Sonhos de Julho escrita por Renan


Capítulo 5
6 de Julho




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Sonhei que eu vivia num casarão meio escuro, isolado do resto da cidade. Eu estava diante da janela com um binóculo e vendo que, ao longe, a cidade estava muito iluminada por várias luzes e algumas festas pareciam estar acontecendo. Em poucos segundos eu deixei o binóculo na mesa, cansada de espiar aquilo.

— Vulgares. – disse, olhando com desprezo para a janela.

Só então percebi que estava com roupas escuras e havia um chapéu de bruxa num banquinho. Coloquei e me olhei num espelho que havia perto, até que eu tinha estilo naquele momento. Mas algo me dizia que eu estava perdendo tempo e tinha algo mais importante a fazer, pois ao lado daquela sala estava a cozinha, com um caldeirão aceso e um papelzinho amarelado na bancada. Peguei e parecia ser uma lista de ingredientes, mas quase todos estavam já riscados e eu não conseguia lê-los. Só sobravam os dois últimos: um fósforo aceso e um cubo de gelo.  

Eu definitivamente estava fazendo alguma experiência intrigante, e no fundo talvez até estivesse suspeitando do que seria, mas tudo o que fiz foi me adiantar pra terminar a misteriosa receita. Peguei um cubo de gelo no freezer e joguei no caldeirão, gerando uma fumaça esbranquiçada. Algo mudou na cor do líquido, mas não consigo lembrar cor nenhuma. Em seguida, tirei um fósforo da caixinha que havia também na bancada e, depois de hesitar por um momento, deixei cair lá dentro.

De repente, o caldeirão começou a temer, e o líquido a se mover de forma circular. Dei alguns passos pra trás e coloquei minhas mãos para defender meu rosto, caso algo pulasse dali. De repente, houve um tipo de “explosão” contida, que me jogou pra trás e eu caí encostada na parede. Parecia muito com a abertura do desenho das Meninas Superpoderosas. Meu chapéu tinha sumido.

Depois de alguns segundos eu abri os olhos e, pra minha surpresa, havia um garoto na minha frente. Um garoto de cabelo meio branco e meio vermelho, que parecia ter uma queimadura numa parte do rosto, usava roupas azul escuras e botas brancas. Não parecia fazer parte do mesmo plano que eu, pois os tons de suas cores eram menos realistas. Ele olhava pros lados movendo apenas os olhos (que tinham cores diferentes), como se estivesse confuso sobre onde estava. Levantei rapidamente, com brilho no olhar.

— Todoroki! – exclamei, eufórica, enquanto entrelaçava meus dedos.

— Por que eu estou aqui? – perguntou ele, com um olhar sério, mas humor neutro, não mau.

— Não sei, mas não tem nenhum motivo pra ir.

Me aproximei querendo abraça-lo, mas lembrei que na cultura japonesa os abraços são pouco comuns, especialmente entre pessoas que se conhecem pouco (embora eu soubesse muito sobre ele). Ofereci minha mão direita para ele, que resolveu retribuir o gesto em silêncio. Apertamos as mãos e a dele estava geladinha. Em seguida ofereci a outra mão, e ele após relutar por um momento cedeu de novo. A mão esquerda dele estava mais quentinha, sem estar suada.  

— Bem, agora eu acho que nós vamos viver juntos.

— Como está a cidade? - perguntou ele

— Agitada, parece. Todo mundo fingindo que está bem consigo mesmo. Não precisamos nos misturar com eles.

— Desculpe, mas... eu acho que tenho deveres de herói pra cumprir. – disse ele, se virando subitamente.

Preocupada, segurei os braços dele, que estava de costas pra mim.

— Essa gente é problemática, Todoroki-kun. Se destroem sozinhos e uns aos outros. – falei, enquanto ele fazia um “X” com os braços pra tocar minhas mãos. – Vamos viver sossegados.

— Fugir não faz o meu estilo. Se o mundo é problemático eu tenho que fazer algo por ele. Você também devia, Yumi.

Essa voz meio estoica (não sei o significado exato dessa palavra, ok?) e esse jeito racional, independente de eu concordar com o que ele diz ou não, me faziam contraditoriamente sentir um certo calor e um arrepio ao mesmo tempo. Ainda mais por ele mostrar que sabia meu nome. Mas fiquei triste que ele afastou minhas mãos e começou a se afastar.

— Shoto...

Ele se virou e me olhou surpreso. Ele não estava acostumado a ser chamado pelo primeiro nome assim. Aqueles olhos de cores diferentes me olhando...

De qualquer forma, ele começou a correr e usou um poder de gelo pra sair deslizando pra longe, sem dizer mais nada. Em segundos o sonho simplesmente acabou.

Acho que foi o sonho que mais gostei de ter tido esse mês até agora. Foi um baita exemplo de sonho com final triste que valeu a pena ter tido assim mesmo. Talvez faça sentido algo que ele disse, mas eu realmente prefiro a ideia de me isolar estando com alguém como ele. Me pergunto se em sonhos futuros vou ficar tentando encontrar com ele de novo.


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