Santsuki Raikyuu escrita por Haru


Capítulo 2
1# - Na trilha do inferno.




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1# - Na trilha do Inferno.

Passear sozinho pelas rochas que flutuam pelo vácuo cósmico como quem caminha por um campo florido era apenas uma das incontáveis façanhas que o temido Santsuki realizava constantemente.

Essa era a única atividade que ele praticava sem nenhum propósito. Mas desta vez ela tinha.

Oitenta e cinco metros de diâmetro, formato triangular, amarela como a areia do deserto e cheia de rachaduras  essa era a descrição do pedregulho em que se localizavam ele e um certo ser. Sim, ali havia alguém mais além do homem mais forte hoje vivo na galáxia.

Mas este alguém não era um qualquer. Na verdade estava longe de o ser. Bastava olhá-lo para perceber que Ele era especial.

Estava a exatos quinze metros de distância de Santsuki. Este, embora já tenha estado entre seres que habitam os pesadelos humanos, não acreditava que o havia encontrado.

 Suponho que seja você... O Artista Cósmico, Desenhista do Infinito.

 Não é surpresa que até uma criatura vil feito você já tenha ouvido falar de mim. Só não entendo como pode crer que eu existo... Você é uma figura controversa. — Duvidou a entidade de três metros de altura, vestido de longas túnicas violetas e de pele que emitia fulgor claro como o das estrelas anos-luz ao redor.

Em suas mãos havia uma aquarela com um número infinito de cores, um pincel e a sua frente o quadro que ele estava a pintar.

Santsuki sorri.

 Você me conhece? Estou lisonjeado. Um pouco nervoso, agora.

Injuriado pela falta de respeito do guerreiro, Ele continuou:

 Seu nome é Santsuki Raikyu. Você tem trinta e quatro anos, nasceu na Terceira Terra Gêmea, a Terra de Áries. Nunca conheceu seus pais, treinou sua adolescência inteira sob a tutela de Hanzuki para se tornar um retalhador. Aos vinte e cinco anos você matou um terço da população de seu planeta natal e tentou destruí-lo, mas foi impedido por Yume e banido de lá para sempre. Hoje é procurado por toda a galáxia.

 Muito bom. Você é... desculpa... o senhor é uma das quatro Entidades Metafísicas, o Artista Cósmico. A lenda conta que Deus veio pessoalmente até você e te pediu que fizesse um rascunho do universo para inspirá-lo.

 Não sou merecedor de tanta glória, sou uma mera criatura Dele. Além do mais, Ele não precisava da minha arte para criar tudo o que existe.

 Isso significa que você conhece o universo. Vou direto ao ponto: quero que pinte um mapa pra mim.  Irritado por ter sido ignorado, ele se aproxima e continua:  Isso é porque eu não estou demonstrando respeito ao falar com você? Bom, não posso demonstrar aquilo que não tenho.

Não costumava ser grosseiro com as pessoas, mas agora tinha uma razão para ser: queria testá-lo.

Queria realizar uma análise psicológica Nele. Portanto, foi mais além.

Transportou-se para a esquerda do artista e tomou da mão dele o pincel, encarando sorridente o objeto.

 Um pincel de diamante Karidiano. Ainda é simples demais para alguém que supera as Leis da Física, mas deve ter sido difícil conseguir. Eu não terei nenhum problema em destruir Karidian, muito menos em quebrar esse pincel. E então? Vai pintar o mapa pra mim ou vou ter que acabar com o seu hobbie?

Em resposta a ameaça dele, o outro nada diz. Entretanto após analisa-lo, retruca:

 Você está morrendo. Tem menos de um ano de vida.

 Incrível. Se soubesse que o senhor também fazia isso, teria vindo para cá ao invés de perder tempo com um médico.

Impressiona-se com a indiferença daquele mortal. Em todos os milhões de anos que tem de existência jamais viu alguém reagir dessa maneira a uma notícia assim.

Curioso, continuou:

 Por que quer tanto o mapa? Não creio que viverá o suficiente para que alcance seu destino.

 Apenas faça. Há um velho amigo que quero encontrar antes de morrer.

Resolveu esquecer o modo como ele lhe faltou com respeito, esquecer as ameaças e fazer o que ele pediu. Não sabia quais eram os objetivos dele, mas se compadeceu com sua situação. Uma das poucas coisas que nunca conseguiu compreender foi a morte, afinal, nunca passou por ela, nunca correu o risco de passar e sempre optou por se afastar de quem estava prestes a conhece-la.

Por isso buscava concretizar as vontades de todos os mortais que vinham até ele quando a morte estava a porta, e não faria diferente nem com alguém da laia dele.

