Filhos da Noite escrita por Scar Lynus


Capítulo 7
Capitulo 7 - Preparações


Notas iniciais do capítulo

parabens para mim!



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[Torre vermelha – Adrienne]

 

Já faziam três semanas que eu estava nesse lugar. Três semanas de procura e vigia. Meu colega de sala estava limpo, assim como as equipes de vários setores. – “Nem as finanças tem alguma coisa errada.” – Pensei comigo mesma encarando a tela do computador. Nada de errado, ninguém reclamava, havia generosos bônus e quando algo era retirado sempre havia justificativa.
Frustrada com minha pesquisa eu fui até o corredor, encarar o quadro do castelo e pensar em novas ideias. Eu sabia que a presidente tinha algo fora do normal com ela, seja aquela sensação física, o gosto para arte, o fato dela parecer jovem demais...

— Por que está tão pensativa? – Ethan perguntou sentando-se ao meu lado. Ele trouxe duas xicaras com chá.

— Obrigada. – Agradeci. – Só estou tendo um daqueles dias sabe... Me sinto improdutiva.

— Calma querida. Toma um chá e relaxa, sempre tem uns dias assim! – Ele tentou me tranquilizar. – Aposto que ainda hoje, veja bem, hoje a senhorita vai ter um “evento” importante!

— Obrigada Ethan. – Respondi sorrindo. – Você sabe conversar!

— É por isso que sou Coordenador dos andares e o chefe secretário! – Ele fez uma pose ao lado da cadeira. – Mande ver no chá e depois vá arrasar no resto do dia!

Dito isso ele saiu fora, fiquei até pensativa após essa conversa. O que faltava? Eu estava tentando dar um jeito de chegar à sala da Sra. Balaus a dias, porém, é quase que um ponto inacessível.
Retornei minha atenção ao quadro, ela precisava de um motivo maior, um subtexto, uma história para manter essa peça em especifico. – “Foi um ancestral que pintou você. Não tem nada pra me contar”? – Pensei ainda de frente para a pintura, cheguei a tocar a moldura dourada pra ver se não havia algum relevo secreto ou....
Era apenas um palpite, porém, valia completamente a pena tentar! Corri até a minha mesa e peguei uma pequena lanterna que estava na mochila. De volta ao quadro eu ajustei a ferramenta, em seguida apontando a luz negra pelo quadro. – “Bingo!” – Pensei quando encontrei Nitrato de Prata em toda a extensão da pintura, aquela substancia estava formando a frase:

O Dragão ainda vive.”
“Seu amor e sua irmã.”
“Tenham cautela, pois,
sua maldição está com
os entes queridos.”
“Cuidado com Krigsdatter.”

— Belo achado criança! – Uma voz feminina falou atrás de mim. – Eu nem cogitaria que essa mensagem estaria aí.

Katrina estava atrás de mim. Havia um sorriso no rosto dela, mas, nem de longe eu diria que ela parecia feliz nesse momento.
De repente parecia que o local estava mais frio, a luz diminuía gradativamente agora e ela se aproximava, um passo de cada vez, até parar a dois palmos de mim.
A energia daquela mulher era imensa, ela não parecia conjurar nada e não aparentava estar pronta para iniciar alguma transformação. Aquilo era apenas a sua presença, era algo natural que apesar de não poder ver, eu podia sentir.

— Valeu a pena trazer você para cá! – Ela ainda estava sorrindo.

— E onde você entra nessa história? – Perguntei puxando a lâmina do bracelete. Tinha água benta na minha bolsa, mas, como é que eu iria chegar até ali? – O amor ou a irmã?

— Tem certeza de que quer arriscar uma luta? – Ela perguntou abrindo os braços. – Parece besteira arriscar todos na torre não acha?

— Quieta! Eu... – Ela já tinha sumido da minha vista.

— Se eu quisesse te matar... – Ela cochichou no meu ouvido, virei-me apenas pra não ver ela de novo. – Você já estaria morta querida! – Ela falou por fim. Minha lâmina estava em suas mãos agora e novamente nos encarávamos frente a frente. – A e eu esqueci de te avisar. – Ela cravou a lâmina no próprio pulso. – Eu sou imune a prata!

Eu fiquei chocada com isso. Vampiros não podem ser imunes a prata. Alho, água benta, o sagrado, luz do sol e a prata! Essas são as fraquezas deles...

— Olha. – Ela tirou o objeto do braço e encaixou em meu bracelete. – Você deveria me ouvir com atenção. Siga-me! – Pediu ela liderando o caminho.

