O Amanhã escrita por Nahy


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez voltei logo rsrs
Boa leitura!



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— Você tem certeza disso? – Carlisle perguntou antes que eu entrasse no carro e me virei para trás.

— Tenho – sorri para tranquiliza-lo, embora por dentro eu estivesse surtando de nervosismo. – Eu preciso encontra-los... Sozinha.

Carlisle soltou o ar pesadamente e assentiu.

— Qualquer coisa me ligue.

Balancei a cabeça concordando e sorri em agradecimento.

— Obrigada Carlisle.

Ele assentiu meio constrangido, suas orelhas se avermelharam levemente e eu tentei conter o riso.

Eu me despedi dele e dirigi o carro em direção à saída.

Passei a manhã inteira na casa de Carlisle, falando com ele sobre o passado, sobre o que aconteceu durante esses últimos sete anos e sobre outras coisas banais do dia a dia. Nós conversamos tanto que eu cheguei a compreender Carlisle de verdade, parecia como se eu estivesse conhecendo-o pela primeira vez.

Também conversei com Esme e, pelo tempo que passamos juntas, percebi que ela é uma pessoa maravilhosa, eu entendia o porquê de Carlisle ter se apaixonado por ela. Esme é uma mulher muito compreensiva, ela não me jugou em momento algum e ainda me reprendeu quando eu disse que me culpava por ter ido embora.

Ela me lembrava minha mãe.

Estar com os dois durante toda a manhã foi como uma terapia para mim.

Eu tentava não pensar no que estava prestes a acontecer, mas aquele sentimento agoniante que fazia meu estômago revirar não me deixava tirar da mente em momento algum.

Eu finalmente iria vê-los, Alice e o Emm.

Carlisle havia falado pouco deles, apenas que estavam ambos casados e felizes.

Não fazia ideia de qual seria a reação deles e isso estava me matando.

Só de pensar nisso fazia com que eu sentisse vontade de vomitar.

Não foi difícil chegar ao primeiro endereço que Carlisle me deu, ficava próximo ao centro da cidade em um local bem localizado e visível.

Eu encarei o imóvel de dois andares, o andar de baixo parecia ser uma loja de roupas, duas grandes paredes de vidro deixavam visível o ambiente de dentro e a vitrine com duas manequins. Já o andar de cima de cima parecia ser uma casa. A fachada dos dois andares era muito bonito e sofisticado, ambas se complementavam e aquilo parecia tão Alice que acabei sorrindo.

Eu deveria imaginar que ela acabaria criando a própria loja, ela sempre foi obcecada por roupas e sempre implicava comigo por causa disso. 

Me doía pensar no que deixei para trás.

Nas loucuras de Alice, nas discussões infantis que tínhamos, nas suas brincadeiras chatas, até mesmo de quando ela me arrastava para o shopping com a desculpa de "atualizar meu guarda-roupas".

Deus... Eu sentia tantas saudades dela.

Eu ainda lembrava de quando foi nossa última conversa, foi há pouco mais de cinco anos atrás, a última vez que eu liguei para eles...

Nós discutimos, como sempre acontecia toda vez que eu ligava para saber notícias, Alice sempre me culpou por ter ido embora, por não estar presente quando mamãe morreu, por não ter me despedido dela ou do Emm...

Eu fiquei irritada e disse coisas para ela que me arrependo até hoje, ela me disse para esquecer que um dia eu fui sua irmã e para nunca mais ligar para eles.

E eu nunca mais liguei.

Soltei o ar pesadamente e respirei fundo.

Eu tenho que tentar.

Olhei para fora mais uma vez e abri a porta do carro. Embora o clima estivesse frio e úmido - como sempre acontecia em Forks - minhas mãos suavam e meu coração parecia estar prestes a sair pela minha boca.

Empurrei a porta de entrada e olhei ansiosamente ao redor. O ambiente era pequeno, mas elegante e acolhedor. Felizmente mão havia nenhuma cliente no local, apenas uma funcionária sentada atrás do balcão. Ela era ruiva e vestia uma camiseta preta escrito "Lizie" em letras brilhantes - o mesmo nome da loja - e estava mexendo no celular entediada, mas assim que me viu abriu um sorriso profissional e guardou o aparelho.

