Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 34
Capítulo 34




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Ele olhou para o pequeno objeto em sua mão. Um simples pedaço de metal, com pedras cravejadas. Safira, em tom azul, a cor preferida dela. Seu coração doeu profundamente ao ver aquele anel de noivado. O anel que dera a ela, o qual ela não usava no dia em que simplesmente sumiu no ar, como uma fada. Se ele tivesse contado a todos, ninguém iria dar crédito a ele. Como poderiam? Nem ele conseguia compreender o que de fato aconteceu com Elizabeth.

Suspirou, cansado. Os pertences dela estavam com ele, como se fossem algo muito precioso para se descartar. Pode ver o estranho casaco, que não tinha botões e que fechava com uma espécie de metal, com dentes. O que era muito peculiar. Nunca viu um casaco como aquele. E a calça de tecido mole era o que o deixava mais curioso e um pouco ruborizado. Nunca imaginou que veria uma mulher usando calças. E eram semelhantes as suas, mas não do mesmo tecido. Quando viu pela primeira vez Elizabeth, com aquelas calças, ele teve pensamentos impuros. O que gerou remorso em si, afinal, ele nunca, jamais iria pensar em uma dama de forma tão imprópria. Era um cavalheiro e lutava para ser um. Mas, perto dela, percebia que teria de ter um controle muito maior sobre si mesmo. E pensar nisso o fez sorrir. Ela era a única pessoa no mundo que o tirava do sério e o fazia sorrir de verdade. Perceber isso lhe deu um mal-estar e a garganta se fechou. Ele controlou as lágrimas. Era hora seguir em frente. Mas, como faria isso sem ela?

— Darcy, está na hora - Srta. Caroline abriu a porta sem bater, o que o irritou profundamente. Ela não deveria entrar assim em seu quarto.

— Já estou indo - ele disse.

Ela sorriu, de forma calorosa, como vinha fazendo há muito tempo. Contudo, Darcy não deu atenção a isso. Continuou rolando o anel de Elizabeth na mão e guardou no bolso. Pensou que ela ficaria feliz pelo desfecho que viria a seguir. E que ela de fato, teria gostado muito do casamento que aconteceria dali alguns dias. Mas, se pudesse fazer algo a respeito do desaparecimento de Elizabeth, ele teria escolhido ir com ela, para onde ela tivesse ido.

 

*

 

Lizzy olhou atentamente para a tela do computador. Seus olhos estavam pesados. Faltava tão pouco. Ela precisava apenas terminar o epílogo, então, entregar o manuscrito a Michael. O mais engraçado era que ele continuava a flertar com ela, o que lhe causava aborrecimento, mas sempre que o via, percebia as semelhanças entre ele e Darcy, o que a deixava confusa. Era normal sentir atração por uma pessoa que não se gostava, apenas por que ele era parecido com o homem que ela amava? Ela se sentia mal por isso. E nunca perguntou isso a Jane ou Meredith. Parecia estar traindo Darcy daquela maneira, apenas admirando a beleza de Michael. Mas, como poderia se culpar, se ele era tão parecido com seu tataravô, ou algo assim?

Ela finalmente terminou o epílogo, então, revisou e enviou para Michael. A partir dali, ela não saberia o que aconteceria, apenas sabia que o livro seria publicado. Os frutos não seriam colhidos por ela. E isso não importava. Ela pediu especificamente que todos os lucros fossem depositados em uma poupança para Jane. Já havia se despedido da irmã, da amiga e de Josh. Agora era partir para sua jornada.

Ela colocou seu vestido, o mesmo que ela estava trajando quando voltou no tempo. A sua maior dificuldade era colocar o espartilho. Desistiu logo em seguida, devido ao nervosismo que sentia para encontrar Darcy. Olhou-se no espelho, vendo como o vestido descia de forma fluida, cobrindo os seus pés e arrastando pelo chão. O tom amarelado lhe caia muito bem. Ela pegou um casaco jeans dentro do armário e colocou-o por cima. Sempre que fazia essa rotina, ela tinha Boris consigo, pulando de um lado a outro. Mas, infelizmente, ele não estaria ali para testemunhar sua partida, o que apertava seu coração. Ela queria leva-lo, mas Alexander fora específico em explicar que Boris não era do século XVIII e ele precisaria ficar. Então, ela o deixou com Meredith. Era o melhor a se fazer.

Seu telefone tocou, de repente, em cima da mesinha de cabeceira. Ela sentiu o coração saltar pela boca. Fitou a tela, vendo que era sua amiga. Atendeu, com um gosto estranho na boca do estomago.

