Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 3
Aquele início de manhã...


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por voltar! ♥



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Cada início de manhã era uma pequena passagem pelo inferno para Romeu.

Romeu acordou ao som de Baby Shark, uma das músicas mais irritantes já criada pela humanidade, afinal uma música da qual ele gostasse nunca serviria como despertador (e usar o celular também era mais seguro, porque era menos provável que ele o arremessasse para longe), já que só serviria para deixá-lo relaxado e confortável e fazê-lo voltar a dormir, então resmungando ainda de olhos fechados começou a tatear em volta do travesseiro em busca do celular, ele simplesmente não conseguia entender como poderia haver pessoas que cedo pela manhã já acordavam cheias de energia e completamente dispostas — diga-se de passagem: Julieta. —, pois ele mesmo era terrível para acordar cedo.

Finalmente encontrando o celular ele deslizou o indicador pela tela, desligando o alarme com um suspiro de alívio.

Baby Shark voltou a tocar dez minutos depois, é óbvio, afinal ele nunca acordava com o primeiro alarme, mas dessa vez, já ciente da localização do celular, ele foi mais rápido em desligá-lo.

Ele devia se levantar agora, refletiu sonolento, talvez ele devesse adotar um porco de estimação também, pensou consigo mesmo enquanto adormecia cada vez mais, desde que Julieta havia adotado Astolfinho ela nunca mais tivera problemas para acordar cedo — não que alguma vez na vida os tivesse tido —, porque se não levantasse logo cedo pela manhã, Astolfo logo se punha a fazer um escândalo daqueles, guinchando o mais alto que pudesse e acordando toda a vizinhança (e Romeu podia jurar que o porco era capaz de gritar tão alto que ele mesmo era capaz de ouvi-lo dali, a onze quadras de distância) até que Julieta se levantasse para lhe dar o seu merecido café da manhã e depois levá-lo para sua volta matinal na praça... Baby Shark começou a soar pela terceira vez cinco minutos depois do segundo alarme, e dessa vez acompanhado da mão de sua mãe em seu ombro o sacudindo.

—Romeu, Romeu. — ela o chamou baixinho, Romeu quase nunca ouvia sua mãe erguer a voz, mesmo quando irritada — Até quando pretende ficar aí deitado? Vai deixar Julieta esperando.

Romeu fez uma careta e desligou o alarme do celular.

—Que horas são? — resmungou esforçando-se para abrir os olhos.

É claro que ele sabia que horas eram, pois tinha os horários de seu despertador bem fixados na cabeça, afinal ele mesmo os havia programado.

—Seis em ponto. Não. Seis e dois agora.

—Seis? — Romeu virou-se na cama, puxando o lençol até acima da cabeça — Mãe a escola só abre às sete! E ainda temos quinze minutos de tolerância!

O lençol foi arrancado para longe dele.

—E você demora uma eternidade para se arrumar. — sua mãe respondeu pacientemente — Acorde logo antes que eu resolva te jogar água de novo.

Às vezes Romeu ficava um pouco assustado em como sua mãe sempre o ameaçava tão calma e tranquilamente.

—Tudo bem, eu já acordei. — concordou com uma careta.

—Então se sente.

—Mãe! — privado da proteção de seu cobertor o garoto encolheu-se em posição fetal na cama.

Vanessa suspirou.

—Sentado Romeu. — ordenou calmamente — Não me faça ir buscar o copo de água.

Romeu se sentou.

—Tudo bem. — bocejou.

—E agora abra os olhos.

Foi como levantar duas toneladas com as pálpebras.

—Pronto. — Mais bocejou do que falou.

—Ótimo. — sua mãe sorriu calidamente — E nem pense em voltar a dormir, porque não vai haver um terceiro aviso para o copo de água.

Romeu parou com sua bicicleta em frente à casa de Julieta pontualmente às 6h55min, pois embora ele fosse terrível para acordar cedo, ele também era sempre impecavelmente pontual. 

Julieta até brincava que ele devia ter sido um relógio na vida passada, pois desde que eles se conheciam — e eles se conheciam literalmente desde o dia em que nasceram — Romeu nunca se atrasava para nada, mas Julieta, por outro lado, mesmo sempre sendo tão disposta e energética logo pela manhã, também sempre estava em cima da hora ou atrasada, talvez essa fosse uma das razões pelas quais os pais de Romeu e os pais de Julieta sempre insistissem tanto para que os dois fossem juntos para escola, mesmo que a casa de Julieta não ficasse exatamente no caminho para escola e Romeu sempre precisasse fazer um pequeno grande desvio para buscá-la antes da escola... embora as famílias já tivessem aquele costume desde sempre: havia uma foto na casa de Romeu, com ele e Julieta lado a lado em seus carrinhos de bebês enquanto suas mães os levavam para a creche.

Julieta saiu correndo de casa com sua mochila laranja neon nas costas, ela realmente amava as cores chamativas, não é? Especialmente laranja.

—Bom dia, seu príncipe com corcel a aguarda. — Romeu sorriu — Você está atrasada.