— Boa tarde! Posso te ajudar em algo? - perguntou animadamente e balancei a cabeça.

— Estou procurando Alice.

Ela franziu o cenho.

— A Sra. Whitlock?

Carlisle havia me falado que o novo sobrenome de Alice era Whitlock, por isso assenti.

— Hm... Ela deve estar no escritório, só um minuto, eu vou chama-la.

A funcionaria desapareceu em um corredor e eu fiquei ali esperando.

Os minutos se passaram e meu coração, se possível, acelerou ainda mais e me sentia como se estivesse prestes a desmaiar.

Eu não estava nada pronta.

Nunca estaria.

“Eu odeio você!”

Fechei os olhos com força, tentando impedir a avalanche de lembranças que me meio a cabeça e tive que me apoiar na bancada de madeira ao meu lado.

 “- Você traiu a mamãe, você traiu o papai, você traiu a gente! – Alice gritou com o rosto banhado pelas lagrimas que continuavam a cair, seus olhos me encaravam com um misto de raiva e tristeza. – Se você for embora, eu nunca vou te perdoar!

Meus pés paralisam diante de suas palavras e por um momento não sabia como agir.

Nós duas ficamos em um silencio desconfortável e nesse tempo apenas ouvimos o barulho das vozes das pessoas que circulavam ao nosso redor.

Eu não queria ir embora. Não queria ter abandoná-los.

Mas eu também não conseguia mais ficar aqui.

“Ultima chamada para o voou 554.”

Uma voz feminina soou no alto-falante e eu apertei alça da mala que carregava na minha mão. Levanto os olhos para Alice e meu coração dói ao ver seu estado desesperado, ela ainda arfava pela corrida para me alcançar, seus olhos ainda estavam molhados pelas lagrimas e havia um medo contido neles.

Abro a boca para falar, mas as palavras não saem.

Eu queria lhe dizer tanta coisa, mas não consigo, minha garganta parece fechada, como se existisse um espinho cravado nela e dói... Dói como se me rasgasse a cada ar que eu respirasse e eu sinto que vou desmoronar a qualquer momento.

Eu queria garantir a ela que tudo ia ficar bem, que eu ia voltar, que sempre seriamos irmãs, não importasse o que acontecesse.

Mas não consigo fazer nada disso.

Então viro as costas para ela e vou embora enquanto as lagrimas emundam meu rosto e sinto meu coração despedaçar.

No fim, eu acabei abandonando-a também.”

Uma sensação de pânico me dominou.

Eu não estava pronta.

Olhei ansiosamente para o corredor por onde a funcionaria tinha saído e consegui ouvir o barulho de vozes se aproximando.

Não.

Eu ainda preciso de mais tempo.

Eu tenho que sair daqui.

— Ela disse como se chamava? – meus olhos se arregalaram em pavor ao reconhecer a voz de Alice e me virei em direção a porta para sair.

Eu estava prestes a empurrar a porta quando escutei sua voz confusa atrás de mim.

— Senhora?

Eu estanquei.

Meu corpo inteiro paralisou e não conseguia sair do lugar. As lagrimas vieram aos meus olhos e eu tive que me segurar para não chorar como uma perfeita idiota e estragar tudo.

Ela estava aqui;

Depois de anos sem vê-la, ela estava bem aqui e eu... Não conseguia fazer nada.

Eu não podia vê-la assim, não me sentia pronta mentalmente e precisava desesperadamente sair daqui antes que fosse muito tarde.

— Me desculpe – murmurei antes de empurrar a porta e sair apressadamente, mas antes de sair ainda consegui escutar seu ofegar surpreso.

Ela me reconheceu.

É claro que me reconheceria, Alice podia identificar um estranho a quilômetros, como não iria saber quem eu era?

