Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 43
Grande Chifre! O Touro de Ouro


Notas iniciais do capítulo

Seiya e seus amigos chegam à Casa de Touro onde ele precisa enfrentar um enorme oponente capaz de atacá-lo sem que ele pudesse ver. Seiya vai precisar tocar no Sétimo Sentido se quiser ter alguma chance.



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As passadas ecoando no mármore sumiram da Casa de Áries quando os Cavaleiros de Bronze deixaram o templo para subirem as escadarias para a segunda Casa do Zodíaco.

Mu caminhou até a entrada de sua Casa onde viu, através da Muralha de Cristal, o exército de Fantasmas obsessores que se amontoavam nas esquinas das escadas, no topo de colunas quebradas; seus corpos translúcidos, pois Mu de Áries sabia que aquilo era apenas um prenúncio.

Ela pisou dentro da Muralha de Cristal fazendo com que o paredão à frente da entrada se desfizesse e convergisse para dentro de sua Armadura de Ouro.

Em um piscar de olhos que lampeja, um brilho de ouro tomou conta de toda a escadaria até o sopé da montanha obliterando e desfazendo todos os fantasmas, limpando as ruínas e escadarias de absolutamente todas as sentinelas da Discórdia que se aventuraram até ali.

De pé, na entrada da Casa de Áries, Mu viu como não havia restado uma alma escondida. Novamente reinou a paz em seu templo.

Com os olhos perdidos nas escadarias, ela notou no horizonte à esquerda um enorme pico montanhoso em que se construía um relógio de fogo. Grande o suficiente para que fosse visto por toda a extensão das Doze Casas, não importasse a altura em que estivessem.

Seu cosmo elevou-se ao pé de sua casa.

 

—/-

 

Os quatro Cavaleiros de Bronze subiam com rapidez as escadarias que ligavam a Casa de Áries até o próximo templo. Sentiam ainda a força renovada daquelas Armaduras restauradas por Mu; refletiam em silêncio sobre os segredos do Cosmo e sentiam certa ansiedade para compreender que tipo de batalhas os esperavam naqueles templos.

— A próxima casa é a Casa de Touro. — falou Shiryu para eles, quebrando o silêncio.

— Que tipo de Cavaleiro iremos encontrar? — perguntou-se Hyoga.

— Será que é um aliado? — perguntou Seiya.

— Como assim, Seiya? — perguntou Shun.

— A Mestre Mu está do nosso lado. Aioria é o Cavaleiro de Leão e jurou lealdade à Atena. Aioros é Sagitário e foi o Cavaleiro que morreu para protegê-la. Teve aquele Cavaleiro de Ouro que trouxe Saori do Santuário de volta pra casa.

— Não vamos nos esquecer do Cavaleiro de Ouro que foi até as Ruínas lutar contra Éris. Ele também esteve diante de Atena. — ponderou Hyoga.

— E meu Mestre também. — falou Shiryu.

— Seu Mestre, Shiryu? — perguntaram todos.

— Sim, o Mestre Ancião foi o Cavaleiro de Ouro de Libra há muito tempo. — disse Shiryu. — Mas já não usa mais a Armadura de Ouro, tampouco alguém a tomou em seu lugar.

— Entendi. O que eu quero dizer é que talvez nós tenhamos mais aliados entre os Cavaleiros de Ouro do que imaginamos. — falou Seiya.

— Não se engane, Seiya. — falou Shiryu, trazendo-o à realidade com a voz séria. — Pois esteve nos Cinco Picos uma Cavaleira de Ouro terrível. Que eu acredito que seja a responsável pela morte de Xiaoling.

Os quatro Cavaleiros de Bronze pararam a corrida pelas escadas para escutar Shiryu.

— Acha que Xiaoling foi atacada por uma Cavaleira de Ouro? — perguntou Seiya.