Ao contrário do artista espacial, Santsuki estava sujeito às leis da física e tinha suas limitações. Ele, entretanto, recorria à tecnologia para superá-las.

O som de sua voz se propagava pelo vácuo graças a um dispositivo preso ao seu pescoço, um aparelhinho tão pequeno que era invisível a olho nu, que criava uma nuvem de oxigênio que além disso o possibilitava respirar ali.

Seu estoque de oxigênio era ilimitado, portanto tinha liberdade para estar ali pelo tempo que quisesse. Seu corpo já suportara os mais brutos e violentos golpes de diferentes retalhadores, sendo por isso resistente o suficiente para ele quase não sentir a diferença entre habitar a Terra e habitar o cosmos.

A fim de aguardar que o seu aliado concluísse o trabalho, ele sentou-se na borda do asteroide. Divagava sobre diversos assuntos.

Balançava os seus pés como um menino impaciente, observando o nada como se houvesse algo para observar. Depois, voltou seus olhos às estrelas, às constelações. De repente encontra-se maravilhado — mesmo ele se via rendido aos encantos do infinito.

Tamanha beleza despertou em seu coração sentimentos novos. Mas antes que estes ali fizessem moradia o ariano os despeja, e imediatamente repudia os pensamentos que vinham com ele.

A doença deve estar me sensibilizando, justificou. Será?

Será mesmo isso? Pela primeira vez em toda a sua vida, ele questionava a si próprio. Nunca precisou questionar-se, sempre se compreendeu.

Estarão as profecias de sua rival enfim se concretizando? Estará Santsuki Raikyuu, o mais poderoso ser vivo da galáxia, o mais temido entre os homens, o maior assassino que já nasceu na Terra ariana...

Desenvolvendo sentimentos humanos? Não, não pode ser. É o retalhador perfeito, imparcial, uma máquina de batalhas. Impiedoso. O único sentimento que deve existir em seu coração é o amor pelas batalhas!

Maldita Yume! Mil vezes maldita. Ela plantou a semente da dúvida em seu peito. Maldita seja a sua alma!

Socando a terra, jura não permitir que essa semente se transforme em uma árvore. Não a deixará dar frutos, antes a cortará pela raiz e a lançará no fogo.

 Está concluído.  Anunciou o desenhista.

Santsuki se levanta, em seguida caminha calmamente até ele. A medida que se aproxima, um sorriso sarcástico vai se formando em seu rosto.

Todavia, quando está perto, uma série de dores insuportáveis consomem o seu corpo, dores fortes o suficiente para deixa-lo prostrado. Seu orgulho não permite que ele emita gritos de dor, ainda que se contorcendo de dor, ele opta por manter-se em silêncio. Um intenso rubor coloriu sua face.

 Você está bem?  O artista vai a seu socorro.

Rejeitando a ajuda do pintor, Santsuki fica de pé. Sorri em disfarce e diz:

 Vou ficar. Assim que apreciar uma bela obra de arte...

Encarou a pintura. Foi, ao mesmo tempo, a mais bela e realista peça que já viu em todas as três décadas que tem de existência. Era divina.

Por quatro ininterruptas horas ele ficou de pé, contemplando o desenho. Passado este tempo o seu semblante torna-se sério. Muito mais frio do que o comum.

 Foi um prazer trabalhar com o senhor. Essa provavelmente é a última vez que nos vemos, gostaria que me fizesse um último favor. Diga-me o que terei que fazer ao chegar lá.

 Lá você encontrará três portões imensos. O primeiro chama-se Onryo, o Teste do Submundo. O segundo chama-se Ubume, o Teste da Consciência. O terceiro chama-se Chikara, o Teste do Poder. Deve passar por cada um deles e vencer todos os desafios antes de se encontrar com o guardião do Coração de Deus.

 Parece divertido. Entendi, obrigado por seu tempo. Adeus.

Sumiu diante do olhar criterioso daquele importante ser, deixando-o outra vez só, em paz para continuar tingindo seus retratos artísticos, a única coisa na vida que o deixava feliz.

Mas seu caso era, além de curioso, preocupante. Não voltaria a pintar da mesma maneira que antes tão cedo, aquele mortal havia mexido com ele.

Era para não correr o risco disso acontecer que ele tinha preferência por trabalhar no espaço sideral, afinal são poucos os seres vivos capazes de viver ali e as chances de o encontrarem eram míseras.

No planeta, Santsuki fitava o portão, tentando descobrir se seria aquele o primeiro portão mencionado pelo artista. Analisa rapidamente a composição do objeto passeando suas mãos sobre ele, mas o que o intriga não é apenas isso; são também as figuras estampadas no material.

