Contos não cantados escrita por Wi Fi


Capítulo 5
Narfi


Notas iniciais do capítulo

Vocês querem sofrer? Eu quero sofrer.



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Freya deixou de lado toda a sua repulsa contra Loki durante a minha gravidez. Veio me visitar várias vezes, com seus medicamentos e poções próprias, que estavam muito além do meu conhecimento.

         “Este é para ajudar com as dores nos pés” ela me disse, tirando um frasco de sua bolsa “Estas ervas são para não ficar com estrias. Este é para os enjoos…”

         Por fim, arranjou um pote com um líquido castanho asqueroso dentro.

         “Isto é para botar na comida do seu marido para ele adormecer e não ficar te irritando”

         “Você sabe que eu estou aqui e consigo te ouvir, né?” Loki se limitava a responder.

         Quando Angrboda nos visitava, trazia raízes e estranhas plantas. “Vai fazer o bebê forte!” ela dizia. Tinha medo de que meu filho saísse azul.

         Baldr e Nanna também fizeram uma visita. Nos trouxeram um brinquedo – um pedaço de maneira, com um chocalho no topo – que juraram que ajudou Forsetti quando seus dentinhos começaram a nascer. Loki prontamente jogou o presente no fogo, antes que eu pudesse me mexer para impedi-lo.

         Não importava quanto eu tivesse estudado sobre a gravidez, ou que eu tivesse visto minhas irmãs terem os seus bebês, ou o quanto Frigga e Sif me tivessem dito que filhos são uma bênção.

         Freya fora a única pessoa a ser honesta comigo.

         Filhos são uma bênção, mas tê-los é uma maldição. Você vai sangrar, se sujar, e vai doer como a pior das torturas. Mas no fim de tudo, vai amar aquela criaturinha gosmenta até o fim do mundo.

         Quando a dor começou, Loki me trouxe até a cama e ficou ao meu lado.

         “Você tem que fazer força” ele disse “Puxe”

         E eu puxava, com todas as minhas forças.

         “Respire”

         Eu inspirava o ar às golfadas.

         “Puxe”

         A dor parecia me rasgar, como se estivessem a arrancar as minhas tripas e revirar meus órgãos, assim como nós fazemos com nossos inimigos. Loki segurava minha mão, e eu o apertava, como se aquilo me fosse dar forças.

         Não sei quanto tempo demorou até que o bebê aparecesse. Loki deixou a minha cabeceira, e foi para a outra ponta pegá-lo. Logo, ouvi seu choro, e me deixei cair na cama. Tinha acabado.

         Restava saber se meu filho era um monstro ou não.

         Loki o pegou no colo, sujando-se de sangue no processo, e o ergueu para examinar seu corpo.

         “Então?” eu perguntei, mal conseguindo erguer meu rosto “O que há de errado?”

         “Nada. Ele é normal. Ele é perfeito. Um bebê vanir perfeito” Loki respondeu.

         Ele enrolou nosso filho num cobertor, e o trouxe até mim. Loki ajustou meus travesseiros, e me ajudou a me levantar. Foi então que segurei meu bebê pela primeira vez. Nós estávamos ali, e pela primeira vez éramos três, completamente sujos, desgrenhados, suados, e no caso de Narfi, chorando desesperadamente.

         “Shh, shh” eu sussurrei, embalando-o suavemente.

         Não tínhamos decidido seu nome ainda.

         Minha mente estava tomada por todo o tipo de pensamentos.

         Será que ele é mesmo normal? E se algo mudar? E se ele crescer escamas, tornar-se um esqueleto, e ganhar pelos de cão?

         Eu não faço ideia de como criar uma pessoa.

         Eu tenho um filho. Um filho de Loki.

         Esse filho é meu.

         Narfi parou de chorar quando eu o amamentei. Ele era lindo. Loki acariciou sua barriguinha, e seus cabelinhos.

         “Eu te serei eternamente grato, Sigyn. Você me trouxe meu maior triunfo contra Asgard”

         “Do que está falando?”

         “Este bebê é a prova de que eles estão errados sobre mim. Ele é a prova de que eu posso fazer parte de algo bom

         Loki me deu um beijo na testa. Eu sorri, sem nunca desviar meus olhos do bebê.

         Eu entendia o que Freya me tinha dito.

         Se alguém tocasse no meu bebê, eu destruiria os nove reinos.

         Ou pelo menos, era isso que eu gostaria de fazer. É claro, que quando de facto alguém machucou meu bebê, eu não fiz nada. Eu falhei. Eu fiquei presa na dor, e no luto, e nada mudou.

         Ele continua morto.

         Meu bebê.

         Meu bebê.

         Meu…


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