Apesar disso, não consegui olhar para trás e ver sua reação, eu não sabia o que viria em seus olhos, raiva, tristeza ou desprezo... Sinceramente eu torcia para que nenhum dos três. Por isso corri para fora o mais rápido que pude, esqueci até mesmo do meu carro que estava estacionado do lado de fora da loja.

Eu já estava ofegante e a há dezenas de metros de distância da loja de Alice quando parei.

Apoiei minhas mãos nos meus joelhos e inclinei o corpo para frente tentando trazer o ar de volta para os meus pulmões e me dei conta de algo que nunca tinha percebido antes: eu estava mais cansada que o normal.

Nunca tinha sido uma atleta ativa antes, mas eu costumava correr – uma vez na semana – mas ainda sim fazia algum esforço físico e nunca me senti tão sem ar como estou agora.

Eu não sabia se o motivo disso era por conta do meu quase ataque de pânico em ver Alice ou se era por conta o câncer.

E sinceramente?

Eu estava com medo demais de descobrir.

— Bella Swan?

Paralisei ao escutar meu nome ser chamado por uma voz masculina, olhei para cima e me deparei com um homem alto me olhando surpreso, me endireitei e o olhei melhor, meus olhos se arregalaram ao reconhecer aquela pessoa.

Ele não parecia em nada com o garoto de 17 anos que eu lembrava. O cabelo meio acobreado continuava com a mesma aparência indomável, ele parecia ter crescido alguns centímetros – ou talvez fosse só impressão minha – mas ele parecia maior e mais forte do que nas minhas lembranças – e também mais bonito.

Ele vestia um moletom cinza e calça da mesma cor, parecia que tinha acabado de voltar de uma corrida, pois estava meio molhado pela leve neblina de chuva que caia.

Embora estivesse diferente, eu conheceria aqueles olhos em qualquer lugar.

— Edward! – exclamei surpresa e ele abriu um pequeno sorriso.

— O que está fazendo aqui? Voltou pra cidade?

Fiz uma careta involuntariamente.

— Não, estou... De passagem.

— Hum... Veio visitar os Cullen´s?

Focei um sorriso e assenti.

— Algo assim.

Acho que ele compreendeu que eu não queria tocar no assunto, pois assentiu.

— Bom, eu tenho que ir andando, mas vejo você por ai – disse com um sorriso educado e tentei retribuir o sorriso sem demostrar o desapontamento que sentia pela sua falta de interesse em mim.

Ele acenou para mim e logo continuou a correr.

Era difícil acreditar que um dia fomos melhores amigos.

Acho que nos conhecíamos desde que éramos bebê, nossas mães eram amigas, por isso sempre nos víamos e nos tornamos amigos também.

Eu não conseguia me lembrar de nenhum momento em que Edward não estivesse lá.

Seja no primeiro dia escola, na primeira vez que fui para a detenção por brigar com os colegas de sala ou até mesmo no primeiro dia da minha menstruação – da minha infância até a minha adolescência – ele sempre esteve lá.

Mas nos últimos dois anos do ensino médio nós mal nos falávamos, nunca me despedi dele quando fui embora e não lembrava de ter o visto nos meus últimos meses em Forks.

Quando foi que nós começamos a nos afastar?

Soltei um profundo suspiro e passei a caminhar lentamente.

Não sabia para onde ir, mas eu não queria voltar para o meu apartamento solitário e ainda não tinha coragem para olhar para Alice.

Pelo menos uma pessoa... Eu queria encontra pelo menos uma pessoa que ficaria feliz em me ver, mas... Não havia ninguém.

Nessa pequena cidade haviam mais de três mil habitantes, a maioria dela esteve presente na minha vida de alguma forma, seja o vizinho que eu via algumas vezes ao dia ou até mesmo o dono da padaria que eu frequentava. Entre três mil pessoas... Não havia nenhuma que pudesse ficar feliz em me ver.

E mesmo que uma delas ficasse feliz em me ver, só haviam 3 pessoas que eu deseja ver. Duas delas provavelmente me odiavam no momento e a outra pessoa - a pessoa que eu mais queria ver – nunca mais poderia vê-la novamente, porque ela não está mais aqui.

