Santsuki Raikyuu escrita por Haru


Capítulo 1
Prólogo: Tradição Mortal.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804299/chapter/1

Prólogo: Tradição mortal.

Quinta feira, nove e meia da manhã. Kin se lembraria desse dia por muito tempo, pois foi o primeiro em que dormira bem. O único das últimas semanas no qual não acordou assustada, trêmula ou com lágrimas nos olhos. Respirando fundo, ela cuidadosamente senta-se na cama e apoia as costas ao travesseiro. Retira do rosto os cabelos e respira fundo. Era grata por ter descansado em paz.

A três metros de sua cama havia um espelho ali colocado por ela mesma. Gostava de ver como o vermelho das sardas de sua face se tornava mais vivo pela manhã, o que também deixara de fazer, já que a palidez que descoloria o seu rosto lhe roubava todo o encanto, dando-lhe um aspecto mais sombrio. Ela boceja, se espreguiça, remove o cobertor do corpo e levanta, caminhando até o banheiro do outro lado do corredor.

Enquanto escovava os dentes, a guerreira de cabelos amarelos cacheados imaginava curiosa como eram as coisas no planeta em que estavam prestes a chegar. Ela encara seu rosto no espelho adiante e vê saúde em sua expressão, sorrindo para si própria. Abaixa-se para cuspir a pasta na pia de plástico e lavar a escova, mas ao se levantar, o que vê faz quase o seu coração pular do peito.

Santsuki.

Seu medo e sua surpresa são tamanhos que tudo o que ela faz é gritar, se esbarrar no espelho pra virar e quebrá-lo. Ao perceber que se tratava de uma alucinação ela aos poucos se acalma, controlando a respiração descompassada. Através do espelho rachado ela percebe que a palidez novamente tomou conta de sua aparência. Ela põe a mão no peito e encosta na pia para tranquilizar-se.

— Eu estou ficando... louca?

É questão de tempo até que, preocupado, o guerreiro de olhos azuis bata na porta e pergunte:

— Tudo bem aí? Eu ouvi um grito. 

Ela, nervosa, se encobre:

— E-Está. Está tudo bem sim, é que eu esbarrei no interruptor e apaguei a luz.

Desde que aprendeu a andar, Kin tinha um medo muito grande e irracional do escuro. Entrava em pânico toda vez que se encontrava em escuridão total, ficava paralisada e chorava descontroladamente. Ninguém — além de Arashi — possuía conhecimento disso.

Ela, já bem, continua a escovar os dentes. Pensar que faltava pouco para que finalmente conhecesse o seu irmão sempre funcionava...

Na sala de estar, Arashi sintonizava uma transmissão com a Terra ariana. Sue havia aceito, o que fez com que ela fosse a primeira pessoa que ele visse no telão do computador, ao conseguir acertar tudo.

— Sue?

— Oi, Arashi. — A garota acenava. — Eu estou na País de Acamar. 

— O que está havendo aí? Que barulheira é essa?

— Você não vai acreditar no que aconteceu. — Ela pareceu mais séria.

— O que foi?

— Cadê a Kin? Quero ver a reação dos dois com essa notícia, chama ela.

— Tô aqui. — A loirinha, de repente, aparece; com a boca cheia de pasta. 

— Isso é pasta de dente? — A garota atrás da dela pergunta.

— Não, é esperma. — Brincou, divertindo-se com a feição de espanto dela. — É o dele. — Sussurrou, apontando para o retalhador.

— P-Para de dizer besteiras! — Ele a repreendeu. — É claro que é pasta de dente. E você deveria ir cuspir isso antes de falar.

Kin então se escora sobre ele e cospe tudo em seu cabelo, bagunçando-o a seguir. Ele, contrariado, complementa:

— Não no meu cabelo... 

— Desculpa, você não disse onde. — Retrucou ela, cedendo-lhe a toalha. — Pode falar, vintona com mente de criança.

— Tá o maior caos aqui em Acamar. Hoje, durante a madrugada, o líder do país cometeu suicídio. 

— O quê?! — Nenhum dos dois acreditou no que escutou.

— Isso mesmo. — confirma Sue — Houve uma batalha aqui por volta das dez da noite, pelo que eu entendi um retalhador de Bellatrix fugiu de lá em um bote, remou até aqui e aproveitou o tempo em que o Kura estava hospitalizado para invadir o lugar. Ele conseguiu atravessar a fronteira e apesar de ter lutado com vários guerreiros de alto nível ele deu trabalho para ser detido, incendiou um vilarejo inteiro e ao todo matou setecentas mil pessoas.

— Isso é mais que um terço da população... — Relevou Kin.

— É. Deram alta ao Kura para que ele fosse lá e o detivesse, ele conseguiu e teve que matá-lo, mas quando fez já era tarde demais. O estrago já estava feito. Kura pediu que o deixassem sozinho em sua sala, se trancou e... quando a manhã chegou, o encontraram morto. Os investigadores acreditam que ele deu atirou na própria cabeça.

— Que coisa... O que vão fazer agora? — Kin a questionou.

— Bom, ainda não sabem. Por enquanto isso é apenas suposição, não há provas disso. As pessoas aqui fora querem vê-lo, ninguém acredita que ele tirou a própria vida ou que está realmente morto. Bom, tenho que ir agora porque eu fiquei encarregada de fazer a segurança e agir em casos de violência. Até mais.

— Tudo bem, até mais. — Arashi se despediu. Ele vira-se para Kin e lhe indaga: — Sabe o que é mais macabro nisso?

— O quê?

— Não é a primeira vez que isso acontece. Ouvi dizer que o mesmo fez o antigo líder de Acamar após a rebelião de Santsuki. Escutei também que isso já aconteceu mais vezes... Inclusive há uma teoria de conspiração que diz que há uma tradição, uma espécie de pacto que o novo líder de Acamar faz com seus antecessores. Eles concordam em pôr o país acima de suas próprias vidas e em nunca falhar ao protegê-lo, mas se falhar... cometer suicídio dando um tiro bem na cabeça. 

— Sinistro. Tô até arrepiada... O que acha que vai acontecer agora?

— Devem fazer novas eleições no final do mês, imagino que esperarão a poeira baixar. Até lá, o Conselho Nacional deve assumir a liderança do país. 

— Bellatrix dará todo o seu apoio, afinal não vai querer perder a confiança dos outros países. Redobrarão a segurança nas fronteiras, o país ficará de luto por causa da notícia e aos poucos as coisas deverão voltar ao que eram antes.

— Exatamente. Mas é uma pena o que aconteceu. A história de Bellatrix é marcada por tragédias como essa, mas é um lugar fantástico. É de lá que vem nomes como Azin.

Ouvir aquele nome sempre fez Kin parar no tempo. Não porque ele foi um alguém mundialmente reconhecido, tinha algo mais. Ela só não sabia explicar o que era. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Santsuki Raikyuu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.