Sonhos de Julho escrita por Renan


Capítulo 10
14 de Julho




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Acabei sonhando de novo que eu era bem mais nova, dessa vez no equivalente ao Fundamental I. Eu estava na escola e tendo uma espécie de Dé-já-vú porque parecia uma situação que eu já tinha vivenciado, em que um menino tinha um boneco bonito do Batman e se distraiu um por momento e eu tinha escondido dele até o fim do dia.

Resolvi seguir o inevitável roteiro. Eu peguei o boneco do chão e escondi na minha mochila sem ninguém ver. Fiquei sentada na carteira escolar me fazendo de sonsa, enquanto percebia que o menino estava dando falta do boneco do Batman. Ele começou a procurar pelo chão inteiro da sala, começando a ficar chateado, enquanto eu estava achando uma certa graça nisso. Me fingia de distraída quando ele se aproximava de mim.

Em certo momento, ele olhou pros lados e se aproximou especificamente de mim, com um olhar de alguém meio aflito, ou que se sente meio intimidado por algum motivo. Acho que aqui é que a coisa ia se diferenciar do que tinha acontecido.

— Ô, Yumi... – foi dizendo ele, com voz quase trêmula.

— Oi? – perguntei, surpresa como alguém que foi tirada do mundo da Lua.

— Você é ladra ou criança? – perguntou, mas não dando indício de realmente saber que eu tinha me apossado do boneco.

— Criança né! – respondi, sorridente.

— É que seria muito estranho se você não fosse criança. – disse ele, parecendo quase ter medo de dizer algo que queria.

— Por quê?

— Porque você não tem peito.

Arregalei os olhos, ele continuou me olhando de forma meio aflita e inocente, mas aí o resto da classe começou a olhar pra minha direção. Com a idade que eu supostamente tinha no sonho eu nem pensava sobre o fato de mulheres terem mais peito que homens ou coisa parecida, mas agora naquela versão deturpada dos acontecimentos, com aquela frase súbita, eu fui tomada por uma ira.

Empurrei o menino pro chão, tirei o boneco da minha mochila, pulei em cima dele e comecei a bater nele usando o boneco, como se quisesse descontar alguma coisa da vida real. As pessoas ao redor começaram a ficar preocupadas, e o menino tentando se defender da agressão, mas o sonho acabou rápido.

Acabei tendo outro sonho também, em que eu aparentemente tinha minha idade atual. Nele, era uma noite escura e eu estava com meu pai numa espécie de bairro japonês. Ele do nada começou a me olhar preocupado.

— Filha, a gente tem que correr. Vem comigo. – me puxou pela mão.

Comecei a correr com ele, que soltou minha mão mas olhou pra trás de nós preocupado, como se estivéssemos sendo perseguidos por alguma criatura. Eu estava com medo de me virar e conferir, mas ouvi passos apressados vindos lá de trás que confirmavam a situação. Também ouvi o som de alguém fungando.

— Anda, filha! Não posso deixar tirarem você de mim! – dizia ele, e me segurava de novo pra não me perder dele.

Só que de repente nos vimos num lugar sem saída, com um muro grande. Encostamos no muro e meu pai me abraçou, enquanto ele olhava para a criatura misteriosa que eu preferia não saber o que era. Ouvi novamente o som de alguém fungando com o nariz. Meu pai parecia entender as intenções da criatura, que eu já estava deduzindo a identidade embora não entendesse a situação.

— Não, eu não vou embora e deixar só você com a minha filha! – dizia ele, de maneira meio passivo-agressiva.

Estava com medo do meu pai apanhar. Quis fazer algo pra intervir na discussão, mas o sonho acabou subitamente também.

Nossa, que noite chata.


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