Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 61
Doce Aroma da Morte


Notas iniciais do capítulo

Os Cavaleiros de Bronze finalmente chegam à Última Casa do Zodíaco: Peixes. Um Cavaleiro de Ouro que já havia estado com Saori como Atena. Porquê então o Cavaleiro de Peixes insiste em lutar pelo Camerlengo? Shun vai querer saber.



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 Seiya, Shun e Shiryu seguiam pelas escadarias das Doze Casas, a noite sobre eles; ao longe, no Relógio de Fogo, viam como as chamas de Aquário e de Peixes ainda queimavam fortes. Renovados por terem ganhado horas preciosas graças à ajuda de Aioria e o sacrifício de Hyoga.

— Que cheiro é esse? — perguntou Shiryu para os amigos.

E então Seiya finalmente notou que, enquanto subiam, mais e mais rosas apareciam pelas escadas.

— São rosas, Shiryu. — falou o amigo.

Lembraram-se imediatamente daquela figura jovem e bela da Triste Noite, um Cavaleiro de Ouro que usava Rosas contra seus inimigos. Pois aquilo fez Shun ter certeza de outro detalhe que agora parecia distante, mas em verdade fazia apenas poucos dias que ficara sabendo.

— Seiya, Shiryu, esperem. — pediu ele.

— O que foi, Shun?

— Preciso pedir algo para vocês. — começou ele. — Quero que vão direto para o Templo do Camerlengo. O Cavaleiro de Peixes é a pessoa responsável pelo ataque à Ilha de Andrômeda e eu quero ter a chance de lutar por meu Mestre.

— O local de seu treinamento, Shun? — perguntou Shiryu.

— Sim. June me contou em Jamiel que um único Cavaleiro de Ouro foi capaz de vencer meu Mestre em batalha bem como matar quase todos os aspirantes da ilha.

— Como sabe que foi ele, Shun? — perguntou Seiya.

— As rosas. Ele deixou para trás uma única Rosa.

Seiya viu ao seu redor dezenas e dezenas de rosas vermelhas, brancas e pretas.

— Nós fizemos um juramento, não é mesmo? — continuou Shun. — Pelo menos um de nós precisa chegar ao Templo do Camerlengo para salvar Atena.

— Tem certeza, Shun? — perguntou Shiryu.

— Sim. — confirmou ele. — Mas, antes de partirem, eu gostaria de alertá-los sobre algo que tenho pensado desde que deixamos a Casa de Gêmeos.

Shun tirou de dentro de sua armadura uma espécie de escapulário com contas eclesiásticas quebradas grudadas em uma corrente de ouro. Deu para Seiya segurar nas mãos.

— O que é isso, Shun?

— É um rosário. Ele voltou junto da Corrente de Andrômeda quando venci o Cavaleiro de Gêmeos.

— Um rosário? — perguntou Shiryu, curioso.

— Amigos, se o Cavaleiro de Peixes for aquele que domina as Rosas como vimos na Triste Noite, eu suspeito que o verdadeiro Cavaleiro de Gêmeos seja aquele que está se passando pelo Camerlengo, o servo do Pontífice de Atena.

— O Cavaleiro de Gêmeos?

— Mas Shun, o Cavaleiro de Gêmeos era apenas uma ilusão na terceira Casa, ele não existia de verdade.

— Eu não posso explicar, Shiryu, mas esse rosário sem dúvidas deve pertencer à ordem do Pontífice de Atena. Se não o Camerlengo, alguém muito próximo a ele pode controlar até mesmo uma Armadura de Ouro como a de Gêmeos.

— Gêmeos. — pensou Seiya sozinho, lembrando-se de que o Cavaleiro também estava na fatídica noite.

— Nesse caso, devemos tomar cuidado para não nos deixarmos ser enganados por possíveis ilusões no Templo, Seiya. — alertou Shiryu, lembrando ao amigo o que havia se passado no terceiro templo.

— Está certo. — agradeceu Seiya.

— Eu logo estarei junto de vocês. — prometeu Shun.

