Blindwood escrita por Taigo Leão


Capítulo 16
O Ceifador




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Os passos pesados que anunciavam a chegada de alguém, junto com o tinir do ferro, remeteu Elaine a um único ser. Embora não estivesse vendo-o, ela sabia; tinha a certeza de que era ele. A energia do local, que já não era muito boa, se tornou extremamente mais pesada e horrível do que Elaine já estava acostumada, apenas por escutar aqueles passos.
O corpo de Elaine foi tomado por um terror que a deixou imóvel por alguns instantes. Ela sentiu um terror absoluto só de saber que, indiretamente, estava próxima dele. Essa era a sua presença.
Uma parede a separava do que poderia causar a sua morte, ou nada melhor do que isso. Uma única parede e uma porta trancada.
O Ceifador estava ali.
Os passos, que se deram origem longe, mas logo estavam próximos, eram lentos. Ele caminhava lentamente, com passos firmes, e o barulho dos mesmos rasgavam o silêncio do local.
Ele se aproximou daquele ser que estava no corredor e em meio a um grunhido e ruídos de desespero do ser, o Ceifador o pegou pelo pescoço e o levantou usando apenas uma mão, então o arremessou como se não fosse nada na parede frente a cela que Elaine estava, fazendo um grande barulho.
Elaine, que não estava vendo nada, apenas conseguia imaginar e se perguntar o que estava acontecendo, sendo guiada pelos sons que escutava vindos do corredor. Ela permanecia sentada e agora estava se encolhendo, temendo por sua vida. Ela queria fugir dali, mas não havia como fazer isso agora. Frente ela, o garoto também estava encolhido, escondendo o rosto entre seus braços que estavam em cima de seu joelho e tremendo um pouco. Não havia como fugir dali.
O ser que foi arremessado começou a gemer de dor por alguns instantes mas logo parou. O Ceifador, como se tivesse apenas tirado uma pedra de seu caminho, continuou caminhando. O barulho dos passos se foi cada vez mais longe até que pararam onde Elaine imaginou ser a virada para o corredor onde a passagem era impedida por móveis caídos.
Tudo ficou em um completo silêncio novamente e Elaine imaginou que o Ceifador, de certa forma, havia ido embora. O único som no ambiente eram os gemidos daquele ser que ainda estava ali, vivo.
Elaine estava relutante, mas curiosa. Ela tomou coragem para levantar e olhar pela grade da porta, mas no momento em que tomou impulso para levantar, os passos começaram novamente e um barulho de coisas destruídas foi escutado, novamente rasgando o silêncio que havia ali. Foi um grande barulho que fez com que Elaine agachasse novamente. O Ceifador destruiu aquela pequena barricada como se não fosse nada e atravessou para o outro lado.
Elaine se levantou de uma vez e olhou pela grade, mas não usou nada para iluminar o ambiente; isso seria um grande erro.
Seus olhos, que já estavam pouco acostumados com a escuridão que havia ali, viram a silhueta daquele ser que foi arremessado, caído e encostado na parede que havia entre uma porta de cela e outra, que estava aberta. Havia uma mancha de algo escuro na parede, no lugar onde Elaine imaginou que aquele ser foi arremessado, e era o sangue dele, que escorria até suas costas. Elaine conseguiu ver o seu rosto um pouco e da mesma forma que ficou surpreendida, teve nojo.
Era um rosto parecido com o de um homem velho, mas todo marcado com cicatrizes, com a boca deslocada e caída de uma forma que apenas um pedaço de pele a segurava em seu rosto. Sua mandíbula era torta, já que o pedaço que segurava sua boca no rosto era maior de um lado do que no outro.
Elaine se virou para falar com o garoto, mas ele estava com o dedo indicador frente sua boca simbolizando o silêncio, como se já soubesse que Elaine faria isso. Ela obedeceu e continuou olhando.
Os passos logo voltaram, mas o barulho do ferro arranhando o chão não era mais escutado. Elaine saiu da frente da grade mas continuou ao lado da mesma, de olho no corredor, e viu aquele ser próximo de uma forma que ela sabia que poucos haviam presenciado e ainda permaneceram vivos.
Ela viu o firme ombro de um homem alto com um pano branco, que estava encardido, enrolado em sua cabeça, tornando seu cabelo e rosto desconhecidos. O ombro era marcado por cicatrizes, assim como todo o torso. Ele caminhava um pouco corcunda, arrastando aquele foice no chão.