— Meri - ela disse com a voz baixa.

— Que bom que encontrei você - Meredith parece ansiosa, com a voz falha - Diz que você não está saindo...

— Não...ainda não. O que houve?

Seu corpo inteiro estava tremendo, de repente.

— Ah, Lizzie...- Então, Meredith começou a chorar.

Lizzy não sabia o que fazer a seguir. Sentiu sua garganta apertada.

— Preciso de você, Lizzie, pode vir...- ela soluçou - Estou no hospital.

Lizzy sentiu o batimento cardíaco acelerar.

— Estou indo agora.

Meredith passou o endereço por mensagem, mas não disse o que de fato estava acontecendo. Lizzy pegou um Uber e o carro parou do lado do Hospital, vinte minutos depois. Saiu do carro, aos tropeços. Não havia nem tirado o vestido e todos a olhavam com curiosidade. Provavelmente, pensando que ela era peculiar, ou louca por vestir algo tão antiquado e antigo.

Na recepção, ela conseguiu informações de que Meredith estava em quarto privado, no quarto andar. Lizzy tomou o elevador, ansiosa demais para encontrar Meredith e entender o que estava acontecendo. A recepcionista não passou mais informações, mesmo Lizzy exigindo. Teria que descobrir por si mesma.

Seu telefone começou a vibrar dentro da bolsa e ela viu que Michael estava ligando. Resolveu ignorar a chamada, pois sabia que passaria pelo menos trinta minutos com ele na linha. E não estava disposta a perder seu tempo.

Finalmente o elevador parou no quarto andar e Lizzy saiu, entrando em um corredor vazio, com paredes azuis claras. Ela seguiu em frente, sem bater na porta. Pode ver Meredith deitada, com uma camisola azul, de hospital. Os olhos estavam avermelhados, como se tivesse acabado de chorar.

Lizzy seguiu para perto do leito dela e sentou ao seu lado, tomando suas mãos.

— Ah Lizzie - Meredith disse, com a voz estrangulada. Os olhos aflitos - Eu perdi ele.

Lizzy piscou algumas vezes, sem entender.

— Perdeu...? - ela incentivou sua amiga a falar.

— Eu nunca te contei...mas...- Meredith respirou fundo - Eu estava grávida de dois meses.

Lizzy abriu e fechou a boca, surpresa. Era uma surpresa ouvir aquela confissão. Meredith nunca contou que estava esperando um filho. O que de certa forma a magoou. Elas contavam tudo uma a outra.

— Eu sinto muito - ela disse sincera, afinal, não poderia imaginar a dor que Meredith sente, mas compreende perfeitamente que isso é algo sério para sua amiga. Apertou suas mãos, com carinho, demonstrando que estaria ali para ela.

Então, Lizzy percebeu algo. Infelizmente, estava partindo para estar ao lado do homem que ama. Mas, como poderia partir, se seus amigos e sua irmã precisavam dela?

De repente, Meredith mudou a expressão, para raiva, se ajeitando na cama.

— Eu sei o que você está pensando - ela disse, pegando Lizzy de surpresa - E você não vai adiar isso.

— Como pode adivinhar o que estou pensando? - Lizzy rebateu.

— Ora, não é óbvio? Você quer ficar, apenas para que eu não esteja desamparada. Mas, eu não estou - Meredith garantiu, com um olhar sério, cruzando os braços sobre o peito - Estou muito bem.

— Está mesmo? - Lizzy provocou e Meredith a fitou com os olhos dardejantes - Não minta pra mim. Você não está bem. Acabou de perder meu sobrinho e estava chorando, antes de eu chegar. Como posso pensar em partir desse jeito?

— Eu só queria ver você, mais uma vez Lizzie...antes de você partir...- ela mordeu os lábios, segurando as lágrimas, o que deixou Lizzy se sentindo ainda mais culpada por querer partir e viver seu felizes para sempre com Darcy - Mas, não se preocupe comigo. Vou ficar bem.

— E Joshua?

— Ele está vindo para cá. E é por isso que você precisa ir, agora mesmo - Meredith gesticulou com as mãos, como se estivesse a enxotado.

Lizzy levantou da cama e riu. Era típico de sua amiga pedir socorro, mas depois reconsiderar e se fazer de forte.

— Você sabe que amo você, não sabe?

