Sonhos de Julho escrita por Renan


Capítulo 9
11 de Julho




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Sonhei que eu estava num lugar bem amplo como um museu ou um set de filmagem, e que era quase todo escuro. Havia uma luz em cima que grande parte da luminosidade dela era canalizada para o que havia abaixo: um tipo de manequim meu, uma criatura quase idêntica à mim só que mais pálida e trajando apenas biquíni. Eu estava com medo de me aproximar porque achei que podia ganhar vida ou talvez estivesse se fingindo de objeto, mas se eu me aproximasse ia trocar nossas almas ou algo assim, me deixando naquele estado imóvel.

 Olhei ao redor, que tinha uma certa influência da luz central e me permitiu ver que havia outros objetos no chão. Basicamente vários pedaços soltos de manequins. Curiosa, resolvi analisar um pouco aqueles restos. Perto de mim havia uma perna, que eu peguei e olhei cuidadosamente. Era uma perna que não era nem fina nem grossa, porém longa como de uma modelo. Pus ao lado da minha e consegui perceber uma nítida diferença. Joguei no chão.

Mais adiante havia um braço jogado e eu resolvi dar uma olhada nele também. Peguei com as mãos e alisei. Não sei explicar como era a textura daquilo, mas era fascinante como parecia um pouco com um braço real só que sem sinais de algum dia ter tido qualquer pelo, ao contrário dos meus, que de tempos em tempos eu preciso tirar e um par de vezes enrolei por preguiça e ouvi comentários desagradáveis como “não sabia que crescia pelo em asiática”. Além disso o braço parecia pertencer a um manequim ou protótipo humano atlético, mantendo a beleza de um braço feminino, mas aparentando um certo vigor, diferente dos meus braços mais finos. Deixei no chão também.

Passei pelo meu clone inanimado, sem chegar muito perto, para testar se eu seria atacada por trás ou algo assim. Vi que tinha no chão o que seria o tronco ou busto de um manequim feminino, sem nenhuma peça de roupa. Quase abaixei pra pegar, mas ao olhar apenas por um momento aquele par de seios sem mamilos, porém de tamanho médio, eu automaticamente assumi uma postura reta. Lembrei do busto do meu “clone” e automaticamente pelo canto de baixo do olho reparei no meu pequeno volume, embora não quisesse olhar diretamente. Tomada por uma angústia repentina, chutei pra longe aquele troço e foi parar num ponto mais escuro da sala em que eu já nem conseguia ver.

Tinha diversos braços, pernas, bustos e até cabeças naquele espaço gigante, mas eu não queria mais ver nada. Peguei uma cabeça careca que havia ao meu lado sem nem reparar nos detalhes e joguei contra a parte de trás da cabeça do meu manequim, que caiu duro no chão.

Já ignorando qualquer medo, me joguei em cima daquilo, virei pra ficar de frente e abaixo de mim, peguei uma faca que inexplicavelmente se materializou do meu lado e comecei a vandalizar aquela cópia pálida cuspida de mim, fazendo cortes de onde saíram pequenos machucados, quase como se quisesse desfigurar até ficar irreconhecível. Fiz isso por apenas alguns segundos até que vi os globos oculares se mexendo como se estivessem procurando algo, e pararam olhando fixamente pra mim. Reprimi um grito e esbugalhei os olhos.

Obviamente acordei. Não é sempre que funciona, mas abrir os olhos com força nos sonhos às vezes me faz acordar. O problema é que fiz isso de forma meio involuntária e não porque queria acordar ou porque sequer estivesse pensando no fato de ser um provável sonho. Tentei dormir de novo depois e cheguei a conseguir, mas só por alguns minutos. Não sonhei mais nada, creio.


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