— Sim, isso faz sentido. — falou Shun. — Ouvi dizer que a ilha em que eu treinei, a Ilha de Andrômeda, também foi atacada por um Cavaleiro de Ouro.

— Sim. Seu nome é Máscara da Morte. — falou Shiryu. 

— Que nome terrível.

— Portanto devemos estar preparados, pois não teremos apenas aliados nas Doze Casas. E é por isso que a Mestre Mu quis nos preparar. 

Olharam-se em silêncio sabendo que teriam de ser valentes e vigorosos dali em diante. Em profunda respiração para seguirem, colocaram-se para continuar correndo quando algo no horizonte chamou a atenção de Shun.

— Vejam!

Viram ao longe um enorme pico montanhoso onde, em seu topo, haviam construído um maravilhoso relógio.

Ao longe como estavam, pouco podiam ver de seus detalhes. Mas, se próximos estivessem, veriam uma bonita construção de pedra em quatro andares acima do rochedo. Uma escada estreita que conectava cada andar e, no ponto mais alto, levantava-se outra construção menor, de pedra, apoiada em quatro estátuas belíssimas em cada um dos cantos. A plataforma apoiada pelas estátuas era um relógio de quatro faces idênticas: um enorme círculo dividido em doze seções, cada uma indicada por um ícone zodiacal, e todas elas convergindo ao centro, onde um sol dourado brilhava em decalque na pedra.

Enquanto olhavam maravilhados, acima de cada seção daquele relógio, uma a uma, chamas brancas começaram a brilhar. 

— São as doze horas que temos para retornar. — adivinhou Hyoga.

Na entrada da Casa de Áries, no entanto, a Mestre Mu estalou os dedos e, encantados com o relógio, os Cavaleiros de Bronze notaram que uma chama branca se extinguiu. A Chama de Áries.

— Droga, temos apenas onze horas. — falou Seiya.

— Vamos! — chamou Shiryu.

E se apressaram, pois o segundo templo, a Casa de Touro, já estava diante deles.

 

—/-

 

O templo da Casa de Touro era muito diferente daquele da Casa de Áries. Era maior, mais alto, mas também muito mais abandonado; as colunas que seguravam a fachada tinham muitas rachaduras e o interior da casa não parecia ter iluminação nenhuma.

Pois entraram e perceberam que o corredor central era absolutamente tomado por entulho, pedras caídas, restos de colunas, o chão terrivelmente desnivelado, como se uma guerra houvesse acontecido ali dentro de fato.

Caminharam com dificuldade pela Casa de Touro até que finalmente encontraram seu protetor. Desceram de um bloco de pedra enorme até o que parecia ser o chão do lugar em um local mais plano e menos acidentado rodeado por colunas e plataformas altas.

Era um Cavaleiro de Ouro gigantesco.

Dava tranquilamente o dobro da altura do maior dentre os quatro; sua Armadura cobria-lhe cada centímetro do corpo. O elmo alongava-se em dois chifres curvos e poderosos em sua lateral, enquanto um moicano de espinhos baixos dividia seu elmo ao meio.

Além da enormidade do Cavaleiro de Ouro, o que surpreendeu os quatro Cavaleiros de Bronze foi o fato de que aquela presença imponente diante deles estava de braços cruzados e de olhos fechados.

— Será que está dormindo? — perguntou Seiya, sem compreender.

Os quatro caminhavam na ponta dos pés como se, de fato, não quisessem acordar o enorme touro de ouro à frente deles. Não podiam sentir sua presença ou seu Cosmo. Shun observou que nem mesmo suas Correntes pareciam dar conta de que estavam diante de um inimigo.

— Não nos interessa. — falou Hyoga. — Se ele está dormindo ou o que seja, temos de atravessar logo essa casa.

Todos concordam e correram adiante, quando um lampejo iluminou a Casa de Touro e os arremessou contra um amontoado de entulhos próximo.

