Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 23
Para Sempre II


Notas iniciais do capítulo

Os jovens finalmente se reúnem novamente com alegria de reencontrar Ikki, mas muito surpresos pela revelação de seu verdadeiro inimigo: o Santuário. Shun e Ikki assistem ao sol nascer juntos.



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Cai a noite nos bosques da montanha.

As árvores calcinadas ainda ardem e a fumaça que sobrou do fogo nos troncos ainda sublima.

Dentro do refúgio, Saori acendeu a lareira para combater o frio que descia das montanhas pela noite. Alice foi pelos corredores para buscar um estojo de primeiros socorros, enquanto Seiya e Ikki colocaram Shun no sofá com cuidado.

O garoto, no entanto, não fica um segundo sequer sentado e se levanta para dar um longo e caloroso abraço em sua irmã.

— É tão bom te ver de novo, Ikki.

Shun chorava nos braços de sua irmã e Seiya também estava radiante por ele e pelo retorno de Ikki; perto como estava, ele podia jurar que a garota estava até emocionada. Estendeu a mão para saudar aquele retorno da morte de uma valente guerreira; ela segurou seu braço e sorriu agradecida.

— Obrigada por cuidar do meu irmão. — mas Seiya negou com a cabeça antes de responder.

— Foi ele que cuidou de mim.

Sem muita intimidade, Ikki dedicou o olhar mais educado que podia para os demais que estavam na sala observando a cena. Inclusive Saori.

— Ikki… — começou ela.

Uma acha de lenha crepitou na lareira e a sala ficou imediatamente tensa, pois sabiam todos tudo que havia sido dito naquele vale há tantos dias.

— Não há nada para ser dito. — disse Ikki, severa. — Os erros de seu avô não são seus.

Saori calou-se, mas em seu peito uma angústia enorme diminuiu, pois Ikki disse exatamente as palavras que gostaria de ter escutado. Que sofresse e vivesse por sua vida e suas escolhas. E Ikki deu isso a ela.

Mas ela ainda teria um caminho a percorrer.

 

—/-

 

Embora muito houvesse o que dizer, também havia muito silêncio para absorverem. E entre sorrisos e alívio, buscaram confortar-se entre si. Seiya e Ikki tiraram a Armadura de Andrômeda para poderem cuidar das queimaduras graves de Shun, devido à sua perigosa exposição ao fogo extremo. Xiaoling e Saori cuidavam de Alice que, embora menos exposta, também colecionava algumas queimaduras de seu esforço tentando apagar a queimada do bosque.

— Estou tão feliz que você está viva, Ikki. — disse Shun, ainda muito emocionado, mas sua irmã devolveu a ele um olhar fundo e bravo.

— Você poderia ter vencido aquele Cavaleiro se quisesse, Shun.

Mas o garoto não respondeu, pois parecia um sonho ver sua irmã cuidando de suas feridas e lhe dando justas broncas. Era tudo que mais queria. Ajoelhou-se no tapete e mais uma vez abraçou sua irmã, como se não conseguisse se conter. Ikki foi pega de surpresa, mas Seiya viu que seu semblante suavizou e ela devolveu o abraço, aninhando seu rosto no cabelo sujo de seu irmão.

Saori pediu que Shun se sentasse novamente para que ela pudesse passar-lhe um creme para aliviar as dores da queimadura. O garoto sequer esboçou qualquer reação enquanto recebia o tratamento; havia apenas um sorriso enorme em seu rosto.

— Onde está o Cavaleiro de Cisne? — Ikki perguntou a todos, inesperadamente, ao se levantar.

Seiya respondeu.

— Hyoga decidiu ficar um tempo na Sibéria.

— Hyoga? — perguntou Shiryu e Seiya assentiu.

— O Cavaleiro de Cisne. — ele então olhou para Shun e abriu um sorriso. — Até que ele é legal.

— O que aconteceu na Sibéria, Seiya? — perguntou Xiaoling.

Frio, muito frio, começou falando Seiya. Ele contou sobre como o vilarejo estava forçado a trabalhar em minas próximas e misteriosas. O encontro com um garotinho local e como foi desconcertante ver Cisne tão preocupado com alguém. Mas, principalmente, como foi duro ver alguém ter de lutar contra uma pessoa tão querida; não, tão amada quanto era a Mestre Cristal para Hyoga. 

Shun viu que Saori sofria enquanto lhe aplicava o creme ao ouvir o relato de Seiya.

— Essa é a vida de uma Cavaleira. — disse Ikki ao ver que o refúgio inteiro amuou-se de tristeza. — Essa não é a primeira, nem será a última.

Seiya não deixou de sentir um certo desgosto com Ikki, mas ao mesmo tempo percebeu que o amargor era saber que ela tinha razão.

— E, antes de morrer, a Mestre Cristal disse ainda que havia um mal instalado no Santuário. — anunciou Seiya para todos.

— No Santuário? — repetiu Shun.

