbecil como eu conseguiu!

— Estou espantado que não tenhas trazido nenhuma companheira contigo, Logan – Roderick comentou.

— Pois é, lorde Clery. Tuas conquistas amorosas são lendárias, até mesmo entre os marinheiros – Conall concordou.

Logan acabou de beber sua caneca de uma vez só, e ao pousá-la, suspirou pesadamente.

— Eu tenho uma notícia triste para vos contar, Donnes – ele disse – Acho que fui pego.

— Pego? – Roderick perguntou.

— Conheci uma mulher. E não consigo tirá-la da minha mente. Estou nesta agonia há meses.

Os três Donne se inclinaram para a frente, olhos arregalados, como se estivessem a ouvir um grande segredo.

Como é que é? – perguntou Roderick novamente – Estás febril, Logan?

— Quem me dera, Rod, quem me dera. Eu a conheci no casamento da minha prima. Peigi, esse é o seu nome. É uma amiga da minha tia – suspirou o Clery – Comeu feito um ogro, bebeu mais que eu e disse palavrões que fariam até o mais rude marinheiro corar. Estou obcecado por ela, mas ela não quer nada comigo.

— Amiga da tua tia? – Roderick repetiu – Quantos anos tem esta mulher?

— Cinquenta.

Roderick cobriu o rosto com as mãos. Tinha a esperança de que Logan já havia superado sua tradição de ter casos de amor incomuns. Discretamente, pediu ao taberneiro que os enchesse de cervejas de novo.

— Estás doido por uma viúva que tem idade para ser tua mãe? – ele disse.

— O coração sabe o que quer! – Logan exclamou, olhos marejados, e voltou-se para os dois bastardos – Ela me rejeitou, de qualquer forma. Mas desta vez não vou sobreviver. Ela é a mulher da minha vida, Roderick, estou a te dizer isto com toda a seriedade…

— É claro que estás.

— Meus dias de vadio acabaram. Vou me trancar num monastério e passar o resto das minhas noites a chorar o nome dela – o lorde Clery concluiu, dramaticamente – Esta é outra lição para vocês, rapazes. As mulheres vão acabar com a tua vida. Vão fazer-te de idiota, tu vais cumprir o papel de bom grado e agradecê-las pela oportunidade.

— Bebamos a isto – Roderick disse, erguendo seu copo.

 

A luz que entrava pela janela era cada vez menor, e logo era noite. As bebidas iam e vinham, e àquela altura, Logan tinha se lamuriado e enchido a cara ao ponto de adormecer na mesa. Conall tinha tentado encantar a garota de cabelos castanhos, mas acabava de ser rejeitado com um tapa. Retornou derrotado para a mesa.

— Vou lá fora aliviar a bexiga – anunciou, sua fala já atrapalhada pela cerveja – Volto num instante.

— Boa sorte, guerreiro – Roderick respondeu, dando-lhe um tapa nas costas enquanto ele passava.

Alister se remexeu um pouco em seu lugar no banco, com um suspiro, encarando sua caneca.

— Estás bem? – Roderick perguntou.

— Desculpe, Rod, mas estou a achar tudo isto estranhamente deprimente – respondeu o rapaz.

— É, eu também – ele concordou, cutucando Logan com a perna.

— Eu não faço ideia de como ser como vocês. Eu vejo o Conall, amigo de todos, e não consigo imitá-lo.

— Oh, não penses nisso. Não és obrigado a fazer as mesmas idiotices que nós fizemos.

— É, mas que imagem patética eu passo – resmungou Alister – Tu e Alister são tão respeitados, e eu estou aqui, sem nada de interessante a oferecer.

— Isso não é verdade.

— Não consigo lutar, não gosto de navios, detesto cavalos, não consigo falar com as moças, e quer saber, acho que esta cerveja é nojenta. Eu não sei o que estou a fazer da vida.

— E achas que eu sei? Olha para mim. Bastou uma tempestade para eu voltar para casa e não fazer mais nada da vida – Roderick disse – Ninguém sabe o que está a fazer. Nós só fingimos e tentamos fazer o nosso melhor. Acho que é isto o que te torna um homem.

— Não saber de nada?

— Não, tentar fazer o teu melhor.

— Ah.

A música continuava, e ainda mais pessoas se encontravam a dançar ao redor do balcão do taberneiro. Algumas tinham feito um círculo de cadeiras para delimitar melhor o espaço, e sentavam-se esperando sua vez de dançar. Havia até mesmo casais que tinham completamente desistido da dança e estavam a se agarrar num canto.