Eles se levantaram, assustados, e observaram que o Cavaleiro de Ouro permanecia parado. Os olhos ainda fechados.

— Ele nem se moveu. — comentou Hyoga.

— Não é verdade. — disse Seiya. — Os Cavaleiros de Ouro podem se mover na Velocidade da Luz com suas técnicas. Ele está nos atacando. Nós é que não podemos enxergar.

— Na Velocidade da Luz? — perguntou Shiryu.

— Sim. Talvez nós só vamos conseguir ver seus movimentos se tocarmos na essência do Cosmo. — respondeu Seiya.

— O Sétimo Sentido. — adivinhou Hyoga.

Shun levantou-se ajudando seus amigos e deteve-se diante daquele oponente.

— Meu nome é Shun de Andrômeda. — começou ele. — Nós somos os Cavaleiros de Bronze que lutamos em nome de Atena. 

— Shun… — alertou Seiya, mas o garoto queria tentar.

— Atena foi ferida e precisamos chegar até o Camerlengo antes que o dia se acabe para dar à ela uma chance de viver. A Mestre Mu de Áries também está ao nosso lado e estaria aqui não fosse a invasão de Éris. Por favor, deixe-nos passar.

Não houve resposta.

As Correntes de Andrômeda seguiam sem dar conta de que diante deles havia um inimigo.

— Ele sequer nos considera uma ameaça. — falou Shun. — Por isso que as correntes não se movem.

— Não adianta, Shun.  — falou Seiya. — Teremos que vencer esse Cavaleiro de Ouro se quisermos seguir.

— Certo. — falou Hyoga, ascendendo seu Cosmo. — Já sabem o que fazer.

O inimigo era enorme e os Cavaleiros de Bronze lembraram-se da exitosa estratégia que usaram na Ilha da Caveira contra um dos renegados de Geist. Precisariam de mais força dessa vez, mas o que fizeram foi parecido. Hyoga saltou, conjurando uma fina camada de gelo à sua frente para que pudesse deslizar até as pernas do enorme Cavaleiro de Ouro, Shun saltou para lançar suas Correntes e mantê-lo paralisado enquanto Shiryu e Seiya seguiram cada um por um dos flancos.

Ninguém viu, mas foram todos arremessados com uma força desesperadora, capaz de distorcer suas visões, jogando-os contra uma parede grossa de pedra que se explodiu, jogando os Cavaleiros de Bronze dentro do que parecia ser uma despensa com tantos barris, quanto baús.

Seiya ainda vivia. Provavelmente seus amigos também. Mas, quando despertou, viu ao seu redor o corpo de seus amigos desacordados. Estava muito zonzo e não sabia quanto tempo havia passado, se segundos, minutos ou horas. Lembrou-se de onde estava, porque estava ali caído, e também que Atena precisava dele.

Levantou-se e tentou acordar seus amigos, sem sucesso.

Pelo buraco na parede formado por seus corpos, ele viu que o Cavaleiro de Ouro caminhava dali para longe. Ele pisou no buraco da parede e ressurgiu naquele pátio ainda nivelado. Viu, de costas, o Cavaleiro de Ouro parar e olhar para ele.

— Deveria ficar ali morto como seus amigos. — falou sua voz extremamente grave.

— Atena precisa de mim. — falou Seiya. — Preciso lutar.

Colocou-se em guarda diante daquele enorme Cavaleiro de Ouro.

— Se quiser passar por essa Casa, terá de me vencer. — ameaçou ele, antes de se apresentar com os braços abertos. — Terá de vencer Aldebarã, o Cavaleiro de Touro.

E então seu braço direito desceu e sua enorme mão simplesmente deu um tapa no chão à frente de Seiya, afundando a pedra e fazendo com que os blocos do chão tremessem, de modo que Seiya viu-se desequilibrado enquanto rochas explodiam na sua direção. O tremor foi de tal grosseria que ele precisou saltar entre rochas que levantavam-se do chão para cair diante dele. Pulou alto para uma marquise apoiada por algumas colunas.

