Like a Vampire 4: Endgame Volume 2 escrita por NicNight


Capítulo 12
Capítulo 11 - Forte confiança




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Narração Sarah

Eu acordei, bem literalmente, berrando.

Era como se tivessem enfiado uma faca no meu peito, e depois arrastado ela até que cortasse minha barriga inteira ao meio. Sentia o sangue escorrendo pelo meu peito todo, meus olhos encharcados de lágrimas.

E quando eu me levantei desesperada, percebi que estava no meu quarto.

Na patrulha. Com passarinhos cantando do lado de fora, até.

Arfando, finalmente notei como eu estava suada. Meu cabelo estava encharcado.

Meu coração estava disparado como se eu tivesse corrido uma maratona.

—Tá tudo certo? – Ouvi uma voz ao meu lado, e gritei de novo.

Foi aí que eu me lembrei que eu dividia quarto com o Kanato.

O encarei assustada, e percebi que ele me olhava com uma careta:

—...Vou levar isso como um “não”.

Ele apertou o ursinho de pelúcia nas suas mãos.

—Me desculpa. – Eu engoli em seco – Eu só... tive um...

—Pesadelo. Eu sei. – Kanato pegou a garrafinha de água que eu deixava na nossa mesa de canto e me entregou – Sah-chan. É o quinto da semana, e estamos na terça.

Bebi um gole de água, tentando me acalmar.

—Você anda muito nervosa desde a batalha. Mais nervosa do que eu.

Concordei com a cabeça.

—Não era pra você concordar. – Kanato murmurou.

Faziam poucos dias desde a nossa incrível e fabulosa batalha com os profetas. Quatro, no máximo, apesar de eu já ter perdido a conta.

Não significava que o tempo passando deixavam os acontecimentos menos vividos na minha cabeça. Se eu tinha a habilidade de me lembrar de cada dia desde os meus 12 anos, imagina algo como aquilo.

Era como se eu tivesse passado pelo inferno. Tomei um banho de água quente pra tirar todo o sangue do meu corpo, e me esfreguei tanto que quase machuquei a minha pele.

Pelo menos, eu estava quase intacta, sem muitas feridas. Mas... o mesmo não podia ser dito de outras pessoas ao meu redor.

E Daayene, por Deus. Eu estava tão aflita com o estado da Hudison que às vezes sentia que meu cabelo ficaria tão branco quanto o da minha irmã, só de estresse.

Era mais do que só ela estar... bem, entre a vida e a morte. Existia algo de brutal no seu estado, no jeito que chegou.

O seu desespero e cansaço. Era...

Era familiar demais pra mim.

Kanato tirou a garrafa de água da minha mão, e foi aí que notei que eu tinha esvaziado ela.

—Devia tomar algo quente, pra aproveitar o fim do frio. – Kanato comentou – E seu chocolate quente é a coisa mais gostosa que eu já tomei.

Dei um sorrisinho.

—E sei lá, conversar com alguém sobre algo diferente. – Ele parecia hesitante. – Pra te ajudar a espairar.

—Quem diria que você seria o que me dá os conselhos aqui? – Dei uma risadinha.

—Ah, você que me fala essas coisas. – Kanato deu de ombros.

Não pude evitar, dei um selinho demorado no garoto de cabelos lilases.

Kanato era quase a minha âncora no meio de tanto caos. O que era meio louco, considerando que ele não era lá tão mais relaxado do que eu.

Mas acho que, com o passar do tempo, dá pra perceber que duas pessoas completamente fudidas da cabeça conseguem entender e se amar tão puramente quanto duas pessoas... normais.

Apesar de que, parando pra pensar, não existia nenhum casal formado por duas pessoas normais naquela patrulha.

Kanato me encarava com seus olhos grandes, e eu tirei uma das suas mãos do ursinho (Teddy II, batizado por mim mesma, sua mãe.) pra beijá-la:

—Vou tomar um banho primeiro.

Kanato me encarou:

—Tá.

Eu me levantei, finalmente saindo debaixo do cobertor. Quando eu cheguei na porta, me virei pra ele:

—Você não quer... me acompanhar?

Ele me encarou, completamente assustado.

—Oi?!

—No banho, Kanato. Me acompanhar no banho.

—Por que eu faria isso?!

—Ah, pelo amor de Deus, é só um banho! Sabe, que envolve xampu, condicionador e sabonete. Além disso, a gente já fez coisa muito pior, né?!

—Não fala tão alto! O Ayato dorme no quarto do lado!

—Devia ter se preocupado com isso nas últimas noites! Além disso, nós dois sabemos que os dois lá do outro lado não se preocupam muito com esse fat...

—Cala a boca! Eu já vou, pode ir primeiro! – Kanato me interrompeu.

Eu ri com um leve ar de vitória, antes de fechar a porta do banheiro e ir feliz pro meu banho.

No final das contas, até eu conseguia ter um arco-íris no final do temporal.

Meu skincare e banho matinais passaram num piscar de olhos, e eu já me preparava pro caos que me encontraria do lado de fora do meu santuário.

