Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 15
A Noite Sem Fim


Notas iniciais do capítulo

A batalha contra os Cavaleiros Negros chega à um trágico desfecho com a morte de Ikki. Shun tem uma noite longa demais à sua frente, mas tem ao seu lado pessoas que lhe amam.



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Noite fria e neve serena do lado de fora da Mansão de Saori Kido.

Uma sala de escritório repleta de quadros antigos nas paredes, estatuetas em muitos cantos, tapeçaria rica no chão e lustres de cristais no teto. Um piano de cauda com um lindo arranjo de flores em cima está encostado à uma das janelas.

Seiya e Saori enfaixam as mãos machucadas de Shun; o garoto muito quieto e triste, o olhar perdido na mesa de centro. Shiryu no chão encostada no sofá, a cabeça jogada para trás, exaurida de cansaço. O Cavaleiro de Cisne é o único de pé olhando a neve cair do lado de fora. 

A televisão está ligada, o noticiário da noite roda uma matéria sobre a ira dos fãs ardorosos da Guerra Galática que se revoltaram com o encerramento inesperado do evento. Saori finalizou uma atadura na mão de Shun e imediatamente desligou a TV ao vê-lo triste com as imagens de Ikki na tela. Houve uma certa tensão na sala.

— Era mesmo hora desse Torneio terminar. — falou finalmente a voz calma de Cisne.

Seiya olhou para ele com a vontade de moer aquele rosto sem expressão na parede, como se o comentário fosse muito mais para apertar a ferida de Shun do que sobre o Torneio de fato.

— Quem é você, afinal de contas? — perguntou, bravo.

— Um aliado. — Saori respondeu, já que ele sequer olhou de volta para Seiya.

— Foi você quem me salvou naquele dia, não foi? — falou a voz calma de Shun lembrando de seu ataque no bosque.

Novamente, Cisne ficou calado.

O clima na sala era pesado e, na verdade, desde que voltaram do vale, o silêncio foi o que mais se ouviu entre eles. De tal forma que todos puderam ouvir com clareza que do lado de fora daquela sala passos fortes corriam pelo carpete aproximando-se de onde estavam; a porta abriu forte e dela veio correndo Xiaoling, que pulou no pescoço de Saori fazendo com que as duas caíssem do sofá.

— Senhorita Saori! — gritou ela. — Meu deus, porque está toda machucada? Quem fez isso com você? Seiya! Era pra você proteger ela! Como é que ela tá toda machucada assim? — disse ela olhando revoltada para o garoto.

— Está tudo bem, Xiaoling. — sorriu Saori, se levantando.

— Não está não! — protestou ela.

— Xiaoling! — advertiu Alice atrás dela.

Ela, que era a mais velha de todas, logo percebeu que algo horrível havia acontecido pelo clima fúnebre da sala e buscou segurar a energia da mais nova; Mii olhou para Saori e sem precisar trocar uma palavra percebeu que novamente ela estava muito triste. Caminhou até Saori, recomposta pelo ataque de carinho de Xiaoling, para ver se os curativos eram suficientes. Claro que eram, mas Mii queria uma desculpa para estar mais perto de Saori.

— Onde é que vocês estavam, hein? — perguntou Seiya e Saori sentiu em Mii um enorme desconforto que só ela conseguiria perceber.

— Nós voltamos para poder treinar com nossa mestra. — respondeu Xiaoling. — Jabu e os outros também voltaram para ficarem mais fortes. Mas daqui pra frente a gente não vai sair do seu lado! — disse ela para Saori.

— A Armadura de Ouro... — comentou Alice ao perceber que na mesa estava apenas o Elmo.

— Onde está o resto da Armadura? — perguntou Xiaoling, assombrada.

— Isso não importa. — interrompeu logo Saori.