E as palavras pairaram sobre eles causando um estremecimento na tristeza que sentiam por Cisne, tamanho terremoto que era a ideia de que o inimigo por trás de tantos ataques e tragédias era na verdade o coração dos Santos Cavaleiros. O próprio Santuário de Atena.

E não era qualquer um que dizia aquilo, mas alguém que havia treinado lá.

— Pois ela tem razão. — falou Ikki, finalmente. — Aquele homem que nos atacou hoje não era outro senão o próprio Mestre de Armas do Santuário, Gigars.

Saori levantou-se, sobressaltada, inclusive abandonando os curativos de Shun.

— Ele era um agente do Santuário? — perguntou ela.

— Não apenas um agente, mas o Mestre de Armas. — corrigiu Ikki. — Foi ele quem veio até a Ilha me recrutar para matar todos vocês.

Falou como quem falasse da neve caindo serena do lado de fora.

— E eu teria vindo muito feliz dar um jeito na Fundação. — falou ela. — Mas, por excesso de cuidado, ele achou por bem usar aquele Cajado em minha mente para ter certeza de que eu não falharia em minha missão. — Ikki riu. — Pois eu fiz questão de trazê-lo até aqui e lhe dar uma lição.

— Foi você quem os atraiu para cá? — perguntou Alice, preocupada.

— Sim. Eu sabia que estavam aqui e sabia o tanto que aqueles idiotas queriam a Armadura de Ouro.

— Já eles não sabiam que você não trabalhava mais pra eles. Mandou bem, Ikki. — comentou Seiya.

— Destruí seu Cajado e a sua mente. Ele viverá o resto da vida como o desgraçado moribundo que ele é. — completou Ikki.

— Era por isso que estava com tanto ódio, Ikki? — perguntou Shun.

Mas Ikki olhou para seu irmão com um peso nos olhos.

— Não. — começou ela. — A verdade é que o ódio que eu sentia era real. Aquele cajado apenas afastou qualquer outro sentimento, qualquer outra ideia de ocupar a minha mente. Meus olhos tinham lugar apenas para aquela ira enorme que eu sentia.

Como uma obsessão, pensou Saori, calada.

— Ikki… — lamentou Shiryu.

— O que está feito, está feito. De todo modo, ele não voltará mais e qualquer que seja essa força instalada no Santuário precisará de um tempo para se reorganizar agora que tiramos seu Mestre de Armas do jogo.

— Mas o que será que o Santuário pretende com tudo isso? — perguntou-se Seiya.

— Não temos certeza de que existe algo acontecendo no Santuário. A Mestre de Cisne disse que há um mal instalado, talvez fosse apenas esse homem, Gigars. — comentou Shun.

— Shiryu, você descobriu algo com seu Mestre? — perguntou Seiya, mas Shiryu negou com a cabeça.

— Meu Mestre já é muito velho. Ele era muito amigo do antigo Pontífice do Santuário, um homem chamado de Sião, mas com quem há muito tempo não tinha contato. E parece que recentemente esse amigo veio a falecer.

— Sim. Foi no meu último ano de treinamento. — rememorou Seiya. — Eu me lembro da cerimônia de quando o Papa Sião faleceu. A vila inteira parou para chorar sua morte. Foi uma tristeza muito grande. Seu irmão mais novo, o Camerlengo Mestre Arles, falou a todo o Santuário e caminhou por todo o vilarejo de casa em casa falando com as pessoas. Ele era um homem muito bom. Foi ele quem me entregou a Armadura de Pégaso na Arena e deixou que eu lutasse por ela.

Seiya tinha sérias dificuldades em aceitar, afinal havia sido treinado sua vida toda no Santuário. Sofreu muito, é verdade, mas acreditava firmemente na dignidade de sua Mestre Marin e sobretudo no Camerlengo, que havia dado a ele a chance de provar que poderia se tornar um Cavaleiro.

— Como pode acontecer isso no Santuário? — perguntou-se ele.

A noite se arrastou e tudo que repetiram foram as mesmas coisas com detalhes mais profundos e redundantes. O cansaço da viagem dos que voltavam e da batalha dos que lutaram os venceu e, dentro da noite, um a um acabou ocupando uma cama do refúgio de Saori para, finalmente, aquietarem-se e descansarem.

Menos Ikki.

Assim que todos dormiram, ela sentou no parapeito da sacada olhando os olhos da noite dentro do bosque. Saori, também sem sono, encostou-se ao seu lado.

— Já disse que não há necessidade de nenhuma desculpa.

Mas não era para isso que ela estava ali.

— O que aconteceu com seu braço? — perguntou ela, já que Ikki tinha o braço direito enfaixado da mão até o ombro.

Ikki deixou escapar um sorriso, adivinhando a pergunta.

— Sim. Eu sei quem você é.

A noite foi engolida pelo frio e Saori confortou-se no quarto em que Alice dormia.

Ikki ficou ali mesmo, olhando para seu destino.

 

—/-

 

O refúgio ficava no alto de montanhas, entre vales, e precedido por um bosque bonito, onde um lago se estendia breve perto da casa. A construção havia sido feita de maneira muito precisa, de modo que entre os dois vales mais adiante era possível ver uma pequena faixa de areia e o mar distante.