No caso, o santuário era meu próprio quarto.

Depois de terminar de passar creme na minha pele e me despedir do meu namorado, respirei fundo e abri a porta, me dando direto pro corredor.

Eu andei rapidamente pelo piso de pedra e depois pelas escadas, buscando algum sinal de vida.

Quando o achei... meio que queria não ter procurado tão bem.

Abaixei a cabeça quando eu vi o resto das Hudison e os Mukami sentados no corredor.

Brunna recebeu a ajuda de um criado pra se apoiar numa cadeira, e foi aí que percebi que seu tronco estava totalmente enfaixado. Ruki estava ao seu lado, passando a mão no cabelo loiro.

Anna estava com a cabeça no ombro de Azusa, os dois em silêncio, parecendo se comunicar por telepatia.

Enquanto isso, Priya estava com o rosto pra parede, claramente cansada e chorosa. Ao lado dela, estavam ambos Yuma e Kou.

Um de cada lado.

—Er... bom dia! – Tentei falar de um jeito pelo menos um pouco mais animado.

Ficamos alguns segundos em silêncio constrangedor, antes da Anna o quebrar:

—Bom... bom dia, Sarah.

Dei um leve sorrisinho pra ela.

—É, desculpa a pergunta, mas eu acabei de acordar, então... tem alguma notícia?

Apontei pra porta, onde eu sabia que costumava ser o quarto de Daayene antes... antes de tudo.

—O médico está otimista. – Brunna explicou, calmamente – Não sabemos qual o estado dela de debilitação, mas pelo menos parece que não está mais...

—No corredor da morte. – Priya completou.

—Ah, isso... isso é bom, né? – Tentei dar um sorriso.

—Bom, com aquela aparência dela, não sei se consideraria “bom”. – Yuma retrucou.

—Yuma. – Ruki o repreendeu.

—O que foi? Todo mundo viu como a Daayene estava, é fato de que ela não está bem, mesmo não estando quase morrendo! – Yuma comentou.

—Claro que sabemos disso. Mas é indelicado falar disso na frente das meninas. – Ruki suspirou.

Ruki apontou com a cabeça pras três irmãs, que agora encaravam o moreno.

—Tá. Desculpa, foi mal.

—Yuma... grosseiro. – Azusa reclamou.

—Ah, qual foi, até você? – Yuma brigou.

—Todos os seus irmãos brigaram com você, então eu considero isso uma derrota fatal. – Priya falou, meio murmurando.

—Não todos... – Yuma encarou Kou – Ei, qual foi? Não me xingou até agora.

—O mundo não gira ao seu redor, Yuma. – Kou retrucou.

Percebi Anna levemente segurando o riso, e sorri de leve:

—Bem, eu acho melhor eu ir antes que sobre pra mim. Fiquem bem e... avisem caso alguma coisa mude.

Quando eu estava indo embora, ouvi Kou retrucar:

—Agora até a Herbert te achou estranho e chato.

—A gente sequestrou elas, acho que ela já achava a gente estranho desde antes. – Yuma bufou.

—Verd...ade. – Azusa concordou.

—Será que dá pra gente esperar o relatório do médico em silêncio? – Ruki perguntou.

—Eles conversam quando estão ansiosos, coitados. – Brunna comentou.

—QUE ANSIOSO O... – Yuma brigou.

—Yuma, se você não calar a boca eu vou te socar. – Ouvi Priya brigando.

Fiquei feliz, pelo menos eles pareciam melhores... na medida do possível.

Desci até a cozinha, tentando ignorar a área externa visível pela janela. Completamente destruída.

Senti cheiro de massa assando, e corri mais ainda.

Me assustei quando vi Eliza na cozinha, arrumando uma cesta de biscoitos.

—Achei que esse tipo de coisa ficava pras suas criadas. – Comentei, e ela se assustou.

—Ah, Sarah! Bom dia, aceita um biscoito?

—Bom dia. Se você tá ofertando, quem sou eu pra recusar?

Fui até ela e peguei um biscoito. Quase derreti quando percebi que ainda estava quentinho.

—Gostoso?

—Maravilhoso! – Respondi – Não sabia que sabia cozinhar.

—Bem, eu não fui da realeza minha vida toda. – Eliza deu de ombros, e percebi que ao seu lado ainda haviam todo tipo de gostosura. – E na minha adolescência, eu ficava muito mais com as criadas do castelo. Adorava ficar na cozinha, porque sobrava comida extra pra mim e era mais arejado do que o quarto que me colocaram.

—Sua amizade valeu a pena! – Comentei, meio rindo com a comida – Mas pra que essa ceia logo de manhã? Alguma ocasião especial? O Shin vai te pedir em casamento?

Eliza corou de leve:

—Er, a gente já passou desse estágio a uns anos. Mas eu pensei em fazer um lanche pras Hudison.

A olhei confusa.

—Sabe, esses últimos dias foram bem difíceis pra elas, principalmente. Eu me sinto mal por não poder me ajudar, especialmente... – Eliza suspirou – Especialmente com a Daayene. Acho que acabei criando um afeto por ela.