Shun olhou para ela e percebeu que a senhorita realmente sentia muito pelo destino de sua irmã. E ele estava realmente devastado por dentro, pois tudo que mais queria era ver Ikki. Mas Shun também havia aprendido muito com sua irmã e sobretudo durante todos os anos em seu treinamento árduo. Embora a garganta estivesse presa de tristeza, ele tinha uma serenidade no rosto que impressionava até mesmo Alice, que era mais velha que ele.

Saori levantou-se.

— Descansem, tem um quarto preparado para que possam passar a noite. — anunciou ela. — A Fundação ficará à disposição para o que precisarem daqui pra frente.

— Eu não acho que vai conseguir se livrar tão facilmente assim de nós dessa vez. — comentou Seiya.

Ela olhou para ele e encontrou um sorriso cansado no rosto de Seiya; e mesmo Shun, dolorido, experimentou deixar escapar um sorriso doce pela cara-de-pau do amigo.

Cansados e feridos, todos deixaram aquele escritório para seus aposentos; Saori fez questão de acompanhar o grupo até o quarto em que iriam ficar antes de ir embora com sua escolta de meninas.

— Você lutou bem hoje. — comentou Seiya com ela.

— Obrigada, Seiya.

E a porta fechou.

 

—/-

 

O barulho do chuveiro ligado enquanto Shun tomava um banho para apagar o sangue do corpo; Seiya e Shiryu sentados no chão contra a cama respiravam fundo em um dia que parecia interminável.

O chuveiro desliga e Shun aparece no quarto com uma toalha enrolada nas pernas.

— Você tá bem, Shun?

— Melhor agora.

— O que te incomoda, Seiya? — perguntou Shiryu olhando para o amigo perto de sua própria urna de Bronze.

— O Lema de Cavaleiro. — disse ele.

Recaiu um silêncio no quarto.

— Minha mestra Marin quase cortou minha mão quando eu quis abrir a urna de curiosidade logo depois que ganhei. Ela disse que a Armadura só deveria ser usada dignamente.

— O meu mestre também me fez repetir o juramento. — disse Shiryu e Shun concordou.

— Quando eu conquistei minha Armadura de Pégaso, ela foi entregue pelo Mestre Camerlengo em pessoa.

— O Camerlengo? — perguntou Shun, surpreso.

— Sim. Ele veio até a cerimônia de entrega da Armadura e me fez jurar o lema dos Cavaleiros. E agora eu estou me perguntando se tudo isso não está acontecendo porque descumprimos esse juramento. Cavaleiros não deveriam lutar em benefício próprio. A Armadura Sagrada não deveria ser usada para isso.

Ficaram calados.

— Não acho que eu seja mais digno de ser um Cavaleiro. — repetiu Seiya, com tristeza. — Marin deve estar muito decepcionada comigo.

— Ora, Seiya, não diga isso. Eu também retornei para reencontrar a minha irmã. Era tudo o que nós tínhamos na vida.

— Eu sei, mas aquele Cavaleiro de Cisne me dá calafrios. Ele parece que não tem coração. A Marin também sempre foi muito durona. Eu fico me perguntando se não deveríamos ser como eles.

— Eu tenho certeza que não. — disse Shiryu. — Meu Mestre é… bom, ele está muito longe de ser sério às vezes. E no final das contas, a Armadura de Pégaso é a única resposta que você precisa ter.

— A Armadura de Pégaso? — perguntou Seiya. Shiryu continuou:

— Mu de Jamiel me contou que as Armaduras também têm vida própria.

— A Armadura de Ouro escolheu proteger Saori. — lembrou-se Shun.

— Exato. E assim como ela escolhe proteger, ela também escolhe abandonar.

— O que quer dizer, Shiryu? — perguntou Seiya.

— Mu me contou que se o Cavaleiro não for digno de usar a Armadura, ela pode até mesmo abandonar seu corpo.

 

Eles ficaram surpresos, mas Seiya sentiu o coração esquentar junto de seu cosmo; Seiya tinha sentido falta daquela sabedoria e da calma da amiga.

