O Amanhã escrita por Nahy


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Eu deveria ter postado ontem, mas não consegui, sorry!
Vou ficar postando todos os sábados



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Se tentar falar com Alice foi difícil – mesmo que no fim eu tenha fugido como uma covarde – com Emmett seria mil vezes pior.

Com Alice eu sabia o que esperar, eu esperava os gritos, a raiva e a rejeição, mas isso não significa que doeria menos. Alice sempre foi a minha irmã, aquela que sempre me protegia e me fazia enfrentar meus medos, mas só de pensar na possibilidade dela me rejeitar, de me odiar... Eu não posso imaginar a dor que isso me traria.

Já com o Emm... Bom, eu não sabia o que esperar e isso me assustava pra caramba.

Eu nunca havia visto Emm com raiva antes, ele sempre mantinha o bom humor e calma, mesmo diante das situações mais estressantes. Foi ele quem me animou quando descobrimos a doença da mamãe, ele que sempre me aconselhava e estava ali pra me dar apoio.

Se a reação de Alice poderia me machucar, a de Emm pode realmente me destruir.

A casa de Emm ficava afastada da cidade, mas não era tão longe quanto a de Carlisle.

Eu estava parada a cerca de 10 minutos em frente à casa dele, tentando tomar coragem para sair e enfrentar o que viesse. Sentia-me mais ansiosa do que quando fui à casa de Carlisle e mais pior do que quando visitei Alice.

Como ele iria reagir?

Então escutei um barulho na janela do carro e me virei para o lado. Uma criança de cerca de 5 anos tentava enxergar por trás do vidro preto escuro e ao seu lado estava uma mulher loira bonita e elegante.

Abri a porta e sai timidamente.

A mulher me encarou e franziu o cenho, a criança parecia curiosa.

— Quem é você? – a menininha perguntou inocentemente e eu estava prestes a respondê-la quando a loira solta um suspiro de surpresa.

Olho para ela e seus olhos estão arregalados, como se não conseguisse acreditar no que via, e fico confusa por sua reação.

— Isabella? – perguntou e foi minha vez de ficar surpresa.

— Você me conhece?

Ela ainda está com os olhos arregalados, mas então sua expressão de surpresa lentamente se desfez e seus olhos se estreitaram para mim enquanto se posicionava protetoramente em frente à menina ao seu lado, como se eu oferecesse algum perigo para a menina.

— Que merda você faz aqui?

Eu me surpreendi pelo seu ataque repentino, mas então olhei para menina escondida atrás das suas pernas e finalmente compreendi.

A criança era extremamente parecida com Emmett, tirando o cabelo loiro, todo o resto, os olhos, as feições... Tudo me lembrava Emmett.

Eu não precisava de uma confirmação para saber.

Elas eram a família dele.

— Mamãe! Você disse uma palavra feia! – a menina disse surpresa e a loira olhou para ela e sorriu carinhosamente.

— Eu sei meu amor, não ligue para o que a mamãe falou.

— Como você me conhece? – perguntei e ela se virou para mim.

— Eu já vi fotos suas, Emmett me contou sobre você, sobre a sua mãe e o que você fez – havia um tom acusatório em sua voz que não passou despercebido para mim.

Ela me desprezada.

Eu mordi o lábio e não falei nada. Embora ela não tivesse nada haver com a história, não deixava de ter razão. Eu errei, o que fiz foi um ato desprezível e eu merecia ouvir cada palavra de repulsa que ela quisesse me falar.

— Ele... Ele está? – perguntei e engoli em seco ao ver seus olhos se estreitarem ainda mais.

— Você ainda tem a ousadia de vir aqui e querer falar com ele? – perguntou, sua voz fria como um inverno congelante. – Você não acha que já fez o bastante?

Eu não tenho mais coragem para olhar em seus olhos, eles me julgam sem precisar de palavras, ela já me condenou e já chegou a um veredito sem nem mesmo saber o meu lado da história.

— Eu... – hesito e solto um longo suspiro. – Eu só quero falar com ele – reúno a coragem suficiente para olhar para ela e rezo para que ela veja a sinceridade em meus olhos. – Por favor, eu só preciso de um minuto.

Ela ficou em silêncio e continuou a me encarar com seus olhos frios por um longo momento enquanto eu mal respirava de tão ansiosa.

— Você não merece sequer vê-lo – disse e foi como um soco no meu estômago. – Mas isso não é algo que eu possa decidir – completou depois de um momento. – Emmett deve decidir se quer vê-la ou não.

Finalmente soltei o ar que prendia em meus pulmões, mas o alivio foi momentâneo, quando ela ordenou numa voz fria para segui-la quase senti meu coração parar.

