Like a Vampire 4: Endgame Volume 2 escrita por NicNight


Capítulo 13
Capítulo 12 - A descoberta final




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Narração Anna

Entre muitas coisas que agitam um lugar, pelas minhas experiências, algumas acabam sendo mais marcantes do que outras.

Por algum motivo, gravidezes sempre ganham o troféu. No sentido de que, se alguém estiver literalmente morrendo, a gravidez vai ser o assunto mais falado. Não acho que isso seja necessariamente algo negativo. Deve ser parte da natureza humana querer discutir esse tipo de coisa, sei lá.

Isso aconteceu suficientemente na minha vida. Na verdade, se eu tivesse uma moeda pra cada vez que isso aconteceu, eu teria três. Não é muito, mas é estranho que tenha acontecido três vezes.

—Anna, você tá me escutando?! - Priya reclamou na minha frente, e foi só aí que percebi que estive encarando a parede branca durante o monólogo de cinco minutos da minha irmã.

—Hã, não? - Sugeri, sentindo minhas bochechas esquentarem um pouco.

Priya suspirou profundamente e se jogou no sofá ao meu lado:

—Não sei como você consegue ficar tão calma. Você é mais nova, não devia ser tipo... chorosa e tals?

—Todo mundo sabe que eu sempre fui a mais sensata de nós quatro, Priya. - Segurei de leve a risada quando ela franziu o cenho de forma reprovadora pra mim.

Era manhã do dia seguinte que Daayene acordou. Claro, entre nós estávamos suficientemente aliviadas pro nosso clima aliviar. Mas ainda assim não consegui dormir de noite, nem Priya. Por isso ficamos uma boa parte das horas aqui, literalmente falando sobre nada ou sobre coisas aleatórias.

De vez em quando Azusa passou por aqui, pra perguntar se eu estava bem e oferecer um lanche ou uma água. Isso me rendia boas reviradas de olhos vindas de Priya, que eram logo seguidas por alguma provocação.

Não que ele fosse o único. Yuma passou aqui, algumas vezes. Mas ficou entediado quando percebeu que não estávamos fazendo absolutamente nada. Brunna e Ruki passaram também, de manhã cedo, para oferecer café da manhã.

Kou passou uma vez, quando estávamos com Yuma, só que era pra irritar seu irmão mais velho.

Algumas outras pessoas passaram correndo. Vimos alguns médicos e criados, algumas Herbert e Sakamaki passaram conversando e nos cumprimentaram.

Claro, não tinha como ser diferente. Faziam algumas horas que Haruka havia simplesmente jogado a bomba de que Cousie estava grávida em cima de todos nós. E claro, a informação de que a Creedley mais velha tinha ido pra batalha com um filho na barriga podia até ser horrível…

Mas não era nem um pouco surpreendente, na minha opinião. Por todas as minhas interações com ela, se tinha alguém que faria esse tipo de coisa, era Cousie. Não que eu justificasse isso. Mas entre todos os erros que ela já cometeu, gosto de acreditar que esse tenha sido o menor.

—Se ela perder o bebê, você acha que eu devia falar com ela? - Priya questionou, como se lesse meus pensamentos.

—Acho que seria bom todo mundo falar com ela, se esse for o caso. - Respondi, suavemente.

—Não nesse sentido.- Priya me olhou - Ano passado, quando ela não estava grávida de verdade, eu tentei conversar com ela. Mas agora é diferente, talvez seja uma coisa que… que eu possa ajudar.

—Priya…

—É sério! - Priya estava quase sussurrando - Eu sei que entre nós a gente gosta de fingir que nada disso aconteceu, mas todo mundo sabe que eu passei por isso. Não deve ser… muito estranho, eu falar com ela sobre isso.

—Priya, você ficou grávida por dois meses. - Retruquei com delicadeza.

—Bem, não muda a experiência. - Priya deu de ombros - Tá, não sei, desculpa. Eu tenho medo de ir falar com a Cousie.

—Todos nós temos. - Sussurrei.

Priya deu um leve sorriso na minha direção. Eu o retribuí.

Por incrível que pareça, Priya e eu saímos bem inteiras da batalha dos profetas. O que era justo, considerando que estávamos usando armas de longa distância. Mas ainda assim, uma pequena vitória nossa.

