Don't you know you got my eyes? escrita por Aninha


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Como de costume, era um dia frio e chuvoso na cidade de Londres e Harry Potter estava atrasado. 

Enquanto andava apressadamente pelos corredores da Universidade, cumprimentando alunos com um aceno de cabeça, ele se xingava mentalmente por não ter trocado as pilhas do despertador. Não que isso fosse fazer muita diferença já que na semana passada o aparelho funcionava perfeitamente e ainda assim o Professor Potter tinha se atrasado. 

No auge dos seus 28 anos, Harry era professor de História do Direito e de Direito Penal na UCL Faculty of Laws, para a tristeza daqueles que esperavam que ele fosse se tornar um delegado de polícia, como seu pai. Ele não sentia nem um pouco de remorso por decepcionar essas pessoas, não só porque dar aulas era sua grande paixão, mas também porque sempre recebeu apoio de sua família. 

E a sensação de que dar aulas na UCL realmente era a coisa certa a se fazer apenas aumentou quando Harry descobriu que sua mãe havia estudado na instituição. Ele ainda não acreditava que sua avó tinha deixado aquela informação escapar com tanta facilidade, principalmente quando havia passado boa parte da infância fazendo perguntas à mulher sobre a mãe e recebendo nada além de “vá brincar no quintal, Harry” como resposta - inclusive quando estava chovendo. 

Andar pelos corredores da Universidade tornou-se algo mágico para o mais novo Potter, que fantasiava com sua mãe fazendo aqueles mesmos trajetos e entrando nas mesmas salas que ele. É claro que o fato de não saber qual era a aparência física dela dificultava um pouco a criação da fantasia, mas depois de anos de prática Harry era capaz de dar um jeito. 

Foi imaginando uma figura de cabelos pretos como os dele que Potter não viu a figura ruiva em sua sala, levando um susto quando a mulher sentada na cadeira em frente a sua mesa disse:

— Você sempre se atrasa para suas aulas? 

Xingando, Harry parou o movimento de tirar o casaco e ergueu os olhos para encontrar os de Ginny Weasley. 

— Há quanto tempo está aí? 

— Bom dia para você também, Potter — ela disse com um sorrisinho nos lábios. 

Sendo uma Weasley e tendo passado boa parte da infância com os gêmeos, Ginny gostava de pregar peças nas pessoas. Por isso, por mais que não fosse intencional assustar Harry ela não podia negar que tê-lo feito melhorou seu humor. 

— Bom dia — ele disse num suspiro, tirando o casaco e pendurando no suporte. — Não me lembro de termos marcado alguma coisa…  

Harry não estava querendo ser rude, mas graças ao seu atraso ele tinha apenas meia hora para corrigir as provas da aula que teria às 9h em vez da tão necessária uma hora. Por isso, ele precisava que Ginny dissesse logo o que queria e rezava para que Molly não tivesse enviado a filha caçula ali para pedir, mais uma vez, que Harry conversasse com Ron sobre sua decisão de trabalhar na loja dos gêmeos.

— Porque não marcamos — ela sorriu de lado. — Não se preocupe, Potter, sua memória ainda não está tão ruim. 

— Obrigado? — Harry sentou e pegou o computador de dentro de sua bolsa, sem saber se deveria levar aquilo como um elogio. — Como posso te ajudar? 

— Na verdade, eu te trouxe uma coisa. 

Com medo de que a mulher fosse tirar uma carta de Molly da bolsa, Harry observou Ginny pegar uma pasta e lhe estender uma carta. Com a testa franzida imaginando por que a matriarca dos Weasley não tinha enviado a carta pelo correio - e não podendo julgar se a mulher preferiu a filha com medo de Potter dizer que não havia recebido a correspondência -, ele pegou o envelope. 

— Não é para você — Ginny disse antes de soltar o papel. — É para seu pai. Quer dizer, foi enviada para ele há alguns anos. 

Franzindo ainda mais a testa, Harry leu o envelope, tentando entender aonde ela queria chegar. 

— Eu achei no depósito da revista — ela continuou. — Não sei como ou por que foi parar lá, mas achei que seria melhor devolver pro dono. 

Harry assentiu, os olhos focados na data ao lado do selo no envelope. 

— Você leu? — perguntou. 

Ginny hesitou alguns segundos antes de responder. 

— Sim, precisava ter certeza de que não eram assuntos da editora. 

Harry olhou para ela, a curiosidade fazendo as mãos coçarem para abrir o envelope. 

— Quem escreveu para ele? 