Eu estava tremendo, enquanto a seguia em direção a casa tive que me equilibrar quando tropecei em uma pedra qualquer e quase fui de cara ao chão.

A loira em qualquer momento olhou para trás e eu estava aliviada por ela não poder ver o estado de nervosismo que eu estava. No entanto, a pequena menina que estava agarrada a sua mão me olhava a todo o momento, seus pequenos olhos curiosos eram adoráveis e eu me via querendo apertar suas bochechas rechonchudas e fofas.

A casa de Emm é muito bonita, tinha um toque acolhedor e familiar que só se via naquelas cenas de filmes. Assim que entrei avistei alguns brinquedos espalhados pela sala e o ambiente era espaçoso como a casa de Carlisle, se não maior.

A esposa de Emm me mandou esperar na sala e logo desapareceu em um dos cômodos da casa junto com a menina.

Eu fiquei olhando para algumas fotos penduradas na parede enquanto esperava em pé sem me mover, com medo até mesmo de respirar e chamar a atenção. Muitas das fotos estavam Carlisle, Esme e Alice, quase sorri ao ver uma foto de um aniversário de Emm em que ele estava com a cara toda lambuzada de bolo, como se alguém tivesse empurrado a cabeça dele no bolo, e ele fazia uma careta enquanto todos riam.

Eu sentia falta disso. Das risadas dos Emm, das suas brincadeiras, até mesmo do seu famoso abraço de urso – ele me recarregava, mesmo quando tudo parecia dar errado e estava para pior, seu abraço era como um remédio, um remédio tão poderoso que podia curar qualquer ferida.

E isso era o que eu mais necessitava no momento.

Mesmo que fosse por apenas um momento, eu só queria que ele me abraçasse e fingisse que nada nunca aconteceu, que ele ainda era meu irmão e que sempre estaria ali, para mim, por mim.

E então eu ouvi os passos se aproximarem da sala.

Assim como foi com Alice, eu quis fugir, eu quis sair correndo.

Ele não vai te perdoar.” Dizia o lado covarde na minha cabeça enquanto eu tentava desesperadamente ignora-la.

Meu coração estava tão acelerado que parecia que eu estava prestes a ter um infarto, mas eu não cedi ao meu medo, eu não fugi e, embora minhas pernas estivessem tremendo como um cervo ao dar os primeiros passos, firmei meus pés no chão e não me deixei ser dominada pelo pânico.

Dessa vez eu não iria fugir.

Como uma cena em câmera lenta Emmett apareceu pela abertura que dava acesso a sala, ele olhou lentamente para cima e seus olhos finalmente se encontraram com os meus.

Ele ainda parecia o mesmo Emm, alto, forte como um lutador de boxe, mas com um rosto infantil. Seus olhos azuis me encaravam chocados e eu queria poder ler pensamentos para saber o que passava por sua mente.

— Bella... – ele falou meu nome em um murmúrio e eu soltei o ar que nem havia percebido que estava prendendo.

— Oi... – falei com minha voz embagada pelo choro que ameaçava sair.

Eu queria tanto correr em sua direção e me atirar em seus braços e, mais ainda, ser recebida por eles. Mas sabia que não era o momento, por isso tive que me controlar.

— Você... – ele parecia surpreso demais para formular alguma frase e eu quase sorri.

— Eu voltei – pisquei os olhos para espantar as lagrimas que queriam sair.

— Quando você...

— Hoje mesmo – respondi a sua pergunta inacabada. – Fui a Carlisle e ele me disse onde você estava. 

Ele assentiu ainda parecendo um pouco perdido.

— Por que... – seus olhos se focaram nos meus. – Por que você voltou agora?

O que eu poderia dizer? Saudades? Culpa?

Eu não fazia a menor ideia, não tinha pensado muito no que dizer antes de vir aqui, estava mais preocupada se ele iria me receber ou não.

— Porque... Eu só... – suspirei. – Eu só senti isso, tinha que ver vocês novamente e de repente eu estava em um avião a caminho de cá.

Ele franziu o cenho visivelmente confuso e o não podia culpa-lo, eu não estava sendo a pessoa mais esclarecedora do mundo.

— Você sentiu? Depois de tantos anos sem dar noticias você aparece aqui porque sentiu que precisava nos ver?

Eu recuei diante de suas palavras, não havia um tom acusatório na sua voz, mas as palavras foram o bastante para me machucar.

Acho que ele percebeu meu rosto expressivo, pois soltou um suspiro.

— Eu não quis dizer... – tratou de se explicar, mas o interrompi.

— Eu entendi.

