The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 14
Capítulo 13




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O ruído de passos baixos andando de um lado a outro pela cabana o despertou do sono leve de sempre e Bucky ainda colocou o braço sobre os olhos, esperando que Wanda só estivesse indo ao banheiro ou algo do tipo. Porém, os passos eram pesados demais para serem de meia e, logo, ele abria os olhos para a janela irritantemente iluminada à frente. 

O outono já se tornava inverno e, ainda que fosse resistente à mudança de temperatura, tanto altas quanto muito baixas, gostava do conforto do inverno, das roupas às mantas que o cobriam por conta da brisa mais fresca. Apesar disso, concentrou-se novamente nos movimentos que agora vinham da cozinha, de onde o aroma conhecido do chá de hortelã de Wanda exalava. 

‘O que ela fazia acordada àquela hora?’, atônito, estendeu a mão para pegar o relógio de pulso deixado sobre a mesinha de centro notando que não passava das cinco da manhã. Quando se sentou, ainda lentamente, jogando a manta para o lado no processo, se voltou à figura pálida o encarando de maneira totalmente inerte, apesar de já completamente vestida para o dia em roupas de verdade, não pijama. 

Ela calçava um coturno de aparência pesada, além de um vestido preto que terminava no meio das coxas, um casaco da mesma cor e os cabelos ruivos atipicamente presos. 

— Aonde está indo?

Questionou com uma careta, levando as mãos aos olhos. Apesar de ter seus sentidos apurados pelo soro de Zola, realmente gostava de dormir. Por tanto tempo, fora colocado num estado de alerta tal que podia passar dias sem sono, então, de certa forma, isso parecia importante nessa nova fase. 

— Novi Grad. – Voltou a franzir o cenho, em confusão e, respirando fundo, resolveu se levantar de vez. 

— Achei que a cidade em que nasceu não existisse mais. 

— Há uma pequena cidade ao redor. – Wanda se virou para lavar a xícara e, apesar de parecer e soar calma e distante, percebeu os dedos trêmulos ao se aproximar para pegar café. – As pessoas tiveram que se estabelecer ao redor da cratera que restou depois de...

— Ultron? 

A viu apertar a mandíbula, tão incomodada quanto inconformada a julgar pelo menear de cabeça e os olhos baixos na xícara sob a água corrente da torneira. 

— Ultron, Stark, eu... E todo o resto...

Repentinamente, a viu soltar a xícara e lhe dar as costas. Porém, observou com uma sobrancelha levantada o objeto flutuar envolto por energia escarlate até o local correto. Wanda, por sua vez, começou a se encaminhar até o próprio quarto, provavelmente para pegar sua bolsa ou algo do tipo.

— Posso ir? 

Ela suspirou mal humorada e murmurou um ‘tudo bem’ com um gesto de mão, como se não se importasse, o que, talvez, fosse realmente o caso. Assim, se vestiu rapidamente no banheiro e, quando saiu, Wanda estava em seu quarto de frente para o espelho abotoando a corrente de prata com o pingente iconoclasta. O gesto parecia incerto, entretanto, e o cenho franzido demais para ser considerado meramente vaidoso. 

Antes que pudesse seguir o caminho para a sala, os olhos da ruiva, pelo reflexo no espelho, recaíram exatamente em Bucky, estacado no corredor conjecturando sobre cada ação da mesma. Por um longo segundo ninguém se movimentou e nada foi dito, mas parecia enxergar nos olhos dela uma sombra de temor atípica, diferente da habitual apatia e também do costumeiro remorso, que não combinava com a luz muito clara do início da manhã adentrando o quarto pela janela sempre aberta e iluminava todo o ambiente de forma a torná-la ainda mais intimidadora naqueles trajes e feições.

Num estalo, porém, resolveu seguir em frente, afinal, era ele quem estava invadindo a privacidade de Wanda, não o contrário. Quando ela saiu, momentos depois, já com a bolsa pendurada nos ombros e um boné em uma das mãos, Bucky terminava a refeição rápida de ovos mexidos e bacon que ela preparara o suficiente para dois. 

Não mencionaram a situação constrangedora anterior e simplesmente seguiram para a garagem, onde Wanda lhe estendeu a chave do carro. 

— Quero me manter concentrada dessa vez. 

Pegou com certa desconfiança, pois percebera que a garota gostava de manter certa autonomia em relação a tudo e todos ao redor. Franziu o cenho, ainda já a visse se dirigir para o banco do passageiro. O que quer que houvesse planejado, tinha algo a ver com o que vira na estrada no outro dia e, provavelmente, queria estar preparada para qualquer imprevisto.

— Novi Grad, então.

Determinou vendo-a ligar o rádio numa estação local, que tocava canções atuais e apoiar o rosto em uma das mãos, mantendo o boné no colo e os olhos na estrada. O caminho continuou tipicamente silencioso por todas as duas horas de estrada até o limite da cidade. 