A ruiva franziu levemente a testa antes de dizer. 

— Alguém chamado Lily. 

Por alguns instantes, o mundo de Harry pareceu parar. Ele se lembrou de quando tinha 10 anos e ouviu uma conversa de seu pai com seu padrinho, Sirius Black, sobre sua mãe. Sirius não concordava com a forma como James escondia a figura materna do afilhado e num momento de raiva exclamou “você não pode esconder Lily dele, fingir que ela nunca existiu!”.

E ali estava aquele nome de novo, numa carta datada de um ano antes dele próprio nascer. Tempo suficiente para seus pais se apaixonarem? Talvez. 

Sobre o olhar questionador de Ginny, Harry abriu o envelope e desdobrou a carta como se fosse algo sagrado. Ele, como professor de Direito Penal, sabia que o que fazia era crime, mas também sabia que o pai não iria processá-lo. Ou pelo menos ele esperava que não. Com esse pensamento em mente, ele tomou coragem e leu a carta.

“Querido James, 

Está tão quente em Palermo que sinto como se estivesse no próprio inferno. Severus está numa daquelas conferências intermináveis, então pelo menos posso dizer que não tenho suas reclamações contrastantes como forma de penitência eterna, apesar de que a falta que sinto de você com certeza é uma. 

Os dias ainda têm 24 horas? Porque desde sua partida posso jurar que eles passaram a ter bem mais, mas talvez eu só esteja sendo dramática - Remus insiste em dizer que a falta de chocolate também está me afetando e eu faço o favor de lembrá-lo que os doces estão acabando porque ele não para de comer. 

De qualquer forma, mal posso esperar para as férias de verão acabarem para que eu finalmente possa vê-lo. 

Com amor, 

Lily”. 

Era isso. Apenas alguns punhados de palavras que não não continham nenhum dado concreto, mas foi o suficiente para que a mente criativa de Harry começasse a trabalhar. Quem era Severus? E Remus? Por que Lily estava longe de seu pai? Eles se conheceram na faculdade? Estudavam juntos ou se conheceram numa das festas que os Potter costumavam dar? 

— Você pode entregar para o seu pai, por favor? — a voz de Ginny o tirou do seu torpor. — Eu não sei porque isso estava na revista, mas talvez seja importante. 

— Sim — Harry assentiu diante da última frase. 

Aquela carta de fato era importante, mas não pelos motivos que provavelmente Ginny imaginava. Guardando o papel de volta no envelope, Harry sorriu levemente para a mulher que havia lhe trazido mais perguntas do que respostas e nem fazia ideia disso. 

— Se você encontrar outra, pode me trazer, por favor? 

Ginny franziu a testa. 

— Como eu disse, não vejo porque essa correspondência estava na editora, então não sei se existem mais — ela levantou, pegando a bolsa. — Mas claro, eu fico de olho. 

Potter levantou e estendeu a mão para ela. 

— Obrigado. 

Ginny apertou a mão dele. Quem olhasse para eles dois provavelmente pensaria que ambos não passavam de colegas de trabalho ou algo assim, sem imaginar que já tinham tido um relacionamento carnal que acabou no momento em que Harry disse “eu te amo” e fez a Weasley correr como se tivesse visto o diabo em pessoa. 

Era um tanto estranho para ela estar na sala de Potter, mas depois de tantos jantares em família desconfortáveis e encontros proporcionados graças a amizade do homem com os irmãos dela, Ginny já tinha aceitado que Harry sempre seria uma constante em sua vida. Por isso, ela afastou o perigoso calafrio que percorreu seu corpo graças ao aperto de mãos e se afastou. 

— Bem, a gente se vê. 

Sem dar tempo para que o homem dissesse algo, ela segurou a bolsa com mais firmeza e saiu da sala. Sem cabeça para corrigir qualquer prova, Harry sentou de volta em sua cadeira e encarou o nome e endereço de Lily no envelope até que foi obrigado a colocá-lo na gaveta e seguir para a sala de aula. 

***

Semanas tinham se passado desde que Ginny Weasley tinha dado a carta para Harry. Semanas desde que ele começou a procurar por “Lily Evans” no Google durante suas horas vagas, na esperança de encontrar sua mãe. Infelizmente, o nome era um tanto quanto comum, o que significava que era preciso muita paciência e um trabalho meticuloso.

