Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 2
Aquele encontro na praça...


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por voltar!



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Vestindo shorts de corrida e um sutiã esportivo Julieta deu uma e outra volta em frente ao espelho à procura de novas manchas, fazia menos de um ano que a pele em volta de seu umbigo havia se tornada embranquecida também, mas ao menos aquela mancha não progredira muito de tamanho... Mas aquele pequeno losango cor de creme na altura de seu esteno não estava um pouco maior?

Quantos por cento de sua pele já havia se descolorido agora? 30%? 45%?

O que começara com algumas pequenas manchas esparsas, agora já havia lhe coberto todo o antebraço direito até a ponta de três dos cincos dedos, lhe subira pelo pescoço e orelha e parte da bochecha, e lhe cobrira o pé esquerdo por completo, e agora também o interior de suas coxas até a altura dos joelhos se havia descolorido. Somente a mancha na lateral de suas costas, aquela que de inicio era a maior de todas, não havia tido grande progresso.

Respirando fundo, Julieta vestiu a camisa e amarrou os cabelos no alto da cabeça, e então encarou seriamente o seu reflexo ali.

—Você é linda. — disse ao espelho — É especial e única. E não há do que se envergonhar.

E então sorriu e se foi à procura de seus tênis de corrida e sua pochete, chamando por Astolfo e garantindo à sua mãe que havia passado o protetor solar antes de sair.

Romeu era péssimo para acordar cedo, e pior ainda em atividades físicas — embora muitos pudessem acreditar que não era possível, Romeu conseguia até mesmo a façanha de tirar notas vermelhas em Ed. Física —, mas ainda assim quase sempre acompanhava Julieta e Astolfo em suas corridas matinais, pelo menos durante o período de férias quando ela não precisava acorda tão cedo para sair, no entanto o que mais a surpreendia era a inacreditável habilidade do garoto de dormir em cima da bicicleta.

—Como você faz isso? — ela riu aproximando-se do amigo, trazendo Astolfinho junto consigo, mas quando ele não a respondeu agarrou-lhe um ombro e o sacudiu — Romeu!

Romeu ergueu a cabeça tão repentinamente que quase se desequilibrou de cima da bicicleta, engasgando-se e arregalando os olhos.

—Julys! — ele sorriu-lhe ajeitando o boné que certamente ocultavam um emaranhado de cachos ainda amassados do travesseiro. — Oi Astolfinho.

O mini porco roncou feliz por debaixo de seu chapéu de crochê, aproximando o focinho molhado do pé de Romeu.

Julieta sorriu.

—Está aqui há muito tempo?

—Não sei. — Romeu bocejou abrindo tanto a boca que Julieta chegou a achar que deslocaria a mandíbula — Então vamos? Quero voltar logo para a cama.

—Como pode pensar em voltar a dormir? — Julieta girou os olhos e lhe entregou a guia da coleira de Astolfinho, para começar a se alongar.

Romeu voltou a bocejar.

—Hoje é o último dia de férias, quero dormir o máximo possível.

—Oras Romeu! Eu fui acordada às três da madrugada hoje, e não estou reclamando, estou? — ela pegou de volta a guia de Astolfo e deu inicio à sua corrida matinal, com Romeu a seguindo logo atrás, pedalando lentamente em sua bicicleta. — Benjamim me ligou.

—Hum… e o que ele queria? — Romeu perguntou-lhe sonolentamente.

—Disse que as caixas de som estavam furiosas, e perguntou onde estavam os baldes.

—Por quê?

Julieta gargalhou.

—Ele estava sonâmbulo Romeu, você realmente quer procurar algum sentido no que ele disse?

—Tem razão, é, tem razão, desculpe. — Romeu riu levemente, ele mesmo ainda parecia meio sonâmbulo ainda, mas aos poucos estava se despertando — E o que você fez?

—Mandei-o ir se esconder debaixo das cobertas que eu já estava chegando.

—E depois?

—Voltei a dormir. — gargalhou. Logo atrás dela Romeu também deu risada. — Eu realmente acho que tia Valerie deu um celular cedo demais para o Banjamin.

—Ué, mas você não ganhou o seu segundo celular com a mesma idade?

Eu não tenho sonambulismo! — Julieta defendeu-se.

E Romeu voltou a dar risada.

—Mas por que seu primo sempre liga para você?

Ele estava começando a soar arfante — mesmo estando de bicicleta.

Àquela altura Julieta mal notava mais os olhares e cochichos, corria naquela praça todas as manhãs há anos então já era de se esperar que as pessoas já houvessem se acostumado a ver alguém como ela, mas provavelmente nunca iriam se acostumar a ver um porco de chapéu de crochê correndo todas as manhãs.

—Isso não é verdade! — Julieta negou — Ele raramente me liga durante seus ataques de sonambulismo, porque quase sempre liga para um amigo que não sei como ainda não bloqueou o seu número...

Ela não chegou a ver o meteoro vindo, mas certamente o sentiu quando ele o atingiu direto na cara, assim como sentiu seus pés sendo tirados do chão por meio segundo e sentiu o golpe duro do chão em suas costas e cabeça quando caiu ali.