— Eu sei - Meredith anuiu com a cabeça, com um sorriso - E eu te amo também. Por isso, quero você vá agora, antes que você decida não ir mais. E eu sei que você vai querer ficar aqui e cuidar de todos nós, mas você não precisa fazer isso. Não precisa sempre se sacrificar.

— Não é um sacrifício - Lizzy protesta, franzindo o cenho, um pouco irritada - Eu simplesmente não consigo abandonar as pessoas que amo. Isso é errado por acaso?

Meredith sorri.

— Não, não é. Na verdade, isso mostra o quanto você se importa. Por isso, queria vê-la só mais uma vez, porque você vai fazer muita falta e eu não consigo imaginar um mundo sem você. Sem sua presença. E fico pensando como vou explicar para meus filhos que minha melhor amiga não vai estar aqui, mas está tudo bem, se ela vai ficar com o bonitão do Darcy - Ela fungou e riu ao mesmo tempo.

Lizzy percebeu que estava chorando. Passou o dorso da mão no rosto e se aproximou de Meredith, abraçando-a pelo ombro.

— Eu nunca vou esquecer de você, Meri. Acho que vou enviar cartas para seu endereço. Apenas para ter algum tipo de comunicação com você.

Ela se afastou, olhando para os olhos da sua melhor amiga.

— Tem certeza? - Meredith perguntou - Isso não poderia causar algum problema? Com o tempo? É melhor perguntar ao seu amigo. Qual é o nome dele mesmo? Alex?

— Alexander - Lizzy respondeu - E tenho certeza que não vai alterar nada. Você já sabe da viagem no tempo. É só não espalhar para ninguém isso. Acho que vamos ficar bem, se mantermos segredo.

A porta do quarto se abriu e Joshua atravessou a soleira, como se fosse um furacão. Sentou-se ao lado da namorada, tomando as duas mãos dela, beijando-a.

— Sinto muito meu amor - ele disse, com a voz sofrida. E Lizzy percebeu pela primeira vez que Josh realmente tinha sentimentos fortes por Meredith. Sua atitude era de um homem apaixonado - Você está bem? Como está se sentindo?

— Eu estou bem, Josh. Não exagera - ela tirou as mãos dele, rindo.

— Como assim? Você me ligou chorando. Quase tive um infarto, achando que você estava prestes a morrer e nosso filho...

Lizzy resolveu que era o momento de sair do quarto e deixa-los a sós. Passou pela porta e se assustou ao ver Michael do lado de fora. Ele estava com o cenho franzido e arqueou as sobrancelhas ao vê-la.

— Elizabeth?

— Michael.

Ela queria perguntar o motivo para ele estar ali, mas era óbvio que estaria. Ele se tornou amigo de Josh e Meredith durante aquele curto espaço de tempo em que se conheceram. Com certeza, ele estaria ali para apoia-los. E constatar isso, fez com Lizzy percebesse que Michael poderia ser um ótimo amigo para eles. O que era bom, de certa forma.

— Para onde está indo? - ele perguntou, olhando-a de cima a abaixo, surpreso - Você está...?

— Diferente? Eu sei. Eu adoro me vestir assim, na verdade - ela brincou, tentando desviar a atenção dele quanto as suas vestimentas. Não iria explicar que logo faria uma viagem no tempo, com um celular. Ele a chamaria de louca, com certeza.

— Não sabia disso - ele disse, ainda absorto - Eu liguei para você...não sei se você recebeu a chamada.

— Sim, mas estava com Meredith. Como pode ver, ela precisa de atenção e dos amigos.

Michael assentiu com a cabeça. Então, o silêncio constrangedor se instalou no ambiente.

— Eu recebi o manuscrito final. Está perfeito - Michael tomou a palavra novamente.

— Obrigada.

— Lizzie - Meredith a chamou de volta, de dentro do quarto.

Lizzy voltou para lá e as duas conversaram por um bom tempo. Josh ainda estava descrente da viagem no tempo, mas apenas respeitou toda a situação. É claro que eles tomaram cuidado ao falar sobre isso na frente de Michael, que observava tudo, em um canto do quarto. Depois que elas se despediram, não sem antes chorar e se abraçar mais uma vez, Lizzy resolveu que era o momento para partir. Abraçou Josh, prometendo mandar notícias e provar a ele sobre a teoria da viagem no tempo. Ele sorriu.

— Por mim, eu preferia que minha amiga ficasse - ele disse, tocando o rosto dela - Mas, se é isso que você quer, eu vou respeitar sua decisão.

— Obrigada, Josh.