— Onde vamos? – Questionei enquanto ainda não tinha todos os meus sentidos de volta devido ao choque.

— Só vamos tomar um café eu prometo!

E assim, pela primeira vez na história da família. Um de nós não matou o vampiro e pior ainda. Seguiu a criatura.

 

 

[Neftis – Lilian e Adamas]

 

 

Três semanas já haviam passado. Nesse tempo minha rede não trouxe nada novo e para piorar aconteceram cerca de dois outros eventos semelhantes contra grupos menores de vampiros. Nenhum desses foi uma obra do Belmont já que os cenários diferiam muito do anterior, fora o fato de que em um deles os caçadores sofreram uma baixa.
Devido a esses eventos eu não sou a única interessada em me livrar desses Humanos. Lorde Wyvern de Chelmsford e Lorde Kwimer da França também estavam sofrendo ataques em seus territórios nos últimos meses, logo, não foi tão difícil marcar um encontro apropriado.
Haviam oito lugares dispostos na mesa a minha frente, teríamos o melhor do conforto e silencio para podermos conversar. – “Será um belo soirée.”

— O lugar é todo seu. – Adam me falou enquanto abria um vinho. – Podem pegar o que quiserem no bar e por favor não tragam nenhum “lanche” pra cá!

— Eu te ensinei as regras fofo! – Lembrei-o enquanto pegava a garrafa e me servia. – Não vai ficar?

— Não. – Respondeu. - Eu fechei o lugar hoje para poderem conversar sem cerimonias. Então eu vou sair e ver se consigo achar algum brinquedo interessante.

— Eu apreciaria se você participasse. – Eu tinha meus motivos para desejar a presença dele na reunião, mas, não era por causa dos Belmont. -  Algum dia você vai ser o senhor deles!

— Minha mãe está longe da aposentadoria. – Ele falou desanimado encarando meu olhar de descontentamento. – Se é tão importante eu volto antes de vocês terminarem. Pode ser?

— É aceitável! – Respondi abraçando-o. – Antes de entrar na reunião eu espero que você vista um terno!

— Não sabia que havia regras de vestimenta. – Debochou ele.

— Não use esse artificio comigo mocinho! – Adverti. – É como um dos tantos bailes que você já foi conosco. Deve estar bem vestido, orgulhoso e poderoso!

— Ta bom, ta bom. – Ele respondeu me dando as costas. – Até mais tarde. – E assim minha criança partiu.

Era estranho estar em uma casa noturna vazia. Geralmente não se consegue pensar, o som não para e as pessoas muito menos. – “Mas não hoje. Hoje à noite não pertence aos vivos.” – Pensei satisfeita enquanto tomava meu lugar na ponta de mesa escura, aguardando a chegada de meus convidados.

 

 

[Esconderijo subterrâneo – Alexander e Archie]

 

 

— Não é a sua primeira vez, então não vou repetir todas as regras okay?! – Perguntei ao Archie que ficava o tempo todo atento me seguindo.

— Não tocar no que não for meu e não interromper o encontro. – Ele respondeu.

— Isso. Talvez tenham mais algumas coisas, mas, você vai pegar.

Seguimos em silencio por mais alguns corredores e curvas antes de escutarmos o barulho. Primeiro, os passos alheios, depois suas vozes espalhadas. Já devia ter uns vinte caçadores ali quando chegamos, contudo, eu sabia que ainda faltavam alguns.

— Eai Alexander! – Terry, um caçador do sul do país veio nos cumprimentar. Ele era o “gigante” da ordem, dois metros de puro musculo, porém, ele também é super carismático o que detona a imagem de inicial de um cara bravo. – Quem é o garoto de cara fechada?

— Oi Terry. – Respondi e depois puxei o Archie para perto. – Esse é o meu irmão mais novo Archibald!

— Nasceu com cinquenta já garoto? – Ele perguntou pra ele.

— Só Archie. – Ele pediu antes que eu o levasse embora dali.

— Não vai deixá-lo testar uma das minhas novidades? – Ele perguntou nos seguindo. Terry adorava testar combinações de certos itens ou criar novas técnicas de embate físico, porém, devido a fama dele os caçadores pararam de ajudar.

— Ele não vai ser seu boneco de testes! – respondi sarcástico.

— É totalmente seguro! – Insistiu ele.

— Então teste com outro! – Respondi acelerando o passo. – Nunca o deixe testar alguma coisa em você! – Adverti Archie que apenas assentiu.

