Regra n° 2: não acordar na cama de Sirius Black (de novo)

O mundo era realmente um lugar muito, muito, muito injusto. Enquanto Marlene estava com grandes olheiras escuras, o cabelo desgrenhado e uma dor de cabeça insistente; Sirius parecia estar pronto para fazer uma sessão de fotos para uma revista ridícula qualquer. Insuportavelmente bonito. Ela bebeu mais um gole do café forte e sem açúcar, desejando que todo o seu mau-humor pós-bebedeira fosse engolido com ele.

— Nós deveríamos sair para fazer alguma coisa. – Sugeriu Sirius.

— O quê? – Ela disse, cética. – Olha para mim. O máximo que vou fazer hoje é maratonar alguma série que não precise de nenhum neurônio para ser assistida.

— Tsc tsc. – Ele estalou a língua. – Você desperdiçará esse dia perfeitamente encantador?

— Ah não, eu ficarei perfeitamente alienada. É bem diferente. – Ela mordeu mais um pedaço do croissant antes de dizer: – Além disso, quem diz que o dia está perfeitamente encantador nessa hora da manhã?

— Primeiro que qualquer dia é perfeitamente encantador na companhia de Sirius Black e segundo que são duas da tarde, Mars.

Marlene abriu a boca para retrucar, mas decidiu não dizer nada. Olhando para o relógio quadrado na parede, confirmou o que ele disse. 14:10. Não podia ser, não fazia sentido. Ela dormira tanto assim?

— Então por que você chegou aqui com o nosso café da manhã?

— Porque qualquer hora é um momento perfeitamente encantador para comer croissant, ainda mais com você.

Ele piscou e talvez, só talvez, ela tenha se derretido um pouco. Porém, não querendo dar o braço a torcer tão rápido, Marlene respondeu:

— Ok, ok, mas chega de usar perfeitamente encantador em tudo, isso é irritante.

— Não seja rabugenta, Mars, isso não combina com você.

— Bem, ser irritante combina com você, Six, e nem por isso você precisa ser. – Ela lhe lançou um sorriso irônico, o qual Sirius respondeu com um beijo no ar. – Aliás, eu estou de ressaca, ou seja, tenho o direito de estar rabugenta.

— Aposto que sua cabeça não está doendo mais. Sua aparência está ótima, como sempre.

Marlene apenas sorriu, sem saber ao certo o que dizer. Detestava ficar sem palavras e, mais do que isso, detestava ficar sem palavras devido às provocações de Sirius Black. Ela não podia discordar sobre a dor de cabeça, realmente estava melhor, porém, em relação à aparência, ela tinha sérias dúvidas. A deixava um pouco preocupada que Sirius, na melhor das hipóteses, achasse que aquela era sua aparência diária.

Enquanto percebia e respondia os leves flertes, Marlene teve certeza que deveria ter colocado mais regras naquela maldita lista. A próxima delas com certeza seria não abrir a porta para Sirius Black, mesmo que ele esteja com os melhores croissants do mundo.

***

— Não acredito que você me trouxe em um parque de diversões. – Ela disse, impressionada. – Isso é incrível.

Sirius abriu um sorriso convencido e passou um dos braços por cima dos ombros dela. Eles haviam entrado no parque há poucos minutos e Marlene olhava ao seu redor com um sorriso satisfeito no rosto. Desde que era criança, amava aquela aura encantada e mágica que envolvia aquele ambiente, desde os brinquedos entorpecentes até os doces fantásticos. Não se sentia igual quando era mais nova, agora tudo parecia menor, mas, mesmo assim, igualmente envolvente.

— Eu sabia que você adorava parques de diversões. Admita, Mars, eu sou maravilhoso.

Revirando os olhos, ela resolveu ignorar o ego enorme dele.

— Como você sabia que eu gostava de parques de diversões?

— Eu vi no Instagram.

Marlene franziu o cenho. A última foto que ele postara em um parque de diversões fora há três anos, quando ela, Lily, Dorcas e Mary foram a um apenas para brincar no carrinho de bate-bate. Na foto, ela estava com um sorriso enorme enquanto batia o seu carrinho no de Lily e, apesar de toda tremida, a McKinnon amava aquela foto e as lembranças que ela representava. Exatamente por isso a postara e, se estivesse certa, aquela era uma das primeiras fotos de seu Instagram, ou seja...

— Você me stalkeou?

Por alguns instantes, um rubor incomum surgiu nas bochechas dele, deixando-o ainda mais bonito, antes que Sirius se recuperasse e abrisse um grande sorriso malicioso.

— Eu não estava te stalkeando, apenas coletando informações.

Ela gargalhou, puxando-o pela mão em direção aos amados carrinhos de bate-bate enquanto dizia:

— E você faz isso com todo mundo?

— Não, só com quem eu estou interessado. – Ele piscou, o que a fez parar de andar para olhá-lo. – Vem, você vai ter o melhor encontro da sua vida essa noite.

