The brightest star escrita por docpadfoot


Capítulo 1
my tears ricochet




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 Ele já estava acostumado com aquilo desde seu nascimento. Sua mera existência vinha com um preço, ele precisava ser o filho perfeito. O herdeiro perfeito.

 Então, com a mão do pai no em seu ombro e os olhos da mãe vindo do outro lado da sala, ele sorriu. Até os olhos dos colegas do pai saírem dele, e seu irmão sair da sala desapontado.

 -Oi, Walburga. Estava de passagem e pensei em fazer uma visita.

 Regulus nem notara que sua mãe estava ao seu lado, nem que Abraxas Malfoy estava ali conversando com seu tio Cygnus Black, só sentiu a mão do pai empurrando-o levemente, era sua deixa para deixar os adultos conversarem, aparentemente Malfoy e o tio Cygnus queriam unir as famílias, como se Lucius Malfoy já não se metesse o suficiente em sua vida.

 Reg andou até a gigantesca porta do salão, ele precisava achar o irmão.

 -Sirius! - ele chamou.

 -O que foi? - ele ouviu a voz do irmão vir de um canto cortinado.

 -Não se esconda, por favor…

 -Eu não quero atrapalhar o seu momento.

 -Que momento?

 -Aposto que a mamãe e o papai estão orgulhosos… - Sirius saiu de seu esconderijo, uma garrafa de Whiskey de fogo já pela metade, - O precioso Regulus Arcturus Black com a sua perfeita conduta… - ele deu mais um gole, - Tão educado, quanta classe, irmãozinho… - e levantou a garrafa numa espécie de brinde.

 -Pare, Sirius.

 -Eu não conseguiria me comportar tão bem assim.

 -Isso é ridículo - Regulus avançou para tentar pegar a garrafa da mão do irmão, que desviou num movimento rápido demais para o seu estado, o que fez com que ele caísse no chão. Regulus observou o irmão percebendo como estava, e depois se encolhendo com a garrafa grudada ao peito.

 -Patético… - a voz do irmão estava tão baixa que Reg quase não ouvira. - Você sabe o que vai acontecer comigo, não é?

 Sirius levantou a cabeça, olhando para o irmão. Os olhos cinzentos estavam cheios de lágrimas, que começavam a correr pelo belo rosto. Ele tinha uma noção que os pais não estariam contentes, mais uma vez.

 Crescendo eles eram o apoio um do outro quando os pais não estavam felizes. Uma vez, quando Regulus ainda não sabia andar, ele quebrou um vaso de seus bisavós, mamãe ficou muito descontente, e assumiu que tinha sido Sirius. Regulus não se lembrava do que tinha acontecido exatamente, mas ele se lembrava dos gritos de agonia do irmão e o mesmo indo para o seu quarto à noite para dormirem juntos. Outra vez que Regulus estava ainda aprendendo Francês com a sua mãe enquanto Sirius tocava piano, e Regulus não conseguia acertar a pronúncia de peureux, “temeroso”, a frustração de mamãe só crescia, deixando o garoto cada vez mais nervoso. Sirius notou e decidiu tirar a atenção de cima do irmão, usando seu conhecimento recém adquirido de músicas trouxas - Andrômeda tinha deixado alguns vinis em seu quarto, o namorado dela era trouxa, para o ódio da família -, começou a tocar Can’t Help Falling in Love. Walburga esqueceu-se completamente dos erros do filho mais novo e focou completamente no mais velho. A discussão dos dois crescia tanto que Regulus tapou os ouvidos e abaixou a cabeça. Sirius saiu da sala batendo a porta e a mãe voltou-se para Regulus.

 -Novamente.

 E a aula voltou, até ela cansar-se dele e mandá-lo para o quarto. Só que ao invés de ir para o seu, ele entrou no quarto do irmão. Eles ficaram em silêncio, deitados na enorme cama até Monstro chamá-los para jantar.

 Tirando Sirius, Monstro era o único que não gritava ou machucava Regulus naquela casa.

 -Eu não posso fazer nada, Sirius… - Regulus sentou ao lado do irmão, no chão.

 -Não pode ou não quer?

 -Eu não sou você. Eu não posso.

 Sirius soltou uma risada amarga.

 -Volta lá pra dentro, Reg. Feliz Ano Novo, cacete!

 E se levantou, subindo para o quarto com a merda da garrafa. Regulus voltou para o salão, imitando as ações do pai, os sorrisos falsos, a altivez e a máscara da arrogância voltando para o seu rosto.

 Nos dias seguintes, Sirius nem saiu de seu quarto. Regulus passava os dias lendo um livro que ganhara de seus pais, era sobre um bruxo que vingava a morte de sua filha, matando trouxas. O livro era gráfico e quando o estômago de Regulus embrulhou de vez ele chamou o Monstro e mandou que jogasse xadrez com ele, dizendo que era para jogar a sério, e não simplesmente deixá-lo ganhar por ser o mestre. Até chegar o dia de voltar a Hogwarts.

 Na estação, Sirius foi correndo ao encontro de James Potter, seu melhor amigo, nem se dando o trabalho de dar tchau para os pais ou olhar no rosto do irmão.

