Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 64
Desmascarado


Notas iniciais do capítulo

Os delírios, a negação, as tragédias e tristezas de Saga há quinze anos expostas pelo Golpe Fantasma de Fênix.



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No Templo das Estrelas, o Camerlengo Arles prepara o corpo recém falecido de seu irmão Sião na câmara no fundo do templo. Com um turíbulo aceso, ele balança o incensário para cobrir o corpo frágil de seu irmão com uma camada de uma fumaça espessa e azulada; o corpo do Sumo Pontífice Sião está deitado em um banco de pedra largo em uma pequena câmara. Àquele tempo, suas estantes ainda estavam cheias de livros dos mais variados tamanhos, larguras; carregando conhecimentos das mais antigas civilizações ao redor do mundo.

Arles ajeitava a barra da batina branca com adornos em ouro de seu irmão, as contas eclesiásticas ao redor do pescoço e o longo cabelo grisalho com duas mechas que lhe caíam até o peito. Um rosto muito enrugado pelo tempo, pois aquele senhor viveu por mais de duzentos anos desafiando a vitalidade de um homem comum. Mas ele não era um homem comum. Sobrevivente da última Guerra Santa, Sião foi um dos únicos a sair vivo de uma terrível batalha e, por esse motivo, governou por todo esse tempo o Santuário de Atena.

Até que o tempo inabalável finalmente colheu sua vida.

Ao seu irmão, o Camerlengo Arles, ficaria a tarefa de preparar o seu corpo para o funeral e seu enterro. Bem como vestir o elmo de ouro de Sumo Pontífice temporariamente até que o escolhido sucessor de Sião finalmente fosse nomeado novo Pontífice, o que deveria ocorrer dali a alguns dias.

Deixou o turíbulo no chão, que ainda queimava suas ervas aromáticas, e caminhou até a estante cheia de livros à sua frente. Em um espaço entre tomos, ele pegou um cálice que havia preparado, respirou fundo, fechou os olhos e tomou o líquido completamente, devolvendo a taça dentro da estante.

Ajoelhou-se diante daquela santa figura.

— Descanse em paz, meu irmão.

Levantou-se e saiu do pequeno cômodo para encarar o seu próprio destino.

Saiu do Templo e encontrou um Cavaleiro de Ouro esperando-o, a Armadura de Gêmeos no corpo e o elmo de duas faces nas mãos, seu rosto bondoso e calmo ajoelhado esperando a saída do Camerlengo.

— Este é um lugar destinado somente ao Grande Mestre Sumo Pontífice e ao seu Camerlengo. — falou a voz de Arles usando seu elmo de ouro, mas sua batina negra. — O que faz aqui, Saga de Gêmeos?

O homem diante dele levantou-lhe, os olhos calmos, e falou com sua voz grave.

— Todos no Santuário me admiram e me adoram como se eu fosse um deus. Cumpri com todos os requisitos e tenho guardado o Selo dos Mares por anos a fio. Por que não fui escolhido sucessor?

O Camerlengo respirou fundo ao responder.

— Meu sagrado irmão Sião escolheu Aioros, pois ele possui a bondade, a inteligência e a coragem próprias para ser o próximo Pontífice do Santuário.

— Não me julgo inferior a Aioros em nenhum desses aspectos. — respondeu Saga. — Diga-me, Camerlengo Mestre Arles, você foi a pessoa mais próxima do Papa Sião, por que não fui escolhido?

O Camerlengo Arles sabia exatamente o motivo, pois era, afinal de contas, o confidente e braço direito de seu irmão, o Papa Sião. E por dias e noites confabularam sobre a importante escolha que ele teria de fazer.

— Meu irmão Sião sentia uma grande indecisão e dúvidas terríveis em seu Cosmo, Saga. Aspectos que não são permitidos a um Sumo Pontífice de Atena. — falou a voz mais calma do Camerlengo. — Ele bem sabia do respeito que você inspira no Santuário e de quão dedicado é para com sua missão. De minha parte, sempre que o olho nos olhos, vejo que existe um veneno profundo em seu corpo o qual nem mesmo eu sei do que se trata.