Dei um tapinha no seu ombro:

—Ei, é normal. Acho que todo mundo sente culpa pela Daayene, porque é meio difícil olhar pra situação dela e não pensar “caralho, nunca devia ter concordado com essa maluquice”.

Eliza se assustou um pouco com o meu palavreado.

—Mas vai por mim, eu já me culpei de muita coisa nessa vida. E de vez em quando... não vale a pena se dominar por isso. O que mais você pode fazer além de pedir desculpas.

—Acho que não é só isso. – Eliza admitiu, pegando um pão da sua cesta e comendo. – A minha família... você ficaria assustada vendo como é fazer parte dela. Nós fomos criadas de um jeito um pouco diferente, e acho que eu me sinto mal vendo como eu sou diferente de todo mundo. Não de um jeito divertido, sabe.

A olhei confusa.

—É como se eu estivesse traindo a minha família falando disso, mas... Eu sei lá, é como se eu só conseguisse me sentir bem perto de pessoas que não são as minhas irmãs. Eu passei uma boa parte da minha vida buscando amor e família, sabe?

—Você acha que finge ser alguém perto da sua família?

—Não é bem isso. É mais tipo... como se eu fosse menos importante? Tenho objetivos diferentes, sou muito mais carinhosa, é difícil não se sentir de lado.

—Eliza, ser amorosa e carinhosa não são coisas bem negativas, sabe? Eu acho que suas irmãs te amam sim, talvez só não sejam corajosas o suficiente pra mostrar afeto. Eu pessoalmente acredito que até nas piores brigas existem restos de afeto. Olha pra mim, eu caí na porrada com a Sofie, e hoje somos unidas!

Eliza deu uma risadinha.

—Não foi o melhor exemplo, eu sei. Mas ei, o que você pode ter feito pras suas irmãs que foi pior do que eu fiz pra minha família? No fim do dia, a gente se perdoa e se ama do mesmo jeito. É uma relação meio estranha, mas eu acho que isso só mostra como nossas relações são especiais, sabe? – Eu comentei – Então se eu pudesse te dar um conselho, seria: Seja você mesma e nunca esconda o que sente. E dois, tenha a coragem de dar o primeiro passo às vezes. Mostrar amor nunca é demais.

—...Isso é mais de um conselho.

—Ah. Verdade. – Percebi – Enfim, o que vale é o conceito.

Eliza riu.

—Minha mãe falava que amor cura qualquer ferida. – Eu mostrei meu colar pra isso – O que é mentira, porque amor não cura nada. Mas eu te garanto que ajuda muito no processo. Se não fosse pelas pessoas ao meu redor, eu ainda estaria fingindo ser outra pessoa. Que nem eu fiz, por muito tempo.

—Fico feliz que tenha se mostrado, a Sarah de verdade é legal.

—Bem mais legal do que as outras duas, eu te garanto. Sabia que antes de ser emo eu tinha estilo lol...

—Sarah, acho que seria bom eu te contar algo sobre minha família.

Me assustei.

—Eu devia estar preocupada, buscando fofoca, ou...?

—É sobre a Cousie. Ela não quer que saibam, mas....

—ELIZABETH! – Ouvi uma voz feminina.

Percebi Haruka na porta.

—Haruka! Eu já te falei 500 vezes que é só Eliza... – Eliza ficou levemente avermelhada.

—É a Cousie! – Haruka disse com urgência, parecendo preocupada.

Percebi que Eliza arregalou os olhos, antes de ir imediatamente até a irmã mais nova.

Antes dela sumir, me deu uma olhada claramente buscando conforto.

—Eu tenho quase certeza que o segredo que você ia me contar dura mais dez minutos. – Sorri levemente – Vá para a luz, Elizabeth!

Ela dessa vez estava confusa, abrindo a boca pra reclamar.

—ELIZA! – Ouvi a voz de Haruka, mais irritada – Você quer que eu te arraste pelas pernas?!

Dessa vez Eliza realmente seguiu a irmã mais nova.

Suspirei de leve. Quando meu estômago roncou, me lembrei que eu ainda não tinha comido nada.

Passei alguns minutos fazendo um chocolate quente pra mim, e comi alguns biscoitos de chocolate que ainda sobreviviam num pote da cozinha.

Quando acabei, lavei minha louça na água quente e decidi matar tempo andando pela patrulha, tentando acalmar meu coração ainda acelerado.

Cumprimentei alguns criados e soldados que passavam por mim, de cabeça baixa para mostrar respeito.

Como aqui é a Patrulha, claro que não tive mais do que alguns minutos de paz, e minha caminhada inocente foi interrompida.

—O que foi que você disse?! – Era uma voz masculina.

—Foi isso mesmo que você ouviu! – Uma voz feminina bem familiar retrucou.

Enfiei minha cabeça na esquina da parede, dando de cara com Kino e Mun brigando no fim do corredor.

—Eu, de verdade, não vou ficar aqui ouvindo você me destratar assim! – Kino brigou. – Eu sei lá quem foi que te deslumbrou com a vida vampira ou com a família real, mas eu espero que você se lembre de quem foi que te criou por doze anos!