Elaine continuou imóvel observando e até mesmo prendeu a respiração, imaginando que ao menor sinal de descontrole da mesma, ou se ela se agachasse ou desse um passo para trás, aquele ser notaria a ação e derrubaria aquela porta como se não fosse nada.
Ele seguiu o corredor para o mesmo lugar de onde Elaine havia vindo, mas não foi na direção da escada que levou Elaine até ali; ele seguiu reto. Havia outro corredor que Elaine não havia notado.
Uma porta se fechou com um grande barulho e logo o silêncio começou a reinar naquele lugar novamente.
— Ele veio até aqui! Eu não acredito... Isso é culpa sua. Decerto ele estava procurando por algo. Por você!
Pasma, Elaine deslizou suas costas pela porta até tombar no chão, levando as mãos a cabeça. Ela estava realmente soando e se recuperava do trauma de ver aquilo.
— Por mim? O que você quer dizer com isso?
— Ora, sua idiota. Por qual outro motivo ele viria até aqui? Só pra bater nesse aí que está no corredor? Se eu, que não sou ninguém, não ligo pra esse ser, por quê o Ceifador ligaria? Ele foi até o outro lado e voltou, o que mais você quer? Acha que ele só veio dar uma caminhada?
— Mas... Por quê ele está atrás de mim? Será que foram eles?
— Eu não sei. Mas você precisa sair daqui logo. Logo ele voltará. Está me escutando? Logo ele voltará!
— Garoto... Eu gostaria de saber mais sobre eles.
— Não há tempo. Você viu, não viu? Fuja daqui enquanto pode! Eu não posso sair daqui... Esse é o meu inferno, se lembra do que eu disse antes? Vamos, se lembre! Você não é tão idiota assim. Apenas eu restei nesse lugar, mas não pense que isso é uma coisa boa. Esse é o pior dos castigos. O pior...
— Eu disse que iria te salvar, não disse? Como eu posso te ajudar?
— Você me ajuda se for embora agora. Faça o que tem que fazer e vá embora. Por favor. Me deixe sozinho...
O garoto se encolheu novamente, cobrindo o próprio rosto com as mãos como uma forma de proteção. Não apenas para não ver nada, mas como se dessa forma, ele também estivesse sumindo; desaparecendo lentamente.
— Me diga ao menos o seu nome...
O garoto não respondeu.
Elaine passou pelo buraco e saiu daquela cela, dessa vez ela pegou a lanterna novamente e pôde iluminar o local.
Ela viu o sangue escuro que saiu daquele ser que estava ali, caído no chão e ainda gemia. Elaine olhou bem para o rosto daquele ser. Cada cicatriz, sua boca horrenda. Seu rosto todo era horrendo. Estranhamente ela se sentiu calma perante aquela situação, talvez ter visto o Ceifador pessoalmente havia ajudado nesse quesito. O ser olhou na direção de Elaine e esticou o braço como se tentasse alcancá-la, mas ela saiu dali.
Elaine foi até o corredor no final deste, a esquerda, e já conseguiu ver os móveis destruídos; agora ela conseguiria atravessar. Elaine iluminou o chão e viu as grandes pegadas do Ceifador que ficaram marcadas naquele lugar. Seus pés eram sujos.
Ela atravessou para o outro lado e chegou no último corredor, que dava na parte de trás daquelas pequenas celas. A única porta que havia nesse corredor ficava na parede da direita e estava trancada.
Elaine seguiu em frente e passou pelas três celas abertas que haviam ali chegando até a mesa do possível guarda. Ela pôde pegar o que havia na gaveta. Era um pequeno arquivo e uma pequena chave presa a um pequeno chaveiro de ferro. Na mesa também havia uma luminária, como um abajur, mas sua luz estava muito fraca. Elaine pegou o arquivo e o colocou no bolso de dentro de seu casaco, então tentou abrir a porta com a chave. Após empurrar um pouco a porta que estava emperrada, a mesma se abriu, revelando uma nova escada para subir.
Diferente da escada que levou Elaine até esse lugar, essa nova era de madeira e não estava suja ou abandonada. Por estar subindo, Elaine pensou que finalmente poderia sair daquele lugar ou ao menos voltar para onde o escrivão estava.