— Não, você não... – ele balançou a cabeça e passou a mão pelo rosto em um gesto nervoso. – Droga Bella, você voltou depois de oito anos. Oito anos! Como esperava que eu reagisse?

Eu assenti e baixei a cabeça.

Sentia-me uma idiota, ele tinha razão, não adianta o quanto eu imaginei esse reencontro, oito anos se passaram – merda, quase uma década – isso era tempo demais, tempo demais para eu voltar do nada e aparecer de surpresa na sua porta.

— Me desculpe, eu só... – balancei a cabeça e sorri sem humor. – Eu não sei o que eu esperava, sinceramente.

— Não, você não precisa se desculpar, eu só preciso de... Tempo para assimilar isso – ele ensaiou um sorriso para mim que eu tentei retribuir. – Vamos começar aos poucos, está bem? – assenti e ele finalmente deu alguns passos na minha direção, parando a minha frente. – Vamos dar um passeio?

Assenti e Emm me guiou por dentro da casa, passamos pela cozinha e em seguida estávamos na parte traseira da casa. Tinha um enorme quintal verde, a grama bem cortada e fofa, havia um pequeno parquinho para as crianças brincarem, um balanço com três cadeiras penduradas em cordas, um escorrega e uma gangorra, todos feitos de madeira.

Emm me levou em direção ao balanço, ele me colocou em uma cadeira e sorriu antes de sentar na cadeira ao meu lado, temi que as cordas não pudessem aguentar o peso dele ou o meu e arrebentassem, mas elas eram bastante grossas.

— Então... – ele começou depois de um tempo. – Onde você está morando?

— New York.

— New York hein... – ele assoviou e ri. – Você se casou? Tem filhos?

— Não e não.

— Bom, como você viu eu me casei.

— Quase não acreditei quando Carlisle me disse que você se casou – comentei e ele riu.

— Pois é, quem diria que eu estaria casado e você solteira. Se me dissessem que algo assim aconteceria há 10 anos eu chamaria essa pessoa de louca e ainda a mandaria procurar um psiquiatra – brincou e ri. – O mundo dá voltas mesmo.

— É... – meu sorriso lentamente morreu e olhei para frente. A mesma doença que levou a minha mãe embora e me fez abandonar todos eles me fez voltar. – O mundo dá voltas.

Ele ficou em silencio por um momento, talvez pensando no passado assim como eu.

Nós costumávamos fazer isso, sentar e falar sobre o que aconteceu no dia de cada um, ás vezes fazíamos piadas sem graça e riamos de algo que aconteceu na escola.

Tudo era tão... Fácil.

Viver era fácil.

— Você já falou com Alice? – ele perguntou de repente e neguei.

— Eu tentei, mas não... Consegui – ele assentiu e voltou a ficar em silêncio.

Eu sabia no que ele estava pensando. Enfrentar Alice não seria fácil, ela não seria tão compreensiva como Emm estava sendo agora, eu me surpreenderia se ela não me expulsasse ou me desse uma tapa na cara.

Acho que depois de Carlisle, Alice foi à pessoa que mais magoei.

Soltei o ar e olhei para Emm, ele não me olhava, mas sim para seus pés e parecia pensativo.

Eu queria perguntar algo a ele, algo que eu queria realmente saber, mas ainda não tinha a coragem suficiente para isso, por isso mordi meu lábio com força e abri e fechei a boca diversas vezes antes de finalmente conseguir falar.

— Você... – comecei, mas hesitei. Eu tinha que perguntar a ele. Soltei o ar pela boca e inspirei. – Você não me odeia?

Emmett estancou e não levantou os olhos para mim em nenhum momento.

— Por quê? – perguntou em um murmúrio baixo e engoli em seco antes de continuar.

— Por... Por tudo – e então era a minha vez de olhar para os meus pés. Sinceramente, eu estava com medo de olhar para seu rosto, medo de ver uma verdade escondida, medo de ver algo que eu não quero ver: que ele me odeia e que nunca iria conseguir me perdoar. – Por ter ido embora, por ter abandonado vocês e a mamãe, por não ter estado presente no enterro dela, por nunca ter voltado... Por tudo, é isso – falei em um folego só e ao terminar mordi com mais força ainda meu lábio inferior.

Emmett não falou, ele ficou em silencio por mais tempo do que meu coração podia aguentar e minha respiração ficou presa na minha garganta como se eu não conseguisse colocar o ar para fora.

Então ele soltou o ar pesadamente e falou.

— Não.

Meus olhos aumentaram consideravelmente em surpresa e finalmente olhei para ele, que também tinha parado de encarar seus pés e me olhava.

