Lobo e o gato selvagem escrita por HumbleLittleFox


Capítulo 8
Capítulo 8 - Emoções?


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus humildes leitores!
Nossa, o tanto que reescrevi algumas cenas e adicionei ou retirei outras, vocês não tem noção.
Estou já preparando o terreno para os futuros capítulos que serão emoção atrás de emoção, devo alertá-los.
Se você está aqui lendo, meus humildes agradecimentos! Por favor, curta e comente o que achou, é muito importante para mim saber a opinião de meus leitores, seja ela boa ou ruim!
É isso, boa leitura.



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Uma vez em terra firme, eles precisavam achar o resto do grupo. Hijikata e os outros haviam visto eles no dirigível e os haviam seguido por terra montados em cavalos. Sendo o dirigível não era fácil de se perder de vista, logo. era possível ter noção de onde caíram. Ogata verificava de vez em quando a segurança ao redor usando seus binóculos.

Sugimoto se sentou no chão e tirou uma parte de sua roupa para mostrar o ferimento da bala que Koito lhe causara. 

— Oh, Sugimoto! – disse Asirpa, vendo que ainda não parou de sangrar. – Seu sangramento não vai parar enquanto não extrairmos a bala e tratar o ferimento.

Ali próximo, Yuki estava em pé, ao lado de Ogata, os braços cruzados tentando parecer que tudo estava na mais perfeita ordem, como se não houvesse um buraco de bala no lado esquerdo de seu peito. A região do ferimento ardia terrivelmente por dentro, e Yuki sentia-se enfraquecer aos poucos. Precisava logo de cuidados para conter o sangramento que persistia. Ela não gostava disso... E também não se permitia demonstrar fraqueza.

— Se não nos apressarmos, eles vão nos alcançar. – avisou Ogata, se referindo aos homens de Tsurumi. Ele deu um breve olhar na direção de Yuki, o rosto impassível.

— É preciso ajudar Hagiwara-san também. – disse Sugimoto olhando para uma Yuki já muito pálida, mais notável eram os efeitos da perda de sangue. – Ele foi baleado também. Não percebemos antes por causa da cor de seu uniforme. Duro na queda igual a mim, hein?

— Sim, pode-se dizer que sim... Mas estou bem.

— Bem o caramba que você está. Parece que vai desmaiar a qualquer momento! - Shiraishi comentou bastante preocupado. Ela parecia mais pálida que o normal. - Não precisa bancar o durão.

— Não estou bancando o durão. - Yuki retrucou e olhou feio para Sugimoto por ter revelado sua situação para os outros, e levou a mão ao ferimento para ver se isso ajudava a parar o sangramento. Sim, ela estava tentando bancar a durona.

Ogata a olhou em silêncio, por dentro um tanto surpreso como ela ainda conseguia se manter em pé mesmo depois de ter perdido muito sangue, talvez mais do que Sugimoto. Seria o orgulho que a mantinha em pé? Mas o que mais chamava a atenção dele, era que ela ainda vestia o imponente casaco preto de Segundo Tenente. Vê-la vestida assim não apenas trazia algumas recordações, como fazia Ogata sentir algo que não entendia ainda o que era. E isso o incomodava.

No entanto, Yuki apenas não queria parecer “fraca”. Sempre tentou manter-se firme não importasse o suas condições, nem mesmo a menor das fraquezas. Ela não podia ser fraca. Não se permitia jamais. Precisava ser forte por ele, e todos quem se importava. Não, não, ela precisava ser forte como sempre foi desde que entrou no exército. Então Yuki olhou para Ogata.

— Eu encontrei algumas retannoya. É o que chamamos de planta do espirro. – disse Asirpa esmagando-as. – Se você esmagá-las e colocar nos ferimentos, ajudará a estancar os sangramentos.

Depois de tratar dos ferimentos de Sugimoto, Asirpa se aproximou de Yuki e esperou. Ogata apenas observava a cena em silêncio, parecendo pensativo, então voltou a verificar os arredores com seu binóculo.

— O que foi? – Yuki perguntou, olhando para a menina. Então levantou as mãos, se afastando alguns passos, não gostando nenhum um pouco da ideia de ter que abrir a parte de cima do uniforme, porque isso significaria revelar sua verdadeira identidade. – Ah, não, não… A bala atravessou. Eu estou bem, já falei. Posso aguentar.

Isso não foi suficiente para convencer Asirpa, que obviamente não gostou de ter sua ajuda negada, mesmo que de forma condescendente.

— Bem o caramba, está louco? – disse Sugimoto, encarando-a, surpreso. – Você está muito pálido, Hagiwara-san. Estou impressionado que não tenha desmaiado ainda.