Depois disso, ela rumou para fora do quarto, mas Michael não a deixou sozinha. Ele se despediu dos amigos e a encontrou no elevador.

— Você vai viajar? Vai para algum lugar?

Lizzy não queria responder, mas seria falta de educação ignora-lo. O elevador abriu e ela entrou, assim como ele.

— Eu vou fazer uma longa viagem - ela respondeu - Não vou voltar para Inglaterra.

— Você...o que? - ele perguntou, abismado – Mas, eu pensei... – ele engoliu a seco -E o livro?

— O livro vai ser publicado, não vai?

— Sim, é claro...mas...

— Então, está tudo certo.

O silêncio preencheu o espaço e Lizzy se sentiu cada vez mais claustrofóbica de ficar ali, dividindo o mesmo espaço e respirando o mesmo ar que Michael.

Finalmente, as portas se abriram e ela saiu, mas ele continuou em seu encalço.

— Para onde você vai? - ele perguntou, enquanto passavam pela recepção do hospital.

— Vou para bem longe - ela respondeu, sem ser especifica. Não tinha que explicar mais nada a ele.

— Eu devia ter feito um contrato com você - ele disse, de mau humor.

— Contrato de que? - ela perguntou confusa, passando pelas portas automáticas e puxando o celular para chamar um Uber.

Ele ficou ao lado dela, respirando ruidosamente.

— Esse contrato é para escritores - ele respondeu - Pelo menos você teria que trabalhar conosco por três anos.

— Eu disse que só escreveria um livro, Michael. Lembra-se?

Ele a fitou com raiva. Ela podia ver os olhos verdes dele cintilarem. O que a surpreendeu. O que havia de errado com ele? E por que ele parecia tão furioso com ela.

O vento frio bagunçou os cabelos negros dele. O que a fez se lembrar de Darcy. E o quanto eles eram parecidos. Ela se repreendeu por estar analisando demais a aparência dele. E por compara-los. Aquilo era totalmente inadequado. E ela não queria nada com Michael. Ele era irritante. E seu coração estava perdido para sempre, para o único homem que parecia quase impossível de alcançar. Ela apenas esperava que o aparelho que Alexander deixou com ela a ajudasse a voltar para Darcy.

— Eu sei que você disse isso, mas eu não imaginava que você fosse embora - Michael disse indignado.

— Michael, mesmo que eu tivesse um contrato com sua editora, eu poderia fazer meu trabalho de qualquer lugar, mas eu não posso. Eu expliquei isso a você, quando disse que só entregaria um livro para ser publicado. Não sei por que você está com raiva de mim.

— É porque estou apaixonado por você - ele gesticulou com as mãos, parecendo exasperado. Então, Lizzy compreendeu seu olhar. O mesmo olhar que ela já recebeu de Darcy. Impaciente, raivoso, mas repleto de paixão. E ela se sentiu mal por Michael. Não sabia como isso poderia ter acontecido. Ela nunca o incentivou a cultivar tais sentimentos.

Infelizmente, ela não esperava pelo que viria a seguir. Ele a tomou pela cintura, diminuindo a distancia entre os dois, colando sua boca a dela. Lizzy arfou surpreendida pelo ato impensado dele. Empurrou-o com força pelo peito e se afastou. Ele respirava profundamente a olhando com os olhos escuros. Lizzy sentia todo seu corpo se arrepiar. O coração retumbando dentro do peito, mas a raiva a consumiu.

— Nunca, nunca mais faço isso! - ela quase gritou.

— Eu sei - ele disse, com a voz entrecortada - Eu sei que você já ama outro. Meredith me contou.

— Então, não deveria sentir tais sentimentos por mim - ela apertou os punhos em volta dos quadris, irritada.

— Acredite, eu sei - ele disse, passando a mão pelos cabelos escuros - Mas, não se escolhe por quem se apaixonar, Elizabeth. Eu estou rendido a você, cativo. E não sei como me libertar. Saber que você vai partir está me dilacerando por dentro.

Lizzy balançou a cabeça, confusa.

— Eu não quero ouvir isso - ela disse, em um sussurro.

E agradeceu pelo Uber que chegou rápido. O carro parou ao lado da calçada e ela embarcou, sem olhar para trás.