— Não? – perguntei ainda surpresa e seus lábios se curvaram para cima levemente. – Por quê? Eu pensei...

O sorriso de Emmett era meio triste.

— Eu te odiei muito – ele confessou e tentei não demostrar o quanto aquilo me abalou. – Mas isso foi há anos, eu fiquei com muita raiva quando você se foi, quando a mãe morreu e você não estava ali... Jurei a mim mesmo que nunca te perdoaria... Mas o tempo passou e minha raiva também – ele olhou para frente. – Então, em vez da raiva, comecei a sentir saudades, sentia saudades de conversar com você, das suas brigas com Alice, das nossas brincadeiras, senti falta do tempo que tínhamos juntos, de quando você simplesmente estava lá... A mãe tinha ido, papai estava acabado, Alice nem se fala e eu... Eu só queria que você estivesse lá – ele se virou para me olhar novamente. - Mas você não estava.

Uma lágrima caiu do meu olho e eu rapidamente a limpei com mão.

— Você não estava lá quando eu mais precisei de você e sinceramente? Eu te odiei ainda mais.

Mais lagrimas caíram e eu não conseguia olhar para Emmett, por isso baixei a cabeça.

Pela primeira vez eu senti vergonha por tudo que fiz e eu também queria dizer a ele de tudo que passei, de toda dor que senti, de todas ás vezes que fui ao aeroporto para comprar uma passagem e voltar, mas nunca tive coragem, de todas ás vezes que eu chorava por não ter conseguido ligar e dizer o quanto eu sentia saudades deles.

Mas eu não tinha esse direito, de me fazer de vitima na frente dele, por isso não disse nada e apenas tentei controlar minhas lágrimas.

Ele tinha todo o direito de me odiar.

Emmett sempre esteve lá para mim quando eu precisei. Ele sempre me consolou, sempre me ajudou em tudo, mas eu nunca fui capaz de fazer o mesmo. Eu nunca estive ao seu lado.

— Mas os anos se passaram e como todos dizem: o tempo cura feridas. – ele continuou. - Toda aquilo que eu sentia, a raiva, a tristeza, até mesmo... – ele suspirou antes de continuar. – Até mesmo a saudade que eu sentia de você... Tudo isso foi desaparecendo aos poucos e se tornou apenas uma... Lembrança na minha vida.

Aquilo me destruiu.

Doeu mais do que eu imaginava e sinceramente acho que se ele me culpasse, se me expulsasse e dissesse que me odeia, acho que se ele fizesse tudo isso não doeria tanto como a dor que sinto agora.

Emmett me esqueceu.

— Eu... – ele continuou depois de um tempo. – Eu pensei que nunca mais fosse te ver, pensei que você tinha ido para sempre, nunca mais nos ligou ou deu noticias, mas...

Chega.

Eu não aguento mais.

— Eu preciso ir – falei interrompendo-o e me levantei.

— O que?

Comecei a andar sem respondê-lo e escutei quando ele se levantou e veio atrás de mim.

— Bella?

— Eu tenho que ir embora – falei novamente sem me virar e ele estava cada vez mais perto de mim, então comecei a correr.

— Espera Bella!

Não parei.

Dei a volta na casa e avistei meu carro. Podia escutar os passos apressados de Emmett atrás de mim e aumentei mais ainda e velocidade da minha corrida.

Fique longe de mim! Gritava na minha cabeça e quando finalmente conseguir chegar ao carro, abri a porta apressadamente e entrei. Olhei para o lado e avistei Emmett correndo na minha direção enquanto gritava para eu esperar, mas apenas liguei o carro e arranquei o mais rápido possível para longe dali.

Meu coração estava quebrado.

Eu estava quebrada.

Emm me esqueceu, todos me esqueceram, eu pensei que era a família deles, mas eles seguiram com a vida, criaram suas próprias famílias e eu... Eu não faço mais parte dela.

Eu estou sozinha.

Soltei um soluço alto enquanto tentava enxergar a estrada por trás das lágrimas que borravam minha visão.

Era tarde demais.

Eles me esqueceram.

Meu coração doía como se algo estivesse faltando, como se algo tivesse sido arrancado de dentro de mim e de certa forma tinha sido.

Eu me arranquei da vida deles.

Eu que fui embora.

A dor que sinto agora foi causada por mim mesma, por minha estupidez, por meu medo, por minhas escolhas.

Eles não me abandonaram, a vida não me abandonou. Eu a abandonei.

E agora eu estava sozinha.


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Notas finais do capítulo

Gente que dó da Bella, ela errou, mas merece uma segunda chance
O que estão achando?