Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 65
Saga


Notas iniciais do capítulo

O Camerlengo finalmente decide acabar de uma vez com aquela invasão e enfrenta os Cavaleiros de Bronze uma última vez. A chama de Peixes se apaga.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800469/chapter/65

 

Mu de Áries estava na saída de seu templo olhando para o topo da montanha debaixo daquela noite estrelada quando viu uma Cavaleira de Ouro descer as escadarias que vinham da Casa de Touro. Era Shaka de Virgem, a Cavaleira mais próxima dos deuses, que desceu para se certificar de que a garota sofrendo realmente era a Deusa Atena.

— Shaka.

— Mu de Áries. — cumprimentou Shaka, que agora tinha os olhos fechados outra vez.

— Veio certificar-se de quem ela é? — convidou Mu para que entrasse. — Veja por si mesma.

 

Mu saiu do caminho e Shaka caminhou calmamente para o centro daquele templo, onde ainda brilhava de pé, sem qualquer apoio, o bonito báculo dourado entre os dois corpos das meninas. Saori de um lado com a flecha de ouro fincada no peito, seu vestido branco embebido de sangue, e Alice de outro com seu ferimento no baço cauterizado, mas sua consciência distante.

— Ela é a Deusa Atena, Shaka. — confirmou Mu às suas costas.

Shaka ajoelhou-se diante daquela figura que sofria.

— Seu tempo está se esgotando. — comentou Shaka ao seu lado.

— Sua vida se acabará quando a última chama do relógio de fogo se apagar.

O Cosmo da Cavaleira de Virgem brilhou ao lado daquelas crianças e Mu observou que suas mãos adotaram uma postura específica. Nada aconteceu, ou pelo menos nada pareceu acontecer aos olhos de Mu, mas ela bem sabia que o Cosmo de Shaka estendia-se para dimensões que até mesmo para ela eram desconhecidas.

— Diga-me, Mu de Áries. — começou Shaka ainda de costas, como se inspecionasse cada centímetro do vestido de Saori Kido. — Você foi considerada por muitos anos como uma rebelde do Santuário. O que aconteceu, afinal?

As duas conheciam-se desde que eram crianças, pois foram recrutadas na mesma época, cumprindo o início de seus treinamentos ali mesmo naquele Santuário. Só depois separaram-se, já que Shaka retornou à Índia para concluir sua ascensão enquanto Mu retornou para Jamiel assim que o Papa Sião faleceu. Mu dividiu com ela apenas o que sabia.

— Como deve se lembrar, eu fui treinada pelo Papa Sião em pessoa, pois ele era um eminente Cavaleiro de Jamiel antes mesmo de ser Pontífice. A tragédia de sua morte mudou demais seu irmão, o Camerlengo Mestre Arles, ao ponto dele interromper meu treinamento e me enviar de volta para Jamiel. — começou a falar Mu, lembrando-se de tempos remotos. — A princípio não compreendi o que ele pretendia mandando-me de volta, mas pensei que fosse parte de meu treinamento, já que todos vocês também haviam partido.

— Voltei à Índia para finalizar meus treinamentos e estudos. — comentou Shaka.

— Assim como Aldebarã e os outros. — adicionou Mu. — Pensei que fosse igual, mas a mim foi negado o direito de levar a Armadura de Áries. Foi a primeira coisa de que suspeitei. E foi somente um ano depois que vim saber, por viajantes que se aventuraram pelo Cemitério das Armaduras, que o Mestre Aioros foi considerado um traidor, que houve um atentado à vida de Atena e que o Camerlengo Arles manteria-se no posto de Pontífice até que Gêmeos retornasse de sua missão.

— Saga nunca voltou. — falou Shaka.

— Creio que Saga nunca tenha ido. — falou Mu.

Por esconder sua visão, Shaka não olhou diretamente para Mu às suas costas, mas virou-se como se para ouvir melhor o que ela havia dito.

— Não voltou para a guerra contra os Gigantes. — mencionou Shaka, lembrando-se de que Mu negou o chamado do Santuário durante a Gigantomaquia.

— E como poderia? O Santuário matou o Mestre Aioros, o Camerlengo Arles não era mais o mesmo e meu Mestre Sião já não estava entre nós.