Aldebarã novamente cruzou os braços e com sua poderosa perna pisou com violência no chão, causando uma onda que tremeu a pedra de onde havia tocado até as colunas que sustentavam a marquise onde estava Seiya. As colunas abaixo simplesmente tremeram e colapsaram derrubando a sacada em que Seiya se abrigava; ele caiu junto da construção, soterrado pelas pedras.

Com tranquilidade, mas ofegante, Seiya jogou para o lado um grande bloco de pedra, levantando-se para lutar contra o Cavaleiro de Ouro que continuava com seus braços cruzados e um sorriso no rosto.

— Não vai mais usar sua técnica, Aldebarã? — perguntou ele, debochado.

— Não vejo necessidade. — disse o gigante.

Mas Seiya viu apenas um lampejo claro no peito do enorme homem e novamente foi arremessado para longe, quicando contra o chão, rachando a pedra e atravessando outra parede grossa. Ele havia usado sua técnica novamente. O Cavaleiro de Pégaso percebeu que sua respiração chegava a se descontrolar, de modo que sempre que era atingido, era como se um caminhão simplesmente o atropelasse com violência.

Deitado com os ossos doloridos, Seiya pensou em Saori e como tinha apenas onze horas para chegar ao Mestre Camerlengo; se todos os Cavaleiros de Ouro fossem fortes como Aldebarã eles não teriam qualquer chance. Na verdade, ele não tinha chance sequer contra o Touro dourado, que dirá pensar nos que o esperavam além daquele templo.

A essência do Cosmo.

— O Sétimo Sentido.

Escutou sua voz falar para si mesmo como se para relembrá-lo do que era importante. Refletiu que Aldebarã estava mesmo o atacando com violência, mas que ele não o fazia parado de braços cruzados; era ele que não podia ver, pois o Cavaleiro de Ouro movia-se na Velocidade da Luz quando usava a sua técnica, sabia Seiya.

A Velocidade da Luz.

Levantou-se e imediatamente caiu de joelhos novamente, tamanha violência daquele enorme homem; através do buraco na parede que seu corpo havia causado, ele viu a postura imovível do Cavaleiro de Ouro, de braços cruzados. Seiya imaginou que era como uma espada que torna-se fatal precisamente no momento em que deixa a bainha para golpear seu adversário.

Lembrou-se de suas poucas aulas de iaidô naquele mesmo Santuário com sua Mestre Marin. Ela mantinha-se parada com uma postura precisa, as duas mãos na bainha de uma espada afiada, como ele bem sabia. Mas sua postura era extremamente desconcertante, pois não era exatamente como se tivesse em guarda durante seus treinos normais; aquela postura com a espada deixava Seiya extremamente inseguro, pois não sabia exatamente como atacá-la. Era uma postura perfeita de defesa, mas também de ataque, pois de qualquer lado ou altura, ela sabia exatamente como desembainhar aquela espada para ferí-lo como fosse; e seu corpo jovem coberto de cicatrizes era prova viva disso.

E quantas tardes ele não passou tentando achar uma brecha naquele golpe maldito de sua espada. Marin lhe dizia que o iaidô era a arte do desembainhar a espada, mas que seu verdadeiro poder estava justamente quando a lâmina estava dentro da bainha; Seiya não compreendia aquilo, pois era com ela no ar que seu corpo se feria.

— Mas é com ela dentro da bainha que você tem medo. — falava Marin.

Agora ele se lembrava. Talvez Aldebarã atacasse como o desembainhar de uma espada; seus braços cruzados eram justamente a postura em que Marin se colocava. A postura perfeita de ataque e defesa.

— Preciso fazer com que ele desfaça a postura. A espada quando está fora da bainha é uma espada morta. — balbuciou ele no escuro as lições de sua Mestre.

