— Prólogo: Before You Miss Me

Assim que a ligação com Kin caiu, Arashi removeu os fones pretos das orelhas e voltou os olhos azuis claros para a janela da nave — de onde ainda podia ver o planeta Terra, mesmo que muito distante. Deixou escapar um suspiro cheio de pesar. Um novo ano acabava de começar e não pôde comemorar isso com as pessoas que amava. 

Estava numa espaçonave cercado de desconhecidos, a caminho de um mundo para o qual nunca foi. Não sabia o que esperar. Como o único ali dentro capaz de suportar as mais baixas temperaturas, dobrou as mangas da jaqueta jeans e esticou com os dedos a camiseta branca gola v. Alongou as pernas e cruzou-as. Em seu rosto cor castanha havia tensão. 

 Sua atenção lá fora era tão fixa que ele nem notou a aproximação de Noriko. Branca, alta, magra, dona de um rosto angelical e do caminhar de uma modelo, ela se sentou ao lado dele no espaçoso banco e sedutoramente cruzou as pernas sob a saia rosa clara. Embora não parecesse, estava extremamente nervosa, era a primeira vez que saía da Terra de Áries. Por isso, faria o que gostava de fazer quando ficava nervosa: usar a beleza de seus dóceis olhos e o perfume de seus curtos cabelos lisos e negros para intimidar o cara mais próximo. 

— Pra mandarem o primeiro ministro do Reino de Órion com a gente é porque a coisa lá é séria. — Puxou conversa, estendendo o braço ao longo do batente da janela em frente a qual sentaram. — Diz aí, primeiro ministro. Nós vamos morrer lá? 

Sem perder de vista a Terra de Áries, que agora parecia um pontinho azul, ele calmamente respondeu:

— Espero que não. 

A voz de Naruhito, o mais velho e experiente tripulante da nave no quesito "viagem espacial", avisou da cabine:

— Acionei o combustível da nave, vamos atingir a velocidade da luz dentro de alguns segundos. Cadê o Toyotomi? 

O som de alguém vomitando no banheiro à direita do banco onde Arashi e Noriko sentaram respondeu à pergunta dele. Naruhito respirou desapontado. Em toda viagem pelo espaço que ele conduzia, pelo menos um viajante sujava todo o banheiro com vômito, mas como os três guerreiros daquela ali eram de Órion, ele pensou que daquela vez fosse ser diferente. O pior era que, toda vez, ele acabava tendo que limpar tudo. 

— Liga não, Naruhito, o Toyotomi vai lavar o banheiro! — Noriko falou bem alto para o próprio vomitador ouvir. A seu lado, Arashi continuava avoado. Resolveu puxar conversa com ele de novo: — Como você veio parar nessa enrascada, primeiro ministro? Nem sua namorada conseguiu te tirar dessa?

Arashi finalmente lhe dirigiu o olhar. 

— Pediram que eu fosse pessoalmente e eu não pude rejeitar, os taurinos são velhos amigos nossos. — Gentilmente se explicou. Sentiu-se sonolento, então fez uma pergunta a Naruhito: — Onde ficam os quartos, por favor? Acordei cedo o mês inteiro, preciso descansar por algumas horas. 

— Ficam ali, é só seguir reto. — Disse Noriko, apontando a direção. Sorrindo maliciosamente, perguntou: — Quer que eu vá com você?

— Não, obrigado. — Arashi ingenuamente recusou.

Contrariada, Noriko bufou e cruzou os braços. Pela primeira vez seu passatempo não deu certo. Continuava nervosa. Pelo menos a quantidade de pessoas presentes reduziu e não precisaria esconder o medo.