—Bom…dia…- Ouvi a voz de Azusa nos cumprimentar.

—Bom dia, Zuzs! - Priya cumprimentou de volta, claramente perdendo seu brilho melancólico de antes.

Não o cumprimentei, mas ele sentou no braço do sofá ao meu lado e eu acenei pra ele.

—Tomaram caf..é?

—Ah, na verdade sim. A Brunna e o Ruki trouxeram chá e bolo pra gente. - Respondi.

—O Ruki disse não ter trago café porque só ia piorar o nosso estresse. - Priya completou.

Ruki era um cara muito sábio de vez em quando.

Nossa conversa foi interrompida por vozes altas vindo da escadaria.

—Priya! Anna! Ah, e Azusa também, aparentemente. - Yuma pigarreou - Temos pelo menos uma boa notícia pra vocês hoje!

Nós olhamos pro topo da escadaria, completamente confusos até Kou puxar levemente pelo braço uma Daayene.

Eu e Priya nos levantamos instantaneamente, e Azusa foi logo depois.

Daayene estava usando uma espécie de robe bege que quase mesclaria com a sua pele, se ela não estivesse cheia de pontos avermelhados e beirando à carne viva em algumas partes. Seus olhos estavam totalmente cobertos por óculos escuros e redondos, e seu rosto ainda era cheio de cicatrizes nos lábios, nariz e orelhas. Sua careca estava coberta por um grande lenço preto.

Ela segurou o corrimão com cuidado, descendo lentamente as escadas amparada pelos rapazes.

Com a ajuda de Yuma e Kou, Daayene foi sentada no sofá. Daayene retrucou:

—Vocês sabem que eu consigo andar, né?

—Muito divertido saber que nem um encontro com a morte segura sua língua. – Yuma semicerrou os olhos pra garota.

Daayene deu o que parecia o começo de um sorriso, e me deixei respirar fundo pela primeira vez.

—Você ainda sente dor? - Me preocupei, tentando estender a mão pra ela.

Quando eu ando. - Daayene respondeu, apontando pra suas costelas. - De vez em quando, quando eu respiro. Mas ainda é melhor do que antes. Só não sei quando foi a última vez que eu comi.

Realmente. Devia fazer pelo menos uma semana que Daayene não comia alguma coisa sólida que a pudesse sustentar. Isso explicava sua forma esquelética, com os ossos aparecendo por baixo da sua pele.

É bem melhor te ver viva do que presa naquela cama! - Yuma quase que celebrou - Logo logo você vai estar bem e normal!

Daayene claramente cerrou as sobrancelhas, que ficaram meio cobertas pelo grande óculos.

Os óculos... Combinam com você. - Azusa comentou, apontando pros próprios olhos.

Minha irmã levemente deslizou os olhos pra ponta do nariz, revelando que um dos seus orbes estava opaca, quase leitosa. A outra estava com a pupila mexendo loucamente, apesar de pequena.

Ela soltou um gemido de dor, e rapidamente Priya deslizou seus óculos de volta pro lugar:

—Cuidado, você não pode piorar mais ainda sua visão!

Daayene levemente grunhiu:

—Eu não posso fazer muita coisa, agora.

Dei um sorrisinho empático pra minha irmã mais velha, mesmo sabendo que ela não conseguiria ver muito.

Kou também fez o mesmo, colocando a mão no ombro de Daayene.

/////

—É um desastre!- Brunna chegou reclamando, e congelou quando viu Daayene- Ah! Daay! Eu não... Sabia que ia poder descer hoje!

Daayene se virou na direção da voz da nossa irmã:

—Ah. É, meu médico me liberou, se eu jurasse ter cuidado. - Ela deu um sorriso meio delicado - E agora estamos aqui.

—Ah, claro, claro! - Brunna suspirou, claramente aliviada. - Me deixa...muito feliz, isso.

Brunna foi até nós, se sentando levemente tensa ao meu lado, estendendo a mão e encostando levemente nos dedos de Daayene.

Se assustando, Daayene hesitantemente entrelaçou seus dedos magros nos da nossa irmã.

—O que é um desastre? - Kou questionou.

Brunna se assustou:

—Hm?

—Você chegou reclamando que algo era um desastre.

Brunna ficou levemente avermelhada:

—Ah. Não era nada demais. Exagero meu.