— Vão se reunir já? – Ele questionou sabendo que teria de esperar do lado de fora.

— Primeiro vamos ver uma pessoa. – Respondi sorrindo quando paramos na frente de uma velha porta de metal. Estava quente naquele pedaço e dentro da sala era possível enxergar uma dança entre as sombras e luzes.

— Maggie? – Ele me perguntou e assenti. Ele conteve o sorriso antes de abrir a porta.

— Boa noite. – Falei para a mulher usando um macacão de mecânico bem sujo com um avental por cima, ela ergueu a máscara de solda que usava logo que entramos, revelando bonitos olhos castanhos e um rosto redondo muito fofo e jovial.

— Belmonts! – Ela deu um pequeno pulo ao falar e correr para um abraço triplo! – É ótimo ver vocês pessoalmente e não pela tela do celular!

— O mesmo. – Respondi com um sorriso bem forte. Não é sempre que podemos visitar os amigos nesse ramo.

— E você, sentiu saudades Archibald? – Ela perguntou deixando-o sem jeito.

— Eu... Posso ter sentido algo do tipo sim Maria. – Ele respondeu rápido. – E é só Archie!

— Nossa que ranzinza! – Provocou ela. – Eu já sei do que você veio atrás! – Ela falou correndo até os fundos.

— Você vai pegar mais uma arma? – Meu irmão perguntou. – Quando eu vou ganhar alguma coisa?

— Não vou pegar uma arma. – Expliquei enquanto ela trazia o novo colete. – É minha nova armadura!

— Não foi fácil! – Ela admitiu. – Mas, eu arrasei. Agora não tem nada resistente próximo as axilas, a pescoceira já está no colete então só precisa ajustar, placas endurecidas apenas na parte superior das costas e na região do peito. Suas proteções para coxas e braços vão demorar um pouco.

— Você está tirando uma boa parte da proteção da atual – Archie comentou encarando a nova. – Ta querendo se matar?

— Estou querendo mais agilidade. – Respondi. – E quanto aquela outra peça que combinamos? – Perguntei para Maggie que me entregou duas pulseiras prateadas. – Esse é seu Archie.

— Você tem um arsenal, armaduras e vários itens de utilidade. – Reclamou. - E eu ganho pulseiras? Vou fazer o que? Ter pulseiras da amizade que combinam com um vampiro?! – Ele perguntou emburrado.

— Primeiro você as coloca Archie. – Maggie prendeu ambas nos pulsos dele. – Agora bata uma na outra.

— Elas vão tilintar. – Ele respondeu o obvio antes de chocar uma contra a outra. Ambas mudaram sua forma após se tocarem, foram direto para os dedos dele, cobrindo-os no formato de um soco inglês. – Melhorou! – Admitiu ele.

— Eu comecei com essas, mas, as minhas eram menos funcionais. – Expliquei. – Como elas voltam a ser pulseiras?

— Ele tem que tirar do braço e ajustar. – Explicou a ferreira. – Fazer trocar de forma com o atrito é simples, mas, retroceder é barra.

— É melhor que nada. – Comentou ele analisando-as. – Você já vai? – Perguntou referindo-se a reunião.

— Daqui a pouco. – Respondi para ele com um sorriso meio travesso. – A não ser que você queira que seu irmão mais velho saia para poder ficar sozinho com a garota!

— Não tem nada a ver com isso! – Ele ergueu bem a voz. – Desculpa... Só perguntei.

— E eu respondi! – Provoquei de novo. – Okay. Eu vou indo para pegar um bom lugar. Maggie.

— Diga. – Pediu ela.

— Fica de olho no Archie hein! Não deixe ele aprontar! – Brinquei piscando pra ela. – Archie... – Ele estava me encarando com “o olhar azedo”. – Nada de brincar com “fogo”! – Falei antes de correr fechando a porta.

Era bom deixar os dois sozinhos para poderem colocar o papo em dia, afinal, quantas oportunidades de falar com um amigo sem ter de mentir ou tomar cuidado eles tinham?
Maggie cresceu junto com o Archie eu acho. Sempre foram a dupla de “pirralhos” como os outros caçadores os chamavam. Se não me engano ela acabou de fazer dezoito e já é a ferreira oficial da ordem.
Eu conhecia praticamente todos os rostos ali, alguns matavam o tempo conversando, outros assim como eu estavam indo direto para o salão. Eu tentei achar Belle na multidão, mas, sem sucesso.

— Deixou o seu garoto com a namorada? – Terry perguntou me acompanhando.

— Eles não são namorados ainda... Eu acho. – Brinquei junto.