 Um metal feito de chikara? Jamais pensei que fosse viver para ver algo tão extraordinário. Quando o toco quase posso sentir a energia corrente dentro dele... ele ainda ferve, é como um vaso de barro saído do forno. Não duvido que mesmo depois do planeta explodir ele permanecesse inteiro. Mas quem é que teria nível tão alto de habilidade na manipulação exterior de uma energia tão complexa? É uma pena eu não poder viver o bastante para descobrir isso. Bem, vamos ao que interessa agora.

Inspirado, passeou calmamente até a porta de entrada onde avistou dois guardas  um a esquerda e o outro a direita da mesma.

 Temo que esse... não seja um bom dia para vocês dois.

Antes que estes lhes pudessem dizer alguma coisa ele atacou o que se via a esquerda da porta, acertando sua cabeça com um soco forte o suficiente para destruí-la.

Suas roupas e seu rosto se avermelham com o sangue do rapaz, dando-lhe uma aparência bestial.

Aterrorizado, o outro diz suas últimas palavras:

 Você é... Não pode ser...!!

Ágil, o vilão não lhe dá a chance de correr; antes investe contra ele e lhe atravessa o peito com a mão, puxando para fora o seu coração. Sorriu, logo a seguir largando no chão o órgão vital que até então segurava.

Matá-los talvez não fosse uma decisão que tomaria normalmente. Talvez o tivesse feito porque queria provar a si próprio que as palavras de Yume não o haviam influenciado, que ainda poderia matar e não sentir o menor remorso.

Estava certo. Ainda podia matar sem sentir remorso. Confirmado isto, ele ajeitou suas roupas e adentrou a porta para encarar seu primeiro desafio.

Quando o fez, a porta se fechou sozinha, como que por mágica. O que viu lá teria feito qualquer um implorar para que ela se abrisse.

Mas ele não era qualquer um. Aquilo apenas o animou ainda mais.

A escuridão era quase que total, só o que se era possível enxergar ali era o brilho vermelho dos olhos das criaturas que ali habitavam. Aquele lugar tinha cheiro de enxofre, cheiro de sangue.

O calor que fazia excedia os limites humanos, qualquer criatura sem dons sobrenaturais pereceria ali antes mesmo que os monstros lhe encostassem as garras.

 O homem desce ao inferno...  falou, retirando o paletó — Podem vir. Vamos ver qual vontade prevalece: a de vocês de me destruir, ou a minha de sair deste lugar.

Confiante, o retalhador golpeia o que primeiro avança sobre ele com um chute, arremessando-o contra outros três. Depois, soca o próximo, eletrocuta com um toque o seguinte e assim libera luz o bastante para enxergar a legião de demônios que estavam a seu redor.

Santsuki, contudo, não se intimida; avança sobre eles a velocidades que rompiam a barreira do som, destruindo todos os que encontrava pelo caminho.

Após meia-hora de combates incessantes, ele se dá conta de que a força, a velocidade e a resistência das criaturas se multiplicava a medida que o tempo passava, o que tornava assassina-las uma tarefa cada vez mais exaustiva.

Durante o combate sua doença o ataca novamente, provocando dores em seus ossos, náusea e tonteira, deixando-o assim vulnerável ao ataque de seus adversários que o atacam sem piedade, o socando, o chutando e o arranhando.

Embora ensanguentado, retalhado e praticamente sem roupas, ele dá a volta por cima com um sorriso estampado no rosto. Reduz cada um deles a pó ao expandir sua energia.

O som da explosão é seguido das suas gargalhadas; ria como alguém que ganhou uma fortuna, tão alegre quanto. A mão trêmula ele leva até seu braço direito, repousando-a sobre o enorme corte que ali havia.

 Eu pensei que... que eu fosse morrer...  a expressão de terror na sua face dá lugar ao sorriso mais macabro que ele já havia esbanjado  Isso é... é incrível...!! Há quanto tempo eu não sentia isso?! Essa... adrenalina... Eu estou tremendo de emoção...

Sua vontade de lutar é triplicada, ele, agora em velocidade máxima, não mais se limita na batalha contra elas, visualizando em cada uma a face daquela que um dia lhe poupou a vida, expressando todo o seu ódio através de gritos, berros furiosos.

Em sintonia, só o que se escuta são os sons dos ossos daqueles monstros se quebrando e o de suas carnes se partindo. Não existia na galáxia lugar mais assustador do que aquele. Na sua cabeça ecoavam as palavras da mais forte guerreira com quem já lutou. Santsuki já não aguentava mais.