—Você mentiu pra mim! – Mun brigou – Nunca me falou nada sobre o papai, ou sobre eu ser vampira! Você nem me deu a chance de aprender sobre isso!

—Eu fiz o que eu precisei fazer pra te proteger! Eu te dei minha vida! – Kino retrucou – Será que você não percebe que, diferente de todo mundo aqui, fui eu que atravessei mares atrás de você?

—Eu preferia que não tivesse vindo! Eu estava me divertindo bem mais antes de você chegar.

—Se divertindo como? Matando os outros? – Kino esbravejou- Você é uma criança, Mun! Se não acha preocupante que o seu passatempo é cortar umas gargantas, eu acho!

—Eu não mato qualquer um. – Mun retrucou, como se isso fosse melhorar a discussão. – Só os da minha lista.

—Lista? – Kino questionou, a mesma palavra que ecoou na minha cabeça.

—Lista de pessoas que erraram com a nossa família. São essas que eu mato. – Mun respondeu, claramente mais hesitante.

Kino abriu a boca, passando alguns segundos sem emitir som:

—Isso era pra melhorar a sua situação?! Você nem tem quinze anos ainda, devia estar... sei lá, na escola. Indo no cinema com seus amigos, assistindo Disney. Sei lá!

—Essa é sua vida, não a minha! – Mun brigou – Por que do nada você virou esse irmão mega protetor? A gente não era assim? Tudo mudou desde que só eu recebi o convite pra aquele festival, e você não!

—Claro, porque foi aí que você achou que seria uma ideia maravilhosa fugir de casa!

—Ou talvez porque você não aguente o fato de que o KarlHeinz me reconheceu como filha, mas decidiu ignorar sua existência! – Mun quase gritou – Você tem raiva de mim porque eu sou uma Sakamaki de verdade agora, e você só é um... um cara! Teve raiva de mim porque eu sou melhor em batalha, que nem um Sakamaki deveria ser! Você só não quer que eu seja melhor que você em nenhum jeito!

Kino estava chocado:

—É isso que você acha que eu sou?

—Eu tenho certeza! – Mun brigou – Desde criança, você fala sobre como nosso pai ia só aparecer e a gente ia viver no luxo. Que você ia achar quem matou a mamãe! No fundo, você só sabe que nunca vai ser um príncipe de verdade, e me odeia por causa disso!

Arregalei os olhos e tampei a boca.

Kino teve uma reação um pouco parecida, já que grunhiu e passou a mão no rosto.

—Vai pro seu quarto, Mun.

—Você não manda em mim mais.

—Vai pro seu quarto! – Kino gritou, pausando entre as palavras – Agora, ou eu juro que vou descontar minha raiva em você!

Mun se assustou com o olhar raivoso do irmão, e pude a ver engolindo em seco.

A pequena Sakamaki deu as costas, e foi correndo na direção do outro corredor.

 - Se eu fosse você teria mais cuidado, Herbert. – Ouvi uma voz familiar atrás de mim, e dei um salto. 

Meu coração disparou completamente.

Olhando levemente pra baixo, observando Tyrosh me encarar.

—Achei que já teria ido embora a essa altura do campeonato. – Respondi, não me importando em soar grosseira.

Ele havia acabado de me impedir de ver o que Kino faria depois da briga com sua irmã.

—Vocês precisam de toda ajuda possível, não é? Enviei alguns soldados Rosemary pra batalha ao seu lado, e gosto de pensar que foi o suficiente.

Concordei com a cabeça, engolindo qualquer comentário sarcástico que eu tinha pra falar.

Era verdade, nós precisávamos de ajuda naquele momento.

—Enfim, se me dá licença... – Tentei evitar a conversa.

—Da próxima vez, tente ser mais discreta ao bisbilhotar. – Tyrosh comentou – Algumas pessoas daqui não seriam piedosas com uma coisa dessas. Nem sua família seria, pra ser honesto.

O encarei com as sobrancelhas meio semicerradas.

—De qualquer forma, tenha um bom dia, Herbert. Deseje melhoras a sua... amiga. Por mim.

Com isso Tyrosh foi embora, me deixando completamente confusa.

Respirei fundo, tentando me acalmar e ao mesmo tempo tentar entender quais eram as intenções por trás de suas palavras.

Fui andando em círculos, tentando fazer sentido de tudo que eu havia absorvido hoje. Murmurava coisas baixo, não me importando se isso me faria parecer louca.

Devo ter andando bons círculos, pois depois me vi perto da grande sala de estar.

Fiquei profundamente feliz quando encontrei minhas irmãs e o resto dos Sakamaki na sala do castelo, conversando baixo entre si.

Minha gêmea, Sofie, estava ainda com os curativos no rosto, colocados para proteger uma queimadura de segundo grau. Os médicos garantiram que algumas cicatrizes claras ficariam no seu rosto, mas a chamaram de sortuda por não ter prejudicado seus olhos.

Claro, não teria como imaginar que o vapor do fogo de um drakon poderia causar um estrago mínimo desses.