— Então me dê que eu cuido do meu ferimento. – disse Yuki de uma maneira que Asirpa entendesse que não adiantaria insistir. – Sempre cuidei dos meus ferimentos sozinho. 

— Tá com vergonha de alguma coisa, Hagiwara? – perguntou Asirpa, tentando se aproximar mais e mais. – Que foi? Tem alguma cicatriz que tenha vergonha de mostrar? Não precisa se envergonhar! Sugimoto é cheio delas e já as vi, então porque não deixa eu te ajudar? Vamos, vai, abre esse casaco, Hagiwara-saaan…

Yuki se afastou a cada passo que Asirpa deu em sua direção até que suas costas deram com as costas do Ogata. Sentiu o corpo eletrizar nesse choque contra ele. Aquele único e simples toque era o suficiente para ela sentir o quão forte Ogata devia ser sob aquele uniforme e seu rosto ficou vermelho.

— Aliás, como assim você já viu todas as cicatrizes dele? - Yuki questionou e olhou horrorizada para Sugimoto.

— Ei, por que tão me olhando com esse olhar? - Sugimoto perguntou, perplexo.

— Você não vai conseguir se movimentar bem, Hagiwara-chan! – Shiraishi demonstrou preocupação. – Melhor deixar a Asirpa-chan te ajudar com-...

— Eles nos acharam! – Ogata avisou de repente. Estranhamente, Yuki ficou feliz por eles terem os achado, assim Asirpa esqueceria dela por enquanto. Todavia, isso não era nada bom. – Rápido! Não temos outra alternativa a não ser atravessarmos Daisetsuzan!

— Vamos mesmo atravessar essas montanhas? – Shiraishi perguntou surpreso.

— O que sugere? Ficar e termos as peles arrancadas vivos? – perguntou Yuki. – Hm, espera, isso seria apenas com o Shiraishi…

Shiraishi olhou feio na direção de Hagiwara que deu de ombros.

Mesmo assim eles foram para Daisetsuzan, que significa “grandes montanhas nevadas”, é o nome da cadeia de montanhas que inclui o monte Asahi, a maior de toda a região de Hokkaido. De repente começou um forte vento frio que dava uma sensação térmica como se estivesse nevando no inverno. Não bastasse isso, parecia estar prestes a chover. Shiraishi começou a agir estranho, o rosto corado e sorrindo todo bobo. Havia algo de esquisito naquele lugar ou simplesmente a baixa temperatura estava começando a afetá-lo de alguma forma.

— Precisamos achar um lugar para nos protegermos desse vento! – alertou Ogata. – Ou vamos morrer de hipotermia!

Estavam em uma parte das montanhas que não crescia árvores e havia pouca neve no chão para se cavar um buraco se proteger da chuva e do vento. Não havia para onde ir nem como se esconder. Até que Asirpa avistou um grupo de cervos. 

— Sugimoto! Atire nos yuks! – Asirpa pediu, apontando para os animais. – Precisamos de pelo menos três deles.

Yuki, tão enfraquecida, não notou quando se inclinou para o lado e se apoiou em Ogata, que, ao sentir seu peso, disparou de repente. Um só disparo foi suficiente para matar dois cervos de uma só vez. 

— Nossa, dois com um tiro só! – Sugimoto estava impressionado.

Ogata atirou novamente e matou mais um cervo. Asirpa correu para abri-los e remover as vísceras e órgãos, inclusive a pele. Shiraishi tirou a roupa, ficando pelado, e começou a dançar. 

— Vou pegar o Shiraishi! – Sugimoto correu até ele. – Ele está delirando da hipotermia!

— Ele está possuído pelo pawci kamuy! – gritou Asirpa.

— Ele não parece ser o tipo que faz sucesso com as mulheres… – observou Yuki, arqueando as sobrancelhas enquanto Ogata estava ao seu lado, em silêncio, testemunhando tudo aquilo.

 

**************

Depois de resgatar Shiraishi do delírio e colocá-lo dentro de um dos cervos, Sugimoto e Asirpa dividiram outro cervo, Yuki e Ogata, o último. Eram quentes por dentro e os protegiam do vento e da chuva.

Yuki estava com as costas contra o peito de Ogata, ambos tão próximos por causa do pouco espaço, que ela podia sentir a contínua e calma respiração dele em sua nuca, que a fez se arrepiar. Seu corpo agora mais fraco por causa da adrenalina da fuga estar se dissipando, que a dor e a queimação irradiavam onde levou o tiro, mas mesmo assim Yuki permaneceu quieta apesar de todo o seu sofrimento.