Ele não tinha entregado a carta ao pai. Não que ele não quisesse ou achava que era o certo, mas Harry se lembrava com clareza das brigas com o progenitor durante a adolescência toda vez que fazia perguntas sobre a mãe. Por algum motivo, James se recusava a falar da mulher e o mais novo dos Potter não queria tocar no assunto ao lhe entregar a carta, sabendo que o pai ficaria triste e esquisito por dias. 

Por isso, a correspondência estava exatamente onde ele havia deixado: na gaveta de sua mesa em sua sala na Universidade. E provavelmente era lá que permaneceria se Ginny não tivesse ligado naquela manhã dizendo que tinha encontrado outra carta. Harry se lembrava com clareza das palavras dela: “Me encontre no café que a gente costumava ir. E não se atrase”. 

Por isso, Potter estava no seu dia de folga sentado numa mesa no Leaky Cauldron com uma xícara de expresso entre as mãos e o último pedaço de torta de abóbora intocado a sua frente. Ele havia pedido o doce para Ginny, já que lembrava perfeitamente que a mulher era doida por aquela torta, mas conforme o nervosismo aumentava e as memórias daquele lugar o atormentavam Harry não conseguia parar de pensar que tinha sido uma péssima ideia. 

Antes que conseguisse decidir se devia comer a torta ou não, Ginny entrou no café e caminhou até ele quando seus olhares se encontraram. Ela sentou na cadeira vaga na frente dele e colocou a bolsa sobre a cadeira ao lado. 

— Oi — disse pegando o cardápio. — Você não se atrasou. 

— Você disse que não era para eu me atrasar — ele deu de ombros. 

— Se eu dissesse que você não pode se atrasar para o trabalho, iria chegar mais cedo? — ela sorriu de lado, passando os olhos pelas opções do menu. 

— Talvez — Harry empurrou levemente o prato na direção dela e desviou o olhar quando Ginny o olhou surpresa. — Era o último pedaço. 

Harry sempre foi gentil e atencioso com ela, por isso talvez a Weasley não devesse ter ficado tão surpresa. Porém, a forma como havia terminado as coisas entre eles e o tratado nos meses seguintes fizeram com que ela acreditasse que o homem a trataria de forma diferente, com um indiferença ou frieza que já eram esperadas. É claro que ela ignorou o fato de que Harry tinha sido muito bem criado e por isso continuaria sendo o cavalheiro de sempre, mesmo que tivesse sido magoado.

Se mexendo na cadeira, ela trouxe o pedaço de torta para mais perto, deixando o cardápio de lado. Aos poucos o pensamento de que marcar o encontro no Leaky Cauldron tinha sido uma péssima ideia a atingia. Ginny deveria ter escolhido um lugar neutro, talvez um restaurante que nenhum deles tivesse ido. Mas agora era tarde demais e sugerir isso apenas faria com que Harry pensasse que ela estava sendo afetada pelas memórias. 

Algo que ela recusava a permitir. 

Por isso, Ginevra sorriu de forma educada e segurou o garfo como se o gesto de Harry não a tivesse afetado. 

— Obrigada. 

Potter assentiu e bebeu o café em silêncio enquanto ela comia, pensando no conteúdo que a carta poderia ter e com esperança de que fosse algo mais substancial do que da última vez. Tentando manter as expectativas baixas e falhando miseravelmente, ele desviou o olhar do movimento da rua e focou na mulher à sua frente quando a mesma tossiu levemente. 

— Aqui — ela disse, estendendo a correspondência. 

Harry pegou o envelope e constatou que o nome e endereço eram os mesmos. Respirando fundo, ele leu a carta:

“Querido James, 

Estou feliz por ter decidido se juntar a nós e sofrer um pouco com o calor do sul da Itália! Mas devo informar que acho que Remus se encontra ainda mais feliz, porém não é por causa da sua presença ilustre. 

Desde o jantar de ontem (o qual sinto muito por não ter conseguido comparecer), ele não para de falar de seu amigo, Sirius Black. Por isso, acho que serei forçada a me juntar a vocês para evitar que fique de vela para os dois. 

O que acha de irmos tomar sorvete perto da praia?

Severus viajou novamente por causa do trabalho, então estou livre como um passarinho pelos próximos dias. 

Aguardando ansiosamente sua resposta, 

Lily”. 

Harry suspirou, colocando a carta sobre a mesa enquanto a mente fervilhava com perguntas. O pai e o padrinho tinham ido à Palermo durante a juventude? Então porque não existiam nenhuma foto desse momento ao passo que todas as outras viagens tinham sido minuciosamente fotografadas? Teria James se livrado das imagens na tentativa de esquecer o passado ou ele estava ocupado demais se divertindo com Lily? 