 Assim eles passaram os meses seguintes. Sirius estava quase sempre com os amigos, não permitindo que Regulus se aproximasse, e quando estava sozinho dizia que tinha que estudar para os O.W.L.s, o que era a maior mentira na visão de Regulus. Sirius sempre fora um gênio que não precisava se esforçar para suceder.

 No dia em que os alunos do quinto ano fizeram o exame de Defesa Contra as Artes das Trevas ele viu o irmão sentado com os amigos no gramado, Regulus parecia em transe, ele tinha noção de que se ele se aproximasse Sirius iria fingir que não o tinha visto. Uns momentos depois ele viu Snape caindo no chão e a nascida-trouxa ruiva do ano e da casa do irmão, Lily Evans, ao lado dos amigos do irmão. Ele só ouviu Snape chamando a garota de Sangue-Ruim e depois dela sair irritada com todos, viu Potter tirar a cueca de Snape. Sirius só ria. Perto da hora do jantar ele tentou falar com o irmão. Caralho, ele detestava estar brigado com o irmão, e nem sabia como eles tinham chegado naquele ponto. Desde o primeiro ano de Sirius que os pais e o irmão não se davam bem, mas Regulus nunca fez nada de mais, ele só queria ter o seu porto seguro, seu melhor amigo. Claramente, Sirius não se sentia do mesmo jeito. Ele merecia esse inferno que o Sirius dava-lhe? Será que fingindo ser o herdeiro perfeito ele se tornara quem os pais queriam que ele fosse? O mais profundo oposto do irmão? Ele amava o Sirius mais do que qualquer pessoa.

 -Sirius, por favor, converse comigo. - ele implorou pela milésima vez.

 -Nós não temos o que conversar, Regulus.

 -Porque você age assim comigo?

 Sirius começou a andar pelo corredor, evitando a pergunta.

 -Porque você age como o Potter?

 Ele parou e se virou para Regulus.

 -E como caralhos eu deveria agir, Regulus? Como você? - o sarcasmo pingava em cada palavra.

 -Eu não sei! - Regulus quase gritou. - Eu não faço a menor ideia!

 -Se você não faz a menor ideia de como agir, porque você imita o pai em qualquer oportunidade que você tem?

 Regulus ficou em silêncio, Sirius riu.

 -Foi o que eu pensei. - E foi andando até chegar ao lado de Potter, que olhou para Regulus curioso e passou o braço pelos ombros de Sirius, sussurrando algo.

 Poucas semanas depois eles estavam em casa. Sirius usava uma camisa larga com desenhos estranhos que Regulus reconheceu da capa de um dos vinis, calças ainda mais estranhas, rasgadas nos joelhos e em alguns lugares das coxas, e botas que ele nunca tinha visto antes. Sirius parecia um trouxa.

 -TIRE ESSA IMUNDICE, AGORA! - Walburga gritou

 -NÃO MESMO! - Sirius gritou de volta.

 -Você é um traidor de sangue nojento! - ela sibilou, o ódio evidente em sua voz.

 -Melhor do que ser como você! -  ele rebateu. - Você é um monstro.

 -Eu te dei uma casa, te alimentei e é assim que você agradece?

 -Tudo que você fez foi pela porra da imagem - Sirius apontou para a mãe - Se você pudesse me jogar fora sem ser mal vista, você faria. Você é uma pessoa de merda.

 E antes que Regulus pudesse fazer alguma coisa ele ouviu a voz da mãe:

 -Crucio!

 E os gritos de dor de Sirius preencheram a sala de estar.

 -Você é um ingrato - o pai disse, ainda sentado em sua poltrona, como se o filho não estivesse gritando e chorando. Ele levantou a mão e Walburga parou.

 Sirius levantou-se, o rosto impassível. Ele olhou para Regulus e ele mexeu os lábios: “Você está morto para mim”.

 Regulus segurou as lágrimas, ele não podia chorar em frente aos pais, ainda mais chorar por Sirius ali.

 -Eu quero você fora daqui - Orion falou em um tom calmo - Você não é mais meu filho. Eu já aguentei muito do seu comportamento, eu achei que você ia melhorar, mas não aconteceu. Saia.

 Ele subiu para o quarto e Regulus seguiu assim que os pais voltaram às suas atividades. Ali, no corredor, ele deixou as lágrimas correrem pelo rosto. Sirius saiu do quarto, pálido como um fantasma, mas com o anel que Regulus lhe deu em um colar.

 -Me desculpe - ele lutou com a voz embargada.

 -Você não fez nada.

 -Esse é o problema.

 -Eu não esperava que você fizesse algo, Reg.

 -Eu não sou um herói como você, Six.

 -Já não importa - Sirius começou a se dirigir para as escadas.

 Regulus apoiou-se na parede, cobrindo o rosto com as mãos, os soluços escapando. Ele sabia, não era uma novidade. Sirius era a estrela mais brilhante. Não ele. Imponente e chamativa, sempre a qual todos prestavam atenção. E ele estava indo embora, Sirius estava fugindo de casa, abandonando-o.

 Sirius o tinha matado, mas ele o matou de volta. Então ele entrou em seu quarto, fechou a porta e deitou na cama, preso na dor, amaldiçoando o nome da família, ele chorou, dessa vez sem tapar o rosto ou prender os soluços, ele deixou tudo sair.

 Seu irmão era o herói, mas ele não era o vilão.

 Ele não era a porra do vilão.


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