Meneou a cabeça diminuindo a velocidade para adentrar a via que circundava o grande cenário de guerra que se tornara os destroços da capital de Sokovia. Wanda se ajeitou no banco e abriu o vidro, sem se importar com o sol ou o vento, provavelmente tentando identificar algo conhecido na caótica cratera, mas duvidava que pudesse captar qualquer coisa. 

Vira nas notícias que os Estados Unidos e, especialmente, Tony Stark tiveram de unir recursos para reconstruir as estruturas básicas de Novi Grad, incluindo as vias modernas que percorriam agora, hospitais, escolas e restabelecer comércios essenciais. Fazia parte dos Acordos de Sokovia, lembrou, mas aquele pedaço de papel jamais seria capaz de restabelecer as vidas de todos os moradores, as ruas que percorriam, sua cidadania. 

O exército americano ainda estava presente para supervisionar obras, notou quando avistou uma barreira policial metros à frente e, logo, alcançou os óculos escuros enquanto Wanda se encolhia contra o banco e ajeitava o boné. Havia aprendido que era melhor não chamar a atenção para si mesmo e a outra... Bem, ela poderia alçar muito rapidamente ao status de procurada, considerando o que acontecera em Westview. 

— Olha, o centro histórico. 

Ela apontou uma placa, que indicava a direção certa. Bem, Stark fizera o mínimo ao que parecia, ponderou ao adentrar a nova cidade, de ruas largas e espaçadas, ostentando construções de arquitetura típica do país, assim como o Centro a que Wanda se referia. Bateram as portas do carro de forma simultânea enquanto estreitava os olhos para o conjunto de museu e monumentos históricos relacionados à Novi Grad. 

O prédio, com portas ao final de uma escada de pedra de vinte degraus, pintado na cor verde-menta, fora construído como tentativa de reparação, informava a pedra fundamental logo na entrada, a qual possuía a assinatura rubricada de Tony Stark. A entrada ficava aberta ao público, mas um cadastro era necessário e, por isso, Wanda entregou suas identidades à recepcionista de forma ágil. Quando ela devolveu junto aos crachás, os nomes eram falsos. 

Levantou os olhos para a ruiva, que apenas deu de ombros e seguiu em frente pelo hall de entrada sob a claraboia alta como se nada tivesse acontecido. Objetos tradicionais haviam sido resgatados dos destroços restantes de Novi Grad, colocados em diferentes seções, sobre púlpitos de madeira protegidos por vidraças. Pinturas da vida na cidade, pobre, mas aparentemente pacata, também haviam sido dispostas em todos os tamanhos pelo museu. Não era exatamente luxuoso, percebeu, mas havia feito um bom trabalho de curadoria. 

Alcançou um dos folhetos explicativos sobre uma mesa de madeira continuando com um olho em Wanda, que parecia saber exatamente onde ir. A seguiu escada acima até o segundo andar, projetado num plano aberto o suficiente para que a iluminação do dia recaísse exatamente sobre o monumento de pedra brilhante próximo à porta. 

Era um ambiente espaçoso feito para dispor os pertences das vítimas da batalha contra Ultron, em pontos estrategicamente arquitetados. Havia desde acessórios, como correntes e chapéus, até ferramentas de trabalho, roupas e instrumentos musicais, provavelmente pertences muito característicos de cada uma dessas pessoas. Notou que Wanda estacou logo na entrada, esticando os dedos para tocar um dos nomes gravados em ordem alfabética na pedra. 

Pietro Maximoff. Steve contara que eles costumavam ser inseparáveis e o garoto morreu por um descuido bobo. Ele era uma criança lutando em uma guerra maior do que si próprio, como eles nos anos 40, lembrou de ter pensado. 

A ruiva fechou os olhos num átimo escarlate que chegou até as pontas dos dedos e durou apenas meio segundo. Não sabia qual a intenção, mas imaginava que tivesse mais a ver com magia do que simplesmente o luto propriamente dito. Wanda sempre parecia recorrer ao seu poder quando se sentia... Esmagada demais pela realidade. 

Expirando num apertar de lábios desgostoso, voltou a examinar o aparador repleto de pertences pessoais de estranhos até seus olhos recaírem em algo conhecido. A corrente prateada com a medalha da santa cristã como pingente o chamou atenção de imediato naquela seção. 

— Wanda. 

Ainda a viu secar uma lágrima e tentar disfarçar os olhos marejados antes de seguir até onde estava com um olhar inquisitivo. Bucky apenas apontou com um menear de cabeça e ela se aproximou, prendendo a respiração ao reconhecer a medalha gasta, os dedos apertados contra o vidro, manchando a superfície lisa como se pudesse realmente alcançá-la. 