Roderick bocejou, e se espreguiçou, a dor irritante que sentia nas costas se fazendo presente.

— Acho que já é hora de irmos para casa – ele disse para Alister – O que achas?

— E quanto ao Logan?

Peigiiiiii — gemeu o lorde Clery.

— Ele se vira. Já esteve em condições piores. O Conall é que está a dar o mijo mais longo da história – Roderick comentou, olhando ao redor – Vamos pagar ao pobre taberneiro e vamos sair deste buraco.

Os dois irmãos se levantaram e se dirigiram ao balcão. O grupo de jovens dançarinos estava dificultando o acesso, e eles tiveram que se embrenhar pela pequena multidão às cotoveladas.

Enquanto Roderick pagava e agradecia o dono da taberna pelas suas bebidas – com uma quantia extra para que cuidassem de Logan – Alister foi empurrado para trás por um homem vestindo um largo chapéu e roupas esfarrapadas. O rapaz tropeçou, e acabou derrubando o chapéu de um outro homem, que estava sentado com uma garota de vestido rosa em seu colo.

Roderick via a cena com o canto dos olhos, e não teria pensado muito sobre o assunto se não fosse pelo grito de Alister.

O que vocês estão fazendo aqui?

O lorde se voltou para a confusão, e logo entendeu.

Os dois estranhos homens de chapéu não eram homens de todo.

Aquele que havia esbarrado em Alister era Abigail, com um bigode falso e usando as roupas de Conall. O que estava sentado, aos beijos com uma moça, era Kenna.

Porra, Alister – xingou Abigail – De todas as dezenas tabernas que existem nesta cidade, vocês decidem vir aqui?

Achei que estariam com Lady Olive!— Alister respondeu.

Kenna e a moça sentada em seu colo se entreolharam.

— Hã, é um prazer conhecê-lo, Alister – disse a mulher, oferecendo-lhe um aperto de mão desajeitado – Eu sou a Olive.

— Eu acho que é melhor resolvermos isto lá fora – Roderick disse, puxando Alister e Abigail pelos braços.

O frio da noite veio como um choque. A escuridão era rompida apenas pelas lamparinas penduradas nas paredes e na entrada da taberna. Roderick, Kenna, Alister e Abigail se afastaram o melhor que conseguiam dos transeuntes baderneiros.

— Digam o que quiserem – Kenna começou – Que sou uma pervertida, que devia ser jogada num convento. Garanto que já ouvi pior, quando ainda vinha para cá vestida de mulher.

Silêncio. Kenna e Abigail tinham olhares tão potentes que pareciam desenhar um círculo de proteção ao seu redor.

— Isto é um hábito frequente de vocês? – foi tudo o que Alister conseguiu perguntar.

— A Cabra Cega? É – Kenna respondeu.

— Todas as vezes que iam à missa de noite… estavam aqui?

— Sim. Sinceramente estou impressionada por não terem percebido antes. Tu e o Conall são ridiculamente distraídos, sabia? – Abigail bufou – Nunca acharam estranho que nós levávamos trouxas conosco?

— Achei que eram doações para os pobres.

— Eram nossos disfarces, seu idiota!

Roderick estava de braços cruzados, sem saber se deveria interferir. Os bastardos, por mais que fossem seus irmãos, tinham uma relação particular entre os quatro deles. Eles deveriam resolver seus próprios assuntos.

— E vocês sempre tinham a Lady Olive metida no meio disso? – Alister perguntou – Vocês a dividem, ou…

 - Eca, não! – Abigail respondeu – Kenna é que gosta de mulheres, eu não.

— Então por que estás vestida de homem também?

— Porque os bêbados me chateiam menos se eu tenho um bigode.

Alister se recostou contra a parede da taberna.

— Tu a lutar com espadas, e agora Kenna andar com mulheres… - ele disse – Não acredito que vocês duas são mais homens do que eu.

PAF!

Kenna acabara de dar um tabefe no irmão. Até Abigail fora pega de surpresa. Roderick se posicionou entre os dois, pronto para evitar outra agressão, mas Kenna parecia satisfeita com seu trabalho. Alister tocou o rosto, incrédulo.

— És mesmo estúpido, Alister. Achas que ser homem tem a ver com bater em pessoas, ou andar com mulheres? – ela gritou – Eu te garanto que não é preciso ser homem para fazer qualquer uma destas coisas. Precisas pôr a cabeça no lugar.