— Veremos. – Ele respondeu tranquilo.

— Você por acaso não viu a Belle? – Perguntei.

— É a sua namorada irmão. – Ele brincou e como eu não ri ele voltou a fazer cara séria. – Não vi.

— Estranho. – Comentei antes de entrarmos. Eu ligaria pra ela assim que terminássemos a discussão.

 

 

[Adam – Londres noturna]

 

 

Eu queria evitar participar da reunião da minha mãe sem um objetivo real em mente, apenas estava caminhando, deixando o vento me trazer alguma coisa interessante, entretanto, não há nada muito interessante fora do meu mundo, já caminhei por essa cidade tantas vezes, já procurei interesses dos humanos e a maioria é ainda mais vazia do que os de antigamente, talvez, alguns sejam menos ignorantes, mas, igualmente vazios.
Em dado momento fui levado de volta as paredes da nossa antiga casa, nosso castelo... Agora ele era uma história para crianças, mas, as memórias eram tão claras que eu poderia até sentir o cheiro do lugar enquanto caminhava.
Foi durante o meu devaneio que pude sentir, um cheiro especifico, o cheiro de alguém morrendo, alguém que não deveria morrer agora, um aroma jovem e delicado demais. Segui meu instinto a fim de ver o ponto de origem do mesmo, quem sabe o que poderia acontecer. – “Uma ambulância, dentro dela estava minha fraca presa.”— A falta de movimento em certas ruas era algo precioso para mim, uma vez escondido nas sombras eu me desfiz do meu corpo natural.
Logo um pequeno grupo de moscas estava seguindo aquele veículo, pegando carona em outros... Não era glamuroso, não era prazeroso e não era poderoso. Me transformar em algo tão simples era chato, entretanto, ainda era uma forma melhor de sumir nesse tempo. Quando o veículo chegou ao seu destino final eu mais uma vez me uni as sombras para recuperar meu corpo.
Uma mulher foi retirada da ambulância junto de um bebe, a criança estava pálida e com uma marca roxa no pescoço. – “Provavelmente foi um parto em casa e cordão umbilical enroscou no pescoço.”— Isso era muito mais comum antigamente, porém, iriam dizer que a parteira era uma bruxa que tentou matar o bebe antes do mesmo vir ao mundo. – “Bando de ignorantes!” – Continuei a observa-los. Após serem levados ao quarto, assumi um novo corpo nebuloso e acabei pairando a janela daquela pequena criatura, sua mãe fora retirada do quarto. Observando de tão perto eu enxergava melhor o movimento, a luta para sobreviver, um corpo tão frágil se esforçando para ir contra a natureza, usando toda sua energia para fazer o coração funcionar, era um guerreiro nato. – “Ou melhor uma guerreira.” – Era uma garotinha, com uns vinte e cinco fios de cabelos loiros.
Ela teve mais uns cinco minutos de batalha e então finalmente o coração dela parou, logo, não havia mais o que ser feito, deixando o Dr. com o sabor amargo da derrota. Ele então saiu do quarto para falar com a mãe, foi nessa hora que eu adentrei o local.

— Você lutou muito bem pequena! – Falei para ela, sua pele já estava gelada. – Seria uma pena essa raça fraca perder alguém como você não acha? – Perguntei sem respostas. – Entendo, não pode falar com estranhos. Sua mãe te ensinou bem!

Em alguns momentos pessoas entrariam pela porta e estragariam nossa conversa. O que era uma pena já que eu gostaria de falar mais.
Toquei o peito gelado da criança e fiz minha unha do indicador se tornar uma garra escura, em um segundo ela atravessou o peito da garota, em dois segundos eu salvei o coração e seu corpo voltou a funcionar. – “Nos veremos mais uma vez guerreira!” — Pensei antes de sair novamente pela janela com o som do choro dela fazendo minha trilha sonora.
Eu deveria ir para a casa agora, mas, nada hoje seria como o planejado. Agora um cheiro conhecido pairava a minha frente, um perfume magico que eu conhecia bem. O perfume de uma maldição, uma maldição forte e antiga.
Dessa vez eu caminhei para dentro do hospital, parecia uma criança atrás de um tesouro. Mais forte, mais perto... E foi aí que eu pude ver, a quem pertencia esse perfume amaldiçoado, esse sangue doce e secular conectado a magia. Exatamente o que eu precisava.

— Uma Meyer! – Comemorei encarando a enfermeira loira no fim do corredor.


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Notas finais do capítulo

opa eai?



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