Eu vou só conhecer os pais dela escrita por Renan


Capítulo 2
Capítulo 2




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— Fique à vontade, Andy. A casa é sua. – disse a mãe da Luíza. Um dia será, um dia será...

— Obrigado. – respondi, sorrindo meio envergonhado.

Caminhamos então para a parte mais importante da sala, onde ficavam os sofás, uma mesa de centro e a televisão que estava transmitindo o Jornal Nacional num volume meio baixo. Os pais dela se sentaram em um sofá, eu e a Luíza sentamos em outro. Procurei manter uma distância de uns 30 centímetros dela, por mais que eu quisesse estar coladinho e com o braço ao redor daquele pescocinho. Nossa, eu tinha esquecido de falar como o perfume era bom. Mas foco! Foco!

— Então... – foi dizendo a mãe – Quer dizer que você tá interessado em namorar com a nossa filha.

— Sim, bastante. – Respondi, apesar que a mulher não disse aquilo em tom de pergunta. Aproveitei pra apoiar minhas mãos nas pernas, próximas dos joelhos, pois deixar as mãos à mostra passa a ideia de que não temos nada a esconder.

— Há quanto tempo?

— Alguns meses já. – Eu precisava emendar algo, não podia continuar dando respostas muito curtas. – Não sei como não foi à primeira vista, eu devo ser muito desligado, haha!

— Deve ser porque eu mudei um pouco o meu cabelo. – disse a Luíza, esfregando um dedo no canto do cabelo.

— Nããão. – fui dizendo, meio arrastado – Foi o seu jeitinho.

— Eu bem que falei pra ela: “Vais acabar arrumando um namorado com esse cabelo”. – disse a mãe, bem-humorada. Nós três demos risinhos.

O pai só olhava em silêncio, sorrindo de vez em quando. Mulher costuma ser mais sociável, mas a gente fica muito quieto quando não tá gostando de algo. O pai dela estava ficando calvo e isso me fazia temer que ele estivesse sempre de mal com a vida por dentro.

— Mas então, fale um pouco sobre você, Andy – pediu a mãe.

— Hum... por onde seria bom que eu começasse? – eu precisava fingir que não tinha ensaiado discursos, eles com certeza iriam me reprovar se sentissem isso, mas também me reprovariam se eu gaguejasse muito.

— Ah, falando um pouco sobre você. – disse a criatura, como se não fosse exatamente o que tinha falado antes. Esses adultos se fazem de bobos, mas são espertos.

— Personalidade e tudo mais? Ah, costumam dizer que eu sou um cara tranquilo, razoavelmente estudioso, que às vezes fica se preocupando demais com algumas coisas, mas é que eu gosto de evitar que as coisas deem errado, sabe?

— Perfeccionista?

— Não chega a ser isso, mas quase. - ela queria mesmo desmascarar que eu queria passar uma impressão perfeita obviamente falsa, mas não iria me pegar. Por isso fiz questão de dizer “razoavelmente” estudioso – É mais que eu sou meio precavido e não quero que as pessoas ao redor tenham conflito. Acabo sendo meio protetor, sabe?

— E eu adoro isso. – foi dizendo Luíza, se aproximando e encostando a cabeça no meu ombro. Olhei pra ela dando um meio-sorriso, mas foi mais porque não tinha coragem de ver a cara do pai dela.

— E o que você costuma fazer no tempo livre? – perguntou a mãe dela, enquanto Luíza voltava ao normal.

Levei uns dois segundos pra responder porque estava olhando pro cachorro que voltou a ficar me cheirando, dessa vez perto da cintura. Temi que o pai da Luíza tivesse treinado ele pra morder meu “fazedor de bebês” caso a Luíza e eu ficássemos muito próximos.

— Ah, o mesmo que a maioria dos nossos amigos. Jogar, assistir coisas como filmes e séries, sair de vez em quando, ler, o padrão mesmo. – até que foi uma resposta sincera, mas vocês não sabem como é difícil parecer bom e humilde ao mesmo tempo.