Seu olhar rápido na direção de Daayene dava uma mensagem bem clara: Não quero falar sobre isso.

—Você não chegaria falando que é um desastre por nada. – Yuma respondeu.

—Brunna, você sabe que pode falar de tudo pra gente, né? – Daayene virou a cabeça na direção dela.

Nossa irmã levemente arregalou os olhos azuis, parecendo hesitante.

—Ah, aí está você. – Ouvi a voz de Ruki – Sabia que não podia ter ido muito longe.

—Que bom que chegou, irmão. Estávamos convencendo sua noiva a fofocar pra gente. – Kou sorriu.

—Fofocar? – Ruki desceu as escadas e ficou ao lado de Brunna – Sobre o que?

—Sei lá, ela que chegou falando que algo foi um desastre. – Yuma retrucou.

—Brunna... parece... que precisa de aju...da. – Azusa concordou.

—Ah, isso. – Ruki pareceu entender rapidamente do assunto.

—Viu, até o Azusa notou que algo tá errado! E eu notei, mesmo sendo cega! – Daayene retrucou – Quase cega, mas enfim.

Brunna e Ruki trocaram um olhar, como se comunicassem um com o outro através da mente.

—A escolha é toda sua de contar. – Ruki respondeu.

—Tá bom, tá bom. - Brunna respirou fundo. - Mas não digam que eu não avisei: é idiota!

—Não vamos saber se é idiota mesmo até você explicar...- Falei baixo.

—Eu não tô conseguindo falar com a Tia Yoko. - Brunna falou rápido, num fôlego só.

Priya ajeitou sua postura ao meu lado:

—Falar... O que, exatamente?

Brunna estava claramente sem fôlego, e foi aí que Ruki se inseriu na conversa:

—Desde que aquilo... Tudo aconteceu, eu e Brunna estamos tentando desmarcar o casamento. Claro, como a Yoko foi nossa única convidada de fora da Patrulha, era a única que a gente tinha que informar que não ia mais ter casamento.

—Mas ela não responde!- Brunna o interrompeu- Eu mandei mensagem, email, carta! Tudo! Se dependesse de mim, até mensagem por fumaça eu mandava! Agora eu não sei o que fazer!

Brunna falou tudo tão rápido que no final da frase estava esbaforida.

—Entendi. - Pigarreei - Mas o que isso significa? Que ela vai chegar e vamos ter que falar que não vai ter mais casório?

—A gente pode, sei lá, fazer um almoço. Não é tão grave assim. - Yuma deu de ombros.

—Não, o problema não é esse! O problema é que ela vai chegar. E ponto. E... Olha! - Brunna gesticulou ao redor - Olha isso!

Olhei ao redor, tentando fazer sentido das palavras da minha irmã.

—Olha o estado dessa Patrulha! Ninguém aqui tem a obrigação de... De lidar com os meus problemas, que eu criei!

Percebi que eu nunca havia visto Brunna desse jeito. Pupilas dilatadas, suada e claramente vermelha de nervoso.

—Brunna...- Ruki tentou a segurar pelos ombros.

—E a pior parte nem é essa! É que titia vai chegar aqui e eu nem vou poder explicar nada disso pra ela! - Brunna continuou - E tudo isso é culpa minha, porque nada disso estaria acontecendo se eu não tivesse marcado meu casamento! E eu não posso fazer nada pra corrigir isso!

Ruki finalmente a abraçou, fazendo Brunna finalmente respirar fundo.

Ela abaixou a cabeça, deixando um silêncio brutal pairar sob nós.

—E agora eu tô reclamando demais. Desculpa, eu nem... eu nem devia estar fazendo isso. - Percebi que a voz dela estava meio embargada - Eu só não sei o que fazer.

—Ei, não precisa pedir desculpa por nada. - Priya retrucou.

—Por que você não falou nada disso antes? - Daayene se virou lentamente na direção da nossa irmã mais velha.

—Porque... - Brunna finalmente nos olhou - Como eu posso reclamar disso com vocês? Não temos todos problemas muito maiores pra lidar? Eu sou tão minúscula que fico aqui, reclamando de coisas idiotas de um jeito idiota, mesmo com a Daay do meu lado!

—Não precisa se sentir culpada. Eu estou bem! - Daayene retrucou.