As palavras pairaram entre os dois como a fumaça do turíbulo que queimava dentro do Templo das Estrelas. Feito uma estrela que morre de repente, o punho de Saga de Gêmeos avançou e entrou no peito do Camerlengo Mestre Arles, que imediatamente perdeu a respiração. Próximo como estava, as últimas coisas que viu foram os cabelos esbranquiçados de Saga e seus olhos avermelhados de loucura.

Seu corpo caiu aos pés do Cavaleiro de Gêmeos, que sorria. Ele tomou o elmo de ouro e colocou em sua própria cabeça, confessando ao corpo moribundo de Arles o que seria dali para frente.

— Tomarei seu lugar e Aioros jamais ascenderá como Pontífice.

— Então eu tinha mesmo razão. Você não é bondoso como um deus, mas ardiloso feito um demônio.

A gargalhada de Saga foi interrompida quando ele notou que do corpo de Arles, agora morto, brilhou uma forte aura branca ao seu redor.

Um brilho que tomou toda a Colina das Estrelas e cegou os olhos alucinados de Saga.  Quando os abriu, viu-se outra vez na escuridão de um altar cujo piso era de mármore escuro; ao seu lado estava ajoelhado Aioros de Sagitário e diante deles estava o trono de ouro do altar de Atena. O Papa Sião sentado e o Mestre Camerlengo de pé ao seu lado.

A voz envelhecida, rouca e falha do Pontífice falou a eles.

— Como devem saber, a Deusa Atena retornou à Terra. Nascendo outra vez em sua forma humana. — tossiu levemente. — Isso é sinal de que o mal está prestes a se levantar novamente. O Selo de Atena hoje vigiado nos Cinco Picos Antigos lentamente perde a sua força. O que significa que uma nova Guerra Santa está para se iniciar.

Os Cavaleiros de Ouro usando suas sagradas Armaduras apenas escutavam o Papa falar.

— Meu tempo como Sumo Pontífice chegou ao seu final. Tenho poucos dias após uma longa vida de serviço à Atena e à paz na Terra. Mesmo a mim o Tempo é implacável. Portanto, devo escolher aquele que me sucederá nesse trono de ouro.

Com dificuldades, mas com a ajuda de seu irmão, o Camerlengo, o Papa Sião levantou-se e caminhou até os Cavaleiros de Ouro. Ele andava curvado, pois o tempo havia levado sua vitalidade. Foi diante dos dois que anunciou.

— Aioros de Sagitário, você possui bondade, inteligência e coragem. A você confiarei o posto do Sumo Pontífice do Santuário de Atena.

— O quê?! — espantou-se o jovem homem. — Tem certeza disso, Mestre Sião?

— Ainda que os Doze Cavaleiros de Ouro estejam finalmente entre nós, muitos deles são jovens demais, bem como os aspirantes a Cavaleiros de Prata e de Bronze. Em pouco mais de uma década a partir desse nascimento, uma terrível Guerra Santa se iniciará. Quero que você cuide de Atena e prepare os Cavaleiros para quando a hora chegar. Você, Aioros, é o escolhido.

Ele apenas ouviu e aceitou a missão, fechando os olhos.

— Saga. — chamou Sião próximo deles. — Essa é a minha decisão. Gostaria que ajudasse Aioros a construir esse futuro para Atena.

— Não medirei esforços para ajudar Aioros, Papa Sião. Servirei à Atena e à justiça, continuarei dedicando a minha vida junto ao Selo do Mar. Também acredito que Aioros seja a pessoa ideal para se tornar o próximo governante do Santuário.

— Saga, eu confio na bondade de seu coração. Você pode ser quem você quiser ser, basta confiar na justiça e em Atena.