Com efeito, depois que Marin desembainhava sua espada e atacava Seiya ela ficava vulnerável, e foi justamente assim que ele finalmente conseguiu neutralizar sua Mestre e tirá-la de sua espada. Precisaria fazer o mesmo com Aldebarã e finalmente percebeu que, para fazer isso, precisava ver os movimentos do Cavaleiro de Ouro. Ou seja: seu cosmo precisava tocar o Sétimo Sentido, se fosse possível.

 

—/-

 

Seiya finalmente saiu do buraco em que estava e retornou ao pátio central daquele templo destruído, onde não encontrou mais o Cavaleiro de Ouro. Um deserto para todo lado que olhasse. Ele não estava mais lá.

Ouviu, no entanto, um estranho tilintar um pouco ao longe, ecoando no escuro, e um baixo cantarolar muito grave; Seiya seguiu na direção do que ouvia e o que encontrou no segundo andar após subir algumas escadas largas de degraus altos era assombroso. O enorme Cavaleiro de Ouro, com sua maravilhosa armadura, estava sentado diante de uma mesa enorme com as mais variadas iguarias, verduras, frutas e carnes.

Seiya pulou na mesa fazendo os pratos balançarem levemente e trazendo um assombro ao rosto de Aldebarã que, prestes a cear, estava sem o seu elmo, revelando seu curto cabelo e praticamente uma única sobrancelha na testa.

— Eu não acredito que vai almoçar no meio de uma batalha! — acusou Seiya, de pé sobre a mesa que Aldebarã estava prestes a comer.

— Ora, eu achei que estivesse morto, pequeno gafanhoto.

Seiya chutou o vão do elmo dourado, levantando-o como se fosse uma bola de futebol que pegou com as mãos no alto.

— Pois trate de colocar seu elmo que eu já sei como vou te vencer! — provocou Seiya.

— Largue meu elmo, sua peste! — falou ele, levantando-se furioso e tomando o elmo das mãos de Seiya. O garoto não sabia o que era mais importante para ele, se o enorme banquete que havia interrompido ou aquele elmo de ouro.

Seiya caiu da mesa quando a mão enorme de Aldebarã lhe arrematou o elmo dos braços, mas ele colocou-se de pé novamente do outro lado da mesa.

— Vou fazer você desembainhar a espada e vou cortar esse seu chifre que você gosta tanto!

— Meu chifre? — perguntou Aldebarã, sorrindo. — Ora, então você compreendeu, mas vejo que já está delirando depois de apanhar tanto. Veja, se conseguir fazer o que diz, então eu me darei por vencido, o que acha?

Seiya achou ótimo e colocou-se em guarda ali mesmo, quando viu que o Cavaleiro de Ouro pareceu atravessar a mesa até ele e sua face enorme próxima de seu nariz; com um peteleco de seus dedos enormes, Seiya foi arremessado pela sacada para o andar de baixo.

Aldebarã veio atrás, pulando e fincando seus pés duros no solo, que tremeu.

Seiya gritou sua técnica no templo e lançou os Meteoros de Pégaso na direção do Cavaleiro de Ouro pela primeira vez; Touro sequer se moveu enquanto os Meteoros lhe atravessavam por completo. Seya lembrou-se exatamente do que havia acontecido com Aioria. Viu novamente o lampejo no peitoral do Cavaleiro de Ouro e sentiu-se arremessado por outras três paredes; a destruição se alastrava. Por mais que tentasse, ele não conseguia ver de jeito nenhum.

Dessa vez, nem conseguiu se levantar, pois Aldebarã estava diante de seu corpo novamente.

— Vou enterrá-lo aqui na Casa de Touro de modo que não possa se levantar mais, Pégaso. — anunciou ele, levantando o pé direito e colocando no peito do Cavaleiro de Bronze levemente.

Seiya usou seus braços para levantar aquele enorme pé dourado de seu peito e o ergueu como podia.