Mas eu precisava da presença dela, mesmo que seja o lugar em que ela descansa.

...

O pequeno cemitério de Forks abrigava várias tumbas, umas mais antigas que do que a minha tataravó – isso se ela não estivesse enterrada ali – e eu apostava que havia muitas almas perdidas naquele lugar.

O lugar tinha um ambiente triste e solitário, quase abandonado. Não havia uma alma viva naquele lugar a não ser pelo coveiro e eu me perguntava como aquele homem conseguia ficar aqui.

Eu caminhei entre as varias fileiras de tumbas a procura de uma só. Não tinha estado aqui no enterro, então não sei onde ela foi colocada. Foi difícil, mas eu a achei.

Ajoelhei-me no chão frio e úmido e limpei a lápide empoeirada com a manga do meu suéter. As letras esculpidas na lápide se tornaram visíveis novamente.

Meus olhos se encheram de lágrimas ao ler o que estava escrito.

“A mãe mais carinho e dedicada, você foi muito amada”

Não.

Ela nunca foi amada.

Ela sofreu anos por causa dessa maldita doença, ela foi uma guerreira que lutou uma guerra já vencida e muitas vezes passou por isso sozinha, sem qualquer pessoa ao seu lado.

Isso não é amor.

Isso é abandono.

Eu a abandonei, todos a abandonamos.

— Me desculpa – murmurei com a voz embargada. Minhas lagrimas já caiam sem sessar e meu coração parecia ter sido perfurado por algum objeto pontiagudo, pois a dor era tão imensa que me roubava o folego.

Doía... Doía pensar no que ela sofreu, doía pensar no quão sozinha ela deve ter se sentido, doía pensar no quão covarde eu fui.

— Me desculpe mãe... – solucei e não tentei impedir minhas lagrimas.

Eu a abandonei a tantos anos, antes mesmo de ela morrer, todas ás vezes em que ela me ligava para me pedir para ir ao hospital e eu dizia alguma desculpa.

Eu não merecia ser sua filha.

Ela fez tanto por mim e o que eu fiz em troca?

Eu a odiei.

Eu a odiei por me abandonar. Por me deixar sozinha, por ir embora tão cedo, por não estar presente quando eu mais precisei dela.

E eu me odeio por isso.

Odeio-me por odiá-la.

Ela nunca mereceu isso, nunca mereceu se tornar uma viúva tão cedo e ter que se matar de trabalhar para sustentar a filha, nunca mereceu ter que enfrentar essa doença e ainda ser abandonada pelo próprio marido e pela filha e enteados.

O que ela mais merecia era ser amada e nós nunca demos isso a ela.

— Eu não mereço seu perdão – murmurei tocando a foto na lapide com seu rosto sorridente e feliz. – Mas eu... – solucei e fechei os olhos com força. - Eu vou me juntar a você muito em breve e vou implorar de joelhos a você.

Eu nunca mereci o perdão de ninguém.

Sabia disso com cada fibra do meu ser.

Não havia a mínima chance de Alice ou Emm me perdoarem e mesmo que eles o fizessem quando descobrissem que estou doente, seria por pena ou culpa.

“Eu nunca vou contar a verdade a eles.” Abri os olhos e olhei novamente para a lápide.

— Me espere, tudo bem?

Levantei-me do chão e olhei uma ultima vez para o tumulo antes de me virar e ir embora.

Não podia mais ser covarde e fugir disso.

Tinha que enfrentar Emmett e Alice de uma vez por todas, mesmo que fosse uma única vez, mesmo que eles me mandassem embora e nunca mais quisessem me ver, mesmo assim eu tinha que ir.

Eu precisava me despedir.


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Notas finais do capítulo

Edward apareceu e nem ficou 2 segundos rsrs Mas não se fiquem com raiva dele pq tem um motivo pra ele ser assim com Bella
Mas... O que estão achando?
Façam essa autora feliz e comentem ;)
Até o próximo cap!