E juntos finalmente seguiram as escadarias para o décimo segundo templo, a Casa de Peixes.

 

—/-

 

Ao chegarem aos últimos degraus para o templo final, os três viram-se atacados por três flores voadoras, das quais se esquivaram jogando-se para os cantos das escadas. Shun olhou para suas costas e três maravilhosas rosas vermelhas cintilavam na escadaria.

— O Cavaleiro de Ouro! — anunciou Seiya vendo que a figura estava na entrada da Casa de Peixes.

Era um homem maravilhoso.

Sua Armadura de Ouro tinha algumas pequenas e discretas barbatanas nos cotovelos e nas coxas, uma capa oceânica maravilhosa lhe caía das costas, os cabelos claros, cheios e sedosos brilhavam refletindo a luz de seu cosmo dourado. Os olhos delineados e delicados, a boca brilhante de uma tintura rosada e bela.

Tinha na boca, no entanto, uma rosa vermelha e perfeita. O elmo seguro nos braços.

O Cavaleiro de Peixes era o homem mais lindo que existia.

Seiya e Shun estavam embasbacados com aquela magnífica visão, pois com efeito seu corpo todo parecia cintilar de dourado; apenas Shiryu estava livre de seu feitiço.

— Quem é você? — perguntou Seiya.

O Cavaleiro de Peixes arrumou os longos cabelos e sorriu de maneira apaixonante para eles.

— Eu sou Afrodite de Peixes.

— Afrodite. — repetiu Seiya para si. — Então você é o último Cavaleiro de Ouro.

— Vamos, amigos. Sigam em frente! — pediu Shun.

— Certo, Shun. — concordou Shiryu.

E então os dois correram e atravessaram ao lado do maravilhoso Cavaleiro de Peixes. Afrodite virou-se para persegui-los, mas a Corrente de Andrômeda rasgou o ar e segurou seu punho direito para que se detivesse.

— Espere, Afrodite. Não o deixarei ir a lugar algum enquanto meus amigos não atravessarem essa Casa.

— Garoto, vou lhe dizer uma coisa. — falou Afrodite e, curiosamente, ele tinha uma voz aveludada e grave. — Mesmo que aqueles Cavaleiros de Bronze atravessem essa Casa, eles não chegarão até o Templo do Camerlengo.

— O que quer dizer com isso?

— Que morrerão em meu cortejo fúnebre de rosas.

E deixou escapar uma risada divertida e debochada.

 

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Tanto Seiya como Shiryu atravessaram a Casa de Peixes, que tinham fontes e pequenas cataratas em um lugar bem iluminado, jardim de rosas e quadros maravilhosos. Mas deixaram o ambiente opulento para trás e finalmente saíram para a noite da Grécia em direção ao seu destino final: o Templo do Camerlengo.

— Vamos, Shiryu! Finalmente passamos pelas Doze Casas, mas… O que é isso?

— O que foi Seiya?

À frente deles, Seiya pôde ver como a escadaria que levaria até o Templo do Camerlengo estava absolutamente tomada de rosas vermelhas, como um imenso tapete cobrindo toda a distância de onde estavam até o topo da montanha. 

— São rosas, Shiryu. Pra todos os lados, o caminho está coberto por rosas e espinhos daqui até o topo da montanha. É um grande tapete vermelho.

— Seu cheiro é realmente poderoso. — comentou a garota. — Mas não é só isso, Seiya, posso sentir também um cheiro sutilmente azedo à nossa frente, que me faz lembrar do cheiro de certos venenos.

— Veneno? — perguntou Seiya. — Droga, nós conseguimos atravessar as Doze Casas, não serão essas rosas que vão nos impedir. Vamos, Shiryu!

E foram. Saltaram para as escadarias ignorando o tapete de rosas e correram o quanto podiam para chegar o quanto antes no Templo do Camerlengo. E, conforme corriam, seus pés levantavam nuvens de pétalas que entravam na frente do caminho. Os espinhos aos poucos começavam a picá-los nos calcanhares, como se fosse possível, e algumas das rosas que flutuavam feriam-nos dos quadris aos ombros.