Ogata estava com um olhar distante, pensativo quanto a essa missão de resgate ao Shiraishi. Desde que Sugimoto e Yuki foram descobertos, a situação não foi nenhum pouco favorável a eles. Foi uma surpresa ver essa mulher pular na frente da situação sem nenhuma hesitação para encarar Koito, sabendo das habilidades de esgrima dele, após ser ferida.

E também a maneira como ela parecia se divertir com tudo. O sorriso doentio dela. Ele recordou-se, enquanto vigiava de longe, o quão aterrorizado o Coronel Yodogawa ficou após ouvir Yuki sussurrar-lhe algo no ouvido, e antes, quando ela quase o estrangulou com uma mão. Essa mulher realmente o intrigava inexplicavelmente.

— Aquele miserável do Koito… – Yuki reclamou com uma voz de raiva contida. – Se não tivesse me mexido um pouco para o lado eu realmente estaria com muitos problemas agora.

Como se o tanto de sangue que perdeu não fosse problema suficiente para alguém…” pensou Ogata.

Yuki tentou mexer os braços para tentar desabotoar o uniforme, mas não conseguia. O espaço não era suficiente e a dor que sentia a impossibilitava de mover-se. Precisava passar logo o remédio para parar o sangramento que persistia até agora. Se perdesse mais sangue, morreria.

Ogata percebeu a dificuldade dela, a cabeça apoiada em uma das mãos, mas depois de ouvir a dificuldade dela em silêncio, ele pegou as mãos dela com as dele e as afastou. Isso a pegou de surpresa. Ogata desabotoou o casaco de Segundo Tenente dela, e depois a camisa branca que se vestia por baixo.

Por puro reflexo, Yuki segurou a mão de Ogata, o coração acelerando.

— Quer ajuda ou quer morrer? – não havia emoção na voz dele. – Por que ainda essa preocupação em esconder que é uma mulher? Já sei sobre isso e não está mais no exército, então acho que isso agora não faz mais diferença, não é?.

Yuki não tinha resposta para aquela pergunta porque ela mesma não sabia. Nunca havia pensado sobre isso, na verdade. Fazia tanto tempo que temia ser descoberta, sempre escondendo seu segredo, fingindo ser um homem, que era como se essa máscara tivesse se tornado seu rosto, quase substituindo quem ela foi um dia. Nunca parou para pensar que estava livre para ser quem era e isso a chocou. Mas quem era ela agora afinal? Soltou a mão de Ogata devagar, e seu olhar ficou vazio e distante. Ogata pareceu entender sua reação e ergueu o canto da boca em um leve sorriso.

Ele deslizou a mão com cuidado para dentro, tentando alcançar a saída da bala nas costas para passar o remédio, e depois na frente, na altura das costelas abaixo da bandagem que ela usava para apertar e apertar e disfarçar os seios. Ogata sorriu levemente quando sentiu ela estremecer por causa de seu toque em sua pele macia sob seus dedos ásperos. Ele sentiu, também, os desnivelamento da pele em alguns pontos, que deviam ser cicatrizes. Sem perceber, ele delineou uma fina cicatriz dela com o dedo.

O olhar de Yuki voltou a ter foco naquele momento. Ninguém nunca mais a havia tocado desse jeito e com esse cuidado. Os dedos de Ogata percorrendo sua pele causava uma sensação boa e um estranho anseio. Ogata, tão logo sentiu a mesma e repentina ansiedade, afastou sua mão de Yuki, ajudando-a depois apenas a abotoar a camisa e o casaco. Ele olhou para baixo, para ela, por um segundo.

— O que, quer que eu te agradeça? – ela repetiu as palavras dele, com um sorriso zombeteiro, quando terminou de passar o remédio. Ele, claro, entendeu essa referência e sorriu de volta.

— Não seria bom para nós carregar um peso morto. – ele disse com desdém. Então o canto da boca dele se ergueu em um meio sorriso novamente – Não que esse ferimento tenha atrapalhado contra Koito lá no dirigível. Foi por isso que não quebrou aquele rostinho bonito dele como disse, não é? 

— Você é realmente irritante…

Yuki sentiu o ferimento formigar um pouco depois do remédio ter sido passado e relaxou um pouco mais. Passou-se um tempo os dois sem dizer uma palavra. Yuki podia sentir o calor do corpo dele. Era reconfortante, ela pensou.

