Filhos da Noite escrita por Scar Lynus


Capítulo 6
Capitulo 6 - Rotina


Notas iniciais do capítulo

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[Lilian e Katrina – Amanhecer na Torre vermelha]

 

 

Eu odiava as manhãs, ter de me acostumar a funcionar nos horários humanos era irritante, ter de usar filtro solar de hora em hora, permanecer nas áreas sombreadas do prédio, me isolar em um escritório... É melhor que a vida no castelo? Muito! Não há velhos irritantes, não tem humanos armados na porta, não preciso me preocupar mais com essas responsabilidades.
Eu me levantava junto com o sol, nesse horário a torre absorvia o calor dele e formava uma “cobertura” sobre o meu corpo. – “Afinal, sem calor eu não poderia me disfarçar de humana.”— Depois a torre fazia a conexão entre o meu corpo e o dos outros humanos para que eles pudessem sentir essa camada e não o meu corpo real.
Eu vivia no andar mais alto da torre. Só subia quando todos haviam saído e retornava antes deles, não me alimentava na torre, nunca! Viver entre eles implica em uma disciplina impecável a todo momento, extremo autocontrole e muito dinheiro.
Dez minutos foi todo o tempo que precisei para estar perfeita para este dia, desci as escadas e coloquei minha cafeteira Nespresso para funcionar, iria descer com a caneca direto para o escritório se possível não seria incomodada até terminar de beber. Contudo, não podemos ter exatamente o que desejamos.

— Bom dia Rainha! – Lilian me cumprimentou enquanto planava até o chão.

— Você voou para dentro de novo? – Questionei enquanto a mesma sorria. – A palavra anonimato está no seu dicionário?

— Sim para a primeira e sim para a segunda, entretanto eu não sou uma grande fã. – Respondeu ela. – Temos assuntos a discutir. – Ela mudou a postura e o tom junto da última frase.

— O que foi? Adam está rebelde? Alguém entrou no seu território? Esmagou um humano e não limpou a sujeira? – Comecei a listar possibilidades.

— Nenhuma das anteriores! – Respondeu. – E para registro ele está muito bem. Só que o motivo da minha visita é mais complicado.

— Comece. – Pedi pegando meu café enquanto ela começava a preparar um.

— Adam achava que tinha eliminado o ultimo Belmont em mil e seiscentos. Descobrimos que ele estava errado quando matei Miguel dezesseis anos atrás. – Ótimo, ela veio para relembrar suas histórias de glória.

— Chegue logo a um ponto. – Pedi ríspida.

— Miguel deixou um herdeiro! – Agora sim meu dia foi estragado. – E um dos bons, vinte e um vampiros recém formados e um mestre. Todos em menos de uma hora e pelo que absorvi das memórias do mestre... Ele tem três fragmentos da ceifadora no maldito chicote.

Os humanos mais resistentes do mundo, você mata um e descobre depois de anos que ele deixou uma prole... Por que vocês não param de se reproduzir?

— Devo supor que você não pode localiza-lo?

— Você sabe que eu não posso. – Admitiu ela a contragosto. Era muito claro, assim como nós evoluímos, os Belmont também e a séculos sua família era indetectável para os nossos sentidos.

— Era um ninho importante? – Questionei já imaginando como poderia contornar a situação.

— Não, longe disso.

— Então vamos seguir nossas vidas! Eles não sabem nada sobre nós três e se ele descobrir... – Fiz minha caneca explodir. – Você o elimina. – Retrocedi a caneca ao estado anterior.

— Como é que é? – Agora ela ia ficar irritada. – Eu venho aqui te contar isso e você quer seguir seu dia como se fosse uma notícia de rodapé de jornal?

— Nós já falamos sobre isso Lilian! A décadas! – Lembrei-a.

— É diferente! ELES A MATARAM! ELES VÃO MORRER! – Ela começou a gritar, suas asas e chifres então saíram do encantamento e reapareceram.