Seiya aos poucos sentiu como seus olhos vacilaram e perderam o foco.

— Seiya! — chamou Shiryu. — Essas rosas não são normais. Tem algo errado.

— Eu sinto a mesma coisa, Shiryu. Meu corpo parece que está adormecendo.

— Minhas pernas estão pesadas. 

Os dois então pararam. 

E parar foi um erro terrível, pois lentamente tanto um como a outra perderam a consciência e caíram no tapete de rosas. 

 

—/-

 

Shun puxou a corrente fazendo com que Afrodite de Peixes o encarasse de frente.

— Explique-se, Afrodite.

— As Rosas que cobrem o caminho não são rosas comuns. São Rosas envenenadas plantadas e cultivadas em jardins reais do passado com o objetivo de deter inimigos de se aproximarem. São as Rosas Diabólicas Reais. Assim que você aspira o pólen ou toca nos espinhos, as suas funções motoras diminuem aos poucos, e os cinco sentidos do corpo se apagam lentamente. Até que a pessoa dorme eternamente.

Ele abriu os olhos e olhou para Shun.

— Duvido que consigam dar dez passos no caminho de rosas.

Shun olhou adiante para a saída da Casa através de um lindo pátio e fez menção em seguir os amigos, mas dessa vez foi Afrodite que puxou a corrente que ainda estava em seu punho. 

— Espere. Aonde pensa que vai? — perguntou ele. — Achei que você lutaria comigo, Andrômeda.

Sua voz doce e grave repetiu com clareza a constelação de Shun, o que o deixou espantado, pois parecia conhecê-lo. Seus olhos eram belos e hipnóticos.

— Sabe quem eu sou? — perguntou Shun, assombrado.

— Você é um dos discípulos do falecido Mestre Dédalo, da Ilha de Andrômeda. Somente a eles é permitido o uso das Correntes no Santuário. — falou Afrodite, mexendo na corrente que ainda lhe prendia o punho.

— Então foi mesmo você quem puniu todos os habitantes da ilha e matou meu mestre. — falou Shun, entristecido. — Sabe quantos amigos eu perdi?

— Eu sinto muito, Andrômeda. Mas isso é o que acontece em uma Guerra, principalmente quando se está do lado errado. Seu Mestre era muito respeitado e sua força equiparada a dos Cavaleiros de Ouro, mas ele foi um dos que levantou suspeitas sobre o Camerlengo, bem como recusou inúmeros chamados para retornar ao Santuário. E por esse motivo foi punido.

— Como pode concordar com algo desse tipo, Afrodite?

— Você é muito jovem ainda, Andrômeda. O Santuário de Atena trava batalhas contra inimigos de lealdade inabalável. Não nos é permitido ter dúvidas dentro de nossas próprias linhas de defesa, ou seríamos presas fáceis. Quando a Guerra é Santa, as dúvidas e suspeitas dos que estão ao nosso lado podem ser a maléfica influência de um inimigo. Não pode existir.

— Mas o Camerlengo é a própria encarnação desse mal dentro do Santuário.

— O Camerlengo é um homem poderoso, imenso, capaz de liderar o exército de Atena por duas vezes em batalhas terríveis. E se existe a paz nessa terra para que você possa cultivar o amor e a beleza, é por conta do punho inabalável do Camerlengo.

— Ele não é quem ele diz que é.

— Eu sei bem quem ele não é e exatamente quem ele é.

Shun assombrou-se, pois então imaginou que todos naquele Santuário que seguiam aos mandos e desmandos do Camerlengo o faziam por desconhecer a verdade, mas ali diante dele um Cavaleiro de Ouro belo e honrado parecia saber exatamente quem ele era.

— Como pode estar ao lado de uma pessoa como ele?

— Eu estou ao lado da força.

— Ele tentou matar Atena há quinze anos, tentou hoje novamente e agora ela está sofrendo na Casa de Áries!