Elaine parou em um único corredor sem portas com mais uma escada no fim desse. A única coisa que havia no corredor era o desenho que Elaine viu no livro do escrivão, talvez seja o símbolo da religião, por isso era mais presente neste lugar. A mulher subiu a escada e chegou até uma nova sala, que estava com a porta aberta.
A nova sala era branca, não tinha janelas e possuía uma única cadeira como mobília. Havia um desenho do Ceifador na parede tão grande quanto ele é pessoalmente. No desenho, de traços escuros, ele está de perfil, segurando sua foice com as duas mãos na vertical. Além do desenho, haviam três quadros que estavam presos nas duas pontas por linhas que desciam do teto, e não na parede como deveriam estar.
O quadro da esquerda possuía o fundo inteiramente na cor cinza e o braço de uma pessoa segurando um coração vermelho perfurado por três objetos. Uma faca pequena, uma grande e uma foice.
O quadro da direita possuía uma mulher ajoelhada levando a mão direita ao rosto e a parte esquerda do mesmo está a mostra, revelando uma expressão hostil. Seu olhar rancoroso e a forma de sua feição... É uma expressão de rancor extremo. Havia também um objeto perfurando suas costas e uma coroa de rainha no chão, frente à mulher. O fundo desse quadro, assim como o chão, era uma escala de preto sem muitos detalhes.
O quadro do meio era o mais detalhado. Nele havia uma grande correnteza de água e uma pessoa em pé, no meio dessa correnteza, com a água chegando até a altura de seu quadril. Essa pessoa está imóvel e sozinha, com o que parece ser uma camisa de força que mantém suas mãos grudadas em seu corpo, como se ela estivesse se abraçando. Seu rosto está irreconhecível; tremido. Em uma espécie de sorriso mas também um rosto triste. Como se o artista deste quadro tivesse mudado de idéia e feito um rosto em cima do outro.
O céu está escuro; está de noite, e existe uma única estrela solitária brilhando no mesmo. Esse é o último quadro.
Elaine observou bem e tentou absorver o máximo possível dos três quadros e entender o sentido dessa sala. Uma única cadeira virada para os quadros. Os três quadros pendurados e o desenho do Ceifador logo atrás destes. O que isso significa?
Ela se sentou na cadeira, aproveitando o momento de paz e aproveitou para respirar um pouco. Ela também pegou seu pequeno caderno e fez anotações sobre tudo que passou até agora. O garoto que ela deixou para trás, o Ceifador... Elaine tentou fazer um esboço do Ceifador em seu caderno. O desenho que havia em sua frente lhe ajudou a dar mais detalhes para o mesmo. Elaine se arrepiava só de olhar fixamente para aquele desenho. Como se ele fosse se tornar real e sair da parede a qualquer momento, ou como se ele fosse abrir a porta que estava atrás de Elaine e pegaria ela naquele lugar. Ele estava a procura dela, ao menos é o que lhe foi dito por aquele menino. O menino raivoso, mas que lhe ajudou. Quem é ele?
Elaine olhou para os três quadros. Um coração com três perfurações. Talvez isso seja uma mensagem...? O que isso quer dizer? Elaine não conseguiu entender bem. Um coração perfurado, uma rainha perfurada e um louco em um rio. Ele realmente é um louco ou é um fantasma? Seu rosto está estranho... Como se fosse um vulto; uma aparição. O que esses quadros querem dizer? O que eles tem em comum, se é que tem uma ligação entre eles? E além disso: há uma ligação entre os três e o Ceifador, que está representado atrás dos mesmos?
Elaine não tinha a resposta para isso agora.
Ela se levantou rapidamente e se virou para a porta atrás de si, com medo de ser surpreendida a qualquer instante por alguém entrando ali.
Quando se virou, Elaine se assustou com o que viu. O quadro da direita havia mudado. Era um quadro totalmente novo.
Neste, agora, o fundo era escuro e ele possuía uma mulher, da altura do pescoço para cima. A mulher estava com o pescoço e sua cabeça enfaixados de uma forma que impossibilitada a visão de seus olhos. A única coisa que estava visível era seu nariz e sua boca também poderia estar se não houvesse uma mão suja vindo por trás da mulher e tampando a boca da mesma. As mãos da mulher estavam na lateral de sua cabeça, como se ela estivesse em um grande estado de pânico e agonia. Elaine olhava ele de olhos arregalados. O quadro era bizarro e assustador ao ponto de que Elaine não quis desenhá-lo em seu diário.