 

*

 

Lizzy sentou na praça, em frente ao seu prédio. Fora ali que encontrou Darcy pela primeira vez. E se perguntou se era o certo voltar para ele. Alexander havia sido bem claro ao dizer que seu destino estava entrelaçado ao passado. Mas, que ela poderia viver muito bem ali, no século XXI. Pensou em Michael e na forma como ele demonstrou seu sentimento, sem deixar dúvidas sobre o que sentia por ela. Apesar disso, apesar de estar surpresa e lisonjeada pelos sentimentos que ele professara, ela ainda amava Darcy, com todas as suas forças. Mesmo que Michael fosse atraente e tudo que ela procurara em um homem. Ele se mostrara um homem decidido, honesto e sabia o que queria. E ele a queria, porém, o coração dela já estava perdido. Não havia como ela lhe dar amor, se ela já tinha dado a Darcy. Ela nunca estaria com Michael por inteira. Sempre estaria pela metade. E isso seria injusto com Michael.

Ela olhou para tela preta do celular que a faria voltar três séculos. E sentiu um frio enorme na barriga. Alexander não havia especificado como ela faria para voltar.

Lizzy segurou a bolsa pela alça, com força. Lá estava tudo que precisava para sua viagem. Escova de dentes, quatro pastas de dente no sabor hortelã, seus óculos, absorvente, shampoo e creme. Ela sabia que em algum momento tudo aquilo iria acabar, mas não conseguia não levar seus itens de higiene.

Então, ela apertou a tela para desbloquear o celular. Havia uma mensagem não lida, a qual ela não tinha recebido qualquer notificação.

Ela abriu e leu:

"Pronta para sua jornada, Elizabeth? Eu espero que sim. Nós não conhecemos, ainda. Um dia que sabe nos encontraremos. Eu espero que não. Pois, no momento em que você partir, você nunca mais voltara ao século XXI. E seu aparecer, ou Alexander, então, algo aconteceu de errado. E espero de fato que não aconteça.

Alexander deve ter explicado a você que seu futuro é no passado. Mas, me deixei explicar melhor sua situação. Você tem dois futuros. Você deveria ter nascido no século XVIII, mas por algum motivo, você nasceu na época errada. Então, você pertence tanto àquele século quanto ao século XXI. Isso é uma desvantagem. Eu sei. Você já conhece tudo que esse mundo tecnológico oferece. Todas as facilidades. Mas, seu coração jamais estaria completo aí. Já sentiu isso dentro de si? O vazio existencial, que não era preenchido, mesmo que você buscasse preencher com todo o tipo de atividade e contato humano? Há um motivo para isso. Sua alma gêmea, o homem que estava destino a fazer parte do seu destino, estava afastado de você. O que gerou sua frustação e sentimento de vazio. E agora, você tem a escolha de se juntar a ele.

Por isso, eu pergunto a você, está pronta para seu felizes para sempre? Eu espero que sua escolha seja feita com seu coração, não com sua mente. Pense nos prós e nos contra de tomar essa decisão. O que eu espero para você, querida, é que seja feliz. Apenas isso.

Se for sua decisão partir, aperte a tecla para ligar para esse número. Caso negativo, deixe o celular sobre o banco e vá para casa. Não olhe para trás. Eu entenderei se sua decisão for essa.

Com amor,

Sua fada madrinha."

Lizzy releu a mensagem, pensativa. Ela poderia mesmo deixar aquele mundo de facilidades, para ser esposa de Darcy?

Ela respirou profusamente e tomou sua decisão.

 

*

 

Mais uma vez, o clarão a cegou. Mas, foi por pouco tempo. Ela sentiu a respiração tremula e o corpo retesado. Olhou ao redor e percebeu mais uma vez, que o lugar em que estava havia se alterado. O parque parecia mais florido, com mais árvores ao redor. Enquanto ela saia dali, pode ver o conjunto de apartamentos em frente ao parque como se fossem novos. E olhou o chão de pedras. Não havia asfalto, então, ela havia voltado. Só havia uma questão agora. Como ela faria para voltar para Darcy? Ela não conhecia aquelas ruas e onde poderia estar a casa dele. Seguiu para avenida principal, onde Darcy havia pedido uma carruagem até sua casa. Ela esperava que ele ainda estivesse lá. Contudo, ela sabia perfeitamente que no outono muitas pessoas da alta sociedade se retiravam para o campo. Provavelmente ele estaria agora em Pemberley. Ao menos, ela fora esperta o suficiente para comprar moedas antigas, a libra esterlina. Ao menos, teria como pagar pela carruagem.

Então, conseguiu parar uma, depois do que pareceram horas em pé. Não havia ninguém por ali. Poucas pessoas passavam pela rua àquela hora da tarde, em um dia frio. Ela se arrependia por ter saído somente com a jaqueta jeans. O cocheiro parou e perguntou para onde ela estava indo.