— Tem outra coisa que me incomoda. — começou a falar Shun. — Ikki queria destruir a Armadura e a Fundação por tudo que sofremos. Mas aquele Cavaleiro conhecia Ikki.

— Dócrates?

— Sim. Eu fico revivendo aqueles momentos na minha cabeça e nada me tira que era ele quem estava por trás do desespero da minha irmã. Quem quer que esteja atrás dessa Armadura provavelmente sabe o que aconteceu com a Ikki.

— E essa Armadura… — começou Seiya. — Eu achei que fosse uma Armadura de mentira. Feita só para o torneio, mas… 

— Ela protegeu a senhorita Saori quando a Ikki nos atacou. — disse Shun, com um tom triste.

— O que faz uma Armadura de Ouro nesse lugar? — perguntou-se Seiya.

A voz de Shiryu falou com calma.

— O meu Mestre contou que havia algo muito importante para eu encontrar aqui. — começou ela. — Talvez seja a Armadura de Ouro.

— Eu odeio que nossos mestres não dizem tudo de uma vez. — comentou Seiya. — Custava falar que era isso? — perguntou-se ele.

Shun e Shiryu experimentaram sorrir na noite.

— Shun, se você acha que deve estar por perto para descobrir o que aconteceu com a Ikki  eu vou ficar do seu lado. — falou Seiya. — E essa tonta quase morreu pra trazer de volta minha Armadura. Então eu vou ficar do lado de vocês.

— Então parece que vamos ficar mais um tempo nessa Mansão de novo. — comentou Shun.

— Parece o destino. — disse Shiryu.

Os três jovens sentados no chão encostados contra a cama ficaram em silêncio por um tempo apenas respirando e existindo; os olhos fixos na janela, por onde viam graciosamente a neve cair iluminada pelos archotes do jardim lá de fora. Juntos, aninharam-se próximos uns aos outros com Shun no meio dos dois; Seiya o abraçou de um lado puxando sua cabeça levemente para que soubesse que não estava só. Sentiu o braço de Shiryu no seu pois ela também o acolhia segurando suas mãos e enlaçando seu pescoço.

Três jovens sentados que estariam juntos dali em diante. Shun deixou escorrer suas sofridas lágrimas de saudade por sua irmã.

E assim ficaram sem contar os minutos, em que apenas o silêncio se ouvia e a neve caía.

Seiya então levantou-se finalmente e deitou em sua cama.

— Bom, o destino está me dizendo para dormir agora. — disse ele.

— Não vai tomar banho, Seiya? — perguntou Shun de pé.

— Ah, amanhã eu tomo.

— Ah não. Você tá fedendo. Vem, Shiryu.

— Peraí, Shun, amanhã eu tomo, eu tô cansado. Já tá tarde.

— Vai tomar hoje. Olha aí, tá todo cheio de barro, de quando caiu na ribanceira.

— Vai, Seiya, sem reclamar. — levantou Shiryu.

Os dois empurravam Seiya sob protestos para dentro do chuveiro para um banho quente enquanto a noite ia terminando na Mansão. O Cavaleiro de Cisne no quarto ao lado ouvia aquela algazarra toda enquanto olhava pela janela pensando nas dores de sua vida. Saori junto de Alice e Xiaoling estavam há algumas quadras dali no enorme Centro de Inteligência da Fundação.

No alto da madrugada, Saori sabia onde estava o restante da Armadura de Ouro. Alice e Xiaoling partiram em missão secreta e, no raiar do sol, as duas estavam de volta à Fundação ofegantes, cansadas, mas com a Urna nas costas.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Outro capítulo de reflexão dos protagonistas sobre as batalhas e seus deveres.

PRÓXIMO CAPÍTULO: À LUTA NOVAMENTE

Os pecados cometidos pelos Cavaleiros de Bronze parece que não vão ficar sem punição e uma nova ameaça surge para puní-los.



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