Ela guardou seu pequeno diário no lugar onde estava, no bolso de dentro de seu casaco, e tocou o arquivo que estava amassado ali. O arquivo que ela roubou do último andar. Sim, ela havia roubado. Mas... Bom, não haviam desculpas. Ela realmente fez isso. Já está feito.
Ela desejou muito que eles lhe fossem importantes; lhe trouxessem informações válidas por toda a situação que passou, mas ela não queria lê-los agora, neste momento. Ela queria sair dali.
Enquanto arrumava seu casaco, Elaine se lembrou do pequeno canivete que havia encontrado no quarto de Luque e ainda estava em seu bolso. Ótimo, ela tinha uma arma.
O quarto de Luque... Elaine já havia se esquecido de ter estado nele nesse mundo, mas assim que se lembrou, a imagem e todo o trajeto até aqui veio de uma vez a sua mente. Ela se lembrava de cada passo. Ela estava cansada, muito cansada, e gostaria de ir embora. Ela quer acabar com tudo isso logo e ir embora. Realmente Blindwood tinha um grande segredo, em seu íntimo ela sempre sentiu isso, mas agora ela não poderia voltar, não mais. Ela, como a boa jornalista que era, iria até o fim deste caso.
Elaine abriu a porta e saiu em uma pequena porta que havia atrás do altar da igreja, a direita do mesmo. Quando a porta se fechou, Elaine olhou para ela e viu que a porta era da mesma cor e detalhes da parede. Se ela não tivesse acabado de sair dali, custaria para dizer que havia uma porta naquele local. Era uma porta disfarçada.
Elaine olhou em volta: ela estava dentro da igreja. O altar, os vitrais, os grandes bancos de madeira. Tudo remetia Elaine a qualquer igreja no mundo. Mas essa... Essa lhe dava calafrios. Saliã, quem é esse ser?
Elaine caminhou dando a volta no grande altar de madeira e viu que bem no meio deste havia uma fina pilastra que ia até o teto; ela achou isso estranho. Elaine caminhou até o início do altar e desceu o degrau que havia ali, chegando na mesma altura dos bancos. Olhando para cima, na parte superior da igreja, Elaine viu a silhueta de uma pessoa parada, olhando para o altar lá de cima. Elaine se apressou e subiu as escadas laterais, indo de encontro à aquela pessoa.
Pelas janelas laterais da igreja ela não conseguia ver nada além da terrível neblina.
Quando chegou lá em cima, Elaine foi na direção da pessoa que parecia não se importar com o fato de Elaine estar se aproximando. A mulher, que estava com uma grande túnica cinza escura, estava frente a pequena grade que havia ali e continuava olhando lá pra baixo.
— Quem é você? – Elaine perguntou.
A mulher nada disse. Elaine ficou a uma certa distância, mas continuou ali imóvel. Assim como a mulher, ela começou a olhar para baixo e viu como o altar era bonito.
— Você não devia estar aqui...
Elaine olhou para a mulher, que continuava olhando para baixo.
— A igreja fica fechada nesse lado, mas mesmo assim, de alguma forma você entrou. Eu vi você passando por aquela porta. Você fez o caminho inverso.
— Inverso?
— Sim. As pessoas de fora e as escolhidas; Os cegos... Elas são guiadas a passarem por aquela porta e descem até o subterrâneo, onde suas vidas acabam. Você veio de lá e continua viva. Você fez o caminho inverso. Como se... Tivesse renascido.
— Eu não estava morta, como posso renascer?
— Ignore o que eu disse, foi apenas um pensamento. Você não pode entender.
Elaine olhou para a pilastra no altar e havia uma marcação. Havia uma pequena depressão no altar e em detalhes pretos, havia um círculo e dentro do mesmo um triângulo igual o que Elaine já havia visto antes. O triângulo com uma linha o cortando, mas haviam também três círculos de mesmo tamanho dentro desse triângulo. A pilastra estava presa entre esses círculos, bem no centro do triângulo.
— Que símbolo é esse?
— É o símbolo de Saliã.
— O que isso faz?
— Isso pode trazê-lo de volta. O símbolo é tudo, sempre foi.
— Eu não entendo muito sobre a religião.
— Você é cega. Saliã está em tudo, inclusive em você. Você deveria saber disso... Vá embora logo, antes que eles voltem.