Só de imaginar o que o fogo de verdade poderia fazer, senti calafrios.

Algumas das pessoas lá também estavam com grandes curativos. Marie tinha um que percorria do seu pescoço até seu peito, extremamente superficial ao ponto de eu conseguir enxergar a marca de uma espada lá.

Vic também estava com boa parte dos ombros e com as mãos enfaixadas, além de um rosto com pedaços descascando. Por incrível que pareça, ela não se queimou toda com o campo de força mágico da Daayene, e sim com sua armadura.

Ela havia quase derretido no seu corpo.

Minha irmã mais velha ainda trajava preto, por conta de seu drakon. Em empatia, Sofie e Nikki estavam usando roupas do mesmo tom escuro.

Falando em Nikki, ela parecia surpreendentemente bem. Nem ela, nem Lua haviam tido muitos ferimentos graves que precisassem de tratamento extensivo.

Bem, eu também não. Mas acho que foi por sorte, porque eu ainda sentia meu corpo aquecido e dolorido daquela luta.

Em geral, os meninos também estavam bem. Alguns pequenos cortes e cicatrizes, especialmente na região do pescoço e dos ombros. Mas em geral, bem.

Bem, quase todos. Reijii havia perdido os óculos pro campo de força mágico de Daayene, quando entrou pra resgatar Vic. Derreteram e depois o vidro estourou. Seu corpo também tinha queimaduras, só que bem mais leves do que as de minha irmã.

Tinha sido coisa de segundos. Em um, minha irmã estava entrando com seu drakon naquele mar vermelho. Dois depois, Reijii resolveu entrar por não termos sinal de que ela estava bem lá dentro.

O que fazia sentido. Eu sei lá o que teria acontecido se alguém, sabe, mortal entrasse naquele negócio. Minha irmã mal ficou lá por muito tempo, e olha o estrago.

Pelo menos com os meninos, sabíamos que eles só podiam morrer com faca de prata no coração.

Eu ainda me lembrava dessa informação, porque obviamente não é coisa que se esquece. E pensar que quem me falou ela a tantos anos atrás, agora é tecnicamente minha sogra.

Dei um leve sorriso com o pensamento.

—Sah! – Marie me chamou, e foi aí que percebi que eu estava encarando – Vem cá!

Fui levemente rápida até lá, e Sofie já fez espaço pra mim no sofá. Me sentei logo que percebi.

—A gente tá fazendo um cartão de melhoras pra Daayene. – Victoria explicou. Olhando de perto, eu conseguia ver seu rosto machucado e cheio de marcas de cansaço – Quer anotar alguma coisa?

—Er... claro? – Sugeri – Mas a Daayene não tá tipo... em coma? Como ela vai ler o cartão de melhoras e melhorar em coma?

Sofie deu uma leve risadinha com o meu comentário.

—Sei lá, por energia positiva? – Marie sugeriu – Sarah, é um cartão de melhoras, e não é mágico. O que você quer que ele faça?

—É brincadeira! – Consegui sorrir de leve – Vai, me passa a caneta e o papel.

Foi Laito que me passou os objetos, e eu franzi o cenho quando dei de cara com um lápis de tronco laranja e preto, com uma bola de basquete em cima.

Encarei Ayato:

—Algo me diz que isso é seu.

—Por que? Porque é o lápis mais legal que você já viu? – Ayato sorriu, orgulhoso.

—Um pouco pra “lápis mais horroroso que já foi criado” – Shu retrucou alto, claramente nem prestando atenção na conversa.

—Ou talvez seja porque o lápis é tão perfeitamente novo que ou você perde todos os seus lápis ou não usa ele nas aulas. – Sofie comentou.

—Ei, você também não! – Ayato reclamou.

Com o lápis e um belo cartão em formato de borboleta (rosa, obviamente) em mãos, resolvi dar uma olhada no que já estava escrito.

“Toda a força do mundo pra você melhorar, Daay! Precisamos de você” – Mah

“Boa sorte na sua recuperação, você é FODA ♥” – Vic

“Espero que melhore logo!” – Sofie

“Forças pra profeta mais forte  guerreira mais forte da Patrulha! ” – Ayato & Laito

“Desejo melhoras rápidas.” – Shu

“Você irá melhorar logo. Desejo forças para seguir em frente.” – Reijii

“Cuidado quando for criar campos de força e estourar joias da próxima vez.” – Subaru

“A Família Tsukanami te deseja uma boa recuperação e que você fique bem e sadia logo.” – Tsukanami

“Querida Daay, espero que quando ler esse cartão se sinta melhor e consiga se recuperar logo. Garanto que a Patrulha sente saudades, e eu também. Obrigada e desculpa por tudo.” – Eliza

“Se cuida.” – Haruka

“Quando acordar, não faça nada muito impulsivo. E beba água. E melhore.” - Nikki

Mas o que mais chamou minha atenção foi uma pequena palavrinha no final do cartão.

“Melhoras.” - Lua

—Vocês tão lendo o que escrevem aqui? – Questionei.