— É, viver em paz que é bom, não é mesmo?

— Bom suporte no lolzinho. – Acrescentou Luíza de brincadeira, o que não me pareceu uma boa ideia. Não vou nem descrever a gente esclarecendo o que era isso porque levou meio minuto, ela nem joga League of Legends.

— E tem algum filme favorito? – perguntou a mãe dela. O silêncio do pai estava me deixando cada vez mais desconfortável.

— No geral eu não acho que eu tenho um favorito de todos, mas dos que eu vi nos últimos tempos o que eu mais gostei foi O Exterminador do Futuro 2.

— Ah, filmaço! – exclamou o pai sorridente, para a minha alegria.

— Já viu? – perguntei, pois é norma social a gente se fazer de idiota assim às vezes.

— Já, claro! É da minha época.

Era parte da minha estratégia. Eu sabia que o pai dela tinha nascido em 1978, portanto pesquisei as maiores bilheterias entre 1991 e 1995, pra ver se causaria uma reação de identificação. Ignorei as animações e entre os que vi realmente achei esse o melhor. Só precisei ver o primeiro filme antes pra entender. Tenho pena dos jovens do futuro que terão que assistir dezenas de filmes da Marvel pra fazer algo parecido.

— É bom mesmo.

— Jurassic Park, conhece também?

— Sim, legal também. Esses novos relacionados aí que fizeram ainda não vi nada.

— Ah, nem perde tempo com eles.

Eu bem que suspeitava que ele teria mente fechada pra coisas novas de franquias antigas. Dei um risinho.

— Ele é cheio de cultura. – disse Luíza, se jogando na minha direção e chacoalhando um pouco meus ombros. Nessa hora eu sorri e meus lábios se voltaram pra dentro, garotas sabem como mexer com as nossas emoções.

— Parece que tem uma certa química entre vocês. Fala um pouco mais sobre o que te despertou esse interesse na nossa filha.

— Ah...

Eu acabei fazendo com que um silêncio se instalasse por uns três segundos, um grande erro. Mas eu e a Luíza nos olhamos nesse momento e eu quase esqueci que estava num teste de aprovação. Ela estava realmente bonita, e como num flash eu comecei a lembrar de alguns momentos que passei com ela, que me deixaram em dúvida sobre se conseguiria apenas repetir um discurso que eu tinha ensaiado. Pode parecer que meu sentimento por ela é meio raso, e pra muitos pode até ser, mas eu realmente queria poder estar com ela e mostrar o que sinto. Foi preciso eu “unhar” minha perna pra recobrar a consciência.

— Bem, ela é mais comportada que a maioria da nossa sala, tem uns papos muito legais, ahm... – eu estava começando a esfregar as mãos, é involuntário quando fico meio nervoso, acho até que tinha feito isso antes sem perceber, virei pros pais dela – Admiro o jeito dela, acho ela a mais bonita da turma... – eu estava realmente ficando nervoso, era pra eu ter deixado a aparência por último - ...sempre me tratou muito bem, e...

Parecia ser o fim, eu ia esconder minha cara de vergonha. Eram três pares  de olhos críticos me analisando (estou contando os do cachorro), e os da Luíza me hipnotizavam. Eu ia ter um ataque, não sabia ao certo mais o que acrescentar. Mas milagres acontecem, meus amigos!

— Oi, Andy!

Todos desviamos nossos olhares para o corredor. A frase tinha vindo de uma voz meio infantil, que era a do irmãozinho da Luíza. Ele me salvou naquele momento em que minha mente já estava em branco.

— Finalmente, Breno! – reclamou Luíza.

— Eu tava jogando.

Ele veio até mim pra gente dar o cumprimento masculino manual correto: um tapa e um soquinho.

— Tudo certo? – perguntei.

— Tudo certo. – respondeu ele.

Ah, eu esqueci de dizer que já o conhecia da escola e já tinha entrado em contato com ele algumas vezes. Ele secretamente agia como um pequeno informante meu, e realmente gostava de mim. Talvez eu ficasse mais tranquilo dali em diante.


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