Refúgio subterrâneo: Ala sul, dormitórios.

— Prontos para perderem novamente?

Perguntou Sara enquanto distribuía as cartas para Seth, Nessie e para mim, como faltavam poucas horas para a viagem eu havida dedicado todo o tempo que me restava no abrigo para Nessie e Sara. Seth e eu havíamos notado de ambas estavam tensas e preocupadas devido ao risco que corríamos, por isso estávamos decididos a tranquiliza-las criando um momento divertido.

— Não se você jogar como da última vez. – Respondi provocando minha pequena gênia.

Nessie pegou um punhado de chips e levou a boca e em seguida pegou suas cartas olhando atentamente para cada uma delas, dei um sorriso, ela estava levando aquela disputa a sério e era isso que motivava Sara a querer vencer mais uma vez- Vamos ver se a sorte está do seu lado novamente, Sara – Disse ela cheia de si.

— Acho que hoje é minha hora de brilhar – Seth a provocou.

A partida foi reiniciada, e as cartas eram jogadas com uma mistura de tensão e risadas. Sara jogava com uma confiança tranquila, onde percebi que ela tinha cada movimento calculado. Olhei para minhas cartas e me senti confiante ao ver minha rainha principalmente após a jogada de Seth, porém minhas esperanças de vencer foram adiadas quando Sara deu um gritinho - E essa é para ganhar.

A olhei frustrado- Como você faz isso?

Nessie baixou a cabeça e riu, em seguida deixou suas cartas sobre a mesa - Ela deve ter feito algum pacto com as cartas. -

Um bico se formou em meus lábios por estar tomando uma surra nas cartas de uma menina de oito anos, mas se desfez ao sentir os lábios de Nessie tocando meu rosto em um beijo carinhoso.

— Não fique assim, é normal perder.

— Estou perdendo a vinte e cinco rodadas – reclamei e ela continuou a rir.

— Incrível, Sara! Você realmente é a rainha das cartas aqui- Seth comemorou a abraçando carinhosamente, ele parecia não se importar em perder, na realidade ele estava feliz por Sara ter ganhado todas as rodadas.

Sara sorriu orgulhosa de si-  Obrigada, Seth. Mas vocês não são adversários tão ruins.

Peguei uma batata e a joguei na boca - Bom, pelo menos as batatas estão do meu lado – Falei enquanto mastigava.

— Que bom, porque as cartas definitivamente não estão – Respondeu Nessie, Sara e Seth riram juntos e eu a abracei enchendo seu rosto de beijos.

Continuamos a jogar por mais alguns minutos, numa atmosfera leve e cheia de divertida. Entre risadas e brincadeiras, compartilhávamos um momento de descontração e alegria, esquecendo, mesmo que por um instante, que em algumas horas enfrentaríamos o mundo lá fora.

Após várias rodadas perdidas Sara pediu para jogarmos um jogo de tabuleiro, mas decidi deixar a missão a Seth, Nessie e eu saímos de mãos dadas do quarto de Sara e seguimos pelo corredor da ala Sul, havíamos dedicado metade do dia a Sara e precisávamos de um momento para nós dois.

Enquanto caminhávamos olhei para Nessie e vi seus olhos refletindo a luz fraca que se infiltrava através das frestas da entrada oculta. – Quero mostrar um lugar a você – Falei enquanto a puxava na direção de um dos corredores vazios onde guardávamos materiais usados nas construções.

Percebi a curiosidade em seu rosto, “ Mais um lugar secreto? ” Ela perguntou usando seu dom me fazendo sorrir.

— Se eu disser não será uma surpresa- Respondi selando seus lábios.

Ela concordou sorrindo.

Descemos por um caminho estreito, observando as paredes de pedra fria ao toque, até que o som de água corrente preencheu o ar. Diante de nós dois se revelou uma luz suave de algas bi luminescentes. A superfície da água brilhava como um espelho, pontilhada pela luz de pedras preciosas que pareciam ter se perdido e encontrado um lar ali, no abismo.

— Que lugar lindo – Sibilou Nessie demonstrando sua surpresa – É um lago bem abaixo de nós?

A abracei por trás e beijei seu ombro com carinho – De onde acha que vem a água que usamos?

— Não vem de uma encanação externa? Foi o que Liah me disse – Ela respondeu.

— É o que quero que acreditem, se olhar para cima vai observar que aquelas pedras não são comuns, são valiosas, isso pode mexer com a ganância de qualquer pessoa e por esse lugar em risco, mas agora estou dividindo esse segredo com você.

O sorriso de Nessie se alargou, mas se desfez em seguida – Eu notei que nas últimas horas está agindo como se isso fosse uma despedida.