—Bom dia. — ela sentou-se no varal da bicicleta — Vamos rápido antes que Astolfinho se dê conta de que estou saindo e comece a gritar.

Romeu deu o primeiro impulso para descer a ladeira..

—E Astolfinho onde está?

—No quintal, mastigando feliz uma caixa de papelão. Como pode continuar sendo tão magrelo se anda de bicicleta todos os dias?

—Alimentação ruim? — Romeu deu de ombros.

É claro que o mais óbvio seria que Julieta fosse para a escola em sua própria bicicleta... se ela não fosse uma completa maluca sobre duas rodas e, ainda por cima, a bicicleta dela estivesse sem freios e ela morasse em uma ladeira.

Sinceramente Romeu tinha medo do dia em que ela se sentasse atrás de um volante.

—E seu rosto, como está?

—Está bem obrigada, por sorte não ficou inchado e nem dolorido.

Aquilo despertou um suspiro de alívio no adolescente.

—Fiquei com medo que você tivesse dor de ouvido. — confessou.

—Você é um doce. — Julieta respondeu-lhe — Mas aquele cara foi mesmo um completo idiota! É verdade o que dizem, nem toda a beleza pode compensar...!

—Você o achou bonito? — Romeu interrompeu.

—Acha que vamos chegar atrasados? — Julieta mudou de assunto.

—Vamos chegar na hora. — Romeu garantiu — Você o achou bonito?

—Caramba, você não larga o osso, não é?

—Talvez. — deu de ombros — Achou? — Julieta ficou calada. — Julys?

—Talvez. — disse por fim — Ele tinha... um bom porte físico.

—E um cabelo legal? — perguntou ceticamente.

Eles estavam chegando à escola agora, e Julieta saltou da bicicleta antes mesmo que Romeu pudesse pará-la por completo.

—Cabelo legal? Ora! Faça-me o favor! — Julieta girou os olhos cruzando os braços — Quem usa tanto gel daquele jeito logo cedo pela manhã? E para que aqueles óculos escuros? — e agora que tinha começado a falar era como se não pudesse mais parar, assim como era típico de Julieta — Era bonito? Claro, claro, mas também não era nenhum...

—Lucian Reis? — Romeu chutou sorrindo e desmontando da bicicleta, referindo-se a um ator de quem Julieta gostava bastante.

—Bom... sim. — ela enrolou um cacho de cabelo no dedo, e então afastou a mão tão rapidamente que quase o arrancou da cabeça — Mas de qualquer jeito, espero não ter mais que ver aquele...!

Sua voz foi abafada pelo ronco de uma imensa motocicleta negra que desceu a rua e estacionou no meio-fio próximo aos dois, o veículo era tão gtande que Romeu ficou surpresa por sua pilota conseguir manter o veículo de pé, da ponta dos coturnos até o topo do capacete ela vestia-se inteiramente de negro, talvez para combinar com a moto, mas o que realmente chamava atenção em seu traje era o par de orelhas de gato surgindo do topo do capacete.

Da garupa da moto saltou um garoto com uma mochila de estampa camuflada e usando o mesmo uniforme escolar que Romeu e Julieta, ele também usava um capacete negro com orelhas no topo, porém elas não pareciam ser orelhas de gato, pois eram mais finas e longas... foi quando o garoto retirou o capacete e Julieta puxou a respiração.

—Esses capacetes estragam meu penteado. — Aaron reclamou entregando seu capacete à mulher — Sabe como é difícil arrumar esse cabelo?

A mulher inclinou levemente a cabeça pegando o capacete das mãos de Aaron e o prendeu à garupa da moto, e quando falou sua voz soou abafada e distorcida por causa do capacete de gato, então pode ser que Romeu e Julieta tenham escutado errado, mas eles podiam jurar que ela disse algo como “Antes um cabelo despenteado do que um crânio rachado”.

—Tá, tudo bem, você tem razão. — Aaron concordou girando os olhos — De qualquer jeito obrigado pela carona.

Tirando os óculos escuros que trazia pendurados na gola da camisa e os colocando no rosto, ele começou a virar-se, mas a mulher buzinou duas vezes em sua moto, fazendo-o olhá-la alarmado.

O que? — mais duas buzinadas, Aaron trincou os dentes — Você não pode estar falando sério! — duas buzinadas novamente — Dá pra parar com isso? Já estão todos olhando...! — ele tinha razão, porque já não eram mais apenas Romeu e Julieta que os observavam, mas outros curiosos haviam começado a parar também, só que a pilota, sem ligar para nada disso, deu outras duas buzinadas — Tá! Tá!

Rapidamente ele aproximou-se da motociclista, passou os braços ao redor de seus ombros e a abraçou, afastando-se um piscar de olhos depois.

—Satisfeita?

Mesmo sem tirar o capacete a mulher soprou-lhe um beijo, deu uma última buzinada e só então deu partida e foi embora, deixando Aaron ali resmungando na calçada.

Foi quando Romeu ergueu a mão esquerda para acenar e alegremente exclamou:

—Oi Aaron!


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Notas finais do capítulo

Se leu até aqui, não custa nada deixar um comentário. :)



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