—Hã... Não? – Marie então se assustou – Por que? Alguém escreveu merda? Me diz que o Ayato não desenhou um pinto no cartão da garota.

—Por que só sobra pra mim? – Ayato bufou.

—Eu me pergunto por que... – Laito pensou alto.

— Não. Não, não tem nada de errado ou pornográfico. – Analisei de novo a mensagem de Subaru – Só... coisas. Enfim, vou anotar por mim e pelo Kanato.

—Ele vai gostar disso? – Nikki questionou.

—Ele não vai poder fazer nada se não gostar. – Dei de ombros e comecei a anotar.

“Daayene, apesar de não sermos muito amigos gostaria de te desejar melhoras e um bom descanso. Você merece! ♥ “ – K.S

Depois achei o coração estranho, o risquei e substitui por uma estrelinha.

Parecia que tinha sido escrito pelo Kanato? Absolutamente não, e Daay saberia que fui eu que escrevi.

Eu me importo? Provavelmente não. É melhor do que qualquer poesia que meu namorado pudesse escrever, de qualquer jeito.

Indo pra um espaço longe e vazio do cartão, comecei minha surpresa.

—Significa que só falta a mensagem da Cousie. – Marie comentou. – Não sei se faz sentido a gente pedir pros Mukami e pras irmãs dela assinarem, já que é surpresa pra eles também. Subaru, você vai fazer o buquê?

—Que buquê? – Subaru questionou.

—O de rosas azuis? – Marie prosseguiu – Eu te pedi!

—Ela pediu. – Vic confirmou.

—Pra ser justo, ele falou alguma coisa nas linhas de “Hã? Aham, pode deixar”. – Sofie respondeu.

—Eu faço então, eu acho. – Subaru deu de ombros.

—Ótimo! De preferência, antes de entregarmos o cartão, viu? – Marie disse.

Subaru resmungou alguma coisa, afundando seu rosto pra trás até bater levemente em Lua.

Terminei minha obra de arte nesse exato momento, dando os últimos riscos no cartão.

Claro, não estava perfeito, mas era o melhor que eu conseguia fazer com um lápis.

Eu havia desenhado o rosto de Daayene. Pelo menos, como eu me lembrava dele antes de... tudo. Antes do festival, na verdade. E isso fazia muito tempo.

Tentei ao máximo fazer jus ao seu cabelo castanho claro brilhante e bem cuidado, e seus olhos castanhos brilhantes. Desenhei bochechas coradas, lábios finos e coloridos, sobrancelhas delicadas e arqueadas, longos cílios.

Não era difícil olhar pro desenho e reconhecer que aquela havia sido a Hudison algum dia. Era na verdade meio deprimente, olhar pra um rosto tão bonito e brilhante e pensar que era a mesma dona daquele olhar... vazio. Aquele rosto desesperado que eu vi a uma semana.

Balancei a cabeça. Assinei um “Sah-chan” com um coração no final do desenho.

—Acabei. – Avisei. – A gente agora faz...?

—Eu tenho que ir procurar a Cousie pra ver se ela vai assinar. – Marie pegou a borboleta da minha mão.

—Você acha mesmo que ela vai fazer isso? – Lua questionou, pela primeira vez desde que eu cheguei exibindo sua voz.

—Bem, o que eu acho é que ela meio que não tem escolha. – Marie prosseguiu – As irmãs dela assinaram, o cunhado dela assinou, o marido dela assinou. Se ela não assinar, vai só cavar a sua própria cova. Mais ainda.

—E assinar esse cartão é o mínimo que ela pode fazer pela Daay depois de tudo. Cara, é o mínimo que nós todos podemos fazer por ela. – Vic concordou – E acreditem, eu estou me incluindo muito nesse grupo.

Ficamos em um leve silêncio quando ela terminou de falar isso.

—Enfim, me desejem boa sorte com a Rainha de Copas. – Marie se levantou e saiu.

—Mah-chan, se ela quiser cortar sua cabeça, grite por socorro. – Laito aconselhou.

Marie deu uma risadinha, indo embora com o cartão.

Fazer o desenho da Daay me fez pensar na minha própria irmã mais velha.  Se antes Marie tinha longos cabelos dourados e lisos e belíssimos olhos azuis, tinha medo de notar que ela não tinha mais seu belo charme, com os cabelos brancos malcuidados e a heterocromia bizarra.

Não que ela estivesse feia, claro. Mas era bizarro olhar pra alguém e não reconhecer brilho que tinha. Os profetas devem fazer algum esquema de pirâmide pra sugar a alma das pessoas.

Pigarreei.

—Ah, eu devia ir ver como que os Mukami e as Hudison tão... a Eliza ficou de levar uma cesta pra eles... – Fui começando a me justificar, mas no fim da frase eu já estava murmurando pra mim mesma e saindo da sala.

Não me entendam mal ou me chamem de perdida. Eu realmente estava indo pro corredor onde Daayene estava sendo tratada, mas num corredor mais á frente eu vi uma porta aberta. Uma sala que eu nunca tinha visto antes.

Ouvi um barulho de bebida, ou de vidro.