—Mas não tá! Você sumiu por meses, voltou e agora está totalmente debilitada! E o que eu faço? Absolutamente nada. Eu não consigo fazer nada. É tão... Idiota! E nada disso teria acontecido se não fosse por isso, talvez as meninas não teriam brigado com a gente. Talvez nem teriam feito o que fizeram com a Daay. Cara, talvez essa batalha inteira não teria acontecido.

Daayene travou, tentando encarar nossa irmã.

—Brunna. - Daayene tentou pegar a mão dela. - Não tem nada no mundo que eu queira mais do que a sua felicidade. Ok? O que aconteceu comigo... O que aconteceu com qualquer um aqui, pode ser culpa de muita gente, mas nunca vai ser sua. Eu não tô nem aí se as Herbert e as Creedley brigaram com você por causa do seu noivado, e com certeza não foi isso que fez elas planejarem me levar pros profetas.

Brunna soltou um breve soluço, e foi aí que eu percebi que ela estava segurando o choro.

—Vocês são minha família. Eu... Eu achei que eu nunca mais veria vocês, porque seria mais seguro. - Daayene continuou - Mas ei, tem algum motivo pra eu ainda estar viva mesmo agora, né?

Brunna concordou levemente com a cabeça.

—Brunna, eu de verdade não me importo com a Tia Yoko chegar. Ou com seu casamento ser cancelado ou rolar. Caralho, a gente tá no meio de uma guerra! Se tem uma coisa que eu acredito agora, depois de quase morrer, é que a gente tem que aproveitar a vida! - Daayene retrucou - Celebrar o amor, né?

Apertei de leve a mão do Azusa, sorrindo levemente pra ele.

—Eu não quero que vocês passem o resto do ano choramingando pelo que aconteceu comigo. Sério, já é deprimente o suficiente me olhar no espelho todo dia. Ou melhor, não me olhar.

Abafei uma leve risada.

—Se for pra cancelar seu casamento, que não seja por mim. E se for pra se sentir culpada, que não seja por algo que você claramente não tinha controle.

Brunna concordou de novo com a cabeça, dessa vez claramente chorando.

Daayene massageou sua boca:

—Ai, faz tempo que eu não falo tanto assim. Ah, por favor. Vem aqui.

Daayene abriu os braços, quase dando uma bofetada na cara de Kou. Brunna lentamente foi a abraçar.

—Só cuidado pra não me apertar. Minhas costelas mal sararam. - Daayene lentamente abraçou de volta nossa irmã.

Troquei um sorriso com Priya.

—E tudo está bem! - Kou cantarolou, depois de fingir não ter desviado do braço de Daayene - Como fica sempre, eu acho.

Ouvimos um barulho de susto vindo de Brunna:

—Ai meu Deus!

—O que... aconteceu? -Azusa se preocupou.

—Eu... Eu acabei de notar que a Daayene nunca vai me ver vestida de noiva! - Brunna voltou a choramingar - Meu Deus, eu sou a pior irmã do mundo!

—Eu não tô totalmente cega, sabia? Tenho certeza que você vai estar linda! - Daayene tentou sorrir - Apesar de que eu só vou poder identificar um borrão branco... O seu vestido é branco, né?

—Não incentive ela.- Yuma comentou entredentes.- Por favor.

Daayene fez um carinho de leve na cabeça de Brunna, que coçou os olhos marejados:

—Desculpa. Eu só... Eu só tô uma pilha de nervos e não sei o que fazer. Na verdade acho que eu nunca sei o que fazer. É meio triste, mas é verdade.

—Sabe o que a gente vai fazer? - Priya se levantou - Brunna, você vai se casar!

Brunna abriu a boca pra argumentar, mas foi rapidamente silenciada pela nossa irmã:

—Não, pode ficar quietinha! Olha, essa patrulha precisa de uma distração. Tá todo mundo nervoso, brigado, tenso, emotivo... E o que melhor pra unir uma nação do que muita música e álcool? Por favor, mais ênfase no álcool do que na música.

—...Desde quando você quer unir a patrulha? - Questionei.