A lembrança de que estava tão próxima assim, como nunca antes ficara com alguém, causava-lhe uma forte sensação de borboletas na barriga e um incômodo no peito. Além disso, era ele... Ogata, quem estava tão próximo. Ele sempre lhe causou tudo isso. Todas as confusas sensações e emoções desde que o viu pela primeira vez. Sentiu o coração acelerar novamente.

Recordou-se da primeira vez que o viu. Talvez ele não se lembrasse dela desse dia, mas Yuki tinha 15 anos, e já estava disfarçada de menino. Treinava artes marciais com Tsurumi quando Ogata e Usami chegaram para discutir algum assunto. Seus olhos se encontraram nesse momento, de longe, e ela sentiu esse inexplicável magnetismo. Era um sentimento tão complicado de definir, tão abstrato e novo que era para ela. Esse traço de familiaridade. Essa atração. Desde então, toda vez que o via, mesmo de longe, ela sentia essa intrigante emoção e desconcertante ansiedade.

Essa memória a fez suavizar o olhar e fechar os olhos, respirando fundo, espantando os pensamentos para longe para que pudesse acalmar o coração agora tão acelerado. Ogata inclinou a cabeça para mais próximo da cabeça de Yuki, para que pudesse sentir seu cheiro, com a curiosidade de um gato.

— Na guerra...  – disse ela, quebrando o silêncio. – Teria sido muito melhor se tivéssemos mais soldados como você, Ogata... Mais snipers treinados. Isso teria salvado a vida de muitos naquela maldita colina. - a voz dela era baixa. - Sempre quis lhe dizer isso, mas nunca tive a oportunidade... e a coragem para te contar, até agora.

Isso o pegou de surpresa, fazendo-o abrir um pouco mais os olhos, fitando o perfil do seu rosto e se afastou um pouco. Ninguém nunca havia dito que ele tinha razão naquela sugestão. Além disso, percebeu que ela devia saber mais sobre ele do que imaginava.

Nos corredores do exército, quando via o Segundo Tenente Hagiwara, sempre estava sozinho - ou melhor, sozinha, ele se corrigiu-, e pensava que era uma pessoa tão solitária quanto ele, evitando a companhia dos outros tal como Ogata evitava os outros soldados, especialmente seu irmão mais novo, por causa de sua personalidade, tendo sido por isso, inclusive, ter ganhado o apelido de Gato Selvagem.

Contudo, ao contrário dele, compreendia o motivo pelo qual Yuki sempre evitou os outros: para que não descobrissem que era uma mulher. Além disso, perguntou-se como teria Yuki tido essa idea? Era a mesma sugestão que ele tinha dado. O que mais saberia então? Essa dúvida o fez estreitar o seu olhar com curiosidade.

— Eles estavam desperdiçando seus talentos não apenas como sniper, mas também como estrategista. - ela continuou, abrindo os olhos. - General Hanazawa tomou a pior decisão possível e isso custou centenas de vidas... Eu fui conversar com ele para pedir permissão e permitir que eu fosse para as trincheiras russas matar o máximo deles possível, mas ele riu de mim e disse que era uma estúpida loucura e não aceitou. Então eu desobedeci, você sabe. Eu fiz o que já tinha feito na batalha do rio Yalu. Cumpri com meu plano, mesmo que fosse arriscado, para que nossos homens não morressem em grandes números... Ao contrário de mim, os outros temiam perder seus ranks se não obedecessem as ordens de Hanazawa... e também não tinham pessoas nas linhas de frente que desejassem proteger... 

Ouvir o nome do General fez o rosto de Ogata ficar sombrio. Enquanto isso, Yuki lembrou da ansiedade que sentia quando retornava viva, todos ovacionando muito surpresos e empolgados pelas vitórias. Procurava pelo rosto de Ogata, todas as vezes, para saber se ele também estava vivo. Sentia algo como alívio sempre que o via novamente.

— E pensar que todos achavam que você só servia como uma máquina de matar, Segundo Tenente Hagiwara… Não poderia imaginar que era do tipo que se preocupava com estratégias ou com a vida dos outros.  – ele disse de maneira provocadora, a voz baixa e quase sem emoção. 

Yuki fez careta, que ele se deleitou em ver essa expressão no perfil do rosto dela. 

— São talentosos como nós dois que deveriam estar no topo. – ela disse, friamente, pensando no exército. “Primeiro Tenente Tsurumi pareceu ter muito apreço de minhas capacidades…”, Yuki pensou. Ela estava dizendo que reconhecia as habilidades dele, Ogata refletiu. – Infelizmente, eles sempre se importaram mais com a nobreza do que com o talento para ocuparem patentes altas.