Claro que eu tive que ir checar.

Me surpreendi quando encontrei ninguém menos que meu pai.

—Ah, e eu me perguntando quando iriamos conversar. – Meu pai sorriu de leve, ajeitando os óculos.

Pessoalmente, eu acreditava ser um milagre que nem eu e nem Sofie puxamos a miopia dele.

—São dias bem loucos aqui na Patrulha, não dá nem pra processar o que acontece. – Comentei.

—É. Isso eu percebi. – Ian sorriu. – Aceita?

Ele me estendeu um copo de uísque.

—Uísque? – Questionei, rindo – São onze da manhã. Tem certeza que você está na idade certa pra isso?

—Se tem alguma coisa pra qual minha idade é perfeita, é beber durante o dia. – Meu pai sorriu. – Aproveita, não é todo dia que seu pai vai te embebedar.

Sorri de leve e fui até a janela, pegando o copo de uísque da mão dele.

Ele riu baixinho, servindo outro copo pra si mesmo.

Tomei um gole hesitante da bebida, tossindo quando ela secou minha garganta.

—Forte demais?

—Forte o suficiente. – Bebi o resto num gole, depois fazendo um barulho estranho com a boca – Mas eu acho que preciso de água.

—Você vai se acostumando enquanto for envelhecendo. É muito nova ainda, tem vinte...

—Vinte e um. – Eu completei pra ele. – Fizemos aniversário no começo desse mês.

Tive um flashback do começo do ano, quando eu e Sofie comemoramos nosso aniversário. Foi solitário, já que só recebemos alguns abraços e parabéns. Não houve bolo, festa, presentes, nada. E nem estávamos em posição de pedir isso.

Estavam completando alguns meses que Daayene havia ido embora, e foi aproximadamente nessa época que resolvemos aceitar que se ela não tivesse morrido, simplesmente nunca iria voltar.

—Certamente ainda parecem ter 19 anos pra mim. – Ian comentou, sorrindo.

—É porque não mudamos muito, de lá pra cá. Quer dizer...

Eu encarei minha palma da mão, ainda cheia de cicatrizes dos machucados que minhas unhas criavam.

—Não fisicamente, eu acho. – Sarah deu de ombros.

—Seu cabelo está mais curto. E você usa roupas melhores. – Ian deu de ombros.

—Mais parecida com a Sofie? – Questionei.

—Quase isso, mas não é por isso que está bonita. – Ian comentou – É porque, pela primeira vez em muitos anos, acho que estou enxergando a minha filha de verdade.

O encarei, meio surpresa.

—Era meio difícil te conhecer de verdade antes. Você só cresceu do nada e de repente virou uma moça grande... – Ian não estava me olhando, mas continuava me encarando – E você forçava aquela fofura, aquela doçura imensa. E eu não sentia que era você, mas eu também não conseguia te falar isso.

Continuei em silêncio.

—Por isso eu sempre achei mais fácil conversar com a Sofie. Ela cresceu devagar, era mais fácil de entender e não tinha muitos amigos. Parecia muito comigo, antes de conhecer a mãe de vocês.

Pensei um tempinho antes de responder.

—A gente nunca conversou muito sobre ela depois da morte dela.

O observei mais atentamente, vendo como sua expressão se tencionou:

—Não tem muito o que falar, na verdade. Estávamos separados a muitos anos, vocês já eram crescidas o suficiente pra se lembrar dela.

—Foi só alguns meses depois do... acidente da Sofie. – Percebi que a frase custou sair de mim – Eu não estava no melhor estado mental possível nesse ano, e acho que dali pra frente foi só pra trás.

—Molly era uma ótima mulher. Inteligentíssima, extremamente impulsiva e protetora. Era muito pra frente, tinha um senso de humor questionável, e era assustadora quando estava com raiva. – Ele continuou – É por isso que vocês duas me lembram tanto ela. Não é só a aparência, mas vocês duas conseguiram puxar toda a personalidade dela.

Dei um pequeno sorrisinho.

—Sarah, a sua mãe não era perfeita. Ela cometeu muitos erros, inúmeros. E tinha muitos segredos. A maior parte deles morreu com ela, e não acho que um dia saberemos deles. – Ian deu de ombros – Mas ela era uma boa mulher. E foi uma boa mãe.

—Eu sei. – Encostei no colar de borboleta prateado que eu usava. – Eu só... queria que ela tivesse nos falado algumas coisas antes de partir.

Ficamos um tempo em silêncio.

—Fico muito feliz mesmo que você tenha resolvido ser real. Mesmo. – Ele prosseguiu – É muito mais agradável conversar com você assim.

Dei uma risadinha.

—Tenho quase certeza que isso é falta de influência daquela Ne...

—Ah, por favor, nem mencione o nome dela. – O interrompi – Eu já ouvi esse nome por tempo demais, preciso de pelo menos uns 10 sem ele.

—Como quiser. Eu nunca gostei dela mesmo. – Meu pai deu uma risada.

Ouvi uma batida na porta.

Logo depois ela se abriu lentamente.

