Problemas com Cabelo

-SEU LEGUME INSENSIVEL-!

-ENCICLOPÉDIA AMBULANTE!

-COM A PROFUNDIDADE EMOCIONAL DE UMA COLHER DE CHÁ!

-CHATA SABE-TUDO IRRITANTE!

Hmm, tá. Suponho que não devia estar surpresa com a cena, mas... Logo de manhã? São seis horas. SEIS. Eu (e toda a Grifinória) pretendia acordar apenas uma hora antes do trem sair. Que vai ser as DEZ.

Enfiei-me no meio deles. Sim, eu sei que isso tem um alto risco, mas ainda não estou completamente acordada e tenho a estranha sensação de que não conseguirei voltar a dormir depois disso. E eu estava tendo um sonho legal.

Tinha Scott...

E uma taça de quadribol...

E pudim...

Sabe, coisas importantes. Mas voltando a cena.

-VOCÊS DOIS VÃO ME DIZER POR QUE DISPERDIÇARAM 3 HORAS DO MEU SONO DE BELEZA! PAREM DE BRIGAR AGORA MESMO, CALEM ESSAS BOCAS E CADA UM PRA UM CANTO!! – ótimo, agora além de ameaçadora, sou rabugenta de manhã.

Já tinha um número razoável de gente acordada resmungando nas escadas, tirando Lilá que dorme feito uma pedra. E essa platéia ficou consideravelmente surpresa quando Rony e Mione me obedeceram.

Então eles começaram com um blá-blá-blá do qual só consegui tirar algumas palavras inteligíveis. ‘Legume’, ‘mel’, ‘travesseiro’, ‘Gina’ e ‘chocolate’.

-UM DE CADA VEZ! – apontei para Mione.

- Ele colocou mel no meu travesseiro – ela parecia estar fazendo muito esforço para não gritar – e a sua JUSTIFICATIVA BRILHANTE é que Gina deu chocolate para ele por que eu PEDI! – será que tinha veneno no chocolate?

Ok, mais ou menos agora eu reparei nos cabelos da minha amiga. E entendi o chocolate e o quase-ataque-de-pânico da semana passada. Mas esse é um motivo meio ridículo para colocar mel no cabelo de alguém. Ou Rony estava esperando um motivo para fazer isso. 

- Agora você Rony. – eu já estava mais calma, mesmo que isso não seja algo pelo que vale a pena me acordar.

- ELA – ele falou bem alto – estava falando com Gina pelas minhas costas e Gina não precisa de mais influência do que seis irmãos! Quando ganhei chocolate, eu tinha que desconfiar né?

Ele falou isso como se estivesse certo de que eu logo concordaria com sua lógica. Mesmo que estivesse obviamente claro que Gina tinha feito isso como desculpa para pedir um favor depois. Mas eu não vou falar nisso. Tenho amor pela vida (bom, ele é que tem para me obedecer...).

- Ahh eu não acredito que me acordaram por isso – resmunguei, pois eu gosto de dormir. É uma das coisas que melhor faço – Mione, você vai ter muito tempo para falar com Gina e influenciá-la como bem quiser quando formos para a Toca. Rony, coma o chocolate, deixe de ser ciumento, acrescente penas da próxima vez e é melhor que não haja próxima vez.

Terminando essa frase ameaçadora arrastei Mione para o dormitório para darmos um jeito em seu cabelo. Estava pavoroso.

***

Mais tarde, quando estávamos terminando o café da manhã (uma pilha de panquecas com calda, ovos fritos e bacon crocante), Rony e Hermione (ela com o cabelo devidamente lavado, desmelecado, desembaraçado e penteado) ainda não estavam olhando na cara um do outro.

Faltava meia hora para o trem sair e eu definitivamente não sabia como conseguiríamos ficar todos juntos no mesmo espaço fechado até chegar a Londres. Isso se um deles não... Sei la... Pulasse da janela, fosse para a cabine do Malfoy ou lançasse um Avada no primeiro que incomodasse.

A dupla de dois estava cada um de um lado de Harry, que se esforçava ao máximo para manter uma conversa pacífica. Eles lhe respondiam normalmente, mas se ignoravam.

Eu, é claro, só notava o drama por minha habilidade supersensorial, pois estava profundamente concentrada em um debate com Lilá sobre cabelo. Ela insistia que eu pintei o meu com piche e eu tinha absoluta certeza que aquela loura oxigenada não é natural.

- Eu estou dizendo... Ninguém tem cabelo tão preto assim...  – ela continuava argumentando contra meu sedoso cabelo negro. E eu não estou me gabando!