— É lamentável que aquela adorável garota agora sofra na Casa de Áries, mas a minha missão é proteger a Terra. — começou ele. — E jurar lealdade a alguém como ela é o mesmo que trair todas as pessoas que vivem aqui. E isso eu não posso fazer. Somente a força pode garantir a justiça.

— E como ficam os mais fracos? Devem sempre se submeter aos mais fortes?

— É exatamente isso, Andrômeda. Não há nada mais belo debaixo desse céu do que a imensa força do poder. É graças ao poder do Mestre que a paz reina nesse planeta.

— Pois não é isso que a Saori representa, não é isso que Atena representa!

— E é por isso que ela agora morre na Casa de Áries. Seu amor é tocante, mas não pode garantir que as pessoas vivam em paz em suas casas enquanto os Deuses lutam no Olimpo.

— Não posso concordar com isso! — falou Shun.

— Então terá de lutar comigo, Andrômeda.

O Cavaleiro de Ouro puxou a corrente e Shun com violência até ele. O corpo de Shun voou pela casa; Afrodite desviou para não ser acertado por ele e simplesmente deixou que o garoto se espatifasse contra uma coluna, caindo em uma fonte baixa que a Casa de Peixes tinha em uma área ampla e circular.

 

—/-

 

Shun levantou-se limpando a água que lhe molhara os cabelos ao se espatifar contra a pequena fonte rasa. Ele virou-se para ver que Afrodite caminhava até aquele enorme salão. O Cavaleiro de Andrômeda teria de lutar mais do que se defender. Ele já havia tocado o Sétimo Sentido outras vezes e, talvez de todos seus amigos, fosse aquele que mais profundamente havia compreendido as palavras de Mu de Áries. Justamente por sua natureza de sempre pensar nos outros antes de si próprio, Shun parecia mais capaz de conectar-se a um universo cósmico, parte de algo muito maior. Fechou os olhos e suas Correntes vibraram no ar.

Ele odiava lutar, mas tinha de vencer o Cavaleiro de Peixes se quisesse ajudar seus amigos Seiya e Shiryu.

— Eu vou te vencer, Afrodite de Peixes! — jurou Shun. — Vou vingar a morte de meu Mestre Dédalo e te mostrar que a força de Atena está na fé que temos nela e tudo que ela representa!

Afrodite não se abalou com aquela ameaça e recolocou seu elmo que tinha no braço esquerdo para cobrir seus bonitos cabelos; seu Cosmo dourado cobrindo seu corpo com uma aura linda de se ver cintilando pontos brilhantes por todo seu corpo.

— Veremos como se sairá com o aroma das Rosas Diabólicas Reais. A beleza das cores dessa flor combinará perfeitamente com sua jovem beleza, Andrômeda. E assim morrerá junto aos seus desafortunados amigos e àquela jovem garota na Casa de Áries.

Shun viu como o brilhante Afrodite conjurou uma única rosa vermelha com sua mão direita e a atirou na direção de Shun; mas então centenas de outras rosas apareceram, com pétalas ao redor, para varar Shun e o arremessar outra vez contra pilastras próximas. Um ataque veloz que Shun mal teve discernimento de compreender.

O Cavaleiro de Andrômeda notou, ao abrir os olhos, que ao seu redor havia muitas rosas. Como se houvesse caído em um jardim florido. Mais desconcertante, no entanto, era que ele não sentia qualquer dor; estava em profundo torpor. O peito leve. Uma morte lenta e confortável. Não sentia-se mal, muito pelo contrário, talvez não se sentisse tão bem há muito tempo. Tempo demais. Lembrou-se de June na Ilha de Andrômeda, de seus amigos de treinamento e de seu Mestre Dédalo. De como juntavam-se todos na mesma casa no frio gélido da Ilha para contarem histórias de terror e manterem-se aquecidos.

Quase todos eles agora estavam mortos e existiam tão somente em suas bonitas memórias; assim como seu mestre Dédalo. Um homem tão rigoroso quanto amável. Dizia a Shun que a ele aplicava os treinamentos mais duros, pois dele esperava mais do que dos outros, por ser tão forte quanto todos, mas muito mais bondoso. Seu Teste do Sacrifício foi a última vez em que vira seu Mestre; Shun acorrentou-se a dois pináculos de pedra no meio do oceano, cuja maré rapidamente erguia-se e o afogaria caso não pudesse se soltar a tempo.