—Ah, qual é. Você faz eu parecer uma megera. Eu posso... Não ser muito simpática com algumas pessoas daqui, considerando que briguei com metade delas e ainda me demiti de um cargo político na frente da própria rainha... - Priya parou pra pensar - Mas a Daay tá certa, os pombinhos tem que aproveitar seus momentos! Pode ser que, sei lá, alguém morra amanhã!

Franzi os olhos pra ela. Brunna a encarou meio mortificada.

—Não que eu queira que alguém morra, né! Mas vocês me entenderam! Se tem alguma oportunidade pra gente descansar antes de enfrentar qualquer coisa e da gente poder ter um minuto de paz, essa oportunidade é o seu casamento! - Priya comemorou - Além disso, você quer jeito melhor de mandar o KarlHeinz se fuder do que provar pra ele que o amor de vocês é mais forte do que qualquer plano mirabolante que ele pensou em criar?

—Pensando por esse lado...- Ruki hesitou.

—Você tem motivações muito puras e ao mesmo tempo muito raivosas. - Yuma retrucou.

—Claro. É assim que as melhores pessoas são. - Priya deu de ombros - Bruninha, pra qual dia você marcou seu casório?

—De acordo com minhas contas... Semana que vem? - Brunna a encarou com medo.

—O QUE? - Kou engasgou.

—Eu falei que era um desastre! - Brunna rapidamente se explicou.

—Eu achei que era um desastre de um mês, não de uma semana! - Priya retrucou.

—Bem... Eu marquei com quase um ano de antecedência... E na minha cabeça estava tudo bem resolvido já que a gente ia se mudar.... - Brunna ficou rapidamente vermelha - Ai, não me olhem assim, eu já me sinto mal o suficiente!

—Ok. Ok. - Priya respirou fundo - Temos um casamento inteiro pra planejar em uma semana, nos preparar pra chegada da Tua Yoko e convencer a Patrulha toda a apoiar nossas decisões de vida. Em poucos dias. Tranquilo.

—E esperar pra que não rolê mais nenhum ataque surpresa. - Eu respondi.

—É. Tem isso. - Brunna concordou comigo. - Tá vendo? Agora eu estressei todo mundo!

—Ei, ei, calma aí Bridezilla, a gente vai dar um jeito! - Daayene brincou. Uma imagem bem inovadora considerando seu exterior acabado. - Como uma das pessoas mais ferradas da Patrulha, eu apoio a decisão e me voluntario pra convencer os outros. Eles não vão saber dizer não pra mim.

—Não vão saber dizer não pra você porque todo mundo se sente culpado de ter planejado sua venda aos profetas? - Yuma questionou.

—Não era pra eu ser vendida... Mas é basicamente isso mesmo! - Daayene sorriu - Eles me devem uma. Ou melhor, várias. Tenho certeza que vão saber lidar com isso.

—Parece justo. - Ruki então se virou pra Brunna - E você?

Brunna respirou fundo:

—Olha, eu amo muito a nossa família e até meio que amo essa patrulha apesar de tudo. Eu só... Eu só não quero ser responsável de mais nada ruim que aconteça com ninguém. Não vou saber lidar com isso.

—Ei, ninguém vai te responsabilizar por nada. – Priya respondeu – Você sabe que se alguém ousar jogar a culpa pro seu lado, eu não vou deixar, né?

—Nem eu! – Yuma concordou.

—Nem...eu. – Azusa falou baixo, o que me fez dar uma pequena risada.

—No fim das contas, acho que você nem precisava se preocupar, meu amor. – Ruki olhou pra Brunna. – Você tem claramente uma horda de cavaleiros ao seu dispor.

Brunna deu uma leve risada de novo, coçando seus olhos.

—E... se o resto da patrulha não quiser ajudar pelos motivos deles, tá tudo bem. – Brunna respondeu – Só de ter vocês eu já fico feliz.

—Menos a Sofie. Ela é obrigada a participar, esteja ela querendo ou não. – Daayene respondeu.

Brunna pareceu cogitar:

—É. Pode ser.

—Então se formos fazer isso mesmo, temos um longo caminho pra percorrer. Daayene e Brunna não podem fazer esforço físico, então sobrou pro resto de nós. – Priya apontou pra si mesma, os meninos e eu. – Além disso, temos MUITO trabalho pra fazer.

—Eu posso cuidar da decoração! E da música! – Kou pareceu alegre.