— Não tente lutar, Pégaso. Se não fosse tão teimoso, já estaria descansando em paz sem dor alguma. 

— Atena precisa de mim! — falou Seiya entre os dentes enquanto tentava com todas as suas forças evitar aquela pisada enorme.

Mas não foi capaz de deter a força daquele Cavaleiro de Ouro e, finalmente, Aldebarã abriu um fosso com seu golpe, afundando mais e mais com seu cosmo dourado o corpo de Seiya — além da pedra talhada e do piso trabalhado — no fundo da Casa de Touro, para dentro do rochedo da montanha em que aquele templo se levantava.

Escuridão.

A pouca iluminação da Casa de Touro não chegava àquela profundidade em que Seiya havia sido enterrado. Enterrado vivo. A força dos Cavaleiros de Ouro era mesmo incomparável. Em nenhum momento daquela luta ou daquela tentativa de batalha, Seiya chegara perto de ver ou se aproximar de Aldebarã de Touro. E ali, na escuridão de sua cova, aos poucos Seiya percebeu que seus sentidos começaram a se esvair, sumindo na imensidão de sua morte. 

Já nada podia ver, as pedras cortando-se e colapsando pela Casa ficaram muito distantes, o gosto de sangue na boca já não era tão metálico e a areia daquelas rochas não lhe incomodava mais. Então ouviu apenas o seu coração bater. O que parecia ser a única coisa que lhe restava.

Pois não era.

Ainda tinha o seu Cosmo.

Ainda tinha o Cosmo.

E sentiu um Cosmo na escuridão; um Cosmo terrivelmente reconfortante, que não lembrava-se de ter sentido em toda a sua vida. Mas que agora lentamente lhe recobrava os sentidos perdidos. Seiya moveu a mão direita e encontrou algumas pedras com sua mão, pedras e areia. Lembrou-se de sua Mestre Marin. Lembrou do Cosmo.

As pedras eram feitas de areia. E também de tudo que existia no universo. Parte de tudo.

Ele precisava ser parte de tudo para tocar a essência do Cosmo.

Então lembrou-se de onde havia sentido aquele cosmo que o acordava na escuridão; em outras ruínas, agora distantes, em que uma garota levantou-se diante de seus jovens amigos para dizer-lhes que era uma Deusa. A Deusa Atena.

— Saori. — sua voz balbuciou na escuridão.

Sua mente transportou-se para longe e experimentou lembrar-se do rosto de Saori em vários momentos de sua curta vida; no orfanato quando eram muito crianças e odiavam-se, em seu reencontro na Mansão, uma projeção imponente contra o céu, lenta e tristemente no balanço de um jardim, sua face decidida em vales e batalhas, sua constante preocupação.

Sentiu seu Cosmo ascender.

— Consegue me ouvir?

Ele conseguia, mas não lhe podia responder.

— Me desculpe, Seiya. — ouviu sua voz distante. — Espero que me entenda algum dia.

Entre a consciência e o sonho, Seiya agora lembrava-se daquele momento.

— Obrigada por ter salvo Shiryu. — falou a voz de Saori, distante entre tons agudos repetidos e o zunido grave de máquinas ligadas ao seu corpo.

Seu Cosmo aumentou.

Ouviu seu nome sendo chamado muitas vezes, ecoado contra paredões de pedra, outra vez entre a vida e a morte, incapaz de responder. O abraço quente de Saori pedindo algo ao seu ouvido.

— Por favor, por favor, por favor.

O que ela pedia?

Proteja Atena.

Seus olhos se abriram. 

Do fundo daquele fosso cavado pelo Cosmo de Aldebarã, um resplendor de luz fez clarear a Casa de Touro, revelando uma aura brilhante e azulina, viva, feito chamas; o Cavaleiro de Ouro assombrou-se quando virou de costas e viu que, do fundo daquela cova, erguia-se o corpo de Seiya de Pégaso.