— Era seu dever como Cavaleiro de Atena.

— Jamiel foi atacada diversas vezes por essa época. — falou Mu. — Todo o vilarejo destruído. Uma única criança sobrevivente. Meu dever era para com ela, pois o Santuário havia me abandonado.

Shaka ficou em silêncio, enquanto Mu continuou sua história.

— E então, depois de muitos anos, fui visitada pela Coruja de Atena.

— A Coruja de Atena? Mas foram todas mortas por Aioros. — comentou Shaka.

— Não. Uma conseguiu escapar e foi a certeza que eu tive, enfim, de que Atena não estava no Santuário. De que Aioros não era um traidor. E agora Atena está diante de você, Shaka.

Ela novamente silenciou dentro de seu Cosmo, até que perguntou com sinceridade para Mu.

— O que faz uma Cavaleira de Ouro quando ela se engana terrivelmente?

Mu absorveu aquela pergunta com todo o peso que ela tinha para as dúvidas e todas as certezas que Shaka havia tido por todos esses anos.

— Aioria está lutando. — falou Mu, finalmente.

 

—/-

 

A sangrenta batalha de Shiryu e Seiya havia sido interrompida pelo Cosmo flamejante de Ikki de Fênix. Ela atravessou a mente do Camerlengo, que caiu sentado no trono de ouro delirando seus piores pesadelos. Sua respiração era cadenciada, mas muito pesada, de modo que podiam ouvi-lo roncar de forma letárgica.

— Não posso imaginar o tamanho dos pecados que precisou reviver. — falou Ikki para o homem que ainda parecia absorto em seus demônios. — Não sinto pena alguma.

E então virou-se do Camerlengo para socorrer Shiryu, que também agonizava no chão, já livre de sua possessão mental, mas Ikki sabia muito bem as dores que ainda lhe comeriam a mente até que estivesse totalmente livre. Ela tomou Shiryu nos braços e colocou sua mão direita sobre sua testa. Seu Cosmo manifestou-se dando um pulso no cérebro de Shiryu, que gritou de dor, mas então se acalmou.

— Vai ficar bem, Shiryu. Escute minha voz. Vai ficar bem! — disse ela. — Ande, Seiya. Levante-se!

Do outro lado, Seiya, com efeito, levantava-se aos poucos, sua voz vacilante e dolorida.

— Ikki, você precisa seguir adiante. Precisa chegar até o Colosso de Atena que fica atrás das cortinas do Templo. Deve levantar o Escudo de Ouro e apontar na direção da Casa de Áries.

— Do que está falando, Seiya? — perguntou Ikki sem compreender.

— O Camerlengo não tem poder para retirar a flecha do peito de Saori. Mas o Escudo na mão esquerda de Atena pode repelir qualquer mal. Devemos usar sua luz, ainda que seja do topo da montanha, para tirar aquela flecha. Vá de uma vez, Ikki, de todos nós você é a que está em melhores condições. Não perca tempo conosco, tanto eu como Shiryu ficaremos bem.

Ikki apertou os olhos e concordou.

— Está certo, Seiya. Voltarei assim que tiver feito brilhar o Escudo de Atena.

— Não fará nada disso.

A voz falha e grave veio do Camerlengo, que parecia ter despertado no trono de ouro, embora sua voz ainda fosse sincopada e cansada. Ikki colocou-se em guarda ao ver que ele, aos poucos, se levantava do trono. O Camerlengo de pé arrancou a batina preta, assim como o elmo dourado que vestia, jogando-os para o lado, ficando totalmente nu diante dela.

— Foi um grande erro seu, Fênix, usar seu enorme Cosmo para mexer em minha mente. Se arrependerá amargamente disso.

— Não pense que poderá me enviar para a Outra Dimensão, pois lá não sou bem-vinda.

— Não se preocupe, pois agora eu quero fique por aqui, para que eu possa ver o seu corpo se despedaçar à minha frente. Junto de seus amigos queridos.

O Camerlengo desceu as escadas do trono e estendeu o braço para o céu, queimando seu Cosmo Dourado com tamanha pressão que tanto Ikki como Seiya assombraram-se, pois então ele parecia ainda mais aterrador.

— Matarei vocês três de uma só vez e então tudo estará acabado.