Foi naquela tarde que despertou tão profundamente seu Cosmo ao ponto de criar um tufão no oceano, domar as correntes e provar ser digno da Armadura de Andrômeda. Mas agora ele morria e voltaria para junto deles. Para junto de Seiya e Shiryu, também vitimados no cortejo de rosas, ao lado de Saori, varada pela Flecha de Ouro, e também de Hyoga, congelado na Casa de Aquário. Ao lado de Xiaoling, perdida no Limiar da Morte. E de tantos outros no curso daquelas terríveis batalhas.

Mas seu Cosmo, que era a parte mais profunda do seu ser, se recusava a desistir. 

E Shun levantou-se daquele jardim florido.

— Por que se levanta? Poderia ter morrido em paz sem dor alguma. Se tivesse mantido os olhos fechados não teria de sofrer o horror da morte, Andrômeda.

— Eu não sou tão fraco assim para preferir morrer em paz.

— Não se esqueça de que seus cinco sentidos estão se esvaindo rapidamente graças ao veneno da rosa. Se continuar lutando, vai apenas prolongar seu sofrimento. — falou Afrodite seriamente. — Mas se esse é o caminho que você escolheu, então vou te respeitar.

Seu Cosmo outra vez brilhou e as Rosas Diabólicas Reais voaram pela Casa de Peixes para atingir Shun, mas o garoto brilhou seu Cosmo profundamente e jogou a corrente circular para o ar, criando uma matriz giratória para proteger o seu corpo contra todos os ataques daquelas rosas vermelhas.

 

A corrente girava com velocidade, impedindo qualquer rosa, espinho ou pétala de chegar até seu corpo. Afrodite parecia confuso diante dele.

— Que fascinante. — apontou Afrodite. — Seu mestre Dédalo teve o corpo dormente com apenas uma dessas rosas e, no entanto, você foi capaz de evitar o meu golpe mesmo depois de ser atingido.

E agora era a vez de Shun atacar; ele recolheu a corrente circular e lançou a corrente triangular com ainda mais violência, aproveitando-se de que o Cavaleiro de Ouro não esperava ter seu golpe detido. Mas Afrodite simplesmente desapareceu, esvaindo-se em pétalas de rosas. Shun viu-se assombrado com aquele truque.

— Que incrível, Afrodite simplesmente sumiu como se consumido por uma cortina de rosas!

Olhou para os pés e notou que tinha pétalas vermelhas por todo o lugar rodopiando à altura de seus calcanhares. Compreendeu que se algo não fosse feito, um cortejo de rosas seria entregue ali mesmo para ele. A risada grave e elegante de Afrodite ecoou na casa.

— Você se orgulha da capacidade defensiva da sua Corrente Circular, mas as minhas adoráveis Rosas também me protegem.

Shun buscava com os olhos onde poderia estar seu inimigo, mas não o encontrava em canto nenhum daquele salão; de todo modo, ele não precisava ver para saber onde o Cavaleiro de Peixes estava.

— É inútil, Afrodite, a minha Corrente Triangular pode achá-lo onde quer que você se esconda. Mesmo que esteja a milhares de anos-luz daqui. — o garoto ardeu seu Cosmo e lançou a corrente. — Onda Relâmpago!

A Corrente Triangular quebrou pela Casa de Peixes feito um raio e atingiu algo no ar que fez voar um elmo dourado. Mas, ainda assim, o dono do elmo não reapareceu e continuou escondido na névoa de pétalas.

— Eu disse que não tinha onde se esconder, Afrodite! A minha Onda Relâmpago vai te caçar!