—Por favor, não. – Yuma bufou.

—Você acha que você dá conta da comida, Yuma? – Sugeri – A Sarah também pode ajudar, se ela aceitar a tarefa... E o Reijii também cozinha bem.

—Eu também posso ajudar nessa parte. – Ruki se ofereceu – Não é porque eu sou o noivo que não preciso trabalhar.

—Ótimo! – Priya foi saindo – Corte do casamento, eu preciso de uma divisão de trabalhos bem certeira, e ainda precisamos conversar com os outros. Hoje. Então a gente podia...

A voz de Priya foi se perdendo.

—Pra onde diabos ela foi? – Daayene questionou.

—Sei lá. Mas acho que devíamos ir, se não quisermos que ela brigue com a gente por deixarmos ela falando sozinha. – Brunna opinou.

—Por que essa mulher tem que ser tão complicada... – Yuma resmungou.

Ruki ajudou Brunna a se levantar, e Yuma e Kou ajudaram Daayene.

—Vocês vêm? – Ruki perguntou.

—Ah, sim. – Olhei pra bagunça de papel e louças sujas ao meu redor. – Só acho melhor a...arrumar isso aqui primeiro.

Ruki concordou com a cabeça.

Lentamente, os 5 foram saindo na direção aleatória onde Priya havia ido.

—Priya...parece animada... – Azusa opinou.

—Ela gosta de estar no controle de situações. Acho que organização é o... lugar perfeito pra ela.

Ficamos em silêncio por um momento. Eu deixei minha cabeça cair pra trás, pensativa sobre os últimos dias.

—Você... Parece confusa. - Azusa comentou, segurando minha mão.

—É... É porque eu estou, eu acho. - Respondi sinceramente. - Tudo anda correndo tão rápido que eu fico pensando, sei lá... Pra onde estamos indo? Qual o objetivo de tudo isso.

—Acho que isso varia... De pessoa pra pessoa. - Azusa concluiu. Eu dei um longo suspiro como resposta.

—Eu queria conseguir fazer alguma coisa. Qual...qualquer coisa. - Sussurrei pra ele - Parece que todos tem uma função fixa aqui, e eu fico meio que na guarda esperando alguma coisa vagar. O que não é... Ruim. Mas é estranho, não conseguir ajudar muito.

O encarei, meio com vergonha:

—Eu acho que não achei esse meu tal "objetivo" que todo mundo tem. Sei lá. Meio doido.

Azusa concordou levemente com a cabeça:

—Não que você é doida... Mas é normal... Pelo menos seu desti...no não é sel...selado por profecia, nem nada.

Eu relaxei no sofá, mas assim que raciocinei o que Azusa havia falado, eu me tensionei de novo:

—QUÊ?!

Azusa se assustou do meu lado.

Percebi que havia gritado, e cobri minha boca assustada e completamente vermelha.

—Eu disse....alg...o errado...?- Azusa teve dificuldade de falar.

—Não! Meu Deus, não! - Senti minhas bochechas ficarem mais quentes - É só que... Sei lá, eu tive uma epifania.

Senti meu cenho se franzindo, me sentindo um pouco estranha.

—Profecia! - Exclamei de novo - É exatamente isso, profecia!

—Não... Entendi...

—Eve! - Me virei pra ele - Não eu, claro. Mas sabe, o conc..conceito. A profecia! Eu meio que estou... Incluída nela.

—É verd...ade. Mas vai sempre ser a...minha...Eve.- Azusa sorriu.

Dei um leve sorriso:

—Muito agradecida. Mas... Sei lá. É estranho, né? Porque...tipo, a Daay. E os profetas. E a Marie. E a profeta que veio aqui na Patrulha. E a... a velha que me seguia. Tudo profeta. E provavelmente tudo morto. Quer dizer! Não a Daay e a Marie, graças a Deus. Mas, tipo...

Azusa pareceu estar tentando acompanhar minha linha de raciocínio.

—Desculpa, nada do que eu falei fez sentido. - Hesitei, sentindo minha boca tremer.

—No seu...tempo.

—É só que a gente tem a profecia da Eve. - Tentei explicar pra ele - Ventre não dom...dominado, sei lá o que e sei lá o que. Aí tem aquela moça que me seguia... O que ela dizia?