— Você não tem sangue nobre. – ele afirmou, só agora se dando conta também dessa informação. – Mas é um Segundo Tenente. Se eles se importam mais com a nobreza, como acabou de dizer, então como chegou a se tornar Segundo Tenente?

Ele viu novamente aquela escuridão de antes dentro daqueles olhos azuis pálidos, mesmo que só de lado, e no sorriso que surgiu nos lábios dela. Aquela escuridão tão familiar.

— Gosto de pensar que foi porque sentiam medo de mim, como um lobo selvagem que deveria ser domesticado junto aos cachorros. Aquele que serviria de guia e a inspiração suficiente para que o trenó fosse puxado. Assim como também não poderia ser patente alta demais, pois temiam que o lobo selvagem, no fundo, tivesse o desejo de ser o alfa… – ela sorriu mais ainda, recordando-se de todas as suas missões e ordens cumpridas. De como os coronéis e generais a olhavam com desconfiança e hostilidade quando a viam.

Yuki se mexeu um pouco para apertar as mãos contra o próprio peito, para se aquecer devido ao frio que ainda sentia como sintoma da grande perda de sangue, encostando as costas no peito de Ogata, sentindo seu calor. Isso o fez baixar o olhar para esse ponto que seus corpos se tocavam, indiferente.

— Eu era a inspiração para a sede de sangue e era aquele quem “limpava” o caminho, mesmo que parte, enquanto Yuusaku-dono era a inspiração que os homens precisavam da coragem e a virtude, aquele digno de carregar nossa bandeira. – Yuki continuou, a voz baixa e fraca, mas Ogata nada disse, só encarando-a sem expressão. – Patentes e funções iguais, porém contrárias. Yuusaku era como uma luz brilhante como o sol; eu, a escuridão da noite. No fim, para eles, bastava apenas me convocar onde era necessário para fazer o serviço sujo e seguir suas ordens.

Ela riu baixo com a última observação. As pálpebras ficaram pesadas, e seus olhos queriam fechar. Yuki estava finalmente perdendo a batalha contra a exaustão que a perda de sangue causava. Ogata reparou nisso e lembrou-se que havia sentido as mãos dela muito frias antes. Era impressionante a resistência que ela tinha.

— Ogata… você poderia ter sido meu… camarada, sabia, suas habilidades e as minhas… – ela disse, os olhos entreabertos, sorrindo de leve. – Eles não deixaram… quando pedi…

— Você pediu que eu fizesse parte da Divisão Zero. – era uma afirmação, sua voz grave e baixa, não uma pergunta que ele fazia, um tanto surpreso, olhando para o nada. Imaginou a Divisão Zero com eles, duas pessoas quebradas. Duas pessoas que tinham algo faltando dentro de si que dava espaço àquela escuridão. Dois assassinos. Nenhum remorso em suas consciências. Uma divisão daqueles que não foram abençoados no nascimento. Ele sorriu com a ideia. Mesmo assim, ela o havia considerado. Isso parecia errado para ele. Pela primeira vez, ele sentiu séria e genuinamente considerado para alguma coisa além de uma peça de xadrez, mas como uma pessoa para ser considerado um parceiro. Alguém com respeito, honra e dignidade. Então porque saber sobre isso causa tanta inquietação em seu peito? E o que era essa ansiedade que ele começou a sentir? Nunca sentiu isso antes, e temia essas novas emoções.

Emoções?

— Obrigada, Ogata, pela ajuda… – ela se esforçou para erguer e virar a cabeça para olhá-lo nos olhos. Ele fez o mesmo, baixando um pouco o queixo para devolver o olhar por causa daquela palavra de agradecimento que ele não estava esperando. Alguém agradecendo a ele por algo que fez. – Também… por estar lá… observando...

Yuki finalmente fechou os olhos, incapaz de manter-se mais tempo acordada. Tinham que esperava a tempestade passar. Ele não se importou quando Yuki procurou por calor e conforto no corpo dele, mas para que ela pudesse se aquecer melhor, precisavam ficar mais próximos. Então, ele colocou a mão ao redor dela e a puxou delicadamente para mais perto dele. Depois disso, Ogata permitiu-se adormecer também para o tempo passar mais rápido enquanto lá fora era pura tempestade.


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Notas finais do capítulo

Apreciei muito a tensão desse capítulo, se é que me entendem... Além de ter sido o início para os dois não apenas se entenderem, como entenderem a si mesmos. É algo que acho deveras interessante de desenvolver e de explorar, ainda que um terreno complicado e talvez perigoso...
Agradeço a quem leu! Espero que tenha gostado. Curtam e comentem! Seu feedback ajuda meu trabalho como escritora.
Até próxima quinta!



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