E outra vez a Corrente Triangular foi como um raio pela Casa de Peixes e outra vez atingiu algo com violência, ecoando o clangor metálico de que havia chocado-se fortemente com Afrodite. Mas Shun ficou abismado ao perceber que a Corrente Triangular havia simplesmente chocado-se com uma única Rosa que flutuava no ar. A ponta da corrente enterrada nas pétalas da rosa paralisada no ar. Era uma rosa maravilhosa, de um preto profundo e escuro. Uma Rosa Negra.

Afrodite de Peixes reapareceu atrás da rosa negra e Shun percebeu que ela estava, na verdade, em sua mão esquerda. O Cavaleiro de Ouro não tinha mais o elmo, atingido anteriormente, e um filete de sangue escorria de sua testa. No rosto, desenhava-se um sorriso decidido.

— Não imaginei que um rosto doce como o seu guardasse um espírito de luta tão forte. — falou Afrodite inicialmente. — Todos aqueles que recebem as Rosas Diabólicas Reais morrem inevitavelmente, não há como escapar. Mas vejo que você não tem paciência para esperar a hora de sua morte em silêncio. Nesse caso, acabarei com a sua vida rapidamente.

O Cavaleiro de Ouro arrumou o cabelo.

— E vou começar tirando-lhe a sua preciosa corrente.

Daquela única rosa negra que agora parecia segurar a Corrente tensa no ar, um redemoinho de outras rosas escuras apareceu envolvendo a corrente de Shun.

— Sinta o terror de minhas rosas negras!

As rosas pretas ao redor da corrente moviam-se violentamente e seus espinhos, como se feitos de aço, aos poucos erodiam o bronze da corrente quebrando seus elos.

— Dancem, Rosas Negras. Dancem, Rosas Piranhas!

A Corrente Triangular foi completamente obliterada e destruída, caindo diante de Shun em milhares de pedaços; ele ficou em profundo assombro ao ver o resultado daquela técnica maldita.

— Mas o que são essas Rosas Negras? — perguntou ele, surpreso.

— As Rosas Diabólicas Reais conduzem você à morte lentamente. — falou Afrodite. — Porém, estas Rosas Negras matam o inimigo em segundos. Os espinhos das Rosas são como piranhas amazônicas, que rasgam tudo que encontram. E agora você será despedaçado por esses espinhos.

Seu Cosmo dourado manifestou-se como uma bonita aura ao redor de seu corpo e novamente as Rosas Negras foram lançadas em um baile maravilhoso de pétalas e rosas na direção do Cavaleiro de Andrômeda.

— Corrente Circular! Me proteja!

A corrente circular, ainda intacta em sua mão esquerda, tomou a forma daquela matriz giratória ao redor de seu corpo novamente, mas, como Afrodite havia dito, aquelas Rosas Negras, feito piranhas, fatiaram a corrente em pedaços também. E, para o pesadelo de Shun, as terríveis Rosas Negras não se contentaram com as correntes, pois também estraçalharam e destruíram toda a maravilhosa Armadura de Andrômeda restaurada por Mu. O doce garoto caiu na Casa de Peixes seminu, com a pele terrivelmente rasgada e vertendo sangue por seus ferimentos.

 

—/-

 

Afrodite de Peixes deixou o corpo de Shun onde estava e rumou para a entrada de seu templo, pois podia sentir naquela noite que se estrelava como Cosmos poderosos que só podiam pertencer a Cavaleiros de Ouro pareciam ter invadido a Casa de Aquário, onde um irmão seu parecia ter se despedido da vida.

O Cavaleiro de Peixes, no entanto, teve sua atenção tomada, pois atrás de si, no salão oval, Shun parecia ainda vivo.

— Ainda não desistiu? — perguntou ele para Shun que mal o escutava, pois seus cinco sentidos se esvaíam. — Não lhe resta mais nada. Sem as suas correntes, você já não pode me atacar, tampouco se defender. Espere a hora de sua morte. Não quero mais ver sangue.

Mas Shun recusava-se a morrer e, perdido em seus sentidos, lembrando-se de sua irmã e de todas as pessoas que amava, o Cavaleiro de Andrômeda parecia ter um Cosmo ainda mais forte do que nunca. Um Cosmo que ressoava com as memórias que Shun tinha ao lado de Saori no refúgio das montanhas, os cafés-da-manhã, as almofadas, as noites de histórias. Ele era um Cavaleiro de Atena e um amigo de Saori. Lutaria por ela.