O guerreiro ariano estava prestes a explodir. Ele encarava aquilo como a sua jornada de autoconhecimento; uma forma de clarear suas ideias. Gostava de chamar essa nova etapa da sua vida de "Período Pré-morte". O período em que está no auge de sua maldade, no ápice de sua força; a era em que estava acima de qualquer outro guerreiro.

Santsuki é o último estágio evolutivo ao qual todo retalhador ascende ao se dizer o melhor entre os melhores. Santsuki não é apenas um homem; é um objetivo a se alcançar, é o que todo retalhador deve querer ser.

Fisicamente esgotado, chegou a saída banhado pelo sangue dos monstros que executou, camuflado pelas tripas dos seres que habitavam o sub mundo, coberto de entranhas, fedendo a enxofre, a morte. Em cada uma de suas mãos havia a cabeça de um demônio, a qual ele solta no chão ao enxergar a luz.

Depois de atravessar a porta, ela se fecha. Adiante, havia uma floresta, a cor que predominava era o verde. Um lugar florido, cheiroso e puro pelo qual ele passeia até encontrar um rio, rio no qual se banha para limpar-se de toda aquela sujeira.

Chegando do outro lado, ele se vê totalmente limpo. Vestia apenas uma calça e sapatos, seu corpo estava repleto de hematomas, cortes e de feridas expostas, o que porém não o impede de prosseguir, ainda que com a mão sob o machucado que estava em seu braço direito, o ferimento que mais incomoda.

Inconscientemente seguia por uma trilha inacabável de flores, flores que cuspiam um pólen que produzia um agente alucinógeno ao qual normalmente o seu cérebro produziria um antídoto natural, mas graças ao cansaço mental e físico exposto antes ele não foi capaz de resistir, sendo pego pelo feitiço delas.

Como flash de memória, sua consciência é preenchida de momentos ruins de sua vida, começando pelos primeiros; a geração de sua infância foi marcada pelo preconceito e a discriminação que os retalhadores sofriam, então o dia em que num acesso de raiva destruiu uma praça e matou todas as crianças que o insultavam, numa prática cruel de tortura psicológica, não podia ficar para trás.

Tudo o que sentiu naquele momento foi incorporado no seu eu de agora. O coro de zombaria no qual as crianças focavam, o fedor de fritura emanado de seus corpos, seus gritos de agonia...

Tudo. Recordava-se perfeitamente de tudo.

Tem como esquecer-se do treinamento pelo qual passou no orfanato? Não se de cinquenta mil adolescentes você for o único sobrevivente, o que agravou ainda mais foi a etapa do teste em que você todos foram soltos numa floresta por um ano e a única maneira de sobreviver era matando uns aos outros, pois o estoque de alimento e água era extremamente limitado.

As coisas que viu... As coisas que teve que fazer... Toda a fome e a sede que sentiu, o frio que vinha pela noite... o medo de ser atacado durante a noite enquanto dormia, o que provocou a insônia que o impossibilitou de dormir por um mês inteiro... as doenças que contraiu... a desconfiança, a paranoia...

Ao voltar a si, ele percebe qual momento estava prestes a reviver e trata de repelir o gás alucinógeno de seu cérebro. Nunca mais queria ver aquela face ou ouvir aquela voz.

Ele deixa para trás aquela encantadora floresta ao atravessar a porta da saída, carregando consigo as mágoas e a angústia que aquelas lembranças lhe puseram no coração.

Quando cruza aquela porta ele se depara com um novo cenário; um muito diferente dos demais.

Ele entra num deserto gélido escurecido pela noite, um ambiente que em muito se assemelhava a Antártida. Olha ao redor e ninguém vê, estava, ao que parecia, totalmente sozinho. Tudo indicava que ele era o único ser vivo ali.

Até que surge em suas costas um guerreiro, um garoto com a idade dos seus subordinados. O jovem empunhava uma pequena adaga preta, arma que usou para desferir um corte contra o pescoço do seu mais novo adversário.

Santsuki mostra-se mais ágil e consegue desviar-se, agachando. Porém, o rapaz é capaz de abrir um corte em sua bochecha antes de bater em retirada recuando.

— Uma década esperando alguém chegar até aqui, e quando acontece... esse alguém é ninguém mais, ninguém menos que Santsuki Raikyuu. Sorte ou azar?

 Me responda você...  pediu, o corte em sua bochecha — Depois que acabarmos com isso. Estou física e mentalmente exausto, sinto dores por todo o corpo... Não há melhor hora para tentarem me matar do que essa.