— Eles? Onde eles estão?
— Não estão aqui, isso é óbvio. Então vá embora. Se eles lhe encontram aqui, você não poderá mais sair. Você acabou de chegar no vale e já está invadindo essa dimensão. Além disso, os preparativos já estão quase no fim. Vá embora logo.
— Você também sabe que eu não sou daqui...
— Eu não disse que você não é daqui. Apenas disse para ir embora. Você ficou tempo demais deste lado. Vamos, corra.
— Aliás, você disse preparativos? Do que você está falando?
A mulher começou a tremer sua cabeça e virou a mesma lentamente na direção de Elaine, torcendo um pouco seu pescoço e mantendo sua cabeça torta. Ela olhou para Elaine e abriu sua boca onde só haviam dentes pontudos e seus olhos estavam completamente negros. Veias escuras saíam da direção de sua boca para suas bochechas e davam contraste a palidez da pele da mulher.
— Vá embora!
Elaine desceu as escadas correndo e a mulher não veio atrás dela. Mas lá embaixo, Elaine viu três pessoas saindo de uma porta do lado esquerdo do altar, com túnicas iguais as da mulher, porém duas dessas pessoas estavam com a touca da túnica em suas cabeças, escondendo completamente os seus rostos. A pessoa do meio, que era a maior, estava com um pano no rosto imitando o Ceifador. Elas estavam paradas mantendo o olhar em Elaine.
A pessoa do meio virou seu rosto verticalmente olhando para Elaine e deu um passo para frente, as outras acompanharam esta e começaram a caminhar lentamente. Elaine começou a dar passos lentos para trás, na tentativa de chegar logo até a porta da igreja e torcendo para a chave estar na fechadura das mesmas.
Como Elaine estava mais próxima da porta do que dessas pessoas, ela desesperadamente se virou e começou a correr, dando as costas para aquelas pessoas.
Elaine viu uma grande chave na fechadura da porta que estava a sua frente e correu na direção dessa mesma. Enquanto girava a chave, ela escutou um chiado parecido com aquele que ouviu quando caminhava fora da igreja antes de ir pro Chariotte.
Ela destrancou a porta e saiu de uma vez, trancando a porta pelo lado de fora para atrasar seus perseguidores. Graças aos céus aqueles homens não a alcançaram. Elaine aproveitou a situação para sair correndo dali.
Ela correu em linha reta, seguindo em frente, sem saber para onde estava indo.
Quando Elaine parou de correr, olhou para trás e viu que não estava sendo seguida por nenhum deles. Ela havia os despistado com ajuda da densa neblina.
Sozinha, ela apoiou suas mãos nos joelhos e começou a respirar. Estava ofegante pelo que havia acabado de acontecer.
Elaine notou que estava próxima ao Parque Blindwood e logo viu algo vindo em sua direção. Era aquela antiga silhueta que a perseguiu tanto no Chariotte quando do lado de fora.
— Droga, mais essa agora.
Elaine correu mais um pouco e virou em um beco ao lado de um comércio abandonado, que possuía tábuas tanto nas janelas quanto na entrada. Ali, se lembrou do espelho de Maria. Ela o pegou em seu casaco e o abriu, olhando seu próprio reflexo no mesmo. Ela mentalizou as palavras de que queria sair daquele mundo e voltar para o mundo real. Ela mentalizou de novo e de novo, e então começou a apertar aquele pequeno espelho com as duas mãos, com os olhos fechados. Se aquilo funcionasse, ótimo, ela estaria livre daquele ser. Se não, ele a alcançaria.
Desesperadamente ela começou a mentalizar as palavras e apertar o espelho mais forte enquanto tremia de medo por escutar os passos daquele ser que agora estava correndo.
Ela apertou tão forte que o espelho se quebrou e pedaços do mesmo cortaram levemente seus dedos.
De repente, o som dos passos foi substituído pelo som de um carro.
Quando Elaine abriu os olhos, ela estava no mesmo lugar, mas agora a neblina não era tão densa quanto estava a poucos instantes. A atmosfera também havia mudado. A de antes era pesada e densa assim como a neblina, e nela Elaine sentia um horror e uma agonia só por estar ali. Agora estava diferente.
Um carro de polícia passou na rua a sua frente, indo na direção de onde Elaine acabara de vir.


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