— Primeiro, se controle. – Pedi. – E segundo; eu sei muito bem o que aconteceu. Não foi ninguém que está vivo até hoje e se fosse o caso, ajudaria com prazer!

— Ele é uma ameaça! – Reclamou andando em círculos. – O que acha que o Adam vai fazer quando souber?

— Ele não vai saber! – Respondi rápida e decisiva. – Você não vai contar nada disso para ele!

— Vai deixa-lo no escuro? – Questionou ela.

— Ele não quer falar comigo, logo, não preciso correr contar para ele. – Expliquei. – Não estamos mais em guerra e a última coisa que preciso é dele agindo de maneira errada!

— Ele tem o direito de saber!

— Eu não vou arriscar! Eu já perdi uma filha e quase o perdi no passado! – Proferi as palavras com raiva. – Ele é meu filho e essa é minha decisão!

— Eu criei aquele garoto! – Reclamou Lilian. – Ele já está parado a tempo demais!

— E vai permanecer parado até eu decidir que não deve! Afinal eu ainda sou a Rainha e A MINHA PALAVRA É A LEI! – Infelizmente me alterei e gritei com ela na última parte. – Está decidido que você não pode contar a ele!

— Sim majestade. – Ela assentiu ainda irritada. – E só pra avisar, ele piorou. Tem um quarto completamente reservado, fora o cheiro de magia.

— Ele vai desistir. – Falei dando as costas para ela. – Eu agradeceria se você saísse como uma pessoa e não voando por favor! – Pedi chamando o elevador.

— Eu não vou contar pra ele, mas, se ele descobrir? O que você vai fazer? – Mais uma pergunta que eu não queria responder.

— Isso é um problema para outra hora! – Respondi entrando no elevador. – Tenha um bom dia!

 

 

[Archie – Escola]

 

 

— Eu não sabia que você era do tipo violento. – Theo meu vizinho de mesa estava muito empolgado para saber detalhes do ocorrido de ontem.

— Eu não sou. – Respondi me concentrando no exercício. – “Como se Adrienne já não tivesse me ensinado tudo isso e mais um pouco.”— Pensei encarando as formulas químicas.

— Vencer uma briga daquela sozinho diz que é. – Falou enquanto copiava minhas respostas. – Boas notas, bom de briga... Você sem dúvida tem chulé!

— Não tenho. Sinto informar. – Brinquei de volta.

— Se você fosse do tipo namorador... Todos nós ficaríamos sem as gatinhas! – Ele suspirou após o comentário.

— Pode ficar com elas.

— E generoso com os outros caras! – Ele era o tipo de cara que se empolgava com tudo. – Você podia me ensinar uns movimentos hein!

— Não posso. – Cortei o assunto. – Você vai fazer a viagem?

— Certo mestre kung fu. – Ele ergueu os braços. – Não ensine seu vizinho de mesa, me deixe ser bulinado e sofrer no ensino médio! E sim eu vou fazer a viagem.

— Beleza, vou precisar de um colega de quarto. – Admiti. – E você não vai sofrer se ficar na sua.

— Archie meu amigo... Você é muito inocente! Adolescentes são monstros. – Ele parecia encenar uma peça quando falava. – Ainda bem que eu tenho você para me ajudar.

— Ta bom. – Concordei para fazê-lo parar de falar.

Na maioria dos dias ele fala menos, mas, vamos ser sinceros, depois do episódio de ontem eu... Meio que seria o assunto por um tempinho, obviamente não estou nem um pouco feliz ou afim disso, mas, qualquer pingo de emoção vira um evento em qualquer escola
Algumas das minhas aulas eram com os meus oponentes anteriores, alguns me encaravam, outros preferiam fazer o possível para me ignorar. Os professores estavam curiosos e as vezes algum deles jogava um verde tentando descobrir algo.
No fim do dia acabamos no pátio para ouvir uma porcaria de palestra do professor de educação física sobre não usar os punhos. – “Quanta hipocrisia. O velho adora acertar uma bola na cara dos alunos que fazem corpo mole.”— Pensei enquanto ele me encarava e falava sobre como podemos ser melhores ao usar apenas as palavras.