— Pietro nunca usava a dele. – Ela disse, os olhos voltando a marejar e uma das mãos encontrando o pingente da própria corrente. – Eu não sabia que estava com ela naquele dia.

— Foi um presente? 

— Nossa mãe costumava... Fazer esses trabalhos manuais. Como um hobby. – Ela sorriu distante, como se recordasse uma passagem específica, a mão fortemente fechada contra o peito. – Ela fez para o nosso aniversário de 9 anos. Mas acho que Pietro encarava mais como uma lembrança dela do que como algo só nosso. E ele não gostava de... Lembrar, entende? 

— É uma medalha bonita. – Ela se voltou a ele em agradecimento e Bucky decidiu sair para deixá-la a sós com suas memórias e qualquer fantasma do passado com o qual lidava, mas no instante em que se virou notou a presença silenciosa de uma mulher séria, que cruzava os braços como se esperasse ser contestada. De cabelos muito negros e compridos cortados em franja, mantinha uma postura ereta e feições quase etéreas, tão perfeito aparentava ser o rosto bem desenhado, de queixo muito alinhado, nariz fino e olhos azuis. Como Wanda, usava um vestido preto, mas que chegava até os pés num tecido fluido. – Quem é você?

Wanda também não havia notado a outra, o que era estranho e questionável, considerando suas habilidades. Ignorando-o após encará-lo de cima a baixo com um levantar de sobrancelha desdenhoso, a mulher se virou para a ruiva, que franzia o cenho para compreender o que acontecia ali.

— As respostas que procura não estão aqui. 

— Você não sabe o que eu procuro. – Ela levantou uma sobrancelha à outra, que sorriu tacitamente.

— Direção. 

— E onde estão as respostas para isso? – Wanda perguntou após um suspiro cansado ao perceber que a mulher não parecia pronta a deixar as metáforas de lado. 

— Onde tudo começou. 

Ela respondeu de maneira simples, ainda que parecesse um enigma para Bucky. Porém, notou a tensão escorrer pelo corpo de Wanda no instante em que compreendeu o que a mulher queria dizer.

— Quem é você? – A Maximoff repetiu em tom baixo, desconfiada, parecendo tentar ler a outra, que soltou um risinho. 

— Eu sou o que vem buscando desde que voltou para a casa. 

Então, a mulher simplesmente virou as costas e Bucky encarou Wanda, se perguntando porque apenas olhava o local por onde ela havia sumido, sem fazer menção de segui-la para tentar buscar mais respostas.

— O que isso significa? – A viu franzir o cenho e percorrer com os olhos ao redor de maneira ansiosa, como se estivesse sendo observada. 

— Não sei ao certo. – Bucky bufou e a seguiu quando Wanda decidiu sair, descendo as escadas de maneira determinada. 

— E ela era uma...? Você sabe... – A ruiva levantou uma sobrancelha a ele, que se recusava a perguntar em voz alta num local tão público e suscetível de conversas. 

— Não, mas... – Ela se interrompeu quando passaram pela recepção e se aproximou, ombro a ombro, para manter o tom baixo enquanto se dirigiam para o carro, há apenas alguns metros da entrada do museu. – Eu não consegui senti-la. A mente dela é um grande... Escuro silencioso. Isso não é comum e me incomoda.  

Wanda se acomodou no banco de passageiros com brusquidão e abriu o porta-luvas em busca de um mapa em papel já desgastado guardado ali, desdobrando-o em seu colo. Se perguntou se ela não tinha um celular com acesso a GPS, mas não a questionou realmente. A observou refazer com os dedos uma rota qualquer, considerando que agora a geografia mudara um pouco devido as novas estradas e cidades se formando em diferentes lugares. 

— Aquela mulher parece saber bastante sobre seu objetivo. – Tateou com cuidado, ouvindo-a concordar sem dar muita atenção. – Ou o suficiente. Acha que é realmente uma ajuda? 

De repente, a mesma suspirou cansada e ainda examinou o mapa por mais um segundo enquanto apertava os dedos num tipo de avidez quase infantil e incontrolável. Com o boné tampando metade do cabelo como estava, Wanda aparentava ainda menos idade do que realmente tinha e parecia mais temerosa do que repleta de habilidades que não tinha ideia. 

— Não sei se ela é a ajuda. – Dobrou o mapa, lenta e cuidadosamente, tomando o cuidado para deixar à mostra somente a rota que gostaria. – Mas não vai gostar do próximo destino.


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Notas finais do capítulo

Ei!

Mais um passo de HHL, mas agora eles saíram um pouco da cabana e as interações mudaram, mesmo que seja para algo mais prático! ;)

Me contem se vocês têm curtido a história e o desenvolvimento que Bucky e Wanda vem ganhando aqui, ainda há muito para acontecer!

Até breve!



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