— O que está acontecendo? Como pode seu Cosmo estar forte dessa maneira? Já deveria ter morrido. Por que não desiste?

— Porque vou arrancar o seu chifre. — falou Seiya, refeito diante dele.

Em suas costas, aquela energia viva, forte como chamas, mas incrivelmente branda, desenhou-se como um maravilhoso cavalo branco e alado. Eram as chamas de Pégaso. Seiya traçou no ar as estrelas de sua constelação e seus cabelos agitaram-se quando aquela enormidade de seu cosmo concentrou-se em seu punho. Ele socou o ar fazendo chover seus Meteoros de Pégaso.

— Eu já avisei que essa técnica de nada adianta comigo. — gabou-se Aldebarã, de braços cruzados.

Foi quando percebeu que os Meteoros estavam diferentes. Estavam mais rápidos, o que não era um problema para ele, mas também não pareciam estar sendo lançados para atingi-lo. Olhou para trás e viu que os Meteoros de Seiya pareciam passar por seu corpo e retornar para o punho de Seiya de modo impossível, desenhando um arco no ar. Todos eles convergiam em apenas um ponto à frente de Aldebarã; um ponto em que seus olhos de Cavaleiro de Ouro viram claramente que aquela confluência de meteoros desenhava-se em um formato que se assemelhava às órbitas de estrelas e planetas. Pois não era isso. Eram as órbitas atômicas.

— O que está acontecendo? — surpreendeu-se Aldebarã. — Ele está prestes a causar um Big Bang. Isso quer dizer que seu Cosmo está perigosamente aproximando-se do Sétimo Sentido.

As órbitas desenhadas com os Meteoros finalmente convergiram em apenas um ponto e o Cavaleiro de Touro viu um Cometa enorme ser atirado contra ele em uma velocidade muito próxima à da Velocidade da Luz. Ele precisou descruzar os braços.

Tirou-se de sua postura pela primeira vez e colocou o braço direito à sua frente para evitar que aquele Cosmo na verdade obliterasse a casa inteira; o Cometa de Seiya chocou-se violentamente com sua mão direita e finalmente dissipou-se. Do outro lado estava Seiya, confiante.

— A espada está morta. — comentou Seiya. — Não poderá mais lutar de braços cruzados, Aldebarã.

— Seiya! Seiya! Precisa de ajuda, Seiya?

O garoto viu ao seu lado o rosto de seus amigos levantando-se, finalmente acordados, e suas vozes ecoando.

— Não. — respondeu ele. — Deixem comigo, que eu vou cortar o chifre do Cavaleiro de Touro sozinho.

Aldebarã novamente gargalhou na Casa.

— Eu reconheço que seu Cosmo está muito além das capacidades de um Cavaleiro de Bronze, Seiya, mas não se deixe enganar só porque me fez estender um braço para conter seu golpe.

E ele novamente cruzou os braços.

Seiya sabia que ele usaria sua técnica novamente. Mas sentia também seu corpo renovado, seus olhos atentos e seu Cosmo imenso naquela Casa de Touro.

— O Grande Chifre! — urrou Aldebarã com sua grave voz.

E então ele viu perfeitamente: Aldebarã descruzou seus braços violentamente para frente, criando uma onda dourada terrível que era, na verdade, do tamanho de seu corpo. Ela viajou na Velocidade da Luz e Seiya tentou colocar as mãos à sua frente para deter aquele trem desgovernado, mas foi tomado e lançado por aquele enorme poder.

Seus amigos, agora acordados, desesperaram-se pelo amigo que havia sido alvejado com aquele enorme Cosmo de Aldebarã. Chamaram seu nome e foram até onde seu corpo certamente estaria estraçalhado, mas encontraram-no levantando-se. Para o assombro dos três, como também de Aldebarã.

— Está tudo bem, agora eu posso ver sua técnica. — falou Seiya.