Aquelas cartas eram interessantes, mas como sempre traziam mais perguntas do que respostas e nenhuma pista de onde procurar. Afinal de contas, não é como se ele pudesse ir para Palermo ou como se tivesse um local para procurar. 

Mas e se ele tivesse? 

Como se uma lâmpada acendesse em sua mente, Harry pegou o envelope e leu o endereço de Lily. Era o mesmo que o da outra correspondência enquanto que o de James havia mudado. Agora não se tratava da casa de Euphemia e Fleamont Potter, mas sim de algum lugar na Itália. 

Seria um hotel? Uma casa? Um correio?

Ele estava tão absorto em suas perguntas que levou alguns segundos para perceber que Ginny o chamava, até que a mesma tocou sua mão. Harry a olhou surpreso, sentindo a respiração se perder em algum lugar entre o nariz e os pulmões quando a mulher corou levemente, retirando a mão. 

— Estou te chamando há um minuto — ela disse em sua defesa.

— Desculpe — ele suspirou e guardou a carta de volta no envelope. — Estava pensando. 

— Essas cartas são importantes para você, não é? 

Desde a reação de Harry quando viu a primeira carta, Ginny estava com a sensação de que tinha mais coisa naquela história do que ela sabia. O interesse dele pela correspondência antiga do pai era no mínimo curioso e o lado repórter investigativa dela implorava para que fosse a fundo na história. Por isso, ignorando o fato de que Harry não lhe devia nada, que eles não eram amigos e que o homem tinha todo direito de mandá-la à merda, Ginny deixou sua curiosidade levar a melhor e perguntou:

— Porque tanto interesse nessas cartas? 

Potter soltou o ar devagar e guardou o envelope no bolso interno do casaco antes de responder, suspirando. 

— Lily é minha mãe. 

Ginny arregalou os olhos, surpresa. Em todos os anos em que conhecia Harry, ele não costumava falar sobre a mãe a ponto dela achar que ele não se importava ou que tinha superado. Por isso, saber que o interesse dele provinha disso era um tanto quanto surpreendente. 

— Quer dizer, eu acho que é — ele completou antes que ela tivesse tempo de falar algo. — Sirius disse o nome dela há alguns anos, mas meu pai nunca tocou no assunto, então…— ele suspirou. — Essas cartas são tudo o que eu tenho. 

Talvez fosse o tom desolado ou o fato de não conseguir imaginar sua vida sem a mãe, mas naquele momento ela sentiu vontade de abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem. O que poderia não ser verdade já que existia a possibilidade da mãe de Harry ter morrido ou ido embora porque não queria o filho. Contendo seus impulsos, Ginny inclinou a cabeça. 

— Você vai perguntar sobre ela quando entregar as cartas ao seu pai? 

Harry suspirou, encarando a xícara na mesa. 

— Eu sei que o certo seria entregar as cartas já que são dele, mas toda vez que eu falo da minha mãe ele fica estranho por dias… Não quero brigar com ele de novo, Ginny. 

Ginevra esteve muitos anos ao lado de Harry para lembrar com clareza o tempo em que o homem era adolescente e vivia em conflito com o pai. A casa dos Potter vivia num clima estranho já que os avós tentavam mediar a situação entre pai e filho que parecia piorar cada dia mais até que de repente Harry parou de tocar no assunto. Ele não falava mais sobre a mãe, seja para fazer perguntas ou acusar James de esconder parte da identidade dele. Ele não fazia mais expressões tristes quando via uma criança correr para os braços da mãe ou quando Molly o chamava de filho.

Na verdade, ela passou a agir como se a questão materna nunca tivesse existido e depois de um tempo Ginny passou a acreditar que ele realmente não se importava mais. Isto é, até ver Harry olhar para as cartas escritas pela mãe como se fossem o bem mais precioso do mundo. 

— O que vai fazer então? — ela perguntou, olhando para ele com atenção. 

Potter se perguntava há semanas o que iria fazer com aquelas cartas e as informações que elas continham. Ele ficava acordado até tarde da noite encarando o teto do quarto e tentando pensar em possibilidades, descartando algumas mais rapidamente que outras. Porém, uma ideia não saia de sua cabeça e o atormentava na mesma proporção que lhe dava esperança, por isso ele aproveitou seus segundos de coragem e encarou os olhos de Ginny antes de falar:

— Preciso de sua ajuda para encontrar minha mãe. 


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam!

XOXO,
Aninha.



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