— Se os caras tivessem escutado as suas palavras... – Theo cochichou e não pude deixar de rir.

— Então né... – Concordei voltando a atenção para o bigodudo. Tinha até um vídeo educacional sobre como os jovens devem agir.

— Espera... – Theo começou a encarar o vídeo com mais atenção. – Essa escola é muito preguiçosa! Esse vídeo passa em um dos filmes do Scooby-Doo!

— Pelo menos é melhor que um vídeo educacional normal! – Debochei.

Quando a tortura educacional acabava, eu finalmente começava a parte de caçador de vampiros. Correr para a casa com pesos nos braços e pernas, não parar de me movimentar enquanto ia embora, chegar em casa e apenas tomar um copo d’agua, depois finalmente ir ao terraço e começar de verdade.

— Certo molenga! – Alexander estava com uma bola de boliche na mão. – Tire a bola de mim.

— Essa não é meio pesada pra esse exercício? – Questionei.

— Assim você tem alguma chance de pegar ela. – Ele me zoou. Gesticulando um “vem cá”.

Alexander era um excelente treinador alternativo, ele revezava entre treinos mais complexos e os mais “suaves”. Já que não era nada fácil pegar alguma coisa de um cara que luta com vampiros, golens, lobisomens, ghouls e o que mais vier para cima.

— Está meio lento hoje Archie! – Ele falou depois que eu peguei a bola. – Vamos testar seu combate! – Ele jogou um bastão pra mim, imediatamente me atacando com uma espada. – Sem tempo para pensar!

Eu sabia os movimentos dele, mas, se tem algo em que ele é bom... Definitivamente é mudar os próprios golpes, sejam suas direções, seja a forma de ataque ou até com o que ele te atinge. Variedade não podia faltar.

— Lembre que tudo é uma arma! – Ele falou antes de pisar no meu cadarço e me fazer tropeçar. – Incluindo o descuido do inimigo. – Ele estendeu a mão pra mim. – Agora toma um banho que ainda tem teoria na garagem.

Eu não era tão fã da teoria, mas, graças a teoria eu me dava bem em praticamente todas as matérias desde o fundamental um. Teoria de caça a monstros engloba praticamente tudo, física, química, história, línguas...
Adrienne me ensinava toda essa parte. Ela odiava o fato de ter ficado enfiada em uma biblioteca de caçadores até fazer catorze anos, entretanto, isso a tornou uma das mais completas especialistas atualmente. Ela até fez uma compilado digital com as informações mais importantes para todos os caçadores conseguirem utilizar. A rede de caçadores era enorme e muito complexa, na Europa você tem um número bem alto deles, no Oriente quase nenhum e na Américas o número também não é muito grande. – “Acho que monstros se amarram em ser burgueses.” – Claro que eu sabia que havia fatores como clima, e economia que ajudavam esse tipo de ser a escolher um lar e por isso era necessário estudar até dados políticos hoje em dia.

— Eu quero que você faça uma bala com pó de prata. Ai quando ela entrar no vampiro o pó fica preso nos poros, não é suficiente para matar, mas, não vai deixar fugirem caso você precise interroga-los. – Adrienne explicou apresentando uma bancada cheia. – Tem quarenta minutos!

Meus irmãos eram totalmente cuidadosos com o ensino e tinham um método próprio já que ambos odiaram a forma de treinamento que receberam.
Até onde sei o Alexander está sendo treinado desde os nove anos, ou seja, ele treinava e trocava minhas fraldas.
Às vezes eu me pegava imaginando se eu fui um fardo. Duas crianças tendo que tomar conta de outra enquanto possuíam altas responsabilidades e adultos com expectativas.
Me concentrei no que deveria fazer, eu sabia o procedimento e seguindo passo a passo com calma não foi muito difícil. Devo ter perdido um ou dois minutos trabalhando com a gramatura do pó de prata. – “Por que prata? Sempre é prata, todas as raças não humanas no mundo são alérgicas ou vulneráveis a ela. Qual o sentido?”— Sai do meu devaneio quando deixei a bala perfeita.