— Seu Cosmo é tão maravilhoso, Cavaleiro de Andrômeda. Ele brilha como uma fonte de água doce que verte de um jardim florido. Mas é tão belo quanto incompreensível, pois era para estar morto. Foi atingido por minhas Rosas Diabólicas e também pelas Rosas Piranhas.

O jovem guerreiro lentamente levantou-se ascendendo ainda mais sua cosmo-energia, fazendo com que Afrodite, pela primeira vez, se detivesse e até experimentasse uma certa ameaça. Pois ali diante dele estavam as duas coisas que mais o impressionavam: a beleza e o poder. E, naquele momento, o Cavaleiro de Andrômeda unia as duas coisas em seu Cosmo puro.

— Afrodite. — falou Shun com dificuldades. — Perdoe-me por chegar a esse ponto.

— O que está falando, Andrômeda? O que esconde no seu Cosmo?

— Eu não gostaria e sempre evito ao máximo usar essa minha técnica, mas preciso ajudar Seiya e Shiryu a chegarem até o Camerlengo. — Shun fechou os olhos e seu bonito Cosmo tomou todo o templo.

— Seu Cosmo é admirável, Andrômeda, mas penso que o veneno de minhas rosas esteja fazendo você delirar.

Ao tentar mover-se na direção de Shun, no entanto, Afrodite notou que não podia. Não podia dar um passo sequer; muito mais do que isso, ele não podia nem mover seus braços ou o pescoço. Ao redor de seu corpo haviam fios poderosos de ar, que misturavam-se e levantavam as muitas pétalas da Casa de Peixes. Era como se o corpo do Cavaleiro de Ouro estivesse paralisado pela força bruta de uma corrente de ar violenta.

— Olhe, Afrodite. Eu imobilizei o seu corpo com o poderoso ar dessa corrente nebulosa. A sua vida agora está em minhas mãos. Se você vai morrer ou não, isso só depende da minha vontade. — Shun tinha certa tristeza nos olhos. — Mas se recolher o cortejo de rosas e salvar o Seiya e a Shiryu, eu não lhe farei nenhum mal. Mas se não cumprir, pode ter que pagar caro por isso, Afrodite.

— Não me subestime, Andrômeda. Está enganado se pensa que já viu todas as cores de minha beleza.

Seu Cosmo dourado surgiu e sua mão esquerda, como num passe de mágica, conjurou uma belíssima rosa grande e clara, de um branco puro e nevado. 

— As rosas vermelhas das Rosas Diabólicas Reais levam a um sono profundo e uma morte lenta e reconfortante. — começou Afrodite. — As rosas negras das Rosas Piranhas estraçalham seu corpo em uma morte rápida e dolorosa. Mas estou vendo que nem uma nem a outra combinam com sua beleza, Andrômeda. Talvez lhe caia melhor essa rosa branca. A Rosa Sangrenta. Assim que ela sair de minha mão, ela golpeará o seu coração.

O Cavaleiro de Peixes ascendeu seu Cosmo de Ouro, enquanto Shun do outro lado aumentou a força e velocidade de seus ventos.

— Uma vez no seu peito, a Rosa Sangrenta sugará cada gota de sangue que ainda lhe resta no corpo. Até que sua cor branca torne-se completamente vermelha. E então estará morto!

— Pare, Afrodite! 

Shun pediu para que o Cavaleiro de Ouro se detivesse, pois com sua mão ele tornou a ventania ainda mais poderosa, de modo que Afrodite tinha dificuldades até mesmo para falar.

— A força da minha Corrente Nebulosa pode aumentar infinitamente se eu quiser. Mas eu não quero te matar aqui, por favor, vamos parar com essa batalha sem sentido. Ajude-me a salvar Atena, dê uma chance à Saori!

— Quer que eu vire às costas para meu Mestre? Quer que eu me arrependa?