E essas foram as últimas palavras que Saga ouviu do Sumo Pontífice Sião, pois na noite seguinte ele viria a morrer em paz ao lado de seu irmão. Saga olhou ao lado e viu Aioros, que devolveu seus olhos confiantes para o amigo, mas então não estavam mais no altar frio de Atena, pois estavam debaixo de uma noite estrelada, ajoelhados na pedra diante da gigantesca Estátua de Atena.

O Cavaleiro de Gêmeos olhou ao redor e notou que haviam ali os outros nove Cavaleiros de Ouro que viviam no Santuário. Apenas ele e Aioros eram maduros; Shura, Máscara da Morte e Afrodite eram mais jovens e os demais não passavam de crianças imberbes, todas com suas grandes Urnas de Ouro ao seu lado.

Nos braços do Papa Sião havia um enxoval branco com uma criança recém nascida que não chorava, apenas gemia adoravelmente nos braços daquele senhorzinho de elmo curioso.

— A chegada de Atena. — anunciou Sião para eles. — A chegada de Atena é o sinal de que uma Guerra Santa acontecerá em breve. Todos vocês devem se preparar para essa batalha.

Passou o adorável bebê para os braços de seu irmão Arles e então novamente se dirigiu àquela reunião de Cavaleiros Dourados.

— É também chegado o momento de escolher o meu sucessor. — falou Sião gravemente com sua voz rouca de velhice. — O tempo chega para todos e chegou para mim. Escolherei dentre um de vocês alguém que ascenderá ao posto de Sumo Pontífice e governará por Atena seu Santuário.

Os mais jovens ali olharam-se entre si, alguns inclusive trocando algumas palavras assustadas, até que um deles pediu a palavra.

— Com todo o respeito, Sumo Pontífice Sião, permita-me dizer algo. — pediu ela, uma garota de cabelos desarrumados e terrivelmente negros.

— Diga, jovem Shura. — permitiu Sião.

— Somente Saga ou Aioros poderiam ser escolhidos para essa missão. Não são apenas os mais velhos entre nós, mas são também donos de toda benevolência, sabedoria e valentia nas quais todos nós nos espelhamos.

— Compreendo seu coração, jovem Shura. Obrigado por compartilhá-lo com todos nós. Irei levar em consideração suas palavras.

— Perdoe-me se falei demais, Pontífice.

— Não há nada do que se desculpar. De qualquer forma, tomarei a decisão o quanto antes e quando chegar o momento, o novo Pontífice receberá o apoio de todos. Por Atena.

— Por Atena. — repetiram todos.

Por Atena.

Por Atena.

As palavras ecoavam em sua mente, enquanto ele estava deitado em uma cama dura na escuridão da Casa de Gêmeos. Seu corpo trêmulo de frio.

— É você quem deveria ser o Sumo Pontífice.

— Cale-se! — respondeu Saga para o vazio.

A voz que lhe falava na escuridão era a sua própria voz.

— Você é quem tem o maior poder. É o mais capaz.

— Não sou!

— Não tente negar a realidade. Você sabe dentro de você do que é capaz. O Submundo invadirá a Terra dos Vivos e Atena ainda é apenas uma criança.

— Ela não conseguirá. — lamentou Saga, respondendo à sua mente.

— Domine tudo, Saga. Domine a todos.

— Eu não posso.

— Há um segredo escondido no deserto de neve. Com ele você poderia reinar sobre todos.

— Cale a boca! — pedia Saga.

— Entregue-se, Saga. Seja quem você deseja ser. Um deus debaixo do céu. Use seu enorme poder, aquela criança não é capaz de manter os deuses onde estão e você sabe melhor do que ninguém.

Saga tremia e a voz que ecoava em sua mente na Casa de Gêmeos continuava falando e falando e falando, levando-o à loucura. Até que finalmente levantou-se de sua cama com os olhos enlouquecidos e o seu Cosmo esverdeado de ódio. Para encontrar-se no altar de Atena. O trono de ouro vazio, a batina negra em seu corpo, o elmo de ouro na sua cabeça.

Na mão direita ele tinha uma bonita adaga de ouro.

