Sonhos de Julho escrita por Renan


Capítulo 4
4 de Julho




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Ontem não consegui lembrar de ter sonhado algo, mas hoje eu consegui lembrar de dois sonhos.

O primeiro foi curto até. Nele eu estava num lugar bem aberto com o chão coberto de neve. Só se via prédios ao longe. O tempo estava nublado, e coisas pequenas, redondas e claras caiam do céu, num ritmo um pouco lento, como neve de desenho animado. Mas aquilo não era neve, era algo meio amarelado. Olhei com cuidado e peguei uma daquelas bolinhas, olhei com cuidado e dei uma mordida.

— Hum... é pão de queijo! – exclamei, com os olhos brilhando.

— Exatamente, filha. – disse uma voz atrás de mim.

Me virei e vi que era o meu pai, a minha mãe estava lá também, cada um comendo um. Minha mãe fungava um pouco, como ela faz com alguma frequência na vida real por ter rinite e outros motivos. Por algum motivo nenhum daqueles milhões de pãezinhos caíam em mim, eu só sentia quando pegava um na mão. Resolvi pegar mais. Já tinha um tempo que eu não comia.

— Pai, por que você acha que tá caindo pão de queijo do céu? – perguntei.

— Um santo ou outro alguém que sabe que você gosta pode estar mandando como um presente. – respondeu, ajeitando os óculos.

Olhei pro céu por um momento, meio dividida sobre se deveria ou não continuar pensando sobre a origem disso. De repente senti um pão de queijo ser arremessado contra a minha nuca.

— Guerra de pão de queijo! – exclamou minha mãe, jogando também no meu pai.

Peguei alguns com a mão e comecei a jogar neles também. Meu pai, coitado, não parecia muito empolgado pra isso. Minha mãe olhava pra ele às vezes de forma um pouco mais séria, como querendo passar a ideia de que ele ia receber uma bronca se acabasse me machucando. Ele sorriu e só jogou bem de leve alguns na direção do braço da minha mãe e na minha direção, fraco o suficiente pra descer um pouco no trajeto. Foi só isso.

O outro sonho foi muito diferente. Eu estava numa sala de aula do meu colégio anterior (estudei nele por uns cinco anos, tô começando o ensino médio em outro). Era uma mistura do pessoal com quem tinha estudado na primeira e segunda vez em que cursei o 9º ano. Parecia que estávamos todos fazendo prova ou algum outro trabalho importante. Olhei pro papel e vi que a primeira pergunta era “Qual a diferença entre El Niño e La Niña?”. A minha resposta escrita tinha sido “El Niño é macho e La Niña é fêmea”. Eu sabia que estava errado, e lembrava vagamente a resposta certa, mas não tinha uma borracha no meu estojo. Sem esticar a cabeça, tentei pedir pra pessoa da frente.

— Me empresta uma borracha?

O menino ignorou. Tentei pedir de novo, esticando a cabeça só um pouco pra não pensarem que eu queria colar. Vi pelo canto do olho que a menina da fileira do lado olhou de relance e fiquei envergonhada porque notaram que estava sendo ignorada. Eu podia pedir pra ela então.

— Me empresta uma borracha? – pedi, com a voz no mesmo tom.

Novamente fui ignorada. Não fazia sentido, já que ela tinha percebido antes que eu estava precisando. Minha voz não podia ter ficado mais baixa ainda. Já meio nervosa e com a cabeça ainda virada, olhei pro meu ombro e tentei pedir pra quem estivesse atrás de mim, dessa vez falando alto.

— EMPRESTA A BORRACHA?!

De repente a classe inteira olhou pra mim.

— Quê que é isso, Yumi? – perguntou a professora, confusa.

Alguém começou a puxar um coro de “Êêêê”, como forma de zombar de mim, e quase imediatamente se espalhou e a sala inteira já estava participando desse coro. Eu só colei minha cara no papel e envolvi minha cabeça com os braços. Que vergonha! Nunca tinha acontecido esse coro antes em situações um tiquinho parecidas.

Logo em seguida eu acordei, para o meu alívio.


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