Um espetáculo de luzes iluminou todo o altar, pois materializou-se uma Armadura de Ouro acima daquele terrível homem de face retorcida pela cólera e cabelos grisalhos. A Armadura de Gêmeos, que se separou no ar e protegeu o corpo do Camerlengo.

— Morrerão pelas mãos de Saga de Gêmeos.

 

—/-

 

Saga de Gêmeos, o Cavaleiro de Ouro por trás da máscara do Camerlengo, tinha uma face feroz e distorcida pelo ódio, os olhos avermelhados e seus longos cabelos prateados. O Cosmo que brilhava ao seu redor carregava um amargor terrível de uma ira furiosa e maléfica. Mas, como se uma corda rompesse, o Cosmo de Saga estourou no universo e ele foi para o chão, ardendo de dor.

— Seiya, levante-se! — ordenou Ikki. — Aproveite para irem até o Colosso de Atena. Eu ficarei para lutar contra Saga, vamos!

Seiya obedeceu, pois Ikki era mesmo quem tinha melhores condições para seguir com aquela batalha; ele colocou-se de pé, cheio de dor, e levantou também a amiga Shiryu.

— Desculpe-me, Seiya. — começou ela.

— Não era você, Shiryu. — afastou as desculpas Seiya. — Agora vamos, vamos juntos salvar Atena. Contamos com você, Ikki!

E com aquele terrível homem sofrendo no chão, Seiya e Shiryu se apoiaram nos ombros e caminharam com dificuldades, atravessando as cortinas vermelhas do altar. Surgiram em um corredor do outro lado que abriu-se em três caminhos: o corredor do lado esquerdo onde antes ficavam as corujas de Atena assassinadas por Saga na Triste Noite, o do lado direito onde ficava o pedestal de areia que ele usou para alertar a todo o Santuário, e o do meio, por onde seguiram adiante, saindo finalmente daquele Templo por uma escadaria alta para a noite estrelada do lado de fora. Assim que subiram alguns degraus, começaram a ouvir o clangor metálico da terrível batalha que Ikki deveria estar enfrentando dentro do Templo.

Saga era feroz e, embora Ikki tivesse compreendido o Sétimo Sentido, ainda assim não era páreo para aquele que, sem dúvidas, era o mais experiente e temido dos Cavaleiros de Ouro. Mas, assim como todos seus amigos, Ikki recusou-se a morrer ali e levantava-se quanto mais apanhava, pois outra vez Saga parecia atacado por sua mente.

— Maldição. — falou a voz dolorida do Cavaleiro de Gêmeos, sofrendo novamente. — Como ousa ficar no meu caminho?

Ikki observava Saga sofrer à sua frente, confuso, pois ela sabia plenamente que os efeitos de seu Golpe Fantasma já não atuavam mais na mente de seu inimigo. Havia outra coisa dentro de seu corpo que lhe devorava daquela maneira e ela não conseguia imaginar o que seria.

— Cale-se! — gritou Saga para o vazio, e Ikki não pôde ver ninguém ali. — Você sabe muito bem que sem você eu já teria acabado com isso há muito tempo! Você sempre me interrompe nos momentos cruciais! Se não fosse por sua causa…

Falava só, pensou Ikki.

E então lhe ocorreu que poderia ser muito pior do que isso: falava com um demônio dentro de si.

Mas se aquele do lado de fora era o demônio, quem poderia ser aquele que lhe falava por dentro?

— Vou acabar com Seiya e Atena morrerá! — urrou Saga para o templo vazio, afastando o demônio de sua mente.

— Não vou deixar. — disse Ikki chamando sua atenção.

— Então vai perder a vida! — ameaçou Saga.

Ikki ardeu seu Cosmo de fogo.

— Perder a vida não me importa. — disse ela. — Mas eu não deixarei que chegue perto do Seiya e da Shiryu! Uma vez eu amaldiçoei este mundo e lutei contra todos eles. Cheguei a lutar contra Atena e o feitiço de sua técnica me fez enxergar apenas o meu ódio profundo. Mas Seiya, Shun e todos eles lutaram por mim e fizeram com que eu mudasse. Me aceitaram e me acolheram para uma nova chance. E agora que seus corpos estão espalhados pelas Doze Casas, eu não deixarei que seus esforços sejam em vão. O que eu preciso fazer agora não é rezar para que descansem em paz, mas sim lutar por eles. 