Ok, talvez um pouco

- Garota, a Loira do Banheiro ligou pedindo a peruca de volta! – porque a autora não me da piadas melhores! POR QUE!?!

- E você podia parar de me jogar na minha cara monstros de cultura trouxa, Samara! – Wow, alguém andou levando ela ao cinema?

Essa discussão ridícula começou quando ela acordou enquanto eu e Parvati estávamos ocupadas no estágio “Desembaraçar” e até conseguindo fazer Hermione parecer gente de novo. Lilá começou a reclamar que podíamos tentar o quanto quiséssemos que o cabelo de Mione não tem jeito mesmo e, não encontrando algo para criticar no cabelo de Parvati, partiu para o meu. Então, do nada, a comida... Desapareceu.

Ótimo, acabou. Eu já não me agüentava de panquecas. Eu ADOOORO panquecas, mas elas já estavam na mira do Rony desde que a comida apareceu.

Todos nos levantamos e Karina veio correndo até mim. Scott ficou lá atrás com uns corvinais (eu nem sabia que ele tinha amigos além da minha pessoa, mimimi...) e Harry desistiu de estabelecer contato entre seus amigos.

Quem ia para casa (tipo quase todo mundo) foi levado até o trem. Parece que faz tanto tempo que entrei nele... Nossa, 10 capítulos! Sou fabulosa mesmo. Assim que Karina e Scott receberam a coruja dos pais, falando algo sobre eles irem para Paris em uma segunda lua-de-mel, minha amiga meio que ‘se convidou’ para passar o Natal n’A Toca (que orgulho...). Combinamos de ficar na mesma cabine.

Isso, é claro, se couber todo mundo. Hermione, em um raro momento em que levantou a cabeça do livrão que estava lendo, sugeriu de maneira muito discreta, em um mais raro ainda lapso de humor, que eu fosse no colo de Scott.

E todos riram. Menos Scott que corou num tom interessante de rosa. E eu não precisei de espelho para saber que estava igual. Se Ana estivesse aqui nunca teria me deixado esquecer aquilo. Falando nela... Será que já recebeu meu presente?

***

Tenso. Muito, muito tenso.

No fim, coubemos na cabine. Sem pessoas no colo de ninguém. Acho que se eu não estivesse tagarelando a 100km p/hora (faço isso quando sinto tensão demais no ar) estaria um silêncio mortal.

 Rony e Mione estão um de cada lado sem falar nada. Sem surpresas. Scott e Harry estão fazendo a gentileza de manter uma conversa comigo. Mesmo achando uma brecha para falar apenas a cada 50 segundos. Fofos. Bichento está encarando a coruja mínima que Rony tem, Pichitinho. Cuidado, Pichí. Karina... Bem, Karina está emburrada.

Por... Certos motivos.

Há meia hora, Malfoy nos concedeu todo o ar da sua arrogância (que só a Buldogue agüenta. E a coitada da mãe dele), junto com seus dois BEdE (Babuínos Evoluídos de Estimação), e ficou fazendo umas piadinhas sem graça sobre Compartilhadores de Cérebro (Karina e Scott), Ruivo Pobretão (Rony), Santo Potter (hmm, dâ) e provavelmente estava prestes a inventar um apelido super criativo (mas igualmente idiota) para mim quando Hermione pediu que ele fosse embora. O que o fez dar uma de burro e chamá-la de Sangue-Ruim.

Foi tudo muito rápido. Num segundo Rony estava sentado, perfeitamente calmo e emburrado. No outro ele estava gritando alguma coisa (acho que era “Azulasse” ou algo parecido) e apontando a varinha para o Malfoy.

Devo dizer que a mira do Rony não é muito boa. E eu sei disso depois do incidente da Grande Guerra de Comida Mágica, que envolveu um prato de macarrão e minha blusa favorita. Não sei como ele consegue errar o cabeção do Malfoy estando a apenas alguns metros, mas o feitiço deu um jeito de ricochetear em algo atrás do Malfoy e voltar para dentro da cabine.

Então, no outro segundo, o cabelo de Karina estava azul.

Ela teve um ataque histérico e começou a gritar. Malfoy teve um ataque de riso e saiu. Eu e Scott tentamos acalmá-la, mas então ela meio que começou a chorar. Harry implorou para Hermione por um contra-feitiço. Ela estava pálida quando respondeu.

- Eu deixei minha varinha no malão. – e agora estamos todos aqui, esperando que o trem chegue logo em Londres. Talvez a Sra. Weasley possa consertar. Ou Fred e Jorge (Rony disse que eles ensinaram o feitiço) saibam fazer Karina voltar a sua loirisse natural.

Mas eu acho que o resto da viagem vai ser muito tenso.