E por essa fresta nas enormes pedras Ikki viu que o sol começou a nascer. Primeiro clareando o céu escuro, afastando as névoas da noite, e aos poucos revelando a coroa do sol.

— Bom dia, Ikki.

— Bom dia, Shun.

Havia um sorriso aliviado nos dois rostos ainda jovens e muito sofridos.

— Está melhor? 

— Sim. — respondeu o garoto. — Vamos ver o sol no mar.

Ikki desceu do parapeito em que descansava e acompanhou o irmão pelo vale abaixo.

A faixa de areia era fofa e deserta, pois não era exatamente de fácil acesso. As ondas do mar batiam contra alguns paredões próximos, e atrás deles levantava-se a enorme montanha em que primeiro haviam lutado e depois se reencontrado.

Shun sentou na areia e ficou olhando o sol se levantar no horizonte. Ikki ficou de pé.

— Até pra ver o sol nascer você está com sua Armadura. — comentou Shun.

Ikki olhou para ele e deixou escapar um respiro forte e voltou a olhar para o sol que lentamente tingia o céu com todas suas cores.

— Shun. — começou ela, séria. — Você nunca reclamou do seu destino?

— Do meu destino, Ikki? — refletiu o garoto. — Não, nunca pensei nisso.

Ikki pareceu absorver a resposta e sentou ao seu lado.

— Desde que nascemos, parece que não temos um dia de paz. Ou dias alegres, noites tranquilas. Nada.

— Você menos ainda. — continuou Shun. — Seus dias na Ilha devem ter sido terríveis, Ikki.

— Sim. — concordou ela, ferida. — Todos os dias lutando e competindo. Sofrendo. Consumida pelo ódio. E todas as noites eu pensava que aquele era o destino que os Deuses me impuseram.

— O destino… — refletiu Shun.

— E você também deve ter sofrido muito em seu treinamento. — Shun não respondeu, mas entendia o que ela dizia. 

O barulho das ondas quebrando nas pedras ou vagando na areia os acalmava naquele nascer do sol em que apenas eles pareciam existir no mundo.

— É verdade, Ikki. — concordou Shun. — Mas, mesmo naquela ilha, eu encontrei pessoas que, apesar de todo inferno que passávamos, ainda tínhamos um momento para sorrir, para brincar.

Havia um tom pesado em Shun, como uma saudade que lhe morria no peito.

— Eu sinto muito que não tenha tido isso, Ikki. — disse ele.

— Não é verdade, Shun. — corrigiu ela, rapidamente. — Enquanto eu estive na Ilha... havia uma pessoa. Uma garota.

Os olhos de Shun encontraram os de sua irmã.

— Esmeralda. Ela tinha o destino mais terrível entre nós duas. E todos os dias ela regava um jardim de flores. Ela sorria. Ela chorava muito também. Mas eu lembro dela sorrir. Assim como as flores que ela regava teimavam em florescer naquele inferno ela teimava em sorrir.

— Ikki… 

Shun tomou a mão de sua irmã e a puxou para que se sentasse ao seu lado.

Lentamente tirou sua proteção de Bronze dos dois braços, um deles enfaixado. Tirou seu elmo e colocou ao seu lado, na areia. Removeu o peitoral, suas ombreiras e sua capa de penas.

E quando sua irmã ficou totalmente desarmada de sua sagrada proteção, a puxou para um forte abraço, em que Ikki deixou escapar suas lágrimas represadas de saudades.

O garoto sabia que havia ali um desfecho terrível para a única flor que Ikki havia conhecido por todos esses anos. Tudo que poderia fazer era acalmar seu peito.

Ela chorou nos braços do irmão. E chorando falou:

— Ela me ensinou que é possível amar nos piores lugares e momentos. — interrompeu o abraço e olhou nos olhos do irmão. — E você me mostrou isso novamente.

Shun sorriu, pois se ele era sempre salvo quando criança pela irmã mais forte ele agora tinha a oportunidade de salvá-la pelo seu coração.

Ikki levantou-se, decidida. Colocou novamente sua Armadura de Bronze completa e, com o sol forte no horizonte, olhou valente para seu irmão.

— Shun. Esse destino pode até existir. Mas seja ele qual for… nós podemos mudá-lo. 

O garoto concordou.

Shun se levantou, limpou a areia que tinha sujado sua roupa e novamente abraçou sua irmã, de quem morria de saudade.

E assim se separaram novamente, mas dessa vez Shun tinha certeza de que a veria outra vez.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Sempre divertido brincar em capítulos de paz, eu uso para criar esse senso de grupo e fazê-los se perguntarem e dialogarem mais. A cena do Ikki e do Shun na praia veio do capítulo que os dois pensam sobre seu destino. Bonito.

PRÓXIMO CAPÍTULO: TARDE DE PAZ

Vencido o inimigo, os jovens no refúgio de Saori experimentam algo incrível: um dia de paz em que cozinham, brincam e assistem televisão juntos. Um dia que é proibido falar o nome do inimigo. =)



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