A enorme Ave Fênix de fogo queimava ao redor de Ikki e voou de seu corpo para Saga de Gêmeos.

— Abraço Infernal! — berrou Ikki.

A ave voou ao redor de Saga e dos pés do Cavaleiro de Ouro subiu violentamente um tufão de fogo, faiscando e calcinando o corpo de Saga, que desapareceu dentro das chamas violentas conjuradas pela Cavaleira de Bronze. Mas se Ikki achou que reduziria Saga de Gêmeos a cinzas ela estava redondamente enganada; de dentro daquela pira infernal de fogo ela viu fachos de luz movendo-se na direção dela, fatiando todo o templo de Atena.

O que os fachos de luzes tocavam eles fatiavam feito faca quente na manteiga. Fatiaram colunatas, adornos e filigranas do altar, o próprio trono de ouro e até mesmo o piso de mármore escuro em que Ikki pisava. Ela pôde esquivar-se daqueles terríveis raios de luz, mas precisou saltar para não afundar na rocha que se abria à frente dela; também precisou pular de bloco em bloco para evitar ser soterrada pelas colunas que caíam.

Ela conseguiu desvencilhar-se da destruição e saltou na direção de Saga, mas encontrou o Cavaleiro de Gêmeos pronto para acabar com ela. Ao seu redor não estava mais o Templo de Atena, mas um espaço infinito pontilhado de estrelas distantes, planetas e galáxias.

— Eu já disse que não adianta tentar me enviar para a Outra Dimensão! Eu voltarei para te assombrar, Saga!

Mas Ikki percebeu ao seu redor que planetas começaram a colapsar com fendas abissais; planetas inteiros abriam-se como se fossem ovos quebrando-se no universo. Como se de fato estivesse no espaço, não escutava as explosões que via acontecer em todos os planetas ao seu redor e, pior ainda, em todas as explosões gasosas e intergaláticas que ocorriam nas estrelas distantes.

— Mas o que está acontecendo?

Quando escutou algo foi a voz delirante e terrível de Saga de Gêmeos, que parecia realmente ser um deus daquele universo que explodia em todos os seus pontos ao mesmo tempo.

— Explosão Galática!

Aquelas palavras não somente reboaram pelo tecido celeste, como a força de sua voz pareceu acelerar as explosões ao seu redor. E Ikki sentiu finalmente, em cada parte de seu corpo, cada átomo, cada planeta, cada estrela ou galáxia serem dilacerados pelas explosões dos astros ao seu redor. Sua Armadura reduziu-se a cacos, seus ossos quebraram-se, sua pele rasgou vertendo sangue em diversos pontos e seu corpo tombou, vencida, aos pés de Saga de Gêmeos.

O enorme homem deu meia-volta e foi atrás de Seiya e Shiryu, mas encontrou no chão o elmo da Armadura de Gêmeos. E deteve-se, pois as duas faces do elmo, tanto a face branda como a sádica, choravam. Saga podia ver claramente que lágrimas vertiam dos olhos da máscara.

— A máscara da justiça está chorando? Mas isso é uma bobagem. Por que a máscara está tão triste? Por que não quer que eu seja o Sumo Pontífice? Qual é o problema de alguém poderoso como eu governar o Santuário? Desde a criação, intermináveis divindades tentam tomar a Terra para si. Mesmo Zeus, escondido nos céus, mas principalmente Poseidon dos mares e Hades do submundo já atacaram nossa paz. Pois imagine se alguém tão forte quanto todos eles estivesse à frente do Mundo! — disse Saga, referindo-se a si próprio. — E por isso eu sou o verdadeiro salvador desta Era. Eu devo acabar com todas as forças que se opõem a isso. Não importa quais sejam!

Saga fez seu punho brilhar e acertou a máscara, jogando-a para a escuridão daquele Templo antes de seguir adiante atrás de Seiya e Shiryu.