Correu para atrás das cortinas vermelhas e desembocou em um corredor, onde foi recebido por quatro mulheres enfaixadas dos pés à cabeça.

— Camerlengo? O que faz aqui? — perguntou a primeira.

Ele não respondeu e seu Cosmo dourado atacou as quatro garotas ao mesmo tempo, rompendo-lhes o peito mortalmente. Caíram uma a uma ao seu redor enquanto ele marchava pelo corredor, decidido a tirar a vida da criança. 

Abriu e fechou o cômodo em que dormia o bebê um sono de paz em um berço de madeira lindamente entalhado, mas também muito antigo. Saga estava ofegante debaixo da máscara, mas também parecia não ter qualquer dúvida em seu coração. Ergueu a adaga acima da cabeça e desceu para dilacerar o pequeno corpo, quando seu punho foi detido pelo jovem Aioros.

Assim que viu diante de si a imagem do rapaz que fora escolhido para ser o Sumo Pontífice, o coração balançou.

— O que está fazendo, Camerlengo? — perguntou Aioros, desesperado.

— Não me detenha, Aioros! — respondeu uma voz estranha debaixo da máscara.

Saga tentou outra vez descer a adaga, mas então Aioros tirou o bebê de dentro do berço para ficar com ela nos braços próximo à janela da torre.

— O que está se passando em sua cabeça, Mestre Camerlengo? Será possível que a morte de seu irmão o enlouqueceu? Essa é a reencarnação de Atena! Não é possível isso que estou vendo, o corpo das corujas de Atena estão todas mortas. O que pensa que está fazendo?

— Saia do meu caminho, Aioros!

 

Ele avançou para o jovem guerreiro, mas foi acertado no estômago com tanta violência que, quando bateu contra a parede, seu elmo dourado caiu no chão revelando sua face aterradora. 

— O quê?! — assombrou-se Aioros ao ver o dono daquele rosto. — Camerlengo? Não, você não é o Camerlengo. Você é… Saga? 

Saga debaixo da batina negra do Camerlengo respirava fundo.

— Viu meu rosto. Não vai viver. Você não pode viver! — ameaçou Saga.

E seu punho disparou uma energia cósmica poderosa obrigando Aioros a se jogar da janela para fugir com o bebê. Saga tomou o elmo do chão e, chorando, saiu pelos corredores horrorizado, mas com uma terrível dor na mente; viu os corpos das corujas de Atena mortas no corredor e tomou caminho para a saída até o Colosso de Atena.

Correu até um parapeito no ponto mais alto do Templo, onde havia um pedestal de pedra enorme do qual Saga precisou subir alguns lances de escada. Aquela era uma complexa construção de pedra que reverberaria suas palavras por todo o Santuário. Seu Cosmo ergueu-se dourado e ameaçador; ele colocou as mãos dentro de um pequeno vaso, enfiando-as em uma areia branca, de modo que seu Cosmo se espalhasse por toda aquela construção de pedra. Respirou fundo e bradou uma voz que naquela triste noite foi ouvida por todo o Santuário.

— Venham todos! Um traidor! Aioros tentou matar Atena! Um traidor!

Aquelas palavras ecoaram por todo o Santuário e por muitos anos foi repetida em todas as tavernas e bodegas da região por quem jurava que estava acordado naquela noite.

Saga abriu os olhos, tirou as mãos de dentro do vaso e então ajoelhou-se diante do Colosso de Atena. Jogou o elmo dourado para o lado, revelando seus cabelos naturais outra vez, e ali em desespero chorou aos pés da Deusa que deveria proteger, pedindo que ela levasse a sua vida embora. Aos prantos. Uma profunda dor no peito.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Baseado no Episódio Zero e nos eventos do Mangá Clássico e do Anime.

PRÓXIMO CAPÍTULO: SAGA

A batalha derradeira contra o homem que se disfarçou debaixo da máscara do Camerlengo. Seu verdadeiro nome finalmente é pronunciado. Saga.



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