O rapaz suspirou, e agachando-se, cobriu o rosto com as mãos, num gesto cansado.

 - Eu não tenho energia para lidar com mais nenhum acontecimento desta noite – Alister disse – Roderick, o que tens a dizer?

— Bom, acho que está na hora de todos vocês irem para a cama – ele respondeu simplesmente.

Voltaram para casa. Encontraram Conall sentado ao lado de uma árvore, tirando um cochilo, e o arrastaram até um cavalo. Todos foram para seus respectivos quartos. Roderick permaneceu do lado de fora da casa, ainda a decidir se pernoitaria com os bastardos ou se voltaria para o castelo. Tinha tirado seu cachimbo e suas ervas do bolso, e usado o fogo de uma lamparina para acendê-lo. Fumava sentado no banco do jardim, quando Kenna apareceu silenciosamente, e se juntou a ele.

— Estás bem, Ken? – Roderick perguntou.

A bastarda deu de ombros.

— Não queria que o resto da família descobrisse – ela murmurou – Especialmente não assim.

— Uma taberna não é o lugar mais discreto do mundo.

— Eu não sabia que vocês iriam à Cabra Cega! Já não é onde os marinheiros se encontram há anos – respondeu Kenna – O novo taberneiro é completamente permissivo aos… nossos tipos de relação. Ele é um dos nossos.

Oh, Roderick pensou, certamente espero que o resto dos clientes não tenham achado que eu estava interessado no Logan.

— Como sabes disto tudo?

— Não sou a única mulher que gosta de mulheres entre a alta sociedade, Roderick – Kenna disse – Nós ajudamos umas às outras.

Roderick não conseguiu evitar um risinho. Sua irmã ergueu uma sobrancelha.

— Não acreditas em mim?

— É claro que acredito. Mas me diverte ver o quão pouco nós sabemos sobre o que as mulheres fazem e dizem quando estão sozinhas – ele respondeu.

Kenna pareceu gostar da observação.

— Vocês acham que nós deixamos de existir quando vocês não estão por perto – comentou.

Depois de uma pausa, ela continuou:

— Então… não vais me jogar em um convento?

— É claro que não. O que tu fazes e com quem tu o fazes não é da minha conta. E em alto mar eu já vi de tudo – Roderick respondeu, depois de um trago – Sem falar que forçar-te a ficar num lugar recluso com outras mulheres não me parece uma punição.

Kenna riu.

— Eu tinha medo da tua reação. Não queria te decepcionar.

— Por que eu estaria decepcionado contigo, miúda?

Ela deu de ombros.

— Não sei. Porque deveria ser uma mocinha tímida e recatada, ansiando por um belo cavaleiro que a ame, para ter muitos filhinhos e tudo mais – suspirou – Parecia ser a única coisa que eu deveria fazer com a minha vida. Mas eu nunca me interessei por homens, ou bebês. Quando conheci a Olive… tudo fez sentido.

— Gostas de verdade dela?

— Não tens ideia. Nunca me senti mais feliz – Kenna sorriu – Ela me entende. Fomos feitas uma para a outra. Pelo menos, sendo bastarda, ninguém está desesperado para se casar comigo…

Roderick reconheceu o brilho no olhar dela, e sorriu. Ah, o primeiro amor. Ele sentiu-se nostálgico, lembrando-se de quando ele passara pelo mesmo, no que parecia ter sido séculos atrás.

— Fico feliz por ti, Kenna – ele disse – Aproveite.

— Aproveitarei.

— E falaste com o Alister?

Kenna suspirou.

— Não. Eu não devia ter sido tão ríspida com ele.

— Ele está a passar por tanta confusão quanto tu – Roderick disse – Vocês deveriam se ajudar neste momento, não se antagonizar. A maturidade é uma bênção, mas também pode ser muito solitária.

— Eu sei. Conversarei com ele pela manhã. Obrigada, Roderick.

— Ora essa.

Kenna se despediu, indo dormir.

Roderick ficou no jardim por mais algum tempo, olhando para as estrelas. Se perguntou se Fionna saberia de tudo aquilo. Provavelmente. Mulheres e seus segredos.

Olhou para a casa dos bastardos uma última vez antes de subir em seu cavalo. Era agora o lar de quatro adultos, e não de quatro adolescentes esquecidos que ele precisava vigiar.

Ele subiu em seu cavalo e voltou para o castelo, sozinho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Adoraria receber as críticas e opiniões de vocês!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Roderick e seus doze irmãos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.