 Lamento informar, mas o poder que eu possuo torna desnecessário o emprego da força física numa batalha, tanto de minha parte quanto da parte dos meus oponentes. Antes que comecemos, eu vou explicar. Como você sabe, o poder dos retalhadores se baseia no uso do chikara, a energia primordial do universo. São inúmeros os tipos de energia existentes, e ao dom de controla-las nós chamamos de "chave". Cada uma dessas energias possui um novo nível de manipulação, o qual chamamos de "porta". Eu tenho a chave da Energia do Espaço, nasci com a chave que abre a Quarta Porta, o que significa que possuo o poder de fundir o meu corpo ao espaço que nos cerca... Posso me tornar um só com o espaço... E aqui nós temos um grande espaço livre!

 É a primeira vez que ouço falar dessa energia. Mostre-me do que você é capaz, por favor.

 Com prazer!

De repente, ele torna-se invisível. Sua mão ressurge a frente do peito do vilão, desferindo uma punhalada ali. Santsuki, entretanto, é capaz de segurar a sua mão e defender-se, mas a perna do garoto aparece em suas costas, atinge ele com um chute e o lança para frente, a tempo de receber um gancho bem no queixo.

Sorridente, o ariano percebe que parar de subestimá-lo era o melhor que tinha a fazer. Atenta-se ao inimigo de menos idade.

 É inútil se manter em guarda, não pode se proteger dos meus golpes. Ninguém pode. Nunca saberá onde posso estar, porque estou em toda a parte! Aqui eu sou onipresente! Sou um deus!

Intencionado a matar o mais poderoso guerreiro que já teve que enfrentar, o garoto o ataca com tudo. Sua mão, porém, se separa do espaço, ficando suscetível ao choque que Santsuki libera através do corpo. Eletrocutado ele assume sua forma normal, sendo então agarrado pela garganta e atirado em solo firme.

 Você deve ter o quê? Dezesseis anos? Dezoito? Você é talentoso, mas é só uma criança. Sua falta de experiência e treino faz com que você cometa dois erros em combate. Você fica arrogante enquanto luta e ataca seu inimigo despreocupadamente, o que faz com que libere energia demais ao decorrer do processo. Alguns retalhadores são sensíveis à chikara, são capazes de senti-lo. Eu sou um desses, mas a minha habilidade é muito limitada, só consigo notar quando é usado em excesso.

Envergonhado, o garoto pede:

 Me... Mata...!!

 Não, eu não vou fazer isso. Seria um desperdício de talento. Deixarei que viva, você tem potencial para se tornar imbatível. Pena que não viverei pra ver até onde você vai chegar. — o soltou  Qual é o seu nome, garoto?

 Incrível. Ele conseguiu subjugar a minha habilidade e fez parecer como se isso não fosse nada para ele. Não dá pra acreditar que isso aconteceu. Ele é um ser fantástico.  Pensou. — Sou Hiroshi.

 Hiroshi. Essa é a última vez que nos vemos. Saia deste lugar e procure um mundo onde possa viver. Se isolar das pessoas não faz bem nem mesmo para um retalhador. É o contato com as pessoas que nos molda, que faz de nós o que somos. São nossas experiências que definem o tipo de guerreiro que nós vamos ser.

 Não me venha com essa ladainha. Não preciso de conselhos, só o que eu preciso... É MATAR VOCÊ!

Fundiu-se outra vez ao espaço, tornou-se visível dois metros acima dele e o atacou, mas o ariano transportou-se para as alturas, recheou sua mão com uma esfera de energia elétrica e a disparou para baixo, na direção do garoto. A esfera explodiu, expandindo-se por uma área de cinquenta e dois quilômetros quadrados.

A explosão segue se expandindo, desintegrando tudo o que estava no seu raio de alcance; das menores às maiores rochas; das pequenas às gigantescas montanhas. Suas ondas de impacto sacodem um solo até cinco quilômetros distante do centro da detonação, abrindo rachaduras pelo chão.

Uma cortina de poeira engole grande parte da região, escondendo a arena na qual os dois guerreiros se enfrentavam. Ela, pouco a pouco, se dissipa, e revela o abismo sem fundo que a explosão deixou no planeta; um rombo que se podia ver até mesmo do espaço sideral.

 Ele está vivo.  Dizia Santsuki, atravessando a última porta; a que lhe separava do objetivo final de sua visita a aquele lugar. Ele cruza a porta e, por fim, deduz:  Um garoto tão especial jamais morreria assim.

A porta se fecha. Santsuki agora estava frente a frente com um dos seus maiores objetivos na vida, algo com o qual sonhou muitas vezes. A ansiedade era grande, pois ele finalmente obteria respostas para suas perguntas.


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