Estalei meus dedos, e a voz daquela velha que me seguiu durante o festival ressoava nos meus ouvidos.

"Chegará uma hora que se verá numa encruzilhada. Uma descoberta importante sobre alguém terá de ser feita. E você será a que deve descobrir."

Senti uma leve estremecida.

—Você não acha que... Que Daay ou Marie sabem de algo sobre Eve, não é?

—Não...teria como saber...- Azusa retrucou.

—Ou talvez não teria como contarem pra gente. - Eu respondi, dessa vez tomando cuidado pra falar mais baixo. - Você sabe o que a Daay falou, "quanto mais se foge da profecia, mais se entra nela". Talvez não seja questão de entender com magia, mas sim com lógica.

Azusa me encarou, sua heterocromia me deixando levemente desconcertada.

—Fez sentido, né? - Questionei, mais com vergonha.

—Fez...mas como sabermos disso? - Azusa questionou.

—Bem. Todo mundo diz que as opções são Sofie, Nikki, Lua, e... bem, eu. - Dei de ombros - Não gosto muito da conclusão... conclusão geral de só basearmos isso em virgindade. Mas deve haver algum jeito de descobrir isso de forma lógica.

Percebi Azusa franzir o cenho.

—Eu...eu falei algo de errado?

—Nikki e Sofie... Mudaram o cheiro.- Azusa explicou.

—Cheiro?

—Isso acontece quando a pessoa....quando a pessoa... - Azusa pigarreou - Quando ela...ela não é mais virgem.

—Ah! - Arregalei os olhos - Mas, então, elas...

Azusa deu de ombros.

—Isso significa que elas não...

Ele deu de ombros de novo.

Arregalei os olhos mais ainda, minhas mãos travando:

—Então, se essa for a linha de raciocínio, só sobra eu e a....

Azusa concordou levemente com a cabeça.

A voz da profeta voltou a ressoar na minha cabeça:

"Só você conseguirá descobrir. Só você".

—Azusa...- Eu me senti ficar sem fôlego - Azusa, eu acho que eu...

As palavras ficaram presas na minha garganta.

"Para ir pra frente, você precisa ir para trás." - a profeta havia me dito numa noite dentro da Mansão Sakamaki.

—Eu...- Tentei começar a falar, meu corpo hiperventilando - Eu acho que eu descobri.

Eu precisava lembrar do passado para descobrir o futuro.

Azusa segurou na minha mão, quase como se quisesse me apoiar.

—PESSOAL! - Ouvi a voz estridente de Priya quase rasgar meus tímpanos pelo outro lado da patrulha - Será que dá pros dois aí pararem de ir namorar e vir me ajudar? Eu não quero dar a notícia pra Nikki sozinha, vai que ela me fuzila na cara!

—O fuzil não tá com voc...- Ouvi Kou começar.

—Não é essa a questão! - Priya brigou de novo - E ainda tem as Creedley... Que são as Creedley! Enfim! Venham!

O encarei, meus olhos levemente trêmulos.

—Isso... Isso fica entre nós, né? - Comentei.

—Eu guar...do o segr...edo que você quiser...- Azusa murmurou- Anna.

—Não sabemos o que pode acontecer se falarmos isso para o pessoal. - Me levantei devagar - A gente pode piorar a situação... Ou pior, matar alguém.

Azusa segurou na minha mão de novo, dessa vez.

—Acho...que temos que esperar a lua vermelha. - Azusa comentou.

—Lua vermelha? - Questionei baixo.

—Apa...rece na profecia. Última noite de...lua vermelha da década. - Azusa sussurrou - É a noite que as raças mágicas alcançam seu poder máxim...o e se tornam mais agres... sivos. Todos. Vampiros... lobisomens...feiticeiros... demônios... Puros ou não.

—E a Eve se revelaria nessa noite.- Percebi - Precisamos descobrir quando vai dar uma lua vermelha. Podemos não...não interferir. Mas se a gente estiver... Presente. Acho que podemos servir de algo.

Como eu podia me lembrar do passado?

Mas eu ainda acho que vou ter que ter uma conversinha com a minha irmã.

—GENTE?- Priya chamou de novo.

—Estamos indo! - Respondi alto, meio hesitante.

Com medo, segurei na mão de Azusa e fomos juntos na direção da minha família.


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