Contos não cantados escrita por Wi Fi


Capítulo 6
Meu filho




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Quando percebi que Narfi estava morto, eu quis me jogar no mar e deixar que Jormungandr me levasse. Queria tacar fogo em mim mesma, me enforcar com as roupas que tecera para ele, perfurar meu peito com a lança de Odin.

         Fiquei caída ao pé de sua cama por dias. Sem comer, sem me mexer. Nada me fazia sentido. Como eu o havia perdido? Por que eu deixei aquilo acontecer? Não pensei em Loki. Ele não apareceu. Não me procurou. Não procurou nosso filho. Eu não o procuraria também.

         Eventualmente lembrei-me de Hela, entretanto, e pensei que ela poderia se apiedar de mim. Narfi era seu irmão, afinal de contas.

         Depois de me arrastar até Helheim e de volta, tendo sido recusada a chance de recuperar meu filho perdido, eu acabei perambulando até a Bifrost.

         Eu devia ter a aparência de uma morta também, com folhas se juntando às minhas vestes e cabelo, minhas roupas há muito rasgadas.

         Heimdall ocupava seu posto, como sempre, imóvel e inalterado pela minha aparição.

         Ele não estava só.

         Lá estava Frigga, caminhando em direção a Helheim. Ela parou ao me ver, seus olhos arregalados.

         Não pensei duas vezes e pulei para cima dela. A rainha dos deuses gritou, e Heimdall me puxou para trás. Consegui arranhá-la, e arranquei uma mecha de seus cabelos. Nunca me senti mais poderosa. Foi só então que percebi que seus cachos, há poucos dias tão dourados quanto o sol, agora estavam grisalhos.

         “Devia ter te executado quando ajudou aquele lobo” rosnou Frigga, ofegante, enquanto o vigia dos deuses se mantinha entre nós “É uma pena, Sigyn. Você teria um belo futuro ao nosso lado”

         Cuspi no chão.

         “Ao vosso lado nunca teria futuro nenhum”

         “É isso que ele te fez pensar?”

         Revirei os olhos.

         “Vocês mataram o meu filho” eu vociferei.

         “E ele matou o meu” Frigga disse, com lágrimas nos olhos.

         “Eu não tive nada a ver com isso! Por que me punir também? Podiam torturar o Loki o quanto quisessem, eu não me importo. Mas por que matar o meu filho?”

         “Não é o ódio de Loki por Baldr apenas uma extensão de seu ódio por Odin?” Frigga cuspiu o nome de meu marido, como se fosse veneno “Eu te juro, Sigyn, não foi minha ideia. Mas como eu poderia impedir o Pai de Todos e seus filhos? Os homens raramente se preocupam com os efeitos que suas guerras terão em nós”

         Eu não tinha forças para responder-lhe. Não tinha percebido que também tinha começado a chorar. Eu queria acreditar na boa vontade da rainha dos deuses, mas não podia. Não conseguia lidar com a empatia.

         Me afastei da Bifrost, e voltei para a direção dos bosques, da minha casa, que agora havia sido profanada com a morte de Narfi. Eu passei por alguns rostos conhecidos no caminho. Skadi, Frey, Idun, Tyr.

         Alguns fingiram não me ver.

         Outros me olharam de esguelha, e apertaram o passo.

         Eu era um mau presságio, não era?


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