Ouviu ao longe a voz de Romeu gritar alguma coisa — possivelmente seu nome — e o guincho agudo e assustado de Astolfinho, e o mundo ainda não havia entrado em foco novamente quando sentiu o golpe em seu estômago que lhe tirou todo o ar de uma só vez.

—... de cima de Julys! Você pesa mais de 40kg! — Romeu dizia ao longe e Julieta sentiu o peso de seu estômago desaparecer. — Julys! Julys! Julieta você está bem?

—Astolfo só pesa 31kg. — Julieta gemeu sentando-se, com ajuda de Romeu — O que aconteceu?

—Você levou uma bolada. — Romeu contou-lhe lhe agarrando o braço para lhe dar apoio com o qual se por de pé.

Julieta gemeu e tocou a face dolorida, ótimo, um lado da cara branco e o outro roxo!

—Uma bola? Mas de onde...? — Julieta começou a dizer.

—Ei! Vocês vão jogar a bola de volta ou não?!

Um garoto de pele bronzeada lhes gritou ao longe, e embora ainda sequer fossem sete da manhã de um dia parcialmente nublado, ele usava um par de óculos escuros e tinha os cabelos penteados em um topete perfeito.

—Então foi você quem chutou a bola? — Romeu reclamou.

O garoto abaixou-se para pegar a bola/meteoro caída aos pés de Julieta.

—Chutei nada, isso é uma bola de vôlei.

Romeu e Julieta tinham praticamente a mesma altura, e embora aquele garoto parecesse ter a mesma idade deles quando ele se ergueu mostrou-se meia cabeça mais alto que os dois... Embora talvez o topete lhe desse uns sete centímetros a mais.

E ele era lindo. Quer dizer, até abrir a boca:

—Ouça meu bem, quando uma bola vem em sua direção deve-se sair do caminho. Sabia?

Julieta ficou boquiaberta e de olhos arregalados, com os braços estendidos ao lado do corpo.

—Escute aqui seu...!

Mas se calou quando o rapaz tirou os óculos escuros e semicerrou os olhos.

Julieta estalou a língua, já conhecia perfeitamente bem aquela expressão, sua pele, só lhe restava saber se o que viria a seguir seria uma simples pergunta por falta de conhecimento ou alguma piadinha sem graça e se ela lhe responderia educadamente, ou de forma mordaz e veneno...

—Aquilo é um porco usando chapéu?

Julieta virou-se surpresa, com a bolada havia acabado por soltar a guia de Astolfo e agora ele estava fuçando, escavando, comendo e destruindo um canteiro de flores há alguns metros dali.

—Astolfinho não! — gritou.

O porco guinchou ruidosamente, e saiu correndo aos berros com Julieta ao seu encalço.

—Você deveria ter se desculpado, ao menos. — Romeu censurou ao estranho, enquanto recolhia sua bicicleta, que havia jogado no chão com o susto — Ela poderia ter se machucado seriamente.

O mais alto olhou para a garota que corria e gritava cheia de energia atrás do porco.

—Ela parece ótima para mim. — afirmou recolocando os óculos escuros.

—Mas você poderia tê-la machucado! — Romeu insistiu.

—Tudo bem, tudo bem, fique calmo Romeu e eu prometo que peço desculpas assim que ela voltar. — o garoto de óculos escuros sorriu jocosamente.

Romeu olhou-o confuso.

—Como sabe meu nome?

—Qual nome?

—Romeu.

O mais alto arqueou as sobrancelhas por detrás dos óculos.

—Seu nome é “Romeu”? — perguntou surpreso.

—É sim. — Romeu confirmou dando de ombros — E o seu?

—Aaron. — Aaron estendeu-lhe a mão para cumprimentá-lo, e ainda em tom divertido perguntou: — E por acaso você já encontrou a sua Julieta, Romeu?

—Está logo ali correndo atrás do porco de estimação dela. — Romeu respondeu de pronto.

—Claro, entendi. — Aaron riu, mas ao perceber a expressão confusa de Romeu, olhou-o intrigado — Hã… o nome dela não é realmente “Julieta”, é?

—É sim. — Romeu inclinou a cabeça de lado. — Por quê?

Ao longe Julieta finalmente conseguiu recapturar Astolfo, quando o suíno tentou dar a volta em uma árvore e sua guia se enroscou entre as raízes, ao que o animal aproveitou a pequena pausa para fazer ali mesmo as suas necessidades.

—Romeu... E Julieta? — Aaron quis confirmar.

—Isso mesmo. — Romeu sorriu. — Não foi escolha nossa, é claro.

Por detrás das lentes escuras Aaron semicerrou os olhos, tentando descobrir por um momento se aquilo era ou não uma brincadeira, até que ouviu um grito ao longe de seus companheiros, reclamando de sua demora e teve que ir.

“Romeu e Julieta” se exercitando juntos pela manhã em uma praça, junto com um porco usando chapéu.

Alguns dias realmente podiam começar de maneira estranha!


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