 

—/-

 

Os dois Cavaleiros de Bronze chegaram finalmente ao topo da escadaria do Templo de Atena e vislumbraram à frente deles uma enorme estátua esculpida em pedra que erguia-se por muitos e muitos metros, como se velasse por todo o Santuário e pudesse ser vista de qualquer ponto daquela região. Seiya olhou para trás e, de fato, dali podia ver com clareza todas as Doze Casas pontilhadas, pois todas elas estavam na mesma face daquela enorme montanha. A mais distante de todas, ele bem viu, era a Casa de Áries, com seu bonito domo de cristal, iluminada pelo Cosmo de Atena e o brilho do Báculo de Ouro.

— Vamos, Shiryu.

— Siga em frente, Seiya. — falou Shiryu.

— Como assim, Shiryu? 

— Ikki foi vencida. — falou ela. — Eu lutarei contra Saga. Vamos, se apresse e salve Atena.

Seiya olhou por sobre os ombros da amiga e de fato viu aquela assombração de ouro correr furiosa pelas escadas. Shiryu imediatamente virou-se para encará-lo no topo da escada enquanto Seiya cambaleou com dificuldades na direção do Colosse de Atena.

Saga nem sequer deu por Shiryu e logo a atingiu no estômago, arremessando seu frágil corpo que arrastou-se pela pedra daquele platô da Estátua de Atena. Mas ela se levantou brilhando seu Cosmo de aura verde-claríssima, quase branca; a Armadura toda rachada, mas o enorme Dragão pintado nas costas para mostrar que seu Cosmo estava no auge, seus cabelos negros esvoaçantes.

— Saia da minha frente! — ordenou Saga.

Mas Saga foi surpreendido por uma explosão debaixo de seus pés, em que um dragão branco chinês surgiu para atacá-lo, como se aquilo fosse possível; seu corpo foi erguido do chão e, quando deu por si, viu que Shiryu estava às suas costas. O dragão branco de corpo longo e sem asas voava ao redor dos dois, rugindo.

— O que está acontecendo?! Seu Cosmo está queimando quase na intensidade do meu?

— Esse é o Sétimo Sentido, Saga. Vou te fazer pagar por ter manipulado minha mente para atacar ao meu melhor amigo!

— Que maldição de moleques! Eu não consigo mexer o meu corpo, o que está acontecendo?

— Esse é o Último Dragão! — falou Shiryu. 

A Cólera do Dragão de Shiryu era capaz de reverter até mesmo o fluxo das águas da maior cachoeira de Rozan, mas aquela técnica que ela escolheu usar em seu momento derradeiro era ainda mais terrível, pois nas palavras de seu Mestre Ancião, se o Cosmo de Shiryu continuasse ascendendo até o infinito, o poder da Cólera do Dragão seria tão forte que ela não reverteria apenas o fluxo da cachoeira, mas seria capaz de reverter a própria força da gravidade.

E era o que acontecia; Saga sentia seu corpo flutuar contra sua vontade.

E, feito um foguete que dispara aos céus, Saga e Shiryu ascenderam para o espaço, deixando para trás uma cauda de cosmo para que todos no Santuário pudessem ver o espetáculo que era aquele Dragão subindo às estrelas. 

— Solte-me, Dragão! — praguejava Saga, tentando se desvencilhar do agarrão forte da garota, que não lhe respondia nem afrouxava seus braços.

Se aquilo seguisse daquela maneira, Saga sabia bem que seus corpos chegariam e vagariam para sempre no espaço; e ele não podia admitir morrer daquele jeito. Seu Cosmo ascendeu, misturando-se ao de Shiryu, e Saga abriu uma fenda dimensional no céu, que engoliu os dois para dentro de uma Outra Dimensão.

Shiryu percebeu o que havia acontecido, mas manteve-se firme com seu Cosmo quente e, se tivesse que perder-se infinitamente em dimensões desconhecidas para que Seiya pudesse salvar Atena, então seu esforço não teria sido em vão. Mas Saga tinha outros planos e, ao ver que Shiryu não se abalou ao ver-se rodeada pela Outra Dimensão, chegou à única saída para aquela situação.

Abriu outra fenda no espaço-tempo e retornaram ao platô da Estátua de Atena. Aproveitando-se da velocidade e força com que eram arremessados pelo Cosmo de Shiryu para o céu, Saga manipulou o espaço para que fossem lançados para o chão, de forma que os dois se espatifaram contra a pedra da montanha. Shiryu desacordada rolou escadaria abaixo, mas a Armadura de Gêmeos de Saga intacta; ele levantou-se com dificuldades, colocando-se de pé finalmente.