Ele colocou-se diante de Aldebarã e seu Cosmo ascendeu com força; Aldebarã de Touro cruzou novamente seus braços e fez com que sua aura dourada inundasse a casa para o que claramente parecia ser o embate final.

— O Grande Chifre! — urrou Aldebarã.

— Cometa de Pégaso!

Seiya conjurou seu Cometa atômico novamente, mas outra vez foi engolido pelo cosmo dourado e terrível, explodindo uma cratera onde estava; pois o Cometa, embora poderoso, não podia deter o terrível Grande Chifre de Aldebarã. E todos viram com assombro que, no lugar de Seiya, havia apenas uma fossa profunda.

Chamaram-lhe pelo nome e foram até o buraco na esperança de resgatá-lo de seu fundo, quando sua voz soou na Casa de Touro novamente.

— Estou aqui! — anunciou ele no ar.

Desceu rasante pela alta Casa de Touro, carregando seu braço direito no ar como se fosse uma espada; desceu com violência e quebrou o chifre esquerdo do elmo dourado de Aldebarã de Touro. O enorme chifre girou no ar com elegância e fincou no chão atrás dos dois.

Seiya havia mesmo partido o chifre do touro.

Todos de boca aberta.

Aldebarã também.

Seiya afastou-se para encarar Aldebarã, pronto para recomeçar a batalha.

— E agora, Aldebarã? — perguntou ele com um sorriso no rosto. — Vai admitir sua derrota ou quer perder o outro chifre?

Diante do enorme homem, Seiya viu claramente como a fúria do touro lentamente se dissipou em seu rosto, transformando-se em um imenso sorriso seguido de uma gargalhada grave e gostosa.

— Tem razão, Seiya. Eu perdi. — comentou ele, passando a mão esquerda pelo chifre que lhe faltava no elmo. 

Caminhou até Seiya e colocou sua enorme mão em seu ombro.

— Marin te ensinou muito bem. — falou sua voz grave. — E eu me arrependo amargamente de todas as aulas de iaidô que lhe dei quando ela era uma aspirante a Cavaleira. 

E largou de rir novamente.

— Você provou o seu valor e, como prometido, você pode passar pela Casa de Touro.

Os demais Cavaleiros de Bronze chegaram próximos de Seiya, animados.

— Seiya, foi impressionante. — falou Shun.

— Mil desculpas por não conseguirmos ser de nenhuma ajuda.

— Imagine, Shiryu. Mas temos que ir, pois sinto que muito tempo se passou e precisamos nos apressar.

— Espere um segundo. — falou Aldebarã, gravemente.

E colocou-se diante deles como um Touro enorme.

— Somente Seiya foi capaz de me derrotar. Vocês não fizeram nada.

Caíram-lhes as bocas novamente e Seiya colocou-se em guarda para protestar, quando Hyoga colocou a mão em seus ombros e o impediu de prosseguir com a reclamação.

— Ele está certo, Seiya. E, além do mais, precisamos que apenas um de nós chegue até o Camerlengo. Vá de uma vez que logo estaremos junto de você. — falou o Cavaleiro de Cisne.

Seiya olhou para seus três amigos e assentiu com o plano, não sem antes deixar uma dica.

— Pessoal, o golpe dele é como o desembainhar de uma espada do iaidô. Lembrem-se disso! — disse ele antes de sair correndo para a saída.

— Ei! — ralhou Aldebarã atrás dele. — Seu peste!

A chama de Touro se apagou.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Eu fiz questão de trazer o Aldebarã comendo um banquete que apareceu no filme Lenda do Santuário, haha. Pô, é bom demais.

PRÓXIMO CAPÍTULO: LUZ E TREVAS!

Seiya chega à Casa de Gêmeos e depara-se com um labirinto, que faz com que os Cavaleiros de Bronze se separarem e fazerem uma importante promessa. Aldebarã protege a Casa de Áries.



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