— Ta na mão! – Sorri entregando-a.

— Vamos ver como está! – Ele foi colocar a bala no revólver, mas, eu impedi.

— Esqueceu uma coisa. – Falei apontando a capsula.

— Foi para ver se você estava atento! – Ela respondeu sorrindo antes de marcar a bala com o sinal da cruz.

— Explica de novo. Por que exatamente o sinal da cruz é necessário? – Questionei coçando a cabeça.

— É uma tradição. Eles marcavam as flechas, chicotes, espadas... O sinal da cruz sempre atormentou os vampiros, então virou padrão marcar. – Explicou ela antes de atirar no manequim de gelatina balística. – Vamos ver se você fez direito.

Ela analisou meticulosamente o “tecido” comprometido, a bala estourou não muito longe do ponto de impacto e o pó acabou bem concentrado em torno do buraco de entrada, não teve buraco de saída o que era bom, afinal, quanto mais atrapalhar a criatura, melhor pra mim.

— Nada mal maninho! – Ela me elogiou. – Mas na próxima é melhor que penetre um pouco mais antes de estourar assim. Quanto mais próximo dos órgãos vitais melhor!

— Tudo bem! – Respondi antes de partirmos para a próxima lição. Essa era minha rotina, estudante em algumas horas e o aprendiz dos melhores nas outras.

 

 

[Adam – Cobertura do Neftis]

 

 

— Por que está com medo garoto? – Perguntou o homem alto atrás de mim. Sua voz era forte e eu podia sentir a mesma ecoar no ambiente.

— Eles são muitos. – Respondi.

— Isso deveria ser um problema? – Perguntou o mais velho.

— Como posso vencer tantos se não consegui derrotar dois? – Perguntei me referindo à primeira batalha que tive de enfrentar.

— Você tem que usar o poder dentro de você. – Ele respondeu.

— Eu não sou forte o suficiente, eu não sou como meu pai! – Respondi sem medo e acabei frustrado comigo mesmo por não manter meu orgulho.

— Você não precisa ser o Dracula. – Ele respondeu antes de me estender a mão pálida, uma ajuda que supreendentemente eu aceitei. – Você é meu legado! – Eu não conseguia enxergar o rosto dele naquele local, mas, não era necessário. Eu sabia exatamente quem havia me guiado.

...

Eu me levantei hiperventilando. – “Isso é ridículo.” – Um vampiro do meu nível acabar nesse estado por causa de um sonh... Não, uma memória, de séculos atrás...
Encarei minhas grossas paredes de vidro fume antes de olhar para o relógio e confirmar que o Sol já havia ido dormir. Apertei o botão na cabeceira da cama e o vidro da parede ficou transparente, me dando uma plena visão do mundo lá fora, abaixo de mim!

— Sem paredes... De certa forma é como você queria. – Falei após levantar e tocar o vidro. Logo precisaria descer, observar, encontrar minhas presas, me misturar a eles... – Nojento!

Caminhei entre a minha bagunça de livros e roupas, organização jamais seria o meu forte. Havia apenas uma porta ali que não era de correr, uma porta escura e maciça, com o movimento certo dos dedos no ar a tranca se desfez.
O quarto era escuro, quase vazio e muito gelado, o cheiro da magia era forte ali dentro e posso dizer que metade dos meus pensamentos estava sempre ali. Caminhei até o centro, parando a frente da única coisa nele. Uma arara com o seu vestido. O único que foi preservado.

— Me desculpa! – Pedi pegando o mesmo e abraçando, minha magia o manteve todos esses anos, perfeito e intocado. Novamente eu estava chorando abraçado a esse vestido. – Eu não vou desistir de você! Nunca! Eu vou ter você de volta! Eu prometo Nefi!


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Notas finais do capítulo

E agora?



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