— Exatamente. Você é um Cavaleiro de Ouro que luta pela paz nessa terra, por que não faz isso ao lado de Atena? Deve lutar contra o Camerlengo para restabelecer a justiça no Santuário.

— Você é muito ingênuo, Andrômeda.

— Será que sou mesmo, Afrodite? Você diz que o poder é absoluto e somente através dele é que a paz pode ser estabelecida. Pois eu e meus amigos estamos aqui para lhe mostrar que meros Cavaleiros de Bronze foram capazes de atravessar as Doze Casas do Santuário. E a sua vida agora está em minhas mãos. Tudo porque fomos capazes de nos unir e despertar o Sétimo Sentido, porque acreditamos na luta de Atena. — Shun tinha a voz decidida. — O seu mestre, o Camerlengo, já não tem poder suficiente para se manter. Todos os seus aliados, um a um, caíram, e ele cairá também.

Mas, do outro lado, o Cavaleiro de Peixes conseguiu esboçar um sorriso na tempestade que lhe atacava.

— É adorável notar como está longe da capacidade de compreensão de suas pequenas mentes o tamanho do homem que está debaixo daquela máscara. A imensidão de sua força e de seu poder. Todo ato do Camerlengo é justo, Andrômeda. Você nunca entenderá!

E pensando em seu mestre foi que Afrodite fez aquilo que os Cavaleiros de Bronze fizeram durante toda sua caminhada: superou-se. Afrodite de Peixes ascendeu seu Cosmo dourado rivalizando com a corrente nebulosa, pintando a Casa de Peixes em uma miríade de cores. Tons dourados, alaranjados, róseos, carmesins, pétalas negras e, em sua mão, um único botão enorme de rosa branca brilhante.

— Não faça isso, Afrodite! — pediu Shun, sabendo que não podia mais controlar a corrente nebulosa. — A força dessa corrente nebulosa aumentará infinitamente e se transformará em uma tempestade capaz de esmagar todos os seus ossos se você resistir!

— Veremos quem morrerá primeiro. Eu com sua correnteza nebulosa ou você com esta rosa branca.

Era o embate final.

Naquele balé desesperado de cores e pétalas, Shun de Andrômeda e Afrodite de Peixes digladiaram pela última vez.

— Morra, Andrômeda, com esta Rosa Sangrenta!

O Cosmo de Peixes ascendeu de tal maneira que ele se livrou da ventania e lançou aquela única rosa branca, que rasgou o ar e fincou-se no peito de Shun. Ele perdeu o fôlego por um instante, mas então soltou o ar que tinha dentro de seu pulmão para juntar-se ao seu Cosmo poderoso espalhado pela Casa de Peixes.

— Tempestade Nebulosa!

O que antes era um vendaval tornou-se uma tempestade de magnitudes aterrorizantes; ao ponto da decoração daquele bonito templo ser inteiramente destruída em segundos, tamanha força daqueles ventos, que podiam separar o vidro de suas molduras, os detalhes de seus adornos, derrubar pilares e lustres. O corpo de Afrodite, que foi lançado para o ar, foi revolucionado e espremido por todos os lados pelos humores da tempestade terrível. Sendo arrebatado contra o teto da Casa de Peixes, que soergueu-se abrindo um rombo para o céu estrelado para onde Afrodite viu-se lançado como se engolido por um tufão.

A última coisa que viu, em queda livre, foi de um lado os onze templos abaixo da montanha e, do outro, a morada de seu amado mestre. Seu coração parou de bater e o corpo já morto espatifou-se contra a pedra da Casa de Peixes.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Achei importante trazer a perspectiva do Afrodite que já havia estado com a Saori antes em Saintia Sho para dentro da história. Fora isso, eu tentei dar uma dimensão maior do quão poderosa pode ser a Tempestade Nebulosa.

PRÓXIMO CAPÍTULO: O HOMEM POR TRÁS DA MÁSCARA

Marin finalmente descobre o segredo escondido na Colina das Estrelas enquanto Seiya e Shiryu chegam ao Templo do Camerlengo.



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