Diante dele, Seiya entrava em um pequeno templo que existia embaixo do Colosso de Atena.

Ele correu na sua direção, mas foi imobilizado às suas costas. 

Com imenso esforço virou-se contra aquela energia que tentava paralisá-lo e encarou os três Cavaleiros de Ouro que haviam chegado: Miro, Aioria e Aldebarã.

 

—/-

 

O Colosso de Atena feita de pedra que parecia velar por todo o Santuário tinha na sua base uma entrada larga para um corredor curto que levava à uma versão idêntica daquele colosso esculpido, mas bonita e dourada. Era a figura de Atena com seu longo vestido, uma proteção no busto, o elmo bem adornado na cabeça e a mão direita estendida. Faltava naquela mão a Vitória Niké, que naquela noite erguia-se sem apoio ao lado de Saori. Mas no descanso da mão esquerda ao lado do corpo havia um lindo escudo dourado. O Escudo da Justiça.

Seiya tomou-o nas mãos e, ainda sofrendo dos ferimentos de suas batalhas, caminhou trôpego para a saída daquele altar para a noite estrelada. A chama de Peixes era apenas um fiapo de fogo. Do lado de fora, Saga lutava bravamente contra os três Cavaleiros de Ouro que tentavam atacá-lo de todos os lados; Seiya atravessou esse campo de batalha incólume, enquanto voavam ao seu redor Agulhas Escarlates, feixes de luzes brutais, a pedra que se quebrava com a força de Aldebarã, fendas dimensionais sendo abertas e fechadas.

Era uma batalha inenarrável, mas Seiya não tomou detalhe de absolutamente nada que acontecia, pois carregou o Escudo com suas duas mãos até a beirada daquele platô, onde podia ver todas as Doze Casas. 

Uma última vez ainda olhou para o Relógio de Fogo, que parecia teimar em apagar sua última chama.

Procurou abaixo dele o templo mais distante e o único iluminado pelo domo bonito de cristal. 

Levantou o Escudo da Justiça e sentiu um cosmo terno manifestar-se dele quando emitiu um brilho próprio, como um farol no topo de uma montanha para guiar navegantes perdidos no oceano. Aquela luz iluminou vários pontos do Santuário enquanto Seiya tentava ajustá-lo para acertar no domo de cristal. Os transeuntes do vilarejo do Santuário viram sua praça se iluminar enquanto esperavam notícias das Doze Casas; do lado de fora de seu casebre, Shaina viu o brilho do farol no topo da montanha; deitada contra a parede da escadaria de Peixes, Marin sabia que seu discípulo havia finalmente conseguido.

Proteger Atena.

A luz do Escudo da Justiça encontrou o domo de cristal da Casa de Áries. A luz dourada refletiu no domo e iluminou todo o templo de Mu e o corpo de Saori e Alice, bem como ressoou ao Báculo de Ouro que servia de sentinela à Deusa Atena. Mas durou talvez um segundo, pois no segundo seguinte Seiya foi atingido violentamente por Saga de Gêmeos, que conseguiu se desvencilhar dos Cavaleiros de Ouro e jogou Seiya com violência pelo platô, de modo que ele retornasse e desmaiasse dentro do pequeno templo onde havia buscado o Escudo em primeiro lugar.

Apagou-se a chama de Peixes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Como Shiryu não lutou contra Shura, eu usei ela como escudo para Seiya pudesse ir atrás do escudo. E aqui, finalmente, ela pôde usar o Último Dragão. Foi a forma de fazer ela ter um último brilho, embora não seja nem perto da emoção da luta do Shiryu contra Shura, mas dentro dessa história Shura precisava lutar contra Aioria, faria mais sentido dentro da minha história. Sinto que eu poderia ter desenvolvido melhor a luta entre Ikki e Saga, mas... agora já foi.

PRÓXIMO CAPÍTULO: AS DOZE HORAS DE SAORI

Saori foi atingida mortalmente pela Flecha de Ouro. Enquanto os Cavaleiros de Bronze subiam as Doze Casas, a jovem precisou visitar seu próprio coração.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.