—Opa, desculpa, não queria atrapalhar o momento famíli...ai! – Brunna grunhiu de dor quando tentou esticar seu tronco pra caber na mini fresta da porta. – Hã... Os médicos falaram que a Daay acordou. Eu achei que talvez você quisesse saber disso.

Arregalei os olhos imediatamente.

—Enfim. É isso, tô indo ver minha irmã. – Brunna sorriu de forma genuína. – Tchauzinho!

Quando ela saiu, encarei meu pai.

—Ah, pode ir! – Ele ajeitou os óculos redondos de novo – Deseje melhoras pra sua amiga por mim, imagino que ela esteja bem debilitada depois do que aconteceu.

—Eu farei isso! – Sorri de leve, antes de deixar o copo em cima da mesa e sair quase correndo.

Demorei um tempo para chegar lá, e terminei a tempo suficiente de ver Priya saindo do quarto, com os olhos inchados. Ela deu espaço pra que Brunna e Ruki entrassem.

—E então? – Pude ver Marie chegando até o pequeno amontoado de pessoas que estavam lá. Cheguei junto.

Priya coçou os olhos. De perto, era mais perceptível ainda como ela estava cansada.

— O médico... o médico pediu pra não nos amontoarmos nela. Está confusa ainda. – Priya continuou – Disse que foi uma sorte que ela não quebrou a coluna na queda, porque alguns dos seus ossos estão terminando de se regenerar com os remédios do Reijii. Ela também vai ter algumas marcas de queimadura pro resto da vida no corpo. Seu nariz, ouvidos e gargantas estão sem nenhum dano, e foram limpos do sangue que jorrou deles. Ah, o cérebro também não sofreu nada.

Continuei tensa, percebendo que havia algo a mais.

—Ah, na explosão a Daayene também perdeu todo o pelo e cabelo do corpo, porque queimou. E... infelizmente os olhos dela não reagiram muito bem a toda magia e o cabum. O olho esquerdo dela teve a retina perfurada, ou algo assim. O olho direito também sofreu um trauma, provavelmente por conta das substâncias das explosões. Enfim, a visão ela tá mal.

—Ai meu Deus, Priya, eu sinto muito! – Victoria se assustou.

—Tudo bem, não é por mim que você tem que sentir. – Ela enxugou os olhos.

—E como ela está?- Kou se aproximou.

—Viva, o mais importante. – Priya deu de ombros – Nós vamos revezar os horários de visitação de duas em duas pessoas, pra não sufocar ela. Se quiserem entrar na fila, os próximos vão ser a Anna com o Azusa e depois o Kou e o Yuma.

—Vou avisar a Eliza. – Marie respondeu imediatamente.

—Onde estão os outros? Tipo, a sua outra irmã e os dois Mukami? – Questionei.

—Anna ficou mais ansiosa ainda e pediu pro Azusa a levar lá pra fora pra respirar ar fresco. O Yuma eu não sei... – Priya me respondeu.

—Acho que ele queria fazer uma refeição caseira pra Daayene comer alguma coisa familiar quando acordasse. – Kou suspirou – Algo assim. Sei lá, ele é doido.

Eu estava prestes a abrir a boca pra falar que aquilo não era loucura, e sim muito fofo. Mas ouvimos alguns passos fortes, vozes abafadas e portas batendo do andar de cima.

Nós todos olhamos na mesma direção ao mesmo tempo.

—Isso é...?- Kou apontou pro teto.

—Uma discussão? Provavelmente, dada pelos gritos. E bem feia. – Victoria fez uma careta.

—Sh... – Marie mandou a gente ficar em silêncio, e ouvimos de novo mais gritos abafados e esganidos.

—Temos certeza que ninguém está sendo assassinado? – Perguntei.

—Se um de nós tentar matar outro uma semana depois da batalha mais mortífera que eu já vi, eu que me demito. – Victoria sussurrou pra mim.

Ouvimos passos se aproximando, descendo a escada rapidamente.

Era Haruka, claramente vermelha de raiva.

—Ok, vocês vão ficar sabendo de qualquer jeito, então vim dar a notícia eu mesma. – Sua voz estava esbaforida, e claramente ela estava furiosa.

—Ah. Mais uma novidade pro dia. – Priya arregalou os olhos.

Haruka respirou fundo:

—Precisamos de um médico urgente. Cousie esteve grávida nos últimos meses mas não contou pra ninguém porque ela não gosta de cometer erros e da última vez que contou pra um reino inteiro da sua gravidez, ela não estava grávida de verdade. Eu, Eliza e Shin guardamos esse segredo por algumas semanas mas eu me recuso a continuar assim porque semana passada insistimos que ela não fosse pra batalha. Mas ela bateu o pé e foi do mesmo jeito. Agora estamos surtando porque ela começou a sangrar. E eu não aguento mais guardar esse segredo idiota.

Nós cinco a encaramos, totalmente abismados e de boca escancarada.

Uma voz chamou Haruka do andar de cima, e ela subiu lentamente as escadas nos encarado:

—Se perguntarem pra vocês, foi o Shin que contou.


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