— Isso não é uma despedia – Sussurrei levando a destra ao seu rosto lindo e delicado – Só estou criando lembranças para nós dois.

Os olhos de Nessie brilharam, eu sabia o que viria a seguir e antes que acontecesse a beijei, senti um misto de alegria e saudade mesmo antes de partir, minhas mãos apertaram sua cintura enquanto meus lábios deslizavam entre os dela em seguida encerrei o beijo com alguns selinhos – O que acha de darmos um mergulho?

Ela concordou.

Tiramos nossas roupas e entrei na água, estendendo a mão para Nessie e quando ela colocou a mão na minha, a guiei para dentro do lago. A água estava surpreendentemente quente, envolvendo-nos como um abraço.

Por alguns minutos nadamos juntos, observando nossos movimentos refletirem na superfície dançante da água, criando ondas que se espalhavam e tocavam as bordas do lago. Nessie riu, uma risada clara e alegre me fazendo sentir dentro de mim algo se aquecer mais do que a água ao redor deles.

Naquele momento, não havia mundo lá fora, não havia preocupações ou medos. Havia apenas nós dois, o brilho suave das algas pintando nossas peles com padrões de luz e sombra, e o sentimento de que, de alguma forma, tudo ficaria bem.

Enquanto flutuávamos de costas, olhando para o teto da caverna onde as estalactites pendiam como joias cuidadosamente colocadas, eu gravava esse momento em minha memória para sempre. Nessie virou-se para mim com seus olhos brilhando com uma luz que não vinha das algas, e senti que ela sentia o mesmo.

— É lindo- ela sussurrou, e eu assenti, sabendo que não era apenas o lago que ela estava descrevendo, mas o momento, a conexão entre nós, e a promessa silenciosa de que, não importa o que o futuro trouxesse, teríamos essa noite, esse lago, essa memória de paz e amor.

— Sabe o que é mais lindo? Você.

Nessie sorrio, seus olhos encontrando os meus em um olhar que falava mais do que palavras. Havia uma pergunta silenciosa ali, uma oferta e uma promessa. Entendendo o não dito, me aproximei lentamente e a beijei.

O beijo foi um encontro de almas antes de ser um toque de lábios. Foi suave, uma carícia tímida que testava as águas daquela nova profundidade em nosso relacionamento. E então, encorajados pela aceitação mútua, nós nos entregamos a paixão que refletia a intensidade do calor do lago.

E enquanto fazíamos amor, o lago ao redor parecia nos abraçar, as ondas suaves acariciando-os em um ritmo que ecoava o batimento de nossos corações.

Refugio subterrâneo, Ala leste, garagem: Organização e saída para o resgate de Billy Black.

As horas passaram rápido, como se o tempo quisesse roubar aqueles últimos momentos. Quando o amanhecer começou a se insinuar através das barreiras do abrigo, trouxe consigo a realidade da missão que nos aguardava. Atentamente organizávamos, cada movimento meticuloso, cada escolha de equipamento um passo em direção ao desconhecido.

Olhei para Nessie e ela me observava, podia sentir seu orgulho e a preocupação misturados em seu olhar, dei um tímido sorriso aproveitando que todos se despediam de suas famílias e me aproximei tocando uma mexa de seu cabelo.

— Tudo vai ficar bem.

— É o que mais desejo – Ela sussurrou olhando em meus olhos, selei seus lábios e colei nossas testas sendo interrompido pela voz de Sara.

— Vou sentir saudade de você e do Seth – Sara choramingou, me ajoelhei a sua frente e apertei seu nariz dando um beijo em sua testa – Eu também vou sentir saudade de você filha, poderia cuidar da Nessie para mim?

— Pode deixar que cuido dela.

Nessie colocou as mãos nos ombros de Sara e riu.

Havia chegado a hora da despedida, e não houve lágrimas; apenas um abraço que tentava encapsular todas as palavras que o coração sentia, mas que a boca não conseguia expressar. - Cuide-se- Nessie murmurou contra o meu peito, sua voz firme apesar da emoção que ameaçava transbordar.

Eu assenti, com a mão acariciando as costas dela e subindo até seus cabelos, em um gesto de conforto. – Eu volto logo – prometi com uma certeza em minha voz que fazia com que ela acreditasse, mesmo que o medo me dissesse o contrário.

E então, partimos, deixando para trás o abrigo, o lago, e a mulher que tinha meu coração.

Nessie ficou observando até que desaparecêssemos de vista, segurando na mão de Sara, enquanto eu levava no coração a esperança de que, em breve, estaríamos juntos novamente, nadando nas águas tranquilas de um lago escondido, longe das sombras do mundo.