— Gostaria de chegar a residência dos Darcy, mas não sei o endereço - ela respondeu.

— Eu sei onde é, senhorita. Entre e eu a levarei.

Lizzy respirou aliviada. Embargou na carruagem e sentiu a ansiedade consumi-la, enquanto o veículo trepidava pela rua de paralelepípedos. Afastou a cortina da janela, apenas para ver por onde passavam. Parecia que uma eternidade se passou, até que a carruagem parou em frente ao portão da casa dos Darcy. Ela pagou o cocheiro e ele partiu a deixando em frente ao portão que estava cerrado, com um cadeado.

Ela começou a suar frio, pelo medo que sentia ao não encontrar ninguém casa. Tentou até mesmo chamar o nome de Georgiana ou de Darcy, na esperança de quem alguém fosse atendê-la. O local parecia estar bem cuidado, ao menos. Não parecia que havia sido abandonado. Ela se perguntou se durante aqueles quatro meses, Darcy estaria bem. Se havia se esquecido dela. E se tivesse? Deus, ela tinha medo de pensar nisso. Poderia estar na segurança do seu apartamento, ao lado de pessoas que conhecia, mas não. Tinha que ter escolhido ficar com ele, mesmo não tendo a certeza de que ele gostaria de estar com ela.

Sua fada madrinha, alguém que ela nem sabia quem era disse que os dois eram almas gêmeas. Mas, alguém pensou em consulta-lo sobre isso? Se ele realmente queria ficar com ela? Se ele não quisesse, Lizzy não fazia ideia do que fazer.

Ela estava quase desistindo de ficar ali, em frente aos enormes portões de ferro e procurar um lugar para passar a noite, quando escutou uma porta se abrir, ao longe. Ela pode ver um senhor sair da casa, descendo as escadas da varanda. Era o Sr. Dawson. Ela soltou o ar, se abraçando. Estava tão frio e ela estava tão agradecida por ele estar ali. E tão feliz por vê-lo.

— Srta. Elizabeth Bennet? - o senhor perguntou a fitando com descrença - Valha-me Deus, é a senhorita.

Ele a encarou de cima abaixo, ainda parecendo descrente de estar diante dela.

— O Sr. Darcy disse que você esta desaparecida - ele disse - Não estou diante de um fantasma, estou?

— Não senhor – ela riu, mas ele ainda a encarava com descrença – O Sr. Darcy disse que eu desapareci? - ela perguntou surpresa. O criado assentiu - Ele está bem? Ele está em casa?

— Não. Infelizmente ele está em Pemberley. Para o casamento - O Sr. Dawson respondeu.

Lizzy sentiu as pernas fraquejarem. Não, não. Não poderia ser isso. Seria possível que ele já estivesse prestes a se casar? Mas, ele não havia dito que a amava?

— Quer entrar, senhorita? Vejo que está tiritando de frio.

— Oh, sim, Sr. Dawson. Eu agradeço muito.

E depois, bom, ela não sabia o que fazer. Quando entrou, encontrou a casa com pouca iluminação e o Sr. Dawson usava um candelabro com velas acesas para se mover. Ele a deixou em uma sala, que estava com os móveis cobertos por lençóis brancos e afastou o lencól de um sofá, para que ela sentasse.

— Eu voltarei em breve, senhorita. Para acender a lareira. Não estava esperando visitas para hoje. Eu sinto muito. Gostaria de um chá com biscoitos?

— Seria muito amável, Sr. Dawson. Mas, deixe-me ajuda-lo.

O criado sacudiu a cabeça negando, de forma veemente.

— Não, senhorita. Fique aqui. Voltarei em instantes.

Lizzy aquiesceu e olhou a sala ao redor. O papel de parede florido era familiar. Ela já esteve ali na companhia de Darcy e Georgiana. Sentia falta deles, mas o que faria agora, se ele estava para se casar? Como Alexander e sua fada madrinha permitiram que ela voltasse no tempo, sabendo que ela encontraria Darcy a essa altura, casado? Bom, já que estava ali, iria para Pemberley. E explicaria seus motivos para ter desaparecido. Depois, partiria. Precisava encontrar um emprego. E já sabia a quem recorrer. Contudo, tendo um plano idealizado, ela sentiu o gosto amargo na boca. Era a sensação de derrota. De ter demorado demais para voltar para Darcy.


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