Contos não cantados escrita por Wi Fi
Notas iniciais do capítulo
Vocês querem sofrer? Eu quero sofrer.
Freya deixou de lado toda a sua repulsa contra Loki durante a minha gravidez. Veio me visitar várias vezes, com seus medicamentos e poções próprias, que estavam muito além do meu conhecimento.
“Este é para ajudar com as dores nos pés” ela me disse, tirando um frasco de sua bolsa “Estas ervas são para não ficar com estrias. Este é para os enjoos…”
Por fim, arranjou um pote com um líquido castanho asqueroso dentro.
“Isto é para botar na comida do seu marido para ele adormecer e não ficar te irritando”
“Você sabe que eu estou aqui e consigo te ouvir, né?” Loki se limitava a responder.
Quando Angrboda nos visitava, trazia raízes e estranhas plantas. “Vai fazer o bebê forte!” ela dizia. Tinha medo de que meu filho saísse azul.
Baldr e Nanna também fizeram uma visita. Nos trouxeram um brinquedo – um pedaço de maneira, com um chocalho no topo – que juraram que ajudou Forsetti quando seus dentinhos começaram a nascer. Loki prontamente jogou o presente no fogo, antes que eu pudesse me mexer para impedi-lo.
Não importava quanto eu tivesse estudado sobre a gravidez, ou que eu tivesse visto minhas irmãs terem os seus bebês, ou o quanto Frigga e Sif me tivessem dito que filhos são uma bênção.
Freya fora a única pessoa a ser honesta comigo.
Filhos são uma bênção, mas tê-los é uma maldição. Você vai sangrar, se sujar, e vai doer como a pior das torturas. Mas no fim de tudo, vai amar aquela criaturinha gosmenta até o fim do mundo.
Quando a dor começou, Loki me trouxe até a cama e ficou ao meu lado.
“Você tem que fazer força” ele disse “Puxe”
E eu puxava, com todas as minhas forças.
“Respire”
Eu inspirava o ar às golfadas.
“Puxe”
A dor parecia me rasgar, como se estivessem a arrancar as minhas tripas e revirar meus órgãos, assim como nós fazemos com nossos inimigos. Loki segurava minha mão, e eu o apertava, como se aquilo me fosse dar forças.
Não sei quanto tempo demorou até que o bebê aparecesse. Loki deixou a minha cabeceira, e foi para a outra ponta pegá-lo. Logo, ouvi seu choro, e me deixei cair na cama. Tinha acabado.
Restava saber se meu filho era um monstro ou não.
Loki o pegou no colo, sujando-se de sangue no processo, e o ergueu para examinar seu corpo.
“Então?” eu perguntei, mal conseguindo erguer meu rosto “O que há de errado?”
“Nada. Ele é normal. Ele é perfeito. Um bebê vanir perfeito” Loki respondeu.
Ele enrolou nosso filho num cobertor, e o trouxe até mim. Loki ajustou meus travesseiros, e me ajudou a me levantar. Foi então que segurei meu bebê pela primeira vez. Nós estávamos ali, e pela primeira vez éramos três, completamente sujos, desgrenhados, suados, e no caso de Narfi, chorando desesperadamente.
“Shh, shh” eu sussurrei, embalando-o suavemente.
Não tínhamos decidido seu nome ainda.
Minha mente estava tomada por todo o tipo de pensamentos.
Será que ele é mesmo normal? E se algo mudar? E se ele crescer escamas, tornar-se um esqueleto, e ganhar pelos de cão?
Eu não faço ideia de como criar uma pessoa.
Eu tenho um filho. Um filho de Loki.
Esse filho é meu.
Narfi parou de chorar quando eu o amamentei. Ele era lindo. Loki acariciou sua barriguinha, e seus cabelinhos.
“Eu te serei eternamente grato, Sigyn. Você me trouxe meu maior triunfo contra Asgard”
“Do que está falando?”
“Este bebê é a prova de que eles estão errados sobre mim. Ele é a prova de que eu posso fazer parte de algo bom”
Loki me deu um beijo na testa. Eu sorri, sem nunca desviar meus olhos do bebê.
Eu entendia o que Freya me tinha dito.
Se alguém tocasse no meu bebê, eu destruiria os nove reinos.
Ou pelo menos, era isso que eu gostaria de fazer. É claro, que quando de facto alguém machucou meu bebê, eu não fiz nada. Eu falhei. Eu fiquei presa na dor, e no luto, e nada mudou.
Ele continua morto.
Meu bebê.
Meu bebê.
Meu…
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