Ele a puxou pela mão enquanto a mente de Marlene processava as últimas palavras dele. Eles estavam em um encontro e Sirius estava romanticamente interessado nela. Ela sempre adorou borboletas, entretanto, nesse momento apenas queria matar todas que faziam uma bagunça em seu estômago.

***

Aquele foi um dos melhores encontros que Marlene McKinnon teve na vida. O sorriso alegre refletia perfeitamente seu estado de espírito. Não havia como negar, o dia fora encantador desde o início até aquele momento, quando eles estavam no elevador, subindo para o apartamento dela.

— Obrigada pelo passeio. – Agradeceu.

Sirius apenas assentiu, olhando-a de lado. Quando chegaram à porta do apartamento, Marlene não sabia ao certo o que fazer. Deveria convidá-lo para entrar? Agradecer mais uma vez? Lembrou-se, então, que estava com os óculos escuros dele em seus cabelos, pois havia os usado quando saíram de casa naquela tarde. Decidindo que seria um bom começo entregar aquele objeto, ela o tirou com cuidado e colocou-o na mão dele.

— Obrigada por isso também.

Ela tentou sorrir, mas o sorriso ficou preso em algum lugar quando Sirius segurou sua mão e não soltou. Enquanto ambos olhavam para as mãos segurando os óculos em uma digna cena de comédia romântica clichê, ele colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha, o que atraiu o olhar da garota de volta para o rosto a sua frente.  

— Você sabe que eu sempre fui impulsivo e direto, e eu pretendo ser assim agora também. Eu gosto de você, Mars, mais do que eu achava possível gostar de alguém um dia. – Ele deu um sorriso. – Quando eu recebi sua ligação ontem, pensei que...talvez fosse correspondido. Mas você não disse mais nada e, quando tentou, pareceu desconfortável demais para que eu deixasse você continuar.

Ela estava surpresa. Nem em seus melhores sonhos – e com certeza ela já sonhara muito com ele – Sirius se declarava. Alguma parte de seu cérebro, a qual não estava surtando ou fazendo seu coração bater bem mais rápido do que o normal, ou até mesmo obrigando-a a respirar, fez com que as palavras simplesmente saltassem de sua boca:

— É óbvio que você é correspondido, Black. Não seja idiota.

Ele riu, não aqueles risos contidos ou sarcásticos, mas aquelas gargalhadas latidas e altas, as quais eram a marca registrada de Sirius Black. Aquele som ecoou pelo coração dela e fez cada nervo de seu corpo despertar.

— Uma vez Marlene McKinnon, sempre Marlene McKinnon. – Ele fez uma careta, mas o sorriso de lado insistia em aparecer.

— E você gosta de mim exatamente assim.

— Isso é óbvio, McKinnon. Não seja idiota.

Ela riu diante da repetição de suas palavras. Estar ao lado de Sirius era fácil, eles se entendiam entre as provocações e olhares trocados. Quando percebeu os óculos escuros não eram mais o elo entre eles e todo seu corpo estava colado ao dele. Beijá-lo era uma experiência única e diferente a cada vez, que a embriagava e a deixava querendo mais. Mais. As mãos pelo seu corpo e as pequenas mordidinhas no canto de seu lábio inferior a faziam suspirar e querer que aquele momento durasse para sempre. Uma eternidade ali lhe parecia pouco tempo. Entretanto, eles se separaram cedo demais, interrompidos pela vizinha do apartamento ao lado, a qual parecia ter um talento especial para a fofoca.

— Isso é uma falta de respeito! Um absurdo, Marlene. – Ela sentiu contra si o peito de Sirius tremer e percebeu que ele segurava a risada, o que tornou bem difícil fazer o mesmo. – Tudo bem que já é madrugada e que os jovens como vocês estão com os hormônios à flor da pele, mas no corredor? Não dá! – A vizinha ficou impossivelmente mais vermelha e Marlene precisou beliscar o braço do homem ao seu lado para que ele ficasse quieto.

— Desculpe-nos, Sra. Diggory. Não vai acontecer de novo.

A mulher apenas assentiu e voltou para o apartamento, fechando a porta com um baque ruidoso. Quando Marlene girou nos braços dele para ficar novamente de frente para Sirius, ele a apertou contra si e disse:

— Eu espero ansiosamente que aconteça de novo, menos a parte de sermos interrompidos por alguém, claro. – Ele fez uma careta.

Abrindo a porta, Marlene decidiu que aquela noite não iria se preocupar com o amanhã. Ela possivelmente gostava mais do que deveria de Sirius e, por algum motivo, ele sentia o mesmo por ela.

— Entra comigo?

Sirius respondeu com um sorriso malicioso. Enquanto fechavam a porta apressadamente e iam até seu quarto entre risadas, beijos afobados e colisões contra móveis, Marlene se convenceu de que não estava quebrando a segunda regra de sua lista. Afinal, dizia claramente que ela não poderia acordar na cama de Sirius Black, porém, não falava nada sobre eles acordarem na cama dela.

No fim, poderia ter o mesmo efeito